segunda-feira, 1 de maio de 2023

Histórias, sabores e raízes dos trabalhos culturais na capital baiana

Mudando, refazendo, promovendo, crescendo… O movimento que faz uma cidade crescer vem de quem vive nela, de homens e mulheres que acordam cedo, tarde ou de madrugada para fazer a cidade acontecer. Em Salvador, não são poucos os trabalhadores que exercem funções diretamente ligadas à cultura e história da primeira capital do Brasil. Hoje, véspera do Dia do Trabalhador, o A TARDE traz histórias de alguns dos muitos trabalhadores que movimentam a cidade exaltando puramente o que ela tem de melhor para oferecer: ela mesma.

 “Ser baiana de acarajé, para mim, é um prazer tão grande que eu nem consigo explicar. Todo dia durante o preparo e já no meu tabuleiro, juro, é como se fosse a primeira vez, mas já fazem 34 anos. Amo o que faço e sei da importância do acarajé para a cidade. O acarajé é uma coisa muito nossa, um cartão postal marcante de Salvador e é dignificante, criei meus filhos com o acarajé, e carreguei muito cesto na cabeça durante anos antes de chegar onde estou”, explica a baiana de acarajé, Eliana Anunciação Ferreira.

Filha de baiana de acarajé, Eliana já ajudava a mãe com os clientes aos 15 anos e hoje o seu tabuleiro, o Acarajé da Eliana (@acarajedaeliana1), também se tornou ‘escola’ dos filhos dela. “Três trabalham comigo e a mais nova, de 12 anos, vem apenas às vezes, mas já tem tomado gosto. Para mim, o momento em que mais me sinto realizada com o que faço é quando chego no meu tabuleiro, o arrumo e vejo o acarajé fritando no dendê. É lindo e eu amo isso, mas a verdade é que nenhum trabalho é fácil, mas cabe a nós fazer acontecer”, afirma.

Quem também trabalha há anos na mesma função, mas tem a sensação que começou ainda ontem, é o historiador e guia de turismo, Roberto Pessoa. Dos seus 64 anos muito bem vividos, 44 foram dedicados ao turismo. "Quando a gente gosta do que faz, não cansa. Depois que me formei em história, dava aulas durante a semana, e nos finais de semana, folgas e férias, trabalhava com turismo. É uma profissão que me encanta, sempre me encantou e a qual continuo exercendo com todo entusiasmo, pois com ela posso transmitir e encantar os visitantes com a história da Bahia, mas também do Brasil, de Portugal, da África… Sou movido por isso”, explica.

E foi com base nesse histórico cosmopolita de Salvador, que com a colonização e a infeliz escravidão trouxe pessoas de todo o mundo para a capital baiana, é que a cidade se tornou um caldeirão multicultural, e criou para si essa imagem de lugar festivo e receptivo. Explorar o caldo cultural extremamente diverso da cidade e seu patrimônio, explica a jornalista, doutora em antropologia e colunista de A TARDE, Cleidiana Ramos, foi o caminho escolhido para construir a nova imagem de Salvador, quando ela perdeu o status de capital das colônias.

“Da baiana de acarajé e guia de turismo, até a pessoa que rega os pés daqueles que saem da praia no Dia de Iemanjá, todos eles fazem parte dessa imagem e vocação de Salvador como cidade festiva. O patrimônio simbólico e histórico da cidade é muito forte e rico, e mesmo entrando na modernidade, ela sempre joga com esses dois tempos muito bem. Perdeu a capital, mas não a pose, entende? Para nós, a festa é algo estratégico do ponto de vista da geração de emprego e renda. Festa em Salvador é algo muito sério”, explica a jornalista, que é especialista em antropologia da festa.

•        Multiplicidade

A cultura múltipla de Salvador é o que torna a cidade tão rentável por si só - e isso é o que faz ela ser uma Salvador que, realmente, dá trabalho. E claro, a cadeia produtiva da cultura, aponta o diretor de patrimônio e equipamentos culturais da Fundação Gregório de Matos (FGM), Chicco Assis, lida com muitos elos. “Sabe por quantos profissionais passaram os insumos do acarajé que você comeu? E o artesanato que decora sua mesa? E a roupa que te torna ímpar? E os livros que você lê? Cada profissional envolvido cumpre papéis relevantes para que os processos culturais e suas movências ocorram. Nós movimentamos o mundo, cada peça dessa engrenagem”, explica.

E ainda há aqueles que fazem de tudo um pouco, como Tárcis Rocha: ator, modelo internacional, percussionista e capoeirista (dentre outras habilidades e formações artísticas), Tárcis também é mediador cultural na Cidade da Música da Bahia. “Na Cidade da Música sinto que faço parte da história da cidade e relembro momentos marcantes da minha vida através das músicas. Além disso, a música nos permite conhecer os visitantes de forma transparente, onde eles acessam nosso equipamento cultural trazendo um pouco de sua cultura e expressões, e se deparam com nossa essência cultural, que alcançou e continua alcançando o mundo inteiro”, afirma.

Já o estudante de museologia pela Universidade Federal da Bahia, Breno Luiz do Nascimento Dias Coelho, é mediador cultural na Casa do Carnaval da Bahia e conta que seu trabalho no museu serviu como combustível para sua auto estima intelectual. “Minha habilidade com o inglês sempre foi aproveitada dentro do espaço do museu, por exemplo, mas para além disso, a experiência como um todo tem sido uma das mais enriquecedoras da minha vida, pois me sinto muito feliz quando o público dialoga comigo durante o expediente, gerando um espaço de escuta e acolhimento para ambos”.

Firme no sonho de ser um escritor, Breno escreve nas horas vagas, mas ressalta a importância de (parafraseando a cantora, compositora e atriz Liniker): fazer tudo com o máximo de excelência. “Entregar excelência no trabalho todos os dias pode não ser fácil, mas é seu dever como profissional se esforçar para entregar o seu melhor. E falando do lugar de um homem negro, praticar a excelência no meu dia a dia virou quase uma regra, visto que vivemos em uma sociedade racista”, salienta.

E além de tudo isso, cada cliente tem um perfil, cada evento tem uma singularidade, um público e um projeto, salienta o analista de marketing pleno do Centro de Convenções de Salvador, Alan Lobo. “Então quando você participa de todas ou muitas das etapas e chega ao fim, é muito gratificante, pois nós trabalhamos com sonhos, expectativas, e projetos de pessoas e marcas. Cada dia mais tenho me empenhado em realizar as melhores entregas possíveis, para que a gente continue movimentando o turismo de negócios em Salvador e posicionando o Centro de Convenções de Salvador como o melhor equipamento do nordeste”, afirma.

 

Fonte: A Tarde

 

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