quinta-feira, 10 de abril de 2025

Trump escala 'guerra tarifária' com China, mas pausa taxas extras para outros países e mercados respondem com alívio

Menos de 24 horas após aumentar as tarifas contra produtos chineses para 104%, o presidente americano, Donald Trump, voltou à carga na disputa comercial com Pequim e anunciou um novo acréscimo para 125% nesta quarta-feira (9/4).

Trump também afirmou que autorizou uma "pausa" de 90 dias na aplicação de tarifas extras aos países que não retaliaram sua nova política de comércio.

A pausa significa que uma tarifa "universal de 10%" será aplicada a todos os países, exceto a China, disse a secretária de imprensa da Casa Branca, Karoline Leavitt. O Brasil, taxado em 10% por Trump e que não anunciou retaliações, fica como está.

O secretário do Tesouro, Scott Bessent, confirmou que Canadá e México – que mantém um acordo de livre comércio com os EUA e enfrentavam tarifas de até 25% sobre alguns produtos – também estão incluídos na tarifa básica de 10%.

Bessent não esclareceu se essa nova tarifa básica também se aplica à União Europeia, que reagiu nesta quarta-feira (9/4), impondo tarifas sobre alguns produtos importados dos EUA, que em tese entrarão em vigor em 15 de abril.

Horas antes do novo anúncio de Trump, a China havia anunciado uma retaliação ao tarifaço explosivo de Trump impondo taxa de 84% sobre todos os produtos americanos a partir de quinta-feira.

Trump afirmou em sua rede social Truth Social que a reação de Pequim era "falta de respeito da China com os mercados globais".

As novas tarifas de Trump sobre as importações de cerca de 60 países haviam entrado em vigor nesta quarta, até o anúncio da pausa. A China continua sendo a mais afetada, com um aumento na taxa de 34% antes, que agora saltou para 125%.

Antes de anunciar a taxa de 84%, o governo chinês já havia prometido "lutar até o fim" e declarado que "nunca aceitará a natureza de chantagem dos EUA".

Outro país que havia respondido ao tarifaço de Trump foi o Canadá, impondo 25% sobre certos carros vindos dos EUA e bilhões de dólares em produtos americanos.

Na terça, o presidente americano disse que está em negociação com outros países sobre tarifas. "As nações que realmente tiraram vantagem de nós agora estão dizendo 'por favor, negociem'", disse.

<><> Ibovespa sobe, reação do dólar

Em meio a dias de incertezas e turbulências, os mercados dispararam após o anúncio da pausa de 90 dias na cobrança geral de tarifas – o índice Nasdaq subiu 9% e o S&P 500 atingiu 8%, ambos referência no mercado acionário nos EUA e no mundo todo.

No Brasil, o índice Ibovespa, referência para o mercado brasileiro, também disparou após a guinada do presidente dos Estados Unidos. Segundo a Reuters, às 14h37, o Ibovespa avançava 3,42% após recuar mais cedo.

As mudanças também impactaram o dólar. A moeda americana à vista chegou a R$ 6,09 na máxima desta quarta-feira (9/4), mas passou a ser negociado abaixo de R$ 5,90 no meio da tarde, numa verdadeira "gangorra" de reação a Trump (leia mais aqui).

Já na terça-feira, o real ocupava o terceiro lugar entre as moedas que mais perderam valor em relação ao dólar, atrás apenas do dinar líbio e do peso colombiano, segundo ranking elaborado pela agência de avaliação de risco Austing Rating, com base em dados do Banco Central.

A forte volatilidade cambial teve início em 2 de abril, quando Trump anunciou uma tarifa básica de 10% para todos os países que exportam bens aos EUA e tarifas recíprocas adicionais de até 50% para aqueles com maior déficit comercial com os americanos, com a China taxada em 34%.

<><> Por que os mercados reagiram positivamente?

Wall Street foi pega de surpresa pelas tarifas de Trump na semana passada, que foram consideradas muito mais altas e amplas do que muitos previam.

Por exemplo, o Vietnã, onde a Nike fabrica cerca de metade de seus calçados, foi taxado em 46% até a mudança desta quarta-feira.

"Uma tarifa universal de 10% e uma taxa muito mais alta sobre a China se assemelham ao que o presidente propôs durante a campanha e, talvez, ao tipo de cenário que muitos investidores já estavam preparados para aceitar", explica Natalie Sherman, repórter de Negócios da BBC News em Nova York.

O raciocínio é que um aumento de 10% no imposto de importação é algo que pode ser absorvido – pelas empresas, pelos consumidores ou, mais provavelmente, por uma combinação dos dois.

A leitura dos mercados, diz Sherman, é que Trump parece ter recuado, e a ideia de que ele poderia ser contido pelo mercado de ações, como muitos esperavam, permanece válida, já que o recuo vem após dias de quedas.

Isso não significa, no entanto, que a economia dos EUA esteja completamente fora de perigo. Afinal, Trump ainda manteve uma tarifa de 125% sobre o terceiro maior fornecedor de importações dos EUA – uma fonte essencial de roupas, calçados, móveis e eletrônicos.

Se mantida a nova tarifa para Pequim, muitas empresas americanas que importam produtos chineses verão seus custos dobrarem em questão de meses.

E apesar dos sinais claros da Casa Branca de que está interessada em fechar um acordo sobre tarifas e o TikTok, Pequim ainda não demonstrou muito interesse em negociar.

¨      China manda indireta a Trump e diz que guerra de tarifas pode abrir 'caixa de pandora' como a que aprofundou a Grande Depressão

Na escalada de tensões entre EUA e China por conta do aumento mútuo de tarifas, o governo chinês associou nesta quarta-feira (9) a guerra das tarifas à Grande Depressão dos anos 1930.

A Embaixada da China nos Estados Unidos compartilhou uma postagem em suas redes sociais em que faz uma comparação entre o "tarifaço" anunciado semana passada por Trump e o subsequente aumento de tarifas à China nos últimos dias com a Lei Tarifária de 1930, também conhecida como Lei Smoot-Hawley, aplicada pelos Estados Unidos naquele ano para proteger a economia do país.

"A Lei de Tarifas Smoot-Hawley de 1930 alimentou a Grande Depressão. Hoje, as Tarifas Recíprocas correm o risco de abrir novamente a Caixa de Pandora", disse a porta-voz do Ministério das Relações Exteriores da China, Mao Ning, que fez a postagem.

Em meio à "guerra" tarifária sem precedentes entre Estados Unidos e China, o presidente dos EUA, Donald Trump, acusou Pequim de "sempre ter passado a perna" nos cidadãos norte-americanos e afirmou que, agora, fará o mesmo.

"Eles sempre nos passaram a perna a torto e a direito. Vamos agora passar a perna neles", disse Trump durante um jantar do Comitê Nacional Republicano para o Congresso, na noite de terça-feira (8).

A declaração se refere ao aumento da tarifa aplicada pelos EUA a produtos chineses. Nesta quarta (9), Washington anunciou que a taxa aos produtos da China passarão a 125%, após Pequim retaliar o "tarifaço" de Trump com taxas maiores a produtos norte-americanos, em torno de 84%.

Mais cedo, o governo chinês criticou a fala do presidente dos EUA e o acusou de "bullying" e "atos intimidatórios".

"Os EUA continuam a abusar das tarifas sobre a China. A China se opõe firmemente e jamais aceitará tais atos hegemônicos e de bullying", disse o ministro das Relações Exteriores chinês.

"Se os EUA realmente desejam abordar as questões por meio do diálogo e da negociação, devem demonstrar uma atitude de igualdade, respeito e benefício mútuo. Se os EUA estiverem determinados a travar uma guerra tarifária e comercial, a China continuará a responder até o fim".

<><> Lei Smoot-Hawley

O objetivo da Lei Tarifária de 1930 era semelhante ao de Trump: proteger a agricultura e indústria locais da competição de produtos do exterior.

Ao longo dos anos 1920, agricultores americanos enfrentavam crises de excesso de oferta e exigiam maiores taxas de importação de produtos estrangeiros. O candidato republicano Herbert Hoover encampou a causa em sua campanha presidencial, e ele se tornou presidente em 1928.

"Mas uma vez que o processo de revisão das tarifas começou, provou-se impossível pará-lo", diz o site do Departamento de Estado, alimentado pela última vez em 2016, ainda no governo do democrata Barack Obama. "Pedidos por maior proteção inundaram grupos de interesse especial do setor industrial e logo um projeto de lei destinado a fornecer alívio para fazendeiros se tornou um meio de aumentar tarifas em todos os setores da economia."

A lei aumentou 20%, em média, as tarifas sobre 20 mil produtos importados, sob as críticas de diversos economistas e até de alguns grandes empresários, como Henry Ford.

De acordo com muitos economistas, o tiro saiu pela culatra. Com preços mais altos, o consumo interno não viu aumento expressivo, e a Grande Depressão se estendeu ao longo de boa parte dos anos 1930.

Mais do que isso, a Lei Smoot-Hawley se tornou o símbolo da política externa "cada um por si" que marcou os anos seguintes. Outros países responderam na mesma moeda, retaliando com tarifas próprias para produtos estrangeiros, e o comércio internacional caiu vertiginosamente

A política também afetou as relações exteriores em um momento delicado, no qual movimentos totalitaristas marcados pelo ultranacionalismo se espalhavam pela Europa.

<><> 'Puxando o saco'

Também no jantar de terça-feira, o presidente Donald Trump afirmou que líderes mundiais estão "puxando seu saco" para conseguir negociar as tarifas recíprocas.

"Estou te falando, esses países estão nos ligando, puxando o meu saco. Eles estão doidos para fazer um acordo. 'Por favor, por favor, senhor, me deixe fazer um acordo'", disse.

  • 🔍 Em inglês, Trump usou a expressão "kissing my ass", que significa "bajular" e também pode ser traduzida como "puxando o saco". A tradução literal da expressão é "beijando o meu traseiro".

Esse novo capítulo do "tarifaço global" dos EUA começou no último dia 2 de abril, quando Trump anunciou taxas de importação sobre 180 países de todo o mundo. As tarifas variam entre 10% e 50%.

As taxas individualizadas começaram a valer à 1h desta quarta (9). No último sábado (5), as tarifas gerais entraram em vigor.

Trump também acusou a China de manipular "a moeda para compensar tarifas".

“Tem que dar o braço a torcer. Eles estão manipulando a moeda hoje como uma forma de compensar as tarifas”, disse Trump no evento.

<><> Tarifaço afeta, principalmente, a China

Como a tarifa para a China chegou a 125%:

Trump disse acreditar que a China queira negociar um acordo, mas mesmo assim decidiu manter a retaliação.

O Ministério do Comércio chinês ainda reiterou a promessa da terça de continuar revidando até o fim. "A China tem vontade firme e meios abundantes, e contra-atacará resolutamente até o fim", disse um porta-voz.

"A China não deseja travar uma guerra comercial, mas o governo chinês jamais ficará de braços cruzados vendo os direitos e interesses legítimos do povo serem prejudicados e violados".

¨      EUA não buscam guerra com a China, mas 'certamente não é inevitável', diz chefe do Pentágono

O secretário de Defesa dos Estados Unidos, Pete Hegseth, afirmou que os EUA não buscam uma guerra com a China, mas que um conflito também pode ser "inevitável", em discurso nesta quarta-feira (9).

O chefe do Pentágono, que está no Panamá para uma conferência de segurança regional, alertou que o Exército chinês "tem presença excessiva no hemisfério ocidental" e "opera instalações militares" que ampliam seu alcance.

"Não buscamos a guerra com a China. E a guerra com a China certamente não é inevitável. Mas juntos, devemos evitar a guerra, dissuadindo de forma robusta e vigorosa as ameaças da China neste hemisfério", ressaltou.

Hegseth afirmou que, além disso, as empresas chinesas "estão se apoderando de terras e infraestrutura crítica em setores estratégicos, como energia e telecomunicações" e acusou a China de "explorar os recursos" de países da região "para alimentar" suas "ambições militares globais".

"Não se enganem, Pequim está investindo e operando nesta região para obter vantagens militares e benefícios econômicos injustos", alertou ele aos ministros, comandantes militares e autoridades de segurança da região presentes na reunião.

O secretário do governo Donald Trump também reiterou as acusações feitas pelo presidente americano de que a China tenta controlar o Canal do Panamá. Disse que o país não teria permissão para "transformar o canal em uma arma" usando relacionamentos comerciais de empresas chinesas para espionagem.

"O presidente Trump deixou claro que o Canal do Panamá e suas áreas não podem e não serão controlados pela China. Estamos trabalhando em estreita colaboração com nossos parceiros no Panamá para proteger o canal e promover nossos interesses mútuos de segurança. Juntos, estamos recuperando-o da influência chinesa", afirmou.

Estados Unidos e China estão vivendo uma grande guerra comercial neste momento. Nesta quarta-feira, Pequim aumentou novamente a tarifa aplicada a produtos norte-americanos, que agora passará a ser 84%.

A medida foi uma resposta a anúncio feito pela Casa Branca, um dia antes, da decisão do governo Trump em subir as taxas de produtos chineses para até 104% em resposta à primeira retaliação feita pela China.

<><> Planos secretos para guerra contra China?

No dia 20 de março, o jornal "The New York Times" publicou uma reportagem afirmando que Elon Musk, chefe do DOGE e conselheiro de Trump, deveria ter acesso a um plano ultrassecreto dos Estados Unidos sobre uma possível guerra contra a China durante visita ao Pentágono.

Duas autoridades disseram ao jornal que o bilionário receberia um relatório com segredos militares sobre um possível conflito, com detalhes de alvos chineses e possíveis respostas dos EUA em caso de ameaça.

Após a notícia ser divulgada pelo jornal norte-americano, o presidente Donald Trump disse se tratar de uma fake news.

Musk também negou ter tido acesso a qualquer plano e pediu um processo contra os funcionários do Pentágono que vazaram 'informações falsas'.

 

Fonte: Jornal GGN/g1/Reuters

 

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