Trump
escala 'guerra tarifária' com China, mas pausa taxas extras para outros países
e mercados respondem com alívio
Menos de 24 horas após aumentar as tarifas
contra produtos chineses para 104%, o presidente
americano, Donald Trump, voltou à carga na
disputa comercial com Pequim e anunciou um novo acréscimo para 125% nesta
quarta-feira (9/4).
Trump também afirmou que autorizou uma
"pausa" de 90 dias na aplicação de tarifas extras aos países que não
retaliaram sua nova política de comércio.
A pausa significa que uma tarifa
"universal de 10%" será aplicada a todos os países, exceto a China,
disse a secretária de imprensa da Casa Branca, Karoline Leavitt. O Brasil,
taxado em 10% por Trump e que não anunciou retaliações, fica como está.
O secretário do Tesouro, Scott Bessent,
confirmou que Canadá e México – que mantém um acordo de livre comércio com os
EUA e enfrentavam tarifas de até 25% sobre alguns produtos – também estão
incluídos na tarifa básica de 10%.
Bessent não esclareceu se essa nova tarifa
básica também se aplica à União Europeia, que reagiu nesta quarta-feira (9/4),
impondo tarifas sobre alguns produtos importados dos EUA, que em tese entrarão
em vigor em 15 de abril.
Horas antes do novo anúncio de Trump, a China
havia anunciado uma retaliação ao
tarifaço explosivo de Trump impondo taxa de 84% sobre todos os produtos
americanos a partir de quinta-feira.
Trump afirmou em sua rede social Truth Social
que a reação de Pequim era "falta de respeito da China com os mercados
globais".
As novas tarifas de Trump sobre as
importações de cerca de 60
países haviam entrado em vigor nesta quarta,
até o anúncio da pausa. A China continua sendo a mais afetada, com um aumento
na taxa de 34% antes, que agora saltou para 125%.
Antes de anunciar a taxa de 84%, o governo
chinês já havia prometido "lutar até
o fim" e declarado que "nunca aceitará a
natureza de chantagem dos EUA".
Outro país que havia respondido ao tarifaço
de Trump foi o Canadá, impondo 25% sobre certos carros vindos dos EUA e bilhões
de dólares em produtos americanos.
Na terça, o presidente americano disse que
está em negociação com outros países sobre tarifas. "As nações que
realmente tiraram vantagem de nós agora estão dizendo 'por favor,
negociem'", disse.
<><> Ibovespa sobe, reação do
dólar
Em meio a dias de incertezas e turbulências,
os mercados dispararam após o anúncio da pausa de 90 dias na cobrança geral de
tarifas – o índice Nasdaq subiu 9% e o S&P 500 atingiu 8%, ambos referência
no mercado acionário nos EUA e no mundo todo.
No Brasil, o índice Ibovespa, referência para
o mercado brasileiro, também disparou após a guinada do presidente dos Estados
Unidos. Segundo a Reuters, às 14h37, o Ibovespa avançava 3,42% após recuar mais
cedo.
As mudanças também impactaram o dólar. A
moeda americana à vista chegou a R$ 6,09 na máxima desta quarta-feira (9/4),
mas passou a ser negociado abaixo de R$ 5,90 no meio da tarde, numa verdadeira
"gangorra" de reação a Trump (leia mais aqui).
Já na terça-feira, o real ocupava o terceiro
lugar entre as moedas que mais perderam valor em relação ao dólar, atrás apenas
do dinar líbio e do peso colombiano, segundo ranking elaborado pela agência de
avaliação de risco Austing Rating, com base em dados do Banco Central.
A forte volatilidade cambial teve início em 2
de abril, quando Trump anunciou uma tarifa básica de 10% para todos os países
que exportam bens aos EUA e tarifas recíprocas adicionais de até 50% para
aqueles com maior déficit comercial com os americanos, com a China taxada em
34%.
<><> Por que os mercados reagiram
positivamente?
Wall Street foi pega de surpresa pelas
tarifas de Trump na semana passada, que foram consideradas muito mais altas e
amplas do que muitos previam.
Por exemplo, o Vietnã, onde a Nike fabrica
cerca de metade de seus calçados, foi taxado em 46% até a mudança desta
quarta-feira.
"Uma tarifa universal de 10% e uma taxa
muito mais alta sobre a China se assemelham ao que o presidente propôs durante
a campanha e, talvez, ao tipo de cenário que muitos investidores já estavam
preparados para aceitar", explica Natalie Sherman, repórter de Negócios da
BBC News em Nova York.
O raciocínio é que um aumento de 10% no
imposto de importação é algo que pode ser absorvido – pelas empresas, pelos
consumidores ou, mais provavelmente, por uma combinação dos dois.
A leitura dos mercados, diz Sherman, é que
Trump parece ter recuado, e a ideia de que ele poderia ser contido pelo mercado
de ações, como muitos esperavam, permanece válida, já que o recuo vem após dias
de quedas.
Isso não significa, no entanto, que a
economia dos EUA esteja completamente fora de perigo. Afinal, Trump ainda
manteve uma tarifa de 125% sobre o terceiro maior fornecedor de importações dos
EUA – uma fonte essencial de roupas, calçados, móveis e eletrônicos.
Se mantida a nova tarifa para Pequim, muitas
empresas americanas que importam produtos chineses verão seus custos dobrarem
em questão de meses.
E apesar dos sinais claros da Casa Branca de
que está interessada em fechar um acordo sobre tarifas e o TikTok, Pequim ainda
não demonstrou muito interesse em negociar.
¨
China manda indireta a
Trump e diz que guerra de tarifas pode abrir 'caixa de pandora' como a que
aprofundou a Grande Depressão
Na escalada de tensões entre EUA e China por conta
do aumento mútuo de tarifas, o governo chinês associou nesta quarta-feira (9) a
guerra das tarifas à Grande Depressão dos anos 1930.
A Embaixada da China nos Estados Unidos
compartilhou uma postagem em suas redes sociais em que faz uma comparação entre
o "tarifaço" anunciado semana passada por Trump e o subsequente
aumento de tarifas à China nos últimos dias com a Lei Tarifária de
1930, também conhecida como Lei Smoot-Hawley, aplicada pelos Estados Unidos
naquele ano para proteger a economia do país.
"A Lei de Tarifas Smoot-Hawley de 1930
alimentou a Grande Depressão. Hoje, as Tarifas Recíprocas correm o risco de
abrir novamente a Caixa de Pandora", disse a porta-voz do Ministério das
Relações Exteriores da China, Mao Ning, que fez a postagem.
Em meio à "guerra" tarifária sem
precedentes entre Estados Unidos e China, o presidente dos EUA, Donald Trump, acusou Pequim de "sempre ter passado a perna"
nos cidadãos norte-americanos e afirmou que, agora, fará o mesmo.
"Eles sempre nos passaram a perna a
torto e a direito. Vamos agora passar a perna neles", disse Trump durante
um jantar do Comitê Nacional Republicano para o Congresso, na noite de
terça-feira (8).
A declaração se refere ao aumento da tarifa
aplicada pelos EUA a produtos chineses. Nesta quarta (9), Washington
anunciou que a taxa aos produtos da China passarão a 125%, após Pequim retaliar o "tarifaço" de Trump
com taxas maiores a produtos norte-americanos, em torno de 84%.
Mais cedo, o governo chinês criticou a fala
do presidente dos EUA e o acusou de "bullying" e "atos
intimidatórios".
"Os EUA continuam a abusar das tarifas
sobre a China. A China se opõe firmemente e jamais aceitará tais atos
hegemônicos e de bullying", disse o ministro das Relações Exteriores
chinês.
"Se os EUA realmente desejam abordar as
questões por meio do diálogo e da negociação, devem demonstrar uma atitude de
igualdade, respeito e benefício mútuo. Se os EUA estiverem determinados a
travar uma guerra tarifária e comercial, a China continuará a responder até o
fim".
<><> Lei Smoot-Hawley
O objetivo da Lei Tarifária de 1930 era
semelhante ao de Trump: proteger a agricultura e indústria locais da competição
de produtos do exterior.
Ao longo dos anos 1920, agricultores
americanos enfrentavam crises de excesso de oferta e exigiam maiores taxas de
importação de produtos estrangeiros. O candidato republicano Herbert Hoover
encampou a causa em sua campanha presidencial, e ele se tornou presidente em
1928.
"Mas uma vez que o processo de revisão
das tarifas começou, provou-se impossível pará-lo", diz o site do
Departamento de Estado, alimentado pela última vez em 2016, ainda no governo do
democrata Barack Obama. "Pedidos por maior proteção inundaram grupos de
interesse especial do setor industrial e logo um projeto de lei destinado a
fornecer alívio para fazendeiros se tornou um meio de aumentar tarifas em todos
os setores da economia."
A lei aumentou 20%, em média, as tarifas
sobre 20 mil produtos importados, sob as críticas de diversos economistas e até
de alguns grandes empresários, como Henry Ford.
De acordo com muitos economistas, o tiro saiu
pela culatra. Com preços mais altos, o consumo interno não viu aumento
expressivo, e a Grande Depressão se estendeu ao longo de boa parte dos anos
1930.
Mais do que isso, a Lei Smoot-Hawley se
tornou o símbolo da política externa "cada um por si" que marcou os
anos seguintes. Outros países responderam na mesma moeda, retaliando com
tarifas próprias para produtos estrangeiros, e o comércio internacional caiu
vertiginosamente
A política também afetou as relações
exteriores em um momento delicado, no qual movimentos totalitaristas marcados
pelo ultranacionalismo se espalhavam pela Europa.
<><> 'Puxando o saco'
Também no jantar de terça-feira, o presidente
Donald Trump afirmou que líderes mundiais estão "puxando seu
saco" para conseguir negociar as tarifas recíprocas.
"Estou te falando, esses países estão
nos ligando, puxando o meu saco. Eles estão doidos para fazer um acordo. 'Por
favor, por favor, senhor, me deixe fazer um acordo'", disse.
- 🔍 Em inglês,
Trump usou a expressão "kissing my ass", que significa
"bajular" e também pode ser traduzida como "puxando o
saco". A tradução literal da expressão é "beijando o meu
traseiro".
Esse novo capítulo do "tarifaço
global" dos EUA começou no último dia 2 de abril, quando Trump anunciou taxas
de importação sobre 180 países de todo o mundo. As tarifas variam entre 10% e 50%.
As taxas individualizadas começaram a valer à
1h desta quarta (9). No último sábado (5), as tarifas gerais entraram em vigor.
Trump também acusou a China de manipular
"a moeda para compensar tarifas".
“Tem que dar o braço a torcer. Eles estão
manipulando a moeda hoje como uma forma de compensar as tarifas”, disse Trump
no evento.
<><> Tarifaço afeta,
principalmente, a China
Como a tarifa para a China chegou a 125%:
- No
início de fevereiro, os EUA aplicaram uma taxa extra
de 10% sobre as importações vindas da China, que se somou à
tarifa de 10% que já era cobrada do país, chegando a 20%;
- Na
quarta-feira da semana passada, dia 2 de abril, Trump anunciou seu plano
de "tarifas
recíprocas" que incluía uma taxa extra de 34% à China, elevando a
alíquota sobre os produtos do país asiático a 54%;
- Após
a retaliação
chinesa que também impôs tarifas de 34% sobre os EUA, a Casa Branca
confirmou mais 50% em taxas sobre as importações chinesas, deixando a
tarifa sobre o país no patamar de 104%.
- Depois
de nova retaliação chinesa, Trump anunciou, nesta quarta, o aumento das
tarifas de 125% para a China, e uma redução nas taxas a outros países, por
90 dias.
Trump disse acreditar que a China queira
negociar um acordo, mas mesmo assim decidiu manter a retaliação.
O Ministério do Comércio chinês ainda
reiterou a promessa da terça de continuar revidando até o fim. "A China
tem vontade firme e meios abundantes, e contra-atacará resolutamente até o
fim", disse um porta-voz.
"A China não deseja travar uma guerra
comercial, mas o governo chinês jamais ficará de braços cruzados vendo os
direitos e interesses legítimos do povo serem prejudicados e violados".
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EUA não buscam guerra
com a China, mas 'certamente não é inevitável', diz chefe do Pentágono
O secretário de Defesa dos Estados Unidos, Pete Hegseth, afirmou que os EUA não buscam uma
guerra com a China, mas que um conflito também pode ser
"inevitável", em discurso nesta quarta-feira (9).
O chefe do Pentágono, que está no Panamá para
uma conferência de segurança regional, alertou que o Exército chinês "tem
presença excessiva no hemisfério ocidental" e "opera instalações
militares" que ampliam seu alcance.
"Não buscamos a guerra com a China. E a guerra
com a China certamente não é inevitável. Mas juntos, devemos
evitar a guerra, dissuadindo de forma robusta e vigorosa as ameaças da China neste
hemisfério", ressaltou.
Hegseth afirmou que, além disso, as empresas
chinesas "estão se apoderando de terras e infraestrutura crítica em
setores estratégicos, como energia e telecomunicações" e acusou
a China de "explorar os recursos" de países da
região "para alimentar" suas "ambições militares globais".
"Não se enganem, Pequim está investindo
e operando nesta região para obter vantagens militares e benefícios econômicos
injustos", alertou ele aos ministros, comandantes militares e autoridades
de segurança da região presentes na reunião.
O secretário do governo Donald Trump também reiterou as acusações feitas
pelo presidente americano de que a China tenta controlar o Canal do Panamá. Disse que o país não teria permissão para
"transformar o canal em uma arma" usando relacionamentos comerciais
de empresas chinesas para espionagem.
"O presidente Trump deixou claro que o
Canal do Panamá e suas áreas não podem e não serão controlados
pela China. Estamos trabalhando em estreita colaboração com nossos
parceiros no Panamá para proteger o canal e promover nossos interesses
mútuos de segurança. Juntos, estamos recuperando-o da influência chinesa",
afirmou.
Estados Unidos e China estão
vivendo uma grande guerra comercial neste momento. Nesta quarta-feira, Pequim aumentou
novamente a tarifa aplicada a produtos norte-americanos, que agora passará a
ser 84%.
A medida foi uma resposta a anúncio feito
pela Casa Branca, um dia antes, da decisão do
governo Trump em subir as taxas de produtos chineses para até 104% em resposta à primeira
retaliação feita pela China.
<><> Planos secretos para guerra
contra China?
No dia 20 de março, o jornal "The New
York Times" publicou uma reportagem afirmando que Elon Musk,
chefe do DOGE e conselheiro de Trump, deveria ter acesso a um plano
ultrassecreto dos Estados Unidos sobre uma possível guerra contra a China durante visita ao Pentágono.
Duas autoridades disseram ao jornal que o
bilionário receberia um relatório com segredos militares sobre um possível
conflito, com detalhes de alvos chineses e possíveis respostas dos EUA em
caso de ameaça.
Após a notícia ser divulgada pelo jornal
norte-americano, o presidente Donald Trump disse se tratar de uma fake news.
Musk também
negou ter tido acesso a qualquer plano e pediu um processo contra os funcionários do Pentágono que vazaram
'informações falsas'.
Fonte: Jornal GGN/g1/Reuters
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