terça-feira, 22 de abril de 2025

Gordura corporal pode ser definida no momento da concepção, diz estudo

Um tipo de gordura que, ao invés de acumular energia, ajuda a queimá-la, o chamado tecido adiposo marrom (TAM), é um assunto que tem despertado grande interesse científico, principalmente pelo seu potencial terapêutico no tratamento da obesidade e do diabetes tipo 2.

Enquanto cientistas ainda buscam entender completamente a biologia fundamental do TAM, um estudo recente conduzido por pesquisadores japoneses descobriu que essa “gordura boa” ocorre naturalmente no organismo de pessoas concebidas durante a estação fria do ano.

Publicada na revista Nature Metabolism, a pesquisa avaliou quatro coortes separadas, com um total superior a 500 pessoas. A partir das datas de nascimento dos participantes, os autores estimaram a data de concepção de cada um.

Em seguida, cruzaram essas estimativas com dados climáticos e metabólicos, para investigar possíveis relações com o tecido adiposo marrom e outros indicadores como gasto de energia, IMC e gordura abdominal.

Na coorte 1, composta por 356 jovens japoneses saudáveis, os pesquisadores descobriram que aqueles que foram concebidos em uma estação fria apresentaram uma atividade relativamente maior do TAM na vida adulta. Isso indica que fatores ambientais influenciam o metabolismo no longo prazo.

Além de maior atividade do TAM, os participantes dessa primeira população analisada revelaram algumas características indicativas de melhor saúde metabólica geral, como maior gasto energético, redução do IMC e menor acúmulo de gordura visceral ao redor dos órgãos.

Para ampliar o alcance do estudo, os pesquisadores testaram uma segunda coorte de 286 adultos, incluindo desta vez homens e mulheres de diferentes faixas etárias. O objetivo foi verificar se os padrões observados anteriormente se mantinham em uma população mais diversificada.

Na segunda investigação, os autores confirmaram “associações modestas, porém significativas” entre a concepção durante estações frias e maior atividade do tecido adiposo marrom. Aqui também ocorreram: diminuição do IMC, redução da gordura visceral e menor circunferência da cintura.

De acordo com os modelos desenvolvidos pela equipe, foi o aumento da atividade do TAM o principal fator que desencadeou os demais benefícios metabólicos observados.

Os autores testaram até mesmo a associação entre o período sazonal da concepção e outros fatores, como o IMC, por exemplo. Contudo, apenas o desenvolvimento do tecido adiposo marrom demonstrou relação com a época em que ocorreu a concepção.

•        Qual a importância das descobertas sobre a “gordura boa”?

Por enquanto, foi identificada apenas uma relação estatística entre as variáveis estação de concepção (266 dias antes do nascimento) e atividade do TAM/parâmetros metabólicos, mas não necessariamente uma relação de causa e efeito.

Os autores também não investigaram a fundo por que a exposição dos pais a determinada temperatura está ligada à gordura marrom. Para eles, é possível que exista “um caminho epigenético”, ou seja, modificações químicas dos genes sem alterações na sequência do DNA.

Esse caminho, já encontrado em pesquisa anterior dos mesmos autores com camundongos, poderia se estender aos seres humanos. Isso significa que o clima frio pode afetar a expressão genética de espermatozoides ou óvulos, e essas mudanças são então transmitidas aos descendentes.

Para os pesquisadores essa “sofisticada adaptação preditiva ao frio”, passada de geração em geração, permite que os descendentes sobrevivam melhor em climas frios. No entanto, mais pesquisas são necessárias para explorar esse conceito.

Segundo o estudo, as descobertas revelam indícios consistentes de que o estresse término próximo à concepção exerce um papel multigeracional, que favorece a ativação e manutenção do TAM, e regula o equilíbrio entre a energia que o corpo consome (comida) e a que ele gasta.

Em outras palavras, a época de fertilização influencia o destino metabólico da nossa gordura corporal na idade adulta.

•        Retenção de receita para Ozempic e similares é necessária, diz médico

A Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) anunciou uma nova medida que exige a retenção de receita médica para a venda de canetas emagrecedoras, como o Ozempic. A decisão visa melhorar o controle do acesso a esses medicamentos, em resposta ao aumento de eventos adversos relacionados ao uso fora das indicações aprovadas.

O endocrinologista Fabio Trujillo, presidente da Associação Brasileira de Estudos de Obesidade (Abeso), avalia a medida como necessária. “O Ozempic, que tem como princípio a semaglutida, estava sendo usado de forma abusiva e indiscriminada”, afirma Trujillo. Ele ressalta a diferença entre tratar obesidade e usar o medicamento apenas para emagrecimento estético.

<><> Impactos no tratamento de doenças crônicas

Trujillo expressa preocupação sobre como a nova exigência pode afetar o tratamento contínuo de pacientes com doenças crônicas como diabetes e obesidade. “Minha preocupação maior é o acesso que o paciente terá ao médico para essa renovação da receita, e como será feito o controle”, pondera.

O especialista sugere que uma validade de até 90 dias para as receitas poderia ser mais adequada, evitando dificuldades no acesso ao tratamento. A medida da Anvisa deve entrar em vigor em meados de julho, 60 dias após a publicação no Diário Oficial da União.

<><> Combate ao mercado paralelo

A decisão da Anvisa também visa combater o mercado paralelo e a manipulação irregular desses medicamentos. Trujillo alerta para os riscos associados a produtos de origem duvidosa: “A gente está vendo contrabando, pessoas sendo presas em aeroportos com canetas. Quando falamos em manipulação, é importante pensar: qual a origem? Será que temos ali a verdadeira medicação que os estudos mostram os benefícios?”

O endocrinologista enfatiza a importância de tratar a obesidade como uma doença crônica, destacando os benefícios desses medicamentos não apenas para o emagrecimento, mas também para o controle do diabetes, pressão arterial e apneia noturna. Ele conclui que o combate ao uso indiscriminado e ao comércio ilegal é fundamental para garantir a segurança e eficácia do tratamento.

 

Fonte: CNN Brasil

 

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