Beber
xixi para melhorar a saúde é uma prática antiga, mas riscos superam supostos
benefícios
O astro
da TV Ben Grylls diz que faz isso para sobreviver - e ensina seus participantes
de reality show a fazer o mesmo. O boxeador mexicano Juan Manuel Márquez adotou
esta prática ao treinar para sua luta de 2009 com Floyd Mayweather Jr. (ele
perdeu). O ex-primeiro-ministro indiano Morarji Desai disse que um copo diário
do produto era um remédio para muitas doenças e contribuía para sua
longevidade.
Mas o
que essas celebridades estão fazendo? A urofagia, também conhecida como terapia
da urina, a prática de beber urina.
Independentemente
de a urina ser sua, de outra pessoa ou mesmo obtida de um animal, pessoas têm
bebido urina como “medicamento” há milhares de anos. A maioria das alegações
sobre a urinoterapia se baseia em anedotas ou textos antigos, sem nenhuma
evidência científica sólida que sustente supostos benefícios da urinoterapia.
Entretanto, há evidências que demonstram que beber urina apresenta vários
riscos à saúde.
Na
medicina ayurvédica indiana, a urina é usada para tratar asma, alergias,
indigestão, rugas e até mesmo câncer. O poeta romano Catullus acreditava que a
urina ajudava a clarear os dentes - possivelmente devido ao seu conteúdo de
amônia.
Como um
teste rudimentar para diabetes, os médicos costumavam provar a urina para
verificar se ela era doce. Agora, é claro, temos testes de urina com tiras para
verificar a presença de glicose.
Em
1945, o naturopata britânico John W. Armstrong publicou um livro chamado “The
Water of Life: A Treatise on Urine Therapy”. Ele afirmava que beber a própria
urina e passá-la na pele poderia curar doenças graves.
Historicamente,
beber urina para tratar doenças pode ter feito sentido devido à falta de
alternativas médicas. Mas, como mostram as celebridades acima que bebem urina,
a prática ainda é adotada.
Há
registros de casos de uso da urina como remédio caseiro para tratar convulsões
em crianças na Nigéria. A China Urine Therapy Association afirma que beber e se
lavar com a urina pode curar constipação e feridas na pele.
• Sem desperdício?
A urina
é produzida pelo corpo para se livrar de resíduos. Ela é composta
principalmente de água (cerca de 95%) e vários produtos residuais, inclusive
ureia (2%), que é produzida pelo fígado após a quebra de proteínas no corpo,
creatinina, que é remanescente dos processos de liberação de energia nos
músculos, e sais. Se a urina é apenas um resíduo, como pode ser benéfico
bebê-la?
Os rins
atuam como reguladores - não apenas para se livrar de quaisquer toxinas, mas
para remover tudo o que não é necessário. Por exemplo, o excesso de vitaminas
que não são necessárias para o corpo é encontrado na urina.
Beber
urina significa que essas vitaminas e minerais estão sendo reciclados em vez de
desperdiçados - isso também se aplica a outros hormônios, proteínas e
anticorpos que podem ser encontrados na urina. Entretanto, é improvável que a
quantidade dessas substâncias em um copo de urina seja suficiente para ser
benéfica, e um suplemento vitamínico pode ser mais eficaz.
Alguns
defensores da terapia com urina acreditam que ela pode ajudar a prevenir
reações alérgicas e controlar doenças autoimunes. Supõe-se que os anticorpos
presentes na urina fortaleçam o sistema imune.
Outros
usos modernos também incluem limpeza e “desintoxicação”. Algumas pessoas
afirmam que beber urina reciclada de forma contínua resulta em urina e sangue
mais “limpos”, removendo toxinas e melhorando a saúde geral.
No
entanto, não há evidências científicas para apoiar nenhuma dessas alegações.
Alguns
influenciadores de mídias sociais afirmam que a urina tem propriedades
curativas e que bebê-la ou aplicá-la na pele pode ajudar em problemas de pele
como acne e infecções. Como mencionado, a urina contém ureia, que é
frequentemente adicionada a produtos de cuidados com a pele como hidratantes.
Mas é improvável que a concentração de ureia na urina seja alta o suficiente
para ter esse efeito.
A urina
também contém dehidroepiandrosterona, um hormônio esteroide produzido pelo
corpo que diminui com a idade e que tem sido comercializado como um ingrediente
antienvelhecimento, mas não há dados suficientes para demonstrar sua eficácia.
• Negócio arriscado
Alguns
defensores da terapia com urina acreditam que a urina é estéril. Entretanto,
pesquisas descobriram que a urina contém naturalmente baixos níveis de
bactérias e pesquisas mostram que bactérias podem contaminar ainda mais a urina
quando ela deixa o corpo. Portanto, beber urina pode introduzir bactérias e
toxinas no intestino e, potencialmente, causar outras doenças, como infecções
estomacais.
A urina
se torna mais concentrada quando é expelida novamente - os rins podem ter que
trabalhar mais para filtrar o excesso, colocando tensão extra sobre eles. Os
rins precisam de água para processar esses sais.
Beber
urina significa que você precisa urinar mais água do que obtém dela, o que
acelera a desidratação - é semelhante a beber água do mar. Alguns medicamentos,
como antibióticos à base de penicilina ou remédios para o coração, também são
excretados na urina - a ingestão de urina pode causar o acúmulo desses
medicamentos no organismo em níveis tóxicos.
As
principais comunidades médicas não endossam a terapia com urina porque ela
carece de evidências científicas. É improvável que pequenas quantidades de
urina sejam prejudiciais. Mas para obter benefícios tangíveis à saúde, outras
terapias com evidências científicas podem ser a melhor opção a seguir.
Dipa
Kamdar não presta consultoria, trabalha, possui ações ou recebe financiamento
de qualquer empresa ou organização que poderia se beneficiar com a publicação
deste artigo e não revelou nenhum vínculo relevante além de seu cargo
acadêmico.
• Desidratação no calor: xixi é
'termômetro' para evitar quadro
"Precisa
beber água, para não desidratar!". Você já deve ter ouvido essa frase em
dias de calor intenso, certo? Mas, afinal, como saber que o corpo está
necessitando de mais líquido? O que acontece com o organismo no tal quadro de
"desidratação"?
➡️O principal "termômetro" é a urina,
que precisa estar clara/límpida para indicar que a ingestão de água está
adequada. "Se a pessoa está demorando mais do que o habitual para sentir
vontade de fazer xixi, também é um sinal de que precisa beber mais
líquido", explica Christian Morinaga, gerente do pronto-atendimento do
Hospital Sírio-Libanês (SP).
➡️Por mais que a situação pareça assustadora, é
muito difícil que um adulto saudável, que não tome medicamentos (como
antidiuréticos ou reguladores de pressão arterial), chegue a desidratar.
"É algo clinicamente pouco relevante", afirma Carlos Eduardo
Pompilio, médico do Hospital das Clínicas (SP). A não ser que ele esteja em
situação de privação de líquidos (como em um deserto), sentirá sede, beberá
água e resolverá o problema.
➡️A preocupação maior é com os "extremos
da idade", diz o especialista: crianças e idosos, que podem não manifestar
a necessidade de ingerir líquidos. São dois grupos que podem, sim, desenvolver
quadros mais graves. Entenda mais abaixo.
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1- Quantos litros de água beber por dia?
A
quantidade de água que cada adulto deve beber diariamente varia de acordo com
seu peso e com os hábitos de vida (como a intensidade das atividades físicas
praticadas). Em média, são 2 litros (use a calculadora do g1 para descobrir).
É
preciso manter-se hidratado para:
• regular a temperatura do corpo;
• melhorar a circulação sanguínea;
• proteger e abastecer as células;
• ajudar no metabolismo;
• hidratar a pele;
• melhorar o funcionamento do intestino e
dos rins;
• desintoxicar o organismo.
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2- Em adultos saudáveis, quais são os sintomas da desidratação?
Como
dito no início da reportagem, a principal manifestação de falta de líquidos no
organismo é o escurecimento da urina.
"Se
a pessoa estiver 'pulando um xixi' que faria normalmente ou urinando em volume
pequeno, é sinal de que a ingestão de água está baixa", afirma Pompilio.
Caso,
ainda assim, ela não aumente o consumo de líquidos, poderá sentir mais
sonolência e até um aumento da frequência cardíaca, já que o calor provoca uma
dilatação dos vasos sanguíneos. "Isso leva a uma queda de pressão
arterial, e o coração tenta compensar [batendo mais rapidamente]", diz
Morinaga, do Sírio-Libanês.
O mais
esperado, explicam os médicos ouvidos pelo g1, é que os adultos saudáveis
percebam esses sinais, sintam sede, bebam água e resolvam o quadro de
desidratação leve.
O
protocolo é diferente para quem tem problemas cardíacos (pode haver sobrecarga
do coração), renais (a capacidade de filtragem do órgão fica comprometida) e
pulmonares (a oxigenação do sangue é prejudicada). Nesses casos, é preciso
procurar orientação de um especialista.
➡️E atenção: quando alguém apresenta sintomas
como diarreia ou vômito (por intoxicação alimentar, por exemplo), pode haver
perda não só de água, mas de eletrólitos (sais). Bebidas isotônicas (como
aquelas ingeridas por atletas) ou soro caseiro podem ajudar a melhorar o
quadro. Se o paciente não conseguir beber nada, deverá ir ao pronto-socorro
para, caso haja necessidade, receber uma hidratação endovenosa.
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3- E em crianças e idosos? Por que a desidratação é mais preocupante?
O
endocrinologista Ricardo Barroso, diretor da Sociedade Brasileira de
Endocrinologia e Metabologia Regional São Paulo - SBEM-SP, explica por que a
desidratação é mais preocupante entre crianças e idosos. Veja o infográfico
abaixo, com os sintomas:
👧Bebês e crianças: Eles podem não
demonstrar sede -- seja por ainda não falarem ou por estarem distraídos com as
brincadeiras do dia a dia. Além disso, "esse grupo tem a superfície
corpórea proporcionalmente maior que a dos adultos", afirma Pompilio, do
Hospital das Clínicas. "Isso aumenta a facilidade de perder líquido."
👴Idosos: "Os sinais corporais na
terceira idade são mais falhos: os velhinhos não têm percepção de sede. Isso
acontece por causa do sistema nervoso central, que perde o sensor de leitura de
quando estamos hidratados. Vamos perdendo essa sensibilidade com o tempo",
diz Barroso.
Por
isso, é importante que haja sempre alguém monitorando a cor e a frequência da
urina dos idosos. Os outros sintomas (como cansaço e confusão mental - veja o
infográfico acima) demoram mais para aparecer. "São sinais tardios.
Precisamos deixar sempre duas garrafas de água à disposição, para evitar a
desidratação", explica o endocrinologista.
Fonte:
g1

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