quinta-feira, 17 de abril de 2025

Beber xixi para melhorar a saúde é uma prática antiga, mas riscos superam supostos benefícios

O astro da TV Ben Grylls diz que faz isso para sobreviver - e ensina seus participantes de reality show a fazer o mesmo. O boxeador mexicano Juan Manuel Márquez adotou esta prática ao treinar para sua luta de 2009 com Floyd Mayweather Jr. (ele perdeu). O ex-primeiro-ministro indiano Morarji Desai disse que um copo diário do produto era um remédio para muitas doenças e contribuía para sua longevidade.

Mas o que essas celebridades estão fazendo? A urofagia, também conhecida como terapia da urina, a prática de beber urina.

Independentemente de a urina ser sua, de outra pessoa ou mesmo obtida de um animal, pessoas têm bebido urina como “medicamento” há milhares de anos. A maioria das alegações sobre a urinoterapia se baseia em anedotas ou textos antigos, sem nenhuma evidência científica sólida que sustente supostos benefícios da urinoterapia. Entretanto, há evidências que demonstram que beber urina apresenta vários riscos à saúde.

Na medicina ayurvédica indiana, a urina é usada para tratar asma, alergias, indigestão, rugas e até mesmo câncer. O poeta romano Catullus acreditava que a urina ajudava a clarear os dentes - possivelmente devido ao seu conteúdo de amônia.

Como um teste rudimentar para diabetes, os médicos costumavam provar a urina para verificar se ela era doce. Agora, é claro, temos testes de urina com tiras para verificar a presença de glicose.

Em 1945, o naturopata britânico John W. Armstrong publicou um livro chamado “The Water of Life: A Treatise on Urine Therapy”. Ele afirmava que beber a própria urina e passá-la na pele poderia curar doenças graves.

Historicamente, beber urina para tratar doenças pode ter feito sentido devido à falta de alternativas médicas. Mas, como mostram as celebridades acima que bebem urina, a prática ainda é adotada.

Há registros de casos de uso da urina como remédio caseiro para tratar convulsões em crianças na Nigéria. A China Urine Therapy Association afirma que beber e se lavar com a urina pode curar constipação e feridas na pele.

•        Sem desperdício?

A urina é produzida pelo corpo para se livrar de resíduos. Ela é composta principalmente de água (cerca de 95%) e vários produtos residuais, inclusive ureia (2%), que é produzida pelo fígado após a quebra de proteínas no corpo, creatinina, que é remanescente dos processos de liberação de energia nos músculos, e sais. Se a urina é apenas um resíduo, como pode ser benéfico bebê-la?

Os rins atuam como reguladores - não apenas para se livrar de quaisquer toxinas, mas para remover tudo o que não é necessário. Por exemplo, o excesso de vitaminas que não são necessárias para o corpo é encontrado na urina.

Beber urina significa que essas vitaminas e minerais estão sendo reciclados em vez de desperdiçados - isso também se aplica a outros hormônios, proteínas e anticorpos que podem ser encontrados na urina. Entretanto, é improvável que a quantidade dessas substâncias em um copo de urina seja suficiente para ser benéfica, e um suplemento vitamínico pode ser mais eficaz.

Alguns defensores da terapia com urina acreditam que ela pode ajudar a prevenir reações alérgicas e controlar doenças autoimunes. Supõe-se que os anticorpos presentes na urina fortaleçam o sistema imune.

Outros usos modernos também incluem limpeza e “desintoxicação”. Algumas pessoas afirmam que beber urina reciclada de forma contínua resulta em urina e sangue mais “limpos”, removendo toxinas e melhorando a saúde geral.

No entanto, não há evidências científicas para apoiar nenhuma dessas alegações.

Alguns influenciadores de mídias sociais afirmam que a urina tem propriedades curativas e que bebê-la ou aplicá-la na pele pode ajudar em problemas de pele como acne e infecções. Como mencionado, a urina contém ureia, que é frequentemente adicionada a produtos de cuidados com a pele como hidratantes. Mas é improvável que a concentração de ureia na urina seja alta o suficiente para ter esse efeito.

A urina também contém dehidroepiandrosterona, um hormônio esteroide produzido pelo corpo que diminui com a idade e que tem sido comercializado como um ingrediente antienvelhecimento, mas não há dados suficientes para demonstrar sua eficácia.

•        Negócio arriscado

Alguns defensores da terapia com urina acreditam que a urina é estéril. Entretanto, pesquisas descobriram que a urina contém naturalmente baixos níveis de bactérias e pesquisas mostram que bactérias podem contaminar ainda mais a urina quando ela deixa o corpo. Portanto, beber urina pode introduzir bactérias e toxinas no intestino e, potencialmente, causar outras doenças, como infecções estomacais.

A urina se torna mais concentrada quando é expelida novamente - os rins podem ter que trabalhar mais para filtrar o excesso, colocando tensão extra sobre eles. Os rins precisam de água para processar esses sais.

Beber urina significa que você precisa urinar mais água do que obtém dela, o que acelera a desidratação - é semelhante a beber água do mar. Alguns medicamentos, como antibióticos à base de penicilina ou remédios para o coração, também são excretados na urina - a ingestão de urina pode causar o acúmulo desses medicamentos no organismo em níveis tóxicos.

As principais comunidades médicas não endossam a terapia com urina porque ela carece de evidências científicas. É improvável que pequenas quantidades de urina sejam prejudiciais. Mas para obter benefícios tangíveis à saúde, outras terapias com evidências científicas podem ser a melhor opção a seguir.

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•        Desidratação no calor: xixi é 'termômetro' para evitar quadro

"Precisa beber água, para não desidratar!". Você já deve ter ouvido essa frase em dias de calor intenso, certo? Mas, afinal, como saber que o corpo está necessitando de mais líquido? O que acontece com o organismo no tal quadro de "desidratação"?

➡️O principal "termômetro" é a urina, que precisa estar clara/límpida para indicar que a ingestão de água está adequada. "Se a pessoa está demorando mais do que o habitual para sentir vontade de fazer xixi, também é um sinal de que precisa beber mais líquido", explica Christian Morinaga, gerente do pronto-atendimento do Hospital Sírio-Libanês (SP).

➡️Por mais que a situação pareça assustadora, é muito difícil que um adulto saudável, que não tome medicamentos (como antidiuréticos ou reguladores de pressão arterial), chegue a desidratar. "É algo clinicamente pouco relevante", afirma Carlos Eduardo Pompilio, médico do Hospital das Clínicas (SP). A não ser que ele esteja em situação de privação de líquidos (como em um deserto), sentirá sede, beberá água e resolverá o problema.

➡️A preocupação maior é com os "extremos da idade", diz o especialista: crianças e idosos, que podem não manifestar a necessidade de ingerir líquidos. São dois grupos que podem, sim, desenvolver quadros mais graves. Entenda mais abaixo.

>>> 1- Quantos litros de água beber por dia?

A quantidade de água que cada adulto deve beber diariamente varia de acordo com seu peso e com os hábitos de vida (como a intensidade das atividades físicas praticadas). Em média, são 2 litros (use a calculadora do g1 para descobrir).

É preciso manter-se hidratado para:

•        regular a temperatura do corpo;

•        melhorar a circulação sanguínea;

•        proteger e abastecer as células;

•        ajudar no metabolismo;

•        hidratar a pele;

•        melhorar o funcionamento do intestino e dos rins;

•        desintoxicar o organismo.

>>> 2- Em adultos saudáveis, quais são os sintomas da desidratação?

Como dito no início da reportagem, a principal manifestação de falta de líquidos no organismo é o escurecimento da urina.

"Se a pessoa estiver 'pulando um xixi' que faria normalmente ou urinando em volume pequeno, é sinal de que a ingestão de água está baixa", afirma Pompilio.

Caso, ainda assim, ela não aumente o consumo de líquidos, poderá sentir mais sonolência e até um aumento da frequência cardíaca, já que o calor provoca uma dilatação dos vasos sanguíneos. "Isso leva a uma queda de pressão arterial, e o coração tenta compensar [batendo mais rapidamente]", diz Morinaga, do Sírio-Libanês.

O mais esperado, explicam os médicos ouvidos pelo g1, é que os adultos saudáveis percebam esses sinais, sintam sede, bebam água e resolvam o quadro de desidratação leve.

O protocolo é diferente para quem tem problemas cardíacos (pode haver sobrecarga do coração), renais (a capacidade de filtragem do órgão fica comprometida) e pulmonares (a oxigenação do sangue é prejudicada). Nesses casos, é preciso procurar orientação de um especialista.

➡️E atenção: quando alguém apresenta sintomas como diarreia ou vômito (por intoxicação alimentar, por exemplo), pode haver perda não só de água, mas de eletrólitos (sais). Bebidas isotônicas (como aquelas ingeridas por atletas) ou soro caseiro podem ajudar a melhorar o quadro. Se o paciente não conseguir beber nada, deverá ir ao pronto-socorro para, caso haja necessidade, receber uma hidratação endovenosa.

>>> 3- E em crianças e idosos? Por que a desidratação é mais preocupante?

O endocrinologista Ricardo Barroso, diretor da Sociedade Brasileira de Endocrinologia e Metabologia Regional São Paulo - SBEM-SP, explica por que a desidratação é mais preocupante entre crianças e idosos. Veja o infográfico abaixo, com os sintomas:

👧Bebês e crianças: Eles podem não demonstrar sede -- seja por ainda não falarem ou por estarem distraídos com as brincadeiras do dia a dia. Além disso, "esse grupo tem a superfície corpórea proporcionalmente maior que a dos adultos", afirma Pompilio, do Hospital das Clínicas. "Isso aumenta a facilidade de perder líquido."

👴Idosos: "Os sinais corporais na terceira idade são mais falhos: os velhinhos não têm percepção de sede. Isso acontece por causa do sistema nervoso central, que perde o sensor de leitura de quando estamos hidratados. Vamos perdendo essa sensibilidade com o tempo", diz Barroso.

Por isso, é importante que haja sempre alguém monitorando a cor e a frequência da urina dos idosos. Os outros sintomas (como cansaço e confusão mental - veja o infográfico acima) demoram mais para aparecer. "São sinais tardios. Precisamos deixar sempre duas garrafas de água à disposição, para evitar a desidratação", explica o endocrinologista.

 

Fonte: g1

 

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