terça-feira, 25 de março de 2025

HIV: estudo aponta que PrEP injetável tem mais adesão que a medicação oral

Um estudo que avalia a adoção da profilaxia pré-exposição (PrEP) injetável para evitar a contaminação por HIV indicou que as pessoas aderiram melhor a essa forma de prevenção do que aquelas que usaram a PrEP oral, atualmente disponível no Sistema Único de Saúde (SUS).

Os resultados da pesquisa ImPrEP CAB, realizada pela Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz), foram apresentados há alguns dias na Conferência sobre Retrovírus e Infecções Oportunistas, realizada nos Estados Unidos. Entre outubro de 2023 e setembro de 2024, os pesquisadores acompanharam cerca de 1,4 mil pessoas que receberam a medicação em unidades públicas de saúde de seis cidades brasileiras: Rio de Janeiro, São Paulo, Salvador, Campinas, Florianópolis e Manaus.

Os pesquisadores avaliam que a PrEP injetável é uma ferramenta com potencial para enfrentar os desafios de adesão à medicação oral diária, particularmente entre as pessoas mais novas, e pode ajudar o Brasil a frear o aumento de casos de HIV e a carga desproporcional de infecções entre jovens de minorias sexuais e de gênero.

O uso da PrEP injetável no Brasil, com o medicamento cabotegravir, foi aprovado em 2023 pela Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa), e a incorporação no SUS está em avaliação pelo Ministério da Saúde.

<><> Metodologia

Foram selecionadas pessoas de 18 a 30 anos que são homens que fazem sexo com homens, transgênero ou não-binárias. Os participantes do estudo nunca tinha utilizado a PrEP e procuraram esses serviços de saúde em busca do medicamento ou para fazer o teste de detecção do HIV.

Todos puderam escolher de que forma iriam utilizar a PrEP, e 83% preferiram a versão injetável, que consiste na aplicação, a cada dois meses, do medicamento cabotegravir. Já os 17% de participantes que preferiram utilizar a PrEP oral deveriam tomar diariamente os antiretrovirais tenofovir e entricitabina, na forma de um comprimido combinado. Essa é a profilaxia tradicional distribuída pelo SUS desde 2017.

O acompanhamento dos participantes mostrou que 94% das pessoas que optaram pela prep injetável compareceram ao serviço de saúde para tomar as injeções no tempo correto, o que garantiu que a grande maioria permanecesse protegida contra a infecção durante quase todo o tempo de estudo. Nenhum desses pacientes testou positivo para o HIV.

Já as pessoas que preferiram utilizar a PrEP oral ficaram protegidas durante apenas 58% dos dias de acompanhamento devido à menor adesão ao tratamento, com medicação oral de uso diário. Entre as pessoas desse segundo grupo, uma testou positivo para HIV.

Os pesquisadores também fizeram uma comparação com dados de cerca de 2,4 mil pessoas, de 14 cidades, que utilizam a PrEP oral pelo SUS, e identificaram que a cobertura foi ainda menor: 48%. Nesse grupo, nove pessoas foram infectadas pelo vírus.

O Ministério da Saúde informou, em nota, que acompanha a realização do estudo, mas não disse se há alguma previsão de inclusão da estratégia no SUS. De acordo com a pasta, a PrEP ─ mesmo em sua forma oral, como está disponível hoje ─ é “estratégia essencial na prevenção da infecção pelo HIV” e “uma das principais iniciativas para a eliminação da doença como problema de saúde pública até 2030.” O Ministério informou ainda que o Brasil dobrou o número de usuários em três anos, atingindo a marca de 119 mil usuários em 2025.

O último boletim epidemiológico publicado no final do ano passado aponta que, em 2023, foram notificados 46.495 casos de infecção pelo HIV no país, cerca de 2 mil a mais do que em 2022. Mais de 40% deles ocorreram em homens de 20 a 29 anos. Apesar disso, graças aos avanços no tratamento, entre 2013 e 2023, a mortalidade por aids caiu 32,9% no país.

¨      Injeção semestral reduziu em 96% risco de infecção em novo estudo

Uma nova injeção semestral para profilaxia pré-exposição (PrEP) apresentou 96% de eficácia para reduzir as infecções por HIV, segundo estudo clínico publicado na última quinta-feira (27) no The New England Journal of Medicine (NEJM). A pesquisa era de fase 3, que avalia a eficácia e a segurança de um novo tratamento médico em um grande número de pessoas.

O trabalho, chamado Purpose-2, é o segundo a confirmar a alta eficácia do lenacapavir para prevenir a infecção por HIV. Em julho deste ano, o ensaio clínio Purpose-1, realizado em três locais de Uganda e 25 regiões da África do Sul, mostrou 100% de eficácia em mulheres cisgênero.

O lenacapavir é um medicamento injetável semestral desenvolvido pela farmacêutica Gilead Sciences. Ele atua como um inibidor de fusão capside, o que significa que ele interfere no capsídeo do HIV, uma capa de proteína que protege o material genético do vírus e as enzimas necessárias para a replicação. Seu uso é injetável, abaixo da pele, sendo necessária a aplicação apenas duas vezes por ano — uma a cada seis meses.

<><> Como o estudo de injeção para combater infecção por HIV foi feito?

No Purpose-2, o lenacapavir semestral foi testado em um público mais diverso. Enquanto o primeiro trabalho analisou apenas mulheres cisgênero em regiões da África, o estudo mais recente envolveu participantes de diferentes gêneros, incluindo homens cis e pessoas trans, além de mais etnias, sendo conduzido em 88 centros de pesquisa no Peru, Brasil, Argentina, México, África do Sul, Tailândia e Estados Unidos.

O estudo analisou a segurança e a eficácia do lenacapavir duas vezes ao ano para PrEP em comparação com Truvada, uma pílula diária utilizada amplamente há mais de uma década como PrEP.

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No total, o trabalho contou com 3.271 homens gays, bissexuais e outros homens cisgêneros, mulheres e homens transgêneros e pessoas não-binárias com 16 anos ou mais que fazem sexo com parceiros designados do sexo masculino no nascimento.

Os participantes foram divididos de forma aleatória em uma proporção de 2:1 para receber lenacapavir e Truvada, respectivamente. Como já existem opções eficazes de PrEP, há um amplo consenso de que um grupo placebo seria antiético; portanto, o ensaio usou bHIV como o comparador primário e Truvada como um comparador secundário.

Segundo o estudo, o lenacapavir foi altamente eficaz na redução de infecções por HIV entre os participantes do estudo: 99,9% dos participantes não adquiriram o HIV no grupo do lenacapavir, com dois casos incidentes entre 2.179 participantes.

Os dados do ensaio confirmam que ambos os participantes adquiriram o HIV após receberem suas primeiras injeções de lenacapavir, mas antes de suas segundas injeções, e ambos os participantes foram diagnosticados usando testes de HIV padrões.

Os resultados também demonstraram superioridade do lenacapavir semestral sobre o bHIV com redução de risco relativo de 96%. Além disso, a injeção administrada duas vezes ao ano foi 89% mais eficaz na redução de infecções por HIV do que o Truvada administrado uma vez ao dia.

Ainda de acordo com o estudo, houve nove casos incidentes de HIV entre os 1.086 indivíduos no grupo Truvada. Esses nove participantes tinham evidências de baixa ou nenhuma adesão ao Truvada, ou haviam descontinuado o uso mais de 10 dias antes do diagnóstico.

Até o momento, o lenacapavir é aprovado em vários países para o tratamento de adultos com HIV multirresistente em combinação com outros antivirais. O uso da injeção como prevenção do HIV continua em fase de estudos e ainda não foi aprovado como PrEP por agências reguladoras.

¨      Pessoas que vivem com HIV podem não transmitir o vírus; entenda

Após décadas de combate e conscientização sobre o vírus HIV e a Aids, a ciência já fez importantes avanços na prevenção e tratamento. O uso de medicamentos antirretrovirais, inclusive, torna possível que o vírus deixe de ser transmissível através de relações sexuais.

O lema I = I, que significa indetectável = intransmissível foi criado para popularizar a informação de que o vírus pode ser suprimido no corpo a ponto de deixar de ser transmitido, mesmo através de relações sexuais desprotegidas.

A discussão envolvendo o vírus e a doença voltou à tona com as investigações do caso envolvendo o laboratório PCS Lab, no Rio de Janeiro, onde seis pacientes contraíram o vírus HIV após passarem por transplantes de órgãos por conta de uma falha operacional nos testes de exames de sangue.

Embora os avanços da ciência já permitam que portadores do vírus HIV vivam de maneira saudável, a informação é uma ferramenta essencial para garantir que as pessoas se testem e busquem acompanhamento médico e tratamento – ambos disponíveis na rede pública de saúde, por meio do Sistema Único de Saúde (SUS) – caso recebam resultado positivo para o HIV.

<><> I = I

O vírus da imunodeficiência humana, mais conhecido como HIV, ataca o sistema imunológico alterando o DNA das células linfócitos T CD4+, responsáveis por defender o organismo de doenças. Quando o vírus não é combatido por meio do uso de medicamentos, ele pode evoluir para a síndrome da imunodeficiência adquirida, a Aids.

Ou seja, existem pessoas que vivem anos com o vírus HIV sem apresentar nenhum sintoma ou desenvolver a Aids. As pessoas que desenvolvem a doença, geralmente, são as que não recebem diagnóstico precoce e não fazem o tratamento adequadamente.

Quando uma pessoa portadora de HIV fazendo uso da terapia antirretroviral consegue reduzir a quantidade de vírus no sangue a um nível indetectável pelos testes laboratoriais padrões por ao menos seis meses, o vírus deixa de ser transmissível por via sexual.

Por isso, indetectável = intransmissível.

<><> Mudança na qualidade de vida

A possibilidade de viver com HIV sem transmiti-lo através das relações sexuais permite que as pessoas portadoras do vírus recuperem uma maior qualidade de vida e possam escolher, junto a seus parceiros, a possibilidade de ter relações sexuais sem proteção.

No entanto, é importante notar que não há dados definitivos sobre por quanto tempo uma pessoa precisa tomar os remédios antirretrovirais para que o vírus seja suprimido a esse ponto. A única maneira de saber se a carga viral está suprimida ou não no sangue é através de testes de carga viral.

 

Fonte: CNN Brasil

 

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