Por que Trump diz
que quer controle da Groenlândia, do Canal do Panamá e até do Canadá
O presidente eleito
dos Estados
Unidos, Donald
Trump,
não está dando sinais de que vai desistir da ambição de obter o controle
da Groenlândia e do Canal
do Panamá,
classificando ambos como essenciais para a segurança nacional americana.
Questionado se
descartava o uso de força militar ou econômica para assumir o controle do
território autônomo dinamarquês ou do canal, ele respondeu: "Não, não
posso garantir nada em relação a nenhum dos dois".
"Mas posso
dizer o seguinte: precisamos deles para a segurança econômica", afirmou
Trump a jornalistas na terça-feira (7/1) durante coletiva de imprensa em sua
propriedade em Mar-a-Lago, na Flórida.
Tanto a Dinamarca quanto
o Panamá rejeitaram
qualquer sugestão de que abririam mão dos respectivos territórios.
Trump também
prometeu usar a "força econômica" quando perguntado se tentaria
anexar o Canadá — e chamou a
fronteira compartilhada entre eles de "linha artificialmente
traçada".
A fronteira é a
mais longa do mundo entre dois países, e foi estabelecida em tratados que
remontam à fundação dos Estados Unidos no fim dos anos 1700.
O presidente eleito
afirmou que seu país gasta bilhões de dólares protegendo o Canadá — e criticou
as importações de carros, madeira e laticínios canadenses.
"Eles deveriam
ser um Estado (americano)", disse ele aos jornalistas.
Mas o
primeiro-ministro canadense, Justin Trudeau, que renunciou
nesta semana ao cargo,
afirmou que não há "a menor chance" de uma fusão entre os dois
países.
A coletiva de imprensa
foi inicialmente marcada como um anúncio de desenvolvimento econômico para
divulgar o investimento de US$ 20 bilhões da Damac Properties, empresa de
desenvolvimento imobiliário de Dubai, para construir data centers nos Estados
Unidos.
Mas o presidente
eleito passou a criticar as regulamentações ambientais, o sistema eleitoral dos
EUA, os vários processos
judiciais contra ele e
o presidente Joe
Biden.
Entre várias outras
coisas, ele sugeriu mudar o nome do Golfo do México para "Golfo da
América" — e reafirmou sua oposição à energia eólica, dizendo que as
turbinas eólicas estão "enlouquecendo as baleias".
As declarações dele
foram feitas enquanto seu filho, Donald Trump Jr., visitava a Groenlândia.
Antes de chegar à
capital Nuuk, Trump Jr. disse que estava fazendo uma "viagem pessoal de um
dia" para conversar com as pessoas, e que não tinha reuniões marcadas com
autoridades do governo.
Quando questionada
sobre a visita de Trump Jr. à Groenlândia, a primeira-ministra dinamarquesa,
Mette Frederiksen, disse à TV dinamarquesa que "a Groenlândia pertence aos
groenlandeses" — e que somente a população local poderia determinar seu
futuro.
Ela afirmou que
"a Groenlândia não está à venda", mas enfatizou que a Dinamarca
precisava atuar em forte cooperação com os EUA, um aliado da Organização do
Tratado do Atlântico Norte (Otan).
A Groenlândia está
localizada na rota mais curta entre a América do Norte e a Europa — e abriga
uma grande instalação espacial americana. Também possui alguns dos maiores
depósitos de minerais de terras raras, cruciais para a fabricação de baterias e
dispositivos de tecnologia de ponta.
Trump sugeriu que a
ilha é essencial para os esforços militares de rastreamento de navios chineses
e russos, que, segundo ele, estão "por toda parte".
"Estou falando
de proteger o mundo livre", disse ele aos jornalistas.
Desde que venceu
as eleições em novembro,
Trump vem batendo repetidamente na tecla da expansão territorial dos EUA —
incluindo a retomada do Canal do Panamá.
Durante a coletiva
de imprensa, ele disse que o canal "é vital para o nosso país" — e
alegou que "está sendo operado pela China".
Anteriormente, ele
acusou o Panamá de cobrar a mais dos navios americanos para usar a hidrovia,
que liga os oceanos Atlântico e Pacífico.
O presidente do
Panamá, José Raúl Mulino, rejeitou as alegações de Trump, e afirmou que não há
"absolutamente nenhuma interferência chinesa" no canal.
Uma empresa com
sede em Hong
Kong,
a CK Hutchison Holdings, administra dois portos nas entradas do canal.
O canal foi
construído no início dos anos 1900, e os Estados Unidos mantiveram o controle
sobre a Zona do Canal até 1977, quando os tratados negociados pelo então
presidente Jimmy
Carter devolveram
gradualmente o controle do território ao Panamá.
"Dar o Canal
do Panamá ao Panamá foi um grande erro", disse Trump. "Veja bem,
[Carter] era um homem bom... Mas isso foi um grande erro."
Não está claro o
quão sério o presidente eleito está falando sobre aumentar o território dos
Estados Unidos, sobretudo quando se trata do Canadá, um país de 41 milhões de
habitantes, que é a segunda maior nação em extensão territorial do mundo.
Durante a coletiva
de imprensa, Trump também repetiu uma série de informações falsas e teorias
conspiratórias,
incluindo a sugestão de que o Hezbollah, grupo militante
islâmico, estava envolvido na invasão
do Capitólio dos
Estados Unidos em 2021.
¨ Por que Rússia e Noruega frearam suas ambições no
Ártico, foco do interesse de Trump
O Ártico virou notícia
nesta semana depois que o presidente eleito dos Estados
Unidos, Donald
Trump,
reiterou sua ambição de assumir
o controle da Groenlândia.
O republicano
argumentou que a ilha seria "crucial" para a segurança nacional e
econômica dos EUA.
Até recentemente,
contudo, a região vinha recebendo atenção por outro tema: sua enorme riqueza em
recursos naturais.
O Ártico entrou no
radar de investidores e empresas por volta de 2008, quando uma série de
relatórios identificou vastas reservas de petróleo e
minerais na região, que fica ao norte do território continental canadense
e da Rússia.
A partir daí, teve
início o que alguns apelidaram de "corrida fria" ou "febre
fria" do Ártico, termo que, em um jogo de palavras em inglês, remete a
"corrida do ouro" ou "febre do ouro" ("gold rush"
e "cold rush").
O fluxo de
investimentos ganhou fôlego diante da redução da camada de gelo no Polo Norte,
reflexo das mudanças
climáticas que
ameaçam o futuro do planeta e que, nesse caso, acabaram tornando as reservas
naturais do Ártico e seus recursos pesqueiros mais acessíveis.
Com a abertura de
novas rotas marítimas, a distância percorrida anualmente por navios no Oceano
Ártico mais do que dobrou entre 2013 e 2023, passando de 9,8 milhões para 20,7
milhões de quilômetros.
O incremento gerou
expectativa de que, no longo prazo, navios de carga possam passar por ali no
trajeto da Ásia para a Europa e para a costa leste americana.
Mais recentemente,
entretanto, a atividade econômica na região desacelerou significativamente, com
a mudança de postura de dois países que vinham protagonizando os investimentos
— Rússia e Noruega.
Após a invasão
da Ucrânia pela Rússia em 2022, grande parte dos projetos planejados
para a região do Ártico foi interrompida diante da deterioração das relações
entre a Rússia e o Ocidente.
"A Rússia
tinha grandes planos para o Ártico", diz Morten Mejlaender-Larsen, diretor
de operações e tecnologia no Ártico da empresa norueguesa DNV, que estabelece
regras e normas para o setor marítimo.
"Eles começaram
a construir centros regionais de resgate completos com navios e helicópteros
para facilitar tanto o transporte marítimo para projetos de gás, petróleo e
carvão na Sibéria, quanto para o transporte marítimo ao longo da Passagem
Nordeste [ao norte da Rússia]."
"Porém, desde
a invasão da Ucrânia, a navegação
internacional na Passagem Nordeste praticamente parou, com exceção de alguns
navios chineses", observa Mejlaender-Larsen.
No caso da Noruega,
ele acrescenta, o que aconteceu foi a suspensão da exploração de petróleo e gás
na região: "[A atividade] está completamente parada".
"Não esperamos
ver nenhum outro desenvolvimento no Mar de Barents, ao norte da Ilha do
Urso", ele acrescenta, referindo-se à pequena ilha norueguesa 400 km ao
norte do território coninental do país.
O movimento agradou
ambientalistas, que sempre alertaram sobre o impacto da exploração de óleo e
gás no frágil ecossistema da região polar.
Em dezembro, o
Greenpeace comemorou a decisão do governo norueguês de suspender a primeira
rodada de licitações para extração em águas profundas entre as ilhas
norueguesas de Svalbard e Jan Mayen,
que também estão no Ártico.
Analistas ponderam
que, embora a relação com a Rússia seja um dos principais motivos pelos quais a
Noruega está cautelosa em investir em projetos no Ártico, seu interesse na
região já havia diminuído.
Analistas como
Arild Moe, do grupo de pesquisa norueguês Fridtjof Nansen Institute, acreditam
que a "febre" do Ártico foi baseada em suposições exageradas.
"A euforia foi
excessiva", diz o especialista em exploração de petróleo e gás na região.
"Os relatórios
de 2008 não se referiam a reservas reais — mas sim a recursos potenciais e
altamente incertos, que seriam arriscados, caros e difíceis de localizar e
explorar."
Para Helene Tofte,
diretora de cooperação internacional e clima da Associação Norueguesa de
Armadores, a perspectiva para o transporte marítimo no Ártico também foi
superdimensionada.
Ela ressalta que,
apesar do impacto das mudanças climáticas que acabaram facilitando o tráfego de
navios, o Ártico continua sendo um lugar difícil para se operar.
"As condições
podem ser extremamente desafiadoras, mesmo quando a ausência de gelo marinho
permite a passagem", argumenta.
"Grande parte
da rota está longe das infraestruturas capacitadas para responder a
emergências, como buscas e resgates, e recursos de limpeza ambiental."
"O aumento do
transporte marítimo nesta área exigiria investimentos substanciais em navios,
preparação para situações de emergência, infraestrutura e sistemas de previsão
do tempo, para uma rota que é imprevisível e tem uma temporada operacional
curta. No momento, não temos nenhuma indicação de que nossos membros vejam isso
como comercialmente interessante", acrescenta.
As complexidades do
Ártico são o dia-a-dia do pescador norueguês Sondre Alnes-Bonesmo, de 30 anos.
Nesse momento, ele
trabalha na escuridão. O sol nasceu pela última vez no fim de outubro — e não
deve aparecer no céu novamente até meados de fevereiro.
Nessa época do ano,
as temperaturas podem chegar a 40°C abaixo de zero e as tempestades podem gerar
ondas enormes no mar.
Alnes-Bonesmo
trabalha em dois turnos de seis horas por dia, durante expedições de cinco
semanas em um navio chamado Granit.
Um dos maiores
navios pesqueiros em operação nas águas do Ártico ao norte da Noruega e na
costa da Groenlândia, ele não para no inverno.
Apesar de habituado
às agruras do inverno, ele não esconde que prefere trabalhar no verão, quando o
sol brilha 24 horas por dia.
"Eu gosto
quando o tempo está bom, pois não colidimos com as paredes (de gelo) e coisas
do gênero, como acontece durante as tempestades, quando as ondas podem ser bem
grandes", relata.
<><> Ameaça
de Trump
Donald Trump tem
expressado interesse em submeter a Groenlândia ao controle dos Estados Unidos
desde seu primeiro mandato como presidente.
Ele voltou a falar
sobre isso nesta semana e causou
polêmica ao declarar que não descartava usar força militar ou coerção econômica
pra atingir seu objetivo.
Diante da
manifestação, autoridades da Groenlândia e da Dinamarca afirmaram que o
território não estava à venda e representantes da França e Alemanha declararam
que a União Europeia não permitiria ataques às suas "fronteiras
soberanas".
Na visão de Moe, a
"declaração rude e pouco diplomática" de Trump mostra que os Estados
Unidos, sob seu comando, têm interesses de ordem econômica e relacionadas à
segurança em relação à ilha, incluindo seus "ricos recursos
minerais".
Além da
Groenlândia, no que se refere ao Ártico há também expectativa de que Trump
permita o aumento da exploração de petróleo e gás no Alasca, especificamente no
Refúgio Nacional de Vida Selvagem do Ártico, que é rico em recursos.
A área de 7,6
milhões de hectares é o maior refúgio de vida selvagem dos Estados Unidos — e,
em 2020, Trump autorizou a extração em uma parte dela.
¨ Não há a mínima chance que o Canadá se torne parte dos
EUA, garante Trudeau
O Canadá nunca fará
parte dos Estados Unidos, disse o primeiro-ministro canadense cessante Justin
Trudeau, rejeitando uma proposta do presidente eleito dos EUA, Donald Trump, de
unir os países.
Trump tem
repetidamente sugerido que sua administração de alguma forma transformaria o Canadá em uma parte dos EUA.
"Você se livra
desta linha artificialmente traçada, e olha como isso se parece, e também seria
melhor para a segurança nacional", disse Trump a jornalistas durante uma
coletiva de imprensa em sua residência em Mar-a-Lago na Flórida na terça-feira
(7).
Trudeau, que
anunciou no início desta semana que iria renunciar como primeiro-ministro e como líder
do Partido Liberal no governo após nove anos no poder, respondeu aos
comentários de Trump na terça-feira.
Para aqueles que
possam estar confusos.
"Não tem a
mínima chance que o Canadá se tornaria parte dos Estados Unidos", escreveu
Trudeau no X. Ele acrescentou, no entanto, que "os trabalhadores e as
comunidades em ambos os nossos países se beneficiam de sermos o maior parceiro comercial e de segurança um do
outro".
Pierre Poilievre, o
líder do Partido Conservador da oposição, também deu uma resposta forte a
Trump. "O Canadá nunca será o 51º estado. Ponto final. Somos um país
grande e independente", escreveu Poilievre no X.
¨
Sheinbaum responde Trump e propõe renomear EUA para ‘América Mexicana’
A presidente do México, Claudia Sheinbaum, respondeu nesta quarta-feira
(08/01) à proposta do presidente eleito dos Estados Unidos, Donald Trump, de
renomear o Golfo do México como “Golfo da América”.
Em tom irônico, Sheinbaum sugeriu uma ideia semelhante: “por que não
chamamos o sul dos EUA de ‘América Mexicana’? Fica bonito, não é?”, afirmou
durante sua coletiva de imprensa diária, a mañanera.
A declaração provocativa veio acompanhada de críticas à postura de
Trump, que Sheinbaum classificou como “desinformada”.
Ela também ironizou ao sugerir que o republicano estaria mal
assessorado, acreditando que figuras como o ex-presidente mexicano Felipe
Calderón, um direitista subserviente aos EUA, ainda comandam o México.
“Mas não, em México governa o
povo”, ressaltou a mandatária.
Trump, que toma posse em 20 de janeiro, anunciou recentemente sua
intenção de alterar o nome do Golfo do México, argumentando que “nós [EUA]
fazemos a maior parte do trabalho lá e ele é nosso”.
Este faz parte de um ataque sequencial de Trump ao México, seja via
questão migratória, através do tema dos cartéis ou de política econômica, com
um protecionismo maior de Washington contra seus vizinhos.
Perante as ameaças, o governo mexicano respondeu com veemência que as
tarifas seriam respondidas com impostos sobre os produtos dos EUA que entrassem
e seu país, e alertou que uma guerra tarifária, longe de trazer benefícios,
apenas causaria perdas para o governo de Trump.
Apesar das tensões, Sheinbaum garantiu uma boa relação com Trump em seu
próximo governo, com início em 20 de janeiro. De acordo com a governante
mexicana, os dois países terão boa diplomacia baseada na relação que seu
antecessor, Andrés Manuel López Obrador (2018-2024) teve com o republicano em
sua primeira administração (2017-2021).
Fonte: BBC News/Opera
Mundi
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