quinta-feira, 9 de janeiro de 2025

Brasil à frente do BRICS é 'grande oportunidade' para fortalecer a América Latina

A presidência do BRICS que o Brasil exercerá durante 2025 é uma oportunidade para a América Latina fortalecer seus laços com o grupo, disse o analista Daniel Prieto à Sputnik. No entanto, ele alerta que "cabe ao Brasil" mostrar aos outros países latino-americanos os benefícios econômicos concretos da aproximação ao bloco.

O gigante sul-americano assumiu no dia 1º de janeiro o comando do grupo fundado junto com Rússia, Índia, China e África do Sul sob o lema "Fortalecendo a cooperação no Sul Global por uma governança mais inclusiva e sustentável". Além de enfrentar o desafio de consolidar um novo sistema de pagamentos alternativo ao dólar baseado em moedas locais, o mandato brasileiro encontra o bloco em clara expansão, com a recente incorporação de "Estados parceiros": Belarus, Bolívia, Cazaquistão, Tailândia, Cuba, Uganda, Malásia e Uzbequistão.

Assim, o período em que Luiz Inácio Lula da Silva esteja à frente do BRICS poderia ser, juntamente com a incorporação da Bolívia e de Cuba como os primeiros latino-americanos fora do Brasil a aderir, uma oportunidade fundamental para o BRICS ter mais ressonância no mundo e na região latino-americana.

"É preciso dizer que a presidência pro tempore do Brasil é uma grande oportunidade para fortalecer a base do BRICS na América Latina e no Caribe e é muito boa para a política externa e as relações comerciais do governo Lula", disse Prieto, acadêmico da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ).

O especialista lembrou que a fracassada incorporação da Argentina, que havia iniciado negociações sob o governo de Alberto Fernández (2019-2023), mas que as descartou após a vitória de Javier Milei, permitiu "alimentar a discussão sobre a importância da participação de outros países da América Latina e do Caribe".

Somado a isso, Prieto destacou que o BRICS passou por um processo de "reformulação de critérios" nos últimos anos que facilitou, primeiro, a entrada de países como Arábia Saudita, Egito, Emirados Árabes Unidos, Etiópia e Irã no dia 1º de janeiro de 2024 e os outros nove um ano depois. Da mesma forma, outros Estados como a Argélia, a Nigéria, a Turquia e o Vietnã estão em processo de adesão.

Prieto sustenta que as novas incorporações ocorrem em um contexto em que "a importância da expansão das bases regionais" do BRICS começa a ficar evidente. Assim, destacou que o grupo está apostando fortemente no Sudeste Asiático com a adesão de uma potência demográfica como a Indonésia e marca presença em África com o Egito, a Etiópia e a possível adesão da Nigéria.

Assim, Prieto entende que "é o Brasil que tem que trabalhar na expansão da base regional na América Latina, através do governo Lula e também através de Dilma Rousseff da presidência do Banco do BRICS [Novo Banco de Desenvolvimento]". Nessa linha, o analista identificou Colômbia e Chile como dois países sul-americanos que poderiam aproveitar este ano para ingressar no grupo.

O caso mais claro é o da Colômbia, já que o presidente colombiano, Gustavo Petro, deixou explícita sua intenção de ingressar no BRICS durante reunião que teve com Lula em abril de 2024. O caso chileno parece menos próximo, já que nem o presidente, Gabriel Boric, nem seu chanceler, Alberto van Klaveren, comentaram o assunto. Em qualquer caso, ter acordos de livre comércio com o Brasil e a China, por exemplo, poderia facilitar a gestão.

"Se o Brasil conseguir, ao final do seu mandato, chegar a acordos ou pelo menos uma intenção clara da Colômbia e do Chile de participarem do BRICS, seria uma conquista importante para a expansão da base regional do grupo, bem como para a sua participação na política externa", avaliou Prieto.

Para atingir esse objetivo, o analista considera fundamental que o Brasil consiga apresentar "uma diferenciação entre o político, o diplomático e o econômico-comercial" no bloco, fazendo com que os novos membros latino-americanos vejam as vantagens econômicas da adesão ao BRICS, especialmente no que diz respeito a investimentos em infraestrutura.

Prieto enfatizou que caberá ao governo Lula poder apresentar "essas questões mais concretas" aos governos latino-americanos, para explicar as oportunidades de investimento multilateral que a América Latina pode receber através do Banco do BRICS. "O Brasil tem que ser mais proativo na identificação de projetos que possam ser financiados pelo Banco e que possam contribuir para a competitividade dos processos produtivos nacionais", afirmou.

Para o analista, os investimentos para estimular cadeias de valor, no setor energético ou na extração de recursos naturais em áreas-chave para a região como a Amazônia, são campos que podem ser fundamentais "em um processo de fortalecimento da base regional do BRICS".

¨      Participação do BRICS é 'hedge estratégico', diz jornal sobre adesão recente da Indonésia

A Indonésia mostra uma abordagem ponderada na política externa por ter entrado no BRICS durante uma época de mudanças no poder global que está em andamento, dizem especialistas do jornal South China Morning Post.

Em 6 de janeiro, uma nota do Ministério das Relações Exteriores brasileiro anunciou que a "detentora da maior população e da maior economia do Sudeste Asiático", a Indonésia, começou a fazer parte do BRICS.

Nessa nota, o Brasil, que em 1º de janeiro assumiu a presidência do BRICS, ressaltou a contribuição positiva do país sudeste-asiático para "o aprofundamento da cooperação do Sul Global".

A tendência da Indonésia em direção ao BRICS começou há muito tempo e, no ano passado, foi relatado que os líderes do grupo favoreciam a entrada do país.

Porém, segundo Dedi Dinarto, analista indonésio da empresa de consultoria estratégica Global Counsel, a administração do atual presidente da Indonésia Prabowo Subianto, que assumiu o cargo em 20 de outubro de 2024, é mais decidida do que a anterior.

No âmbito da "política de boa vizinhança" anunciada por ele, Prabowo visitou vários países, da China e Rússia aos EUA e seus aliados.

"A participação do BRICS é um 'hedge estratégico', oferecendo ao país 'flexibilidade caso haja um afastamento dos sistemas econômicos liderados pelo Ocidente'", cita o South China Morning Post a opinião de Dedi.

O especialista acha que o presidente eleito dos EUA Donald Trump, que já ameaçou aos países do BRICS com suas tarifas, poderá ver esse passo da Indonésia como "um desafio aos interesses norte-americanos".

Dandy Rafitrandi, do Centro de Estudos Estratégicos e Internacionais em Jacarta, disse que assim a Indonésia abre mercados e oportunidades de investimento na África e na América do Sul, além de aumentar os já fortes laços comerciais com a Índia e a Rússia.

Além disso, a decisão de aderir à associação pode revelar que Prabowo tem uma "aspiração de posicionar a Indonésia, e a si mesmo, como um líder do Sul Global", pensam especialistas.

 

¨      Brasil pode ter excelência em IA de baixo carbono, da mesma forma que tem em biodiesel

Na esteira da COP29, em Baku, foi assinada a declaração sobre a Ação Digital Verde, cujos objetivos alvitram incentivar o desenvolvimento de contribuições no campo das tecnologias digitais com impacto na agenda ambiental.

Para Fabro Steibel, diretor-executivo do Instituto de Tecnologia e Sociedade (ITS Rio), o Brasil — da mesma forma que tem excelência em biodiesel ou hidrogênio verde — "pode ter excelência em uso de menos energia para IA [inteligência artificial], em IA de baixo carbono".

Essa, inclusive, deve ser uma pauta importante para o Brasil levar a cabo durante a 30ª Conferência das Nações Unidas sobre as Mudanças Climáticas (COP30), que acontecerá no país em novembro deste ano, na cidade de Belém (PA).

Gasto de energia preocupa, mas fontes renováveis podem ser o caminho

Um relatório publicado pela Agência Internacional de Energia (AIE) no início do ano passado, citado pelo jornal O Globo, mostrou que o consumo de energia em centros de processamento de dados no mundo foi de 460 terawatt-hora (TWh). A estimativa da pesquisa é de que os números mais do que dobrem em 2026.

O disparo do consumo se deve, principalmente, ao uso de IA generativa e ao boom de data centers frente ao uso da ferramenta que se popularizou nos últimos anos.

Entretanto, a inteligência artificial não se resume a esses usos. Nessa perspectiva, Steibel cita exemplos que podem ajudar a diminuir as emissões de gases de efeito estufa combatendo as fontes de produção.

A primeira delas está relacionada à produção do lixo. A diminuição do consumo para reduzir a quantidade de lixo produzido depende da ação humana, mas, de acordo com o especialista, a inteligência artificial pode ajudar a mitigar alguns efeitos.

Segundo ele, um estudo de caso, também realizado pela AIE, apontou que um dos principais problemas na camada de ozônio é o metano — gás emitido pelos resíduos acumulados em aterros sanitários.

"Com imagem de satélites, eles utilizaram IA para encontrar lixões. E, a partir dos lixões, encontrar aqueles que são a céu aberto, parcialmente cobertos ou cobertos. Isso faz uma diferença muito grande em quanto de metano vai para a atmosfera ou não", afirma.

"E lixão é um problema de todas as cidades. 8 bilhões de pessoas produzem lixo, e esse material vai para lixões. Com esse mapa que eles fizeram, você consegue quantificar onde é que estão esses lixões e direcionar políticas públicas para tampá-los, que às vezes pode ser simplesmente colocar areia", acrescenta.

Steibel aponta também para soluções no âmbito das cadeias de suprimento, onde o descarte e a logística estão diretamente relacionados aos altos gastos de carbono. Nesse sentido, a inteligência artificial pode fazer com que pontos de encontro de logística sejam simplificados.

"A hora que você usa IA para você customizar, para entregar mais coisas com menos transporte, você está reduzindo o consumo de carbono", explica.

A partir dos exemplos, o especialista faz uma ressalva: comparar a energia gasta para fazer funcionar o ChatGPT usado no dia a dia pelo celular com "essas boas aplicações da tecnologia para resolver problemas complexos" pode ser considerada "uma falsa contradição".

Em relação aos gastos de energia, Steibel reafirma que o aumento de data centers tem criado esse problema de acréscimo de energia e gerado problemas para países que atraem essas empresas, como aconteceu na Irlanda.

Entretanto, para um país dono de uma matriz energética renovável, esse pode ser o caminho para propulsar uma IA que demande baixa emissão de carbono.

"O Brasil tem um potencial enorme de receber esses data centers que estão indo para países onde vão funcionar a carvão, a gás, para funcionar aqui", afirma.

De acordo com o diretor do ITS Rio, apesar de os data centers não produzirem tanto emprego, produzem ciência. "Imagina se o Brasil se torna expoente em uso de menos energia para inteligência artificial?", pondera.

Ainda segundo ele, ter uma IA de baixo carbono é um "[…] know-how. Essa tecnologia não existe ainda, ela está sendo buscada. E aqui, para isso, a gente não tem indústria de hardware, mas tem indústria de softwareTem muito potencial nas universidades e na indústria para produzir esse know-how", complementa.

IA: caminho para a redução de gases e o que o Brasil pode levar para a COP30

"O papel da IA para o clima é de uma ferramenta que pode ser usada para a redução de gases", afirma Steibel, ressaltando que a tecnologia está entre as grandes respostas para uma agenda cada vez mais urgente e prioritária.

Em relação ao que o Brasil pode apresentar na COP30 sobre programas promissores que utilizam inteligência artificial e facilitam com que dados sejam trocados de forma segura, isso tem grande efeito na economia de carbono.

Um dos projetos citados pelo especialista é o Cadastro Ambiental Rural (CAR), que incentiva a preservação de áreas verdes e prevê financiamentos para os que o cumprirem. Embora ainda não use IA, o especialista afirma que há previsão para que a plataforma passe a contar com a tecnologia.

"É uma fonte de potencial enorme, única, de observar a preservação de áreas verdes, o potencial de carbono sendo usado ou preservado. O CAR tem problemas? Muitos, mas ele é excepcionalmente interessante e potencial", afirma.

Outra iniciativa destacada pelo analista é o MapBiomas. Este já utiliza IA, embora os dados não cruzem com o governo por conta dos diferentes fornecedores de informação por satélite. O MapBiomas produz mapas da cobertura da terra para o Brasil de forma mais rápida, eficiente e barata em comparação aos modos tradicionais.

"A inteligência artificial vem nesse papel, porque consegue fazer coisas em escala. Imagine quantos e-mails a gente troca e quantas cartas a gente troca. Olha o quanto a gente reduziu a troca de cartas. Não extinguimos, mas como reduzimos e aumentamos o consumo de mensagens. Essa é uma metáfora que a gente pode usar para imaginar o que podemos fazer pelo clima", arremata.

Exportações de produtos industrializados brasileiros têm melhor resultado desde 1997, afirma governo

Os resultados de 2024 da balança comercial nas exportações totalizaram US$ 337 bilhões (cerca de R$ 2,4 trilhões). Os valores foram divulgados nesta segunda-feira (6) pela Secretaria de Comércio Exterior do Ministério do Desenvolvimento, Indústria Comércio e Serviços (Secex/MDIC).

O superávit da balança comercial no ano passado foi menor do que em 2023 (US$ 98,9 bilhões ou R$ 600 bilhões), mas teve o segundo melhor resultado da série histórica (1989), com saldo positivo de US$ 74,6 bilhões (R$ 447,6 bilhões).

Vale destacar o número recorde de exportação de US$ 181,9 bilhões na indústria de transformação em 2024, maior valor desde 1997.

Ainda de acordo com a pasta, os números também apontam crescimento de 3,3% na corrente de comércio em relação a 2023, que chegou a US$ 599,5 bilhões (R$ 3,597 trilhões). As importações somaram US$ 262,5 bilhões (R$ 1,575 trilhão).

"A balança comercial brasileira alcançou resultados expressivos em 2023 e 2024, com exportações em níveis inéditos e superávits históricos", afirmou a secretária de Comércio Exterior do MDIC, Tatiana Prazeres, durante coletiva para apresentar os números, que afirmou que o superávit comercial de 2024 deverá posicionar o Brasil entre os dez maiores do mundo.

No mês de dezembro de 2024, as exportações somaram US$ 24,9 bilhões (R$ 149,4 bilhões), e as importações US$ 20,1 bilhões (R$ 100,5 bilhões), com saldo positivo de US$ 4,8 bilhões (R$ 24 bilhões) e corrente de comércio de US$ 45 bilhões (R$ 225 bilhões).

Em comparação com dezembro de 2023, houve queda de -6,7% na corrente de comércio em dezembro de 2024. Já nas exportações, que somaram US$ 24,9 bilhões (R$ 149,4 bilhões), a queda foi de 13,5% no mês passado, em comparação com dezembro de 2023 (US$ 28,8 bilhões ou R$ 172,8 bilhões).

Em relação às importações, houve crescimento de 3,3% em dezembro de 2024 (US$ 20,1 bilhões ou R$ 120,6 bilhões), comparativamente ao mesmo mês de 2023 (US$ 19,5 bilhões ou R$ 117 bilhões).

Já entre janeiro a dezembro de 2023 e o mesmo período de 2024, nas exportações houve queda de 0,8%. Em 2024 foram US$ 337 bilhões (ou R$ 2,022 trilhões) e, em 2023, US$ 339,7 bilhões (R$ 2,038 trilhões).

Em relação às importações, houve crescimento de 9% entre o período de janeiro a dezembro de 2024 (US$ 262,5 bilhões ou R$ 1,575 trilhão) com janeiro a dezembro de 2023 (US$ 240,8 bilhões ou R$ 1,445 trilhão).

 

Fonte: Sputnik Brasil

 

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