quinta-feira, 9 de janeiro de 2025

América Latina em perspectiva: quais são os cenários possíveis para a região em 2025?

Eleições à vista no Chile e no Equador, troca de comando nos EUA e na América Latina como ponto de disputa de influência com a China, futuro do Mercosul e os desdobramentos do acordo com a União Europeia. Quais as perspectivas para a América Latina em 2025?

Com mudanças à vista no cenário internacional, especialistas ouvidos pelo Mundioka, podcast da Sputnik Brasil, traçaram alguns panoramas sobre o andamento geopolítico na América Latina neste ano. Já previstas no calendário estão duas eleições em países da América do Sul, mais especificamente no Chile e no Equador.

Para especialistas, Daniel Noboa, o atual presidente equatoriano, carrega boas chances de reeleição.

"É um cara que tem uma imagem muito bem vista, como alguém de sucesso, alguém que conseguiu construir uma carreira", pondera Lucas Mendes, professor de geopolítica da Pontifícia Universidade Católica de Minas Gerais (PUC Minas) e cofundador da página Geopolítica Hoje.

Noboa é filho de um dos principais empresários exportadores de banana do Equador. Ele nasceu nos EUA, onde também se formou em administração, na Universidade de Nova York. O atual presidente, que se apresentou como de centro-esquerda, assumiu uma postura mais condizente com as pautas da direita ao longo do mandato.

Já no Chile, o atual presidente Gabriel Boric não pode se candidatar a uma reeleição. Enquanto isso, a esquerda chilena aventa o nome da ex-presidente do país e ex-alta comissária de Direitos Humanos das Nações Unidas Michelle Bachelet para concorrer ao cargo.

"De outubro deste ano até agora, ela tem sido apresentada na mídia chilena como a grande representante do diálogo político, principalmente dentro da esquerda e com a oposição democrata cristã", diz João Paulo Arrais, bacharel em relações internacionais pela PUC Goiás e especialista em relações internacionais pela Universidade de Brasília (UnB).

Ambos os analistas avaliam como positiva a escolha do nome de Bachelet para substituir Boric, que não anda com boa popularidade entre o eleitorado. "É a grande figura desse diálogo e da força de negociação da esquerda chilena até hoje", comenta Arrais.

Entretanto, há alguns meses, após receber críticas da oposição, Bachelet declarou que não deseja ser candidata à presidência. Dona de uma carreira internacional promissora, conforme destacado por Mendes, a possibilidade de ocupar um cargo de maior expressão poderia também ser um impeditivo para a volta da líder chilena às eleições do país.

·        Possível efeito Trump na América Latina

Na segunda-feira (6), Donald Trump teve sua vitória oficializada pelo Congresso dos EUA. A posse do presidente eleito está prevista para 20 de janeiro.

Porém, antes mesmo de chegar ao poder, os ventos do efeito Trump já começam a agitar as diretrizes da América Latina. Segundo Mendes, um dos motivos do avanço do acordo entre Mercosul e União Europeia pode ter sido a eleição do republicano.

"Trump já disse que vai criar barreiras alfandegárias, taxações. Alguns produtos ali do mercado europeu realmente correm risco de serem taxados nos Estados Unidos. O Trump está focando muito essa questão do superávit comercial. Então se o país faz comércio com os Estados Unidos e mais vende do que compra, o Trump tá tentando reverter isso", pontua.

Dessa forma, o especialista afirma que o acordo "tem tudo pra andar agora". "A tendência é que, de fato, a gente chegue nos próximos meses, por conta justamente da eleição do Trump, na tentativa de resoluções envolvendo esse acordo", acrescenta.

Apesar desse fator, Mendes ressalta que se trata de um acordo amplo e, como envolve uma série de produtos a estarem aptos ao livre comércio entre os continentes, há arestas que precisam ser acertadas. "Para que o acordo seja fechado e que haja pacificação, por exemplo, no Parlamento Europeu, algumas coisas vão ter que ser retiradas", aponta.

"De modo geral, a tendência é que o acordo realmente vá para frente e consiga funcionar. Mas esses detalhes vão pegar, e aí envolve os lobbies, lobbies de setores da sociedade europeia, da sociedade brasileira, para poder aparar as arestas. Mas como eu disse, a questão do Trump eu acho que vai ser o empurrão final para que esse acordo possa, de fato, entrar em vigor", conclui.

·        Petro é alvo número 1 do 'trumpismo', diz analista

"Quando a gente vai pensar em geopolítica, na estrutura da América Latina, […] o Trump é um fator desagregador para a América Latina", nota Mendes.

De acordo com o especialista, um dos principais alvos de Trump é o presidente colombiano, Gustavo Petro.

Petro "é um ambientalista, e o Trump tem posições muito anti-ambientalistas, pró-mercado do petróleo, a favor do fracking, que é superpoluidor".

"Além disso, a Colômbia tem muitas bases americanas, soldados americanos ali, vez ou outra, que estão direto. Então é um país no qual os Estados Unidos têm os dois pés lá dentro. E gerar caos, gerar ruído, gerar desestabilização nesse cenário não é tão difícil assim", alerta o especialista sobre eventuais efeitos que poderiam surgir na Colômbia.

·        Queda de braço com a China afasta Brasil da Rota da Seda?

A atuação chinesa na América Latina já é um acontecimento constatado. Não à toa, os chineses ultrapassaram os EUA e se tornaram o maior parceiro comercial do Brasil, por exemplo, além de assumirem papel importante na economia de vários países vizinhos.

"O governo Trump terá uma postura em relação à América Latina diferente da postura do Biden", acredita Mendes, reafirmando a importância da região para a administração do republicano.

A dimensão dessa importância pode ser medida, por exemplo, pela escolha de Marco Rubio como secretário de Estado do próximo governo norte-americano.

Segundo Arrais, pode haver mobilização político-econômica do governo Trump de apoio a todos esses grupos que fazem defesa do Trump e defesa da direita liberal na América Latina — como o caso de Javier Milei, presidente da Argentina — "para tentar reconquistar esse mercado latino-americano que está sendo perdido, que já foi perdido para a hegemonia chinesa".

Ou seja, o analista acredita que podem acontecer intervenções econômicas que possibilitam influenciar o jogo político por aqui.

Mendes também aposta em uma postura incisiva dos EUA, por meio de "sanções, tarifas, barreiras", que "cria dificuldades para a economia do outro país".

Os efeitos dessa queda de braço influenciam, inclusive, no Brasil aceitar ou não integrar a Iniciativa Cinturão e Rota, de origem chinesa, também chamada de Nova Rota da Seda, conforme os especialistas.

"A avaliação que se tem dentro do governo é que essa escolha está baseada, primeiro, [no fato de] que a China já é o maior investidor no mercado brasileiro, o maior investidor internacional. É um país que, como eu disse, tem uma relação comercial muito profunda com o Brasil. A China já tem uma série de investimentos no PAC [Programa de Aceleração do Crescimento]", diz Mendes, apresentando o cenário.

Portanto, segundo ele, se o Brasil "entrar na Rota da Seda, vai ser uma sinalização muito evidente de que nós estamos pulando para o lado da China". O que, por sua vez, "poderia soar muito mal para os Estados Unidos" e poderia, inclusive, afetar a estabilidade política brasileira, finaliza.

 

¨      Equador inicia corrida eleitoral e Noboa não pede licença do cargo para fazer campanha

Começou oficialmente no último domingo (05/01) a campanha presidencial para as próximas eleições do Equador, em meio a críticas ao presidente de extrema direita Daniel Noboa por não solicitar licença do cargo para fazer campanha, que, segundo as leis equatorianas, é obrigatória.

No último sábado (04/01), a Assembleia Nacional do país havia acordado que todos os candidatos ao cargo Executivo nestas eleições deverão pedir licença do mandato que ocupam atualmente, sem remuneração. Ao contrário do que estabelece a lei, Noboa não fez este pedido de licença.

Todos os 31 membros da Assembleia Nacional que votaram contra a lei da licença são partidários do governo de Noboa. Além disso, o atual presidente também não permitiu que a vice-presidente Verónica Abad assumisse o cargo enquanto está em campanha, movimento que deveria acontecer, caso Noboa cumprisse a lei e se afastasse do cargo durante a corrida eleitoral.

Diversos setores sociais criticaram a postura de Noboa, já que isso permite que ele faça campanha usando os recursos disponíveis através da investidura no cargo, algo que a lei proíbe.

O presidente equatoriano aprofunda também a crise política que vive atualmente com a vice-presidenta Verónica Abad, que, em novembro de 2024, foi transferida para a embaixada do Equador em Ankara, na Turquia.

Segundo Abad, Noboa decidiu afastá-la das funções para impedir que ela assumisse a presidência durante a campanha eleitoral – que estaria de acordo com as leis vigentes no país. Ela justificou o atraso afirmando que a viagem para a Turquia “não estava preparada” e disse que Noboa quer dar um golpe para garantir a reeleição.

Na última sexta-feira (03/01), Noboa emitiu um decreto nomeando a secretária de Administração, Cynthia Gellibert, como vice-presidenta. Segundo o decreto, a nomeação permanecerá em vigor até 22 de janeiro ou até Abad assuma o cargo na embaixada do Equador na Turquia.

As disputas eleitorais ocorrem em meio a uma crise de déficit de energia no Equador, além de índices alarmantes de violência e insegurança no país, que também começou o ano prolongando o estado de exceção.

A medida, que já estava vigente em seis províncias e dois municípios equatorianos, foi estendida para a província de Sucumbíos e o município de La Troncal, em Guayas.

O país também vive uma convulsão social após o desaparecimento forçado de quatro rapazes, uma criança e três adolescentes, durante uma operação militar. Os corpos dos jovens foram encontrados perto de uma instalação da Força Aérea Equatoriana em Taura, que fica a aproximadamente uma hora do bairro de Las Malvinas, no sul de Guayaquil, onde os garotos desapareceram.

No total, 16 policiais militares estão detidos sob suspeita de envolvimento no assassinato. Cerca de 40 organizações sociais responsabilizaram Noboa pelas “graves violações aos direitos humanos” registradas em 2024, no contexto de sua luta contra o crime organizado, que levou o país a ser declarado em conflito armado interno no início do ano, com a mobilização de militares nas ruas, além de toques de recolher por todo o país.

¨      'Venezuela não será novamente cenário de violência nem de disputas internas', diz deputado

A Venezuela se prepara para a posse de Nicolás Maduro, enquanto a oposição planeja o retorno de Edmundo González ao país para assumir como presidente. Edgardo Ramírez, deputado da Assembleia Nacional, afirmou em à Sputnik que qualquer tentativa será tratada de acordo com a lei.

Como parte do apoio conquistado por González, foi informado que os ex-presidentes Vicente Fox e Felipe Calderón, do México; Jorge Quiroga, da Bolívia; Mario Abdo Benítez, do Paraguai; e Mireya Moscoso, do Panamá, planejam viajar à Venezuela para manifestar seu apoio ao opositor.

"Os cinco ex-presidentes inomináveis que pretendem entrar ilegalmente no território da República Bolivariana da Venezuela estarão sujeitos ao cumprimento de nossa Constituição", declarou Edgardo Ramírez.

"Esses ex-mandatários, fracassados durante seus governos, deixaram seus povos em altos níveis de pobreza e endividaram suas nações sob os ditames do Fundo Monetário Internacional (FMI) e das políticas neoliberais", acrescentou.

Por outro lado, o deputado chamou Edmundo González de "criminoso", que será julgado por traição à pátria caso tente entrar no país.

"Venezuela não será novamente um cenário de violência nem de disputas internas entre venezuelanos e venezuelanas. O povo está convocado a enfrentar qualquer ameaça estrangeira ou ação que atente contra nossa soberania", destacou.

'A fracassada estratégia do Grupo de Lima'

O deputado acusou ainda os cinco ex-presidentes, integrantes do Grupo IDEA (Iniciativa Democrática da Espanha e das Américas), de serem "instrumentos dos interesses dos Estados Unidos".

"Essas ações fazem parte da continuidade da fracassada estratégia do Grupo de Lima. Esses ex-presidentes são instrumentos dos interesses dos Estados Unidos, que pretendem manter o bloqueio criminoso, o roubo de ativos venezuelanos e a guerra econômica contra nosso povo. Falam de democracia enquanto seus governos deixaram pobreza e endividamento em seus países", afirmou.

O parlamentar denunciou o confisco de mais de US$ 22 bilhões (R$ 134,2 bilhões) em receitas venezuelanas retidas em bancos europeus e norte-americanos, além do roubo de 29 toneladas de ouro depositadas no Banco da Inglaterra.

"Por trás dessas ações está a intenção de destruir a Revolução Bolivariana e gerar violência interna para impor uma ditadura pela força", sublinhou.

Os preparativos de segurança para a posse de Maduro

Ramírez também comentou as declarações recentes do ministro do Interior, Justiça e Paz, Diosdado Cabello, que informou a captura de mais de 120 mercenários de várias nacionalidades, destacando que o sistema de inteligência venezuelano está fortalecido.

"Nosso sistema de inteligência e contrainteligência está mais fortalecido do que nunca, graças ao apoio do povo venezuelano e ao desenvolvimento de tecnologias avançadas. Esses mercenários respondem aos interesses do imperialismo e buscam desestabilizar nosso país. Contudo, contamos com um povo decidido e uma Força Armada Nacional Bolivariana pronta para defender nossa soberania", afirmou.

O deputado alertou sobre as tentativas de "balcanização" da Venezuela, estratégia histórica do imperialismo para dividir nações e se apropriar de suas riquezas. "Na Venezuela, isso não acontecerá. Nosso compromisso com a independência e a integridade territorial é absoluto. Estamos preparados para a vitória", enfatizou.

2025: ano de democracia participativa na Venezuela

O deputado também comentou sobre próximo ano eleitoral no país e os desafios enfrentados pelo chavismo como movimento político. "2025 será um ano para fortalecer nossa democracia participativa e protagonista. O povo legislará, executará e planejará seus projetos sociais por meio de consultas trimestrais e eleições para conselhos comunais, prefeitos, governadores e o Poder Legislativo", explicou.

Em relação à oposição, Ramírez distinguiu entre aqueles que participam dos processos democráticos e os que promovem violência e colaboram com o saque de ativos venezuelanos.

"Esses apátridas foram derrotados em todas as frentes: golpes de Estado, sabotagens econômicas e ataques ao sistema elétrico. Continuaremos derrotando-os com unidade, paz e justiça", declarou.

Ramírez destacou ainda os desafios do chavismo para o ano, incluindo o fortalecimento da produção de alimentos, da ciência e tecnologia soberana, bem como os processos de integração regional.

"Devemos consolidar nossa independência econômica e continuar construindo uma Venezuela mais justa e solidária. A defesa da Guiana Essequiba também é prioritária. É um território venezuelano, e o defenderemos das ambições imperialistas", finalizou.

¨      Venezuela anuncia desmantelamento de grupo de mercenários dos EUA, Ucrânia e Colômbia

O presidente da Venezuela, Nicolás Maduro, anunciou nesta terça-feira (7) o desmantelamento de um grupo de mercenários dos Estados Unidos, da Ucrânia e da Colômbia ligados à oposição do país caribenho.

Ao todo foram detidos sete mercenários, três da Ucrânia, dois dos EUA e dois da Colômbia.

"Vinham para desenvolver ações terroristas contra a paz da Venezuela", afirmou o presidente durante um encontro com a milícia bolivariana.

O presidente venezuelano acrescentou que essas detenções são "de altíssimo nível", sem precedentes na história do país latino-americano.

Também hoje, deputados da Assembleia Nacional (parlamento unicameral) da Venezuela aprovaram por unanimidade o acordo de repúdio a ações de "interferência" de um grupo de ex-presidentes estrangeiros, declarando-os persona non grata.

"Os senhores deputados que concordam em aprovar este projeto, de acordo com as modificações já indicadas no calor do debate, expressam-no com o sinal habitual. Está aprovado por unanimidade", indicou o presidente do órgão legislativo, Jorge Rodríguez, durante sessão ordinária transmitida pelo canal estatal venezuelano de TV.

¨      Venezuela rompe relações diplomáticas com Paraguai após apoio a opositor

O governo da Venezuela anunciou nesta segunda-feira (06/01) a decisão de romper suas relações diplomáticas com o Paraguai.

Em comunicado difundido pelo Ministério de Relações Exteriores, Caracas alega que a medida foi tomada após o presidente paraguaio Santiago Peña manifestar seu apoio ao plano do ex-candidato opositor Edmundo González Urrutia de se autoproclamar presidente do país.

Neste domingo (05/01), Peña manteve uma videoconferência com González Urrutia e com a líder opositora María Corina Machado, ambos representantes da coalizão de extrema direita Plataforma Unitária.

No encontro virtual, o mandatário paraguaio se referiu a Gonzáles Urrutia como “vencedor das eleições presidenciais na Venezuela” e “principal líder da oposição ao regime de Nicolás Maduro”.

 “É lamentável que governos como o do Paraguai continuem a subordinar a sua política externa aos interesses das potências estrangeiras, promovendo agendas que visam minar os princípios democráticos e a vontade dos povos livres”, diz um trecho do comunicado.

Em outra parte da mensagem, o governo bolivariano enfatiza que “rejeita categoricamente” as declarações de Peña, e acusam o mandatário de “ignorar o direito internacional e o princípio da não intervenção, tentando relançar uma prática fracassada que lembra as fantasias políticas do extinto Grupo de Lima, com sua ridícula aventura chamada Guaidó”.

No texto, a chancelaria venezuelana também determina “a retirada imediata do seu pessoal diplomático acreditado no país (Paraguai)”.

Ao mesmo tempo, o governo do Paraguai reagiu à decisão de Caracas expulsando o embaixador venezuelano em Assunção, Ricardo Capella, e todo o pessoal diplomático credenciado no país, que deverão deixar o território paraguaio em um prazo máximo de 48 horas.

Na semana passada, o governo da Venezuela publicou um novo mandado de prisão contra o ex-candidato González Urrutia, no qual também é oferecida uma recompensa de 100 mil dólares a quem puder fornecer informações sobre o seu paradeiro.

 

Fonte: Sputnik Brasil/Opera Mundi

 

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