segunda-feira, 16 de dezembro de 2024

Raio-X da operação que prendeu Braga Netto

A Polícia Federal prendeu neste sábado (14) o general Walter Souza Braga Netto, alvo do inquérito que apura uma tentativa de golpe de estado. Ele foi preso no Rio de Janeiro, em Copacabana, e ficará sob custódia do Exército.

Blog da Andréia Sadi noticiou a prisão em primeira mão.

>>>>>> A seguir, veja o que se sabe sobre a investigação

·        Qual é o inquérito?

A Polícia Federal investiga uma tentativa de golpe de Estado no Brasil. A conclusão do inquérito aponta uma organização criminosa que atuou de forma coordenada na tentativa de golpe para manter Bolsonaro após derrota na eleição de 2022. A investigação começou no ano passado e foi concluída dois dias após a Polícia Federal (PF) prender 4 militares e um policial federal acusados de tentar matar Lula, Alckmin e Moraes. Em novembro, 37 pessoas foram indiciadas suspeitas de: abolição violenta do Estado democrático de Direito, golpe de Estado e organização criminosa.

·        Quem é Braga Netto?

Walter de Souza Braga Netto é general da reserva do Exército, ex-ministro-chefe da Casa Civil e da Defesa do governo Bolsonaro e candidato a vice na chapa que perdeu a eleição presidencial de 2022.

Nascido em Belo Horizonte (MG), o militar tem 67 anos. Ele entrou para o Exército em 1975.

Em 1977, esteve na mesma turma de Luiz Eduardo Ramos, que também foi ministro no governo Bolsonaro, e Edson Pujol, ex-comandante do Exército, na Academia Militar das Agulhas Negras (Aman).

Em 2009, Braga Netto foi promovido a general e nomeado chefe do Estado-Maior do Comando Militar do Oeste.

Em 2016, o militar foi um dos responsáveis pela coordenação da segurança durante a Olimpíada do Rio. E, naquele mesmo ano, assumiu o Comando Militar do Leste, onde chefiou 50 mil militares no Rio, no Espírito Santo e em Minas Gerais.

Em 2018, foi nomeado interventor da Segurança no Rio de Janeiro, durante o governo de Michel Temer (MDB), comandando as polícias Civil e Militar, o Corpo de Bombeiros e o sistema penitenciário do estado.

Em fevereiro de 2020, Braga Netto entrou no governo Bolsonaro como ministro da Casa Civil. No ano seguinte, trocou de posição e assumiu o Ministério da Defesa.

Um ano depois, deixou o ministério no prazo para concorrer às eleições de 2022 – ele acabou sendo o candidato a vice-presidente na chapa derrotada de Jair Bolsonaro.

·        Quais são os mandados?

A Polícia Federal cumpriu o mandado de prisão e fez buscas na casa do general, no Rio de Janeiro. Segundo apuração, o celular dele foi apreendido. Além disso, o Exército confirmou que foi feita uma busca na casa do Coronel Flávio Botelho Peregrino, também da reserva, em Brasília.

·        Por que Braga Netto foi preso?

Ao pedir a prisão preventiva de Braga Netto neste sábado, a PF argumentou a liberdade de Braga Netto representa um risco à ordem pública devido à possibilidade de voltar a cometer ações ilícitas. Teve participação relevante nos atos criminosos. Nas palavras de um investigador, era "a cabeça, o mentor do golpe- mas sob comando de Bolsonaro".

A Polícia Federal diz que Braga Netto:

·        Coordenou ações ilícitas executadas por militares com formação em Forças Especiais ("kids pretos")

·        Entregou dinheiro em uma sacola de vinho para financiar as operações

·        Tentou obter dados sigilosos do acordo de colaboração de Mauro Cid, ex-ajudante de ordens de Bolsonaro.

·        Tentou controlar as informações fornecidas e alinhar versões entre os investigados

·        Teve ação efetiva na coordenação das ações clandestinas para tentar prender e executar o ministro do Supremo Tribunal Federal Alexandre de Moraes

¨      Do plano para matar Lula ao comando do gabinete de crise; relembre as suspeitas que recaem sobre Braga Netto

O general Walter Souza Braga Netto, ex-ministro da Defesa e ex-vice de Bolsonaro na chapa de 2022, preso neste sábado (14) no Rio de Janeiro, foi apontado pela Polícia Federal como um dos responsáveis pela tentativa de golpe de Estado e, também, de assassinato de autoridades.

Braga Netto foi indiciado no mês passado junto ao ex-presidente Jair Bolsonaro e outras 35 pessoas, por supostamente participar da trama que teria o objetivo de manter o ex-presidente no poder.

Eles são suspeitos dos crimes de abolição violenta do Estado democrático de Direito, golpe de Estado e organização criminosa.

Entre as implicações elencadas pela PF, está a aprovação do plano para assassinar os então presidente e vice-presidente eleitos Lula e Geraldo Alckmin, e o ministro do STF Alexandre de Moraes.

<><> Plano para matar autoridades

O plano, elaborado pelo general da reserva Mario Fernandes — preso em novembro, foi apresentado a Braga Netto, em reunião na casa do ex-ministro de Bolsonaro em novembro de 2022.

Segundo a PF, o planejamento chamado de "Punhal Verde e Amarelo" falava em assassinar, em dezembro de 2022, as três autoridades.

Naquele momento, Lula e Alckmin já tinham sido eleitos, mas ainda não tinham tomado posse na presidência da República. Moraes era presidente do Tribunal Superior Eleitoral (TSE).

Na casa de Braga Netto, o tenentes-coronéis Mauro Cid e Ferreira Lima, e o major Rafael de Oliveira discutiram o plano junto a Braga Netto, que teria aprovado o documento.

A reunião foi em 12 de novembro, três dias antes da data escolhida para os crimes.

"A reunião contou com o tenente-coronel MAURO CESAR CID, o Major RAFAEL DE OLIVEIRA e o Tenente-Coronel FERREIRA LIMA, oportunidade em que o planejamento foi apresentado e aprovado pelo General BRAGA NETTO", diz a PF.

Investigação da PF aponta também que os golpistas previam colocar os generais Augusto Heleno, então ministro-chefe do Gabinete de Segurança Institucional (GSI), e Braga Netto como comandantes de um gabinete de crise como resposta às mortes das autoridades.

O plano previa envenenar Lula e Moraes e, em seguida, instituir o "Gabinete Institucional de Gestão da Crise". Havia, inclusive, uma minuta pronta para a sua criação, documento encontrado com o general Mário Fernandes em 19 de novembro.

Além dos generais Heleno e Braga Netto, a investigação da PF identificou que o grupo teria outros militares em sua formação, entre os quais o general Mário Fernandes e Filipe Martins, à época assessor de Bolsonaro.

<><> Pressão por apoio

Braga Netto também é destacado como arquiteto da trama e alguém que atuou ativamente para reunir apoio ao plano golpista, segundo a Polícia Federal.

O ex-candidato a vice-presidente na chapa de Bolsonaro, segundo a PF, pressionou os "comandantes da Aeronáutica e do Exército a aderirem ao plano que objetivava a abolição do Estado Democrático de Direito".

Braga Netto teria utilizado, ainda de acordo com o inquérito, de um mecanismo semelhante às milícias digitais.

"Conforme consta nos autos, BRAGA NETTO utilizou o modo de agir da milícia digital, determinando a outros investigados que promovessem e difundissem ataques pessoais ao General FREIRE GOMES e ao Tenente-Brigadeiro BAPTISTA JÚNIOR, além de seus familiares", diz a PF.

<><> Repasses em dinheiro

Novos elementos também dão conta de que Braga Netto teria inclusive atuado nos financiamentos das ações ilegais, ao fazer repasses em dinheiro vivo a militares das Forças Especiais, os chamados "kids pretos", usando até embalagens de vinhos.

A reportagem entrou em contato com a defesa de Braga Netto, mas até o fechamento desta reportagem não tinha recebido retorno.

·        O que diz a defesa?

A defesa de Braga Netto ainda não se pronunciou. Em novembro, depois de ser indiciado, Braga Netto disse que 'nunca se tratou de golpe' e nem de 'plano de assassinar alguém'.

·        O que diz o exército?

Em nota, o Centro de Comunicação Social do Exército disse que foram feitas ações de busca e apreensão nas residências do Braga Netto, no Rio de Janeiro, e do Coronel Flávio Botelho Peregrino, também da reserva, em Brasília. "O General Braga Netto ficará sob custódia do Exército, no Comando da 1ª Divisão de Exército na cidade do Rio de Janeiro".

O Exército disse ainda que "vem acompanhando as diligências realizadas por determinação da Justiça e colaborando com as investigações em curso".

¨      Novo depoimento de Cid embasou prisão de Braga Netto

A decisão do ministro Alexandre de Moraes do Supremo Tribunal Federal (STF) que determinou a prisão preventiva do general Walter Souza Braga Netto neste sábado (14) menciona provas robustas de que o ex-ministro da Defesa do governo do ex-presidente Jair Bolsonaro tentou "obstruir as investigações" sobre a tentativa de golpe de Estado.

Moraes destacou que, segundo a PF, Braga Netto “concorreu para o processo de planejamento e execução do golpe" (leia mais abaixo). E que foi o depoimento do ex-ajudante de ordens de Bolsonaro, o tenente-coronel Mauro Cid, em novembro, que apresentou elementos suficientes sobre a “conduta dolosa” do general em impedir investigações em curso.

"A Polícia Federal aponta provas robustas de que o investigado para o qual a medida cautelar é requerida concorreu para o processo de planejamento e execução de um golpe de Estado, que não se consumou por circunstâncias alheias às suas vontades, além de ter atuado no sentido de obstruir as investigações em curso, por meio de obtenção ilícita de dados de colaboração premiada", diz um trecho do documento.

"Conforme detalhado pela Polícia Federal, há diversos elementos de prova (...) que evidenciam que Walter Souza Braga Netto atuou, dolosamente, para impedir a total elucidação dos fatos, notadamente por meio de atuação concreta para a obtenção de dados fornecidos pelo colaborador Mauro César Barbosa Cid, em sua colaboração premiada, 'com o objetivo de controlar as informações fornecidas, alterar a realidade dos fatos apurados, além de consolidar o alinhamento de versões entre os investigados'”, prossegue a decisão.

Ainda de acordo com o parecer do ministro, as investigações dão conta de que Cid disse, inclusive, que teria sido procurado por Braga Netto após fechar acordo de delação premiada com a polícia. E que o general tentou obter dados sigilosos sobre a colaboração junto ao pai de Mauro Cid, o general Mauro Lourena Cid.

"A perícia realizada no celular apreendido em posse de Mauro César Lorena Cid, genitor do colaborador Mauro César Barbosa Cid, demonstrou intensa troca de mensagens com Walter Souza Braga Netto bem como que todas as mensagens trocadas por meio do aplicativo WhatsApp foram apagadas nas primeiras horas do dia 8/8/2023, três dias antes da denominada operação “Lucas 12:2”, que apurou as ações do grupo criminoso relativas ao desvio de presentes de alto valor – joias – recebidos em razão do cargo pelo ex-presidente da República Jair Messias Bolsonaro e por comitivas do governo brasileiro", menciona Moraes.

"Além dos elementos anteriormente conhecidos, houve apreensão de documento na sede do Partido Liberal relativo ao acordo de colaboração de Mauro César Barbosa Cid, a indicar que os investigados interpelaram o colaborador, ainda que por intermédio de seu genitor, para que revelasse o teor de seus depoimentos e assegurasse que a participação dos investigados não fosse integralmente revelada", cita também o documento.

Moraes escreveu ainda que o ex-ministro da Defesa obteve e entregou recursos para a operação Punhal Verde e Amarelo, que tinha como objetivo o assassinato do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, do vice-presidente Geraldo Alckmin e do próprio ministro Alexandre de Moraes.

"Ressalte-se, ainda, que, além dessas novas provas indicarem a atuação dolosa de Walter Souza Braga Netto na tentativa de obstrução da investigação, o novo depoimento do colaborador Mauro César Cid, em 21/11/2024 – corroborado por documentos juntados aos autos – aponta que foi Walter Souza Braga Netto quem obteve e entregou os recursos necessários para a organização e execução da operação “Punhal Verde e Amarelo” - evento “Copa 2022”, pontua.

"Na audiência ocorrida nessa Suprema Corte, portanto, o colaborador Mauro César Barbosa Cid trouxe novos fatos relacionados ao financiamento das ações de forças especiais pelo investigado Walter Souza Braga Netto, afirmando que: 'o general repassou diretamente ao então Major RAFAEL DE OLIVEIRA dinheiro em uma sacola de vinho, que serviria para o financiamento das despesas necessárias a realização da operação'”.

Braga Netto é alvo do inquérito que apura uma tentativa de golpe de Estado. Ele foi preso no Rio, em Copacabana, como adiantou o blog da Andréia Sadi; será entregue ao Comando Militar do Leste; e ficará sob custódia do Exército. A PF fez buscas na casa dele.

Ao pedir a prisão preventiva de Braga Netto neste sábado, a PF argumentou que a liberdade de Braga Netto representa um risco à ordem pública devido à possibilidade de voltar a cometer ações ilícitas.

¨      PGR deu aval à prisão de Braga Netto

O procurador-geral da República (PGR), Paulo Gonet, deu aval para a prisão do general Braga Netto, investigado por atrapalhar as apurações sobre uma suposta tentativa de golpe de estado para manter o ex-presidente Jair Bolsonaro no poder.

Gonet concordou que a medida era adequada. A manifestação da PGR foi enviada ao Supremo Tribunal Federal (STF) após determinação do relator do caso, ministro Alexandre de Moraes, que autorizou a ação realizada neste sábado (14).

Braga Netto já era monitorado pela Polícia Federal. A prisão foi feita neste sábado (1) porque ele voltou para o Rio de Janeiro de uma viagem a Alagoas.

Entre os elementos da nova operação da Polícia Federal, estão depoimentos de Mauro Cid, ex-ajudante de ordens de Bolsonaro que implicam diretamente o general, que foi candidato à vice na chapa de Bolsonaro derrotada nas eleições de 2022.

Além de obstrução de Justiça, há novos elementos de que Braga Netto teria inclusive atuado nos financiamentos das ações ilegais, teria feito repasses em dinheiro vivo a militares das Forças Especiais, os "kids pretos", usando até embalagens de vinhos.

 

Fonte: g1

 

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