Prematuridade: entenda o que é, causas
e possíveis riscos à saúde
Cerca de 340 mil bebês nascem prematuros no Brasil por
ano, de acordo com o Ministério da Saúde. No mundo, 10% dos nascimentos são
prematuros, segundo relatório divulgado em 2023 pela Organização Mundial da
Saúde (OMS), pela Fundo das Nações Unidas para a Infância (Unicef) e a Parceria
para a Saúde Materna, Neonatal e Infantil.
Para conscientizar sobre as causas, riscos e
complicações associados à prematuridade, foi criada a campanha Novembro Roxo.
O objetivo é alertar para os fatores que podem levar ao nascimento prematuro e
chamar atenção para o cuidado com esses recém-nascidos.
<><> O que é prematuridade?
Um bebê é considerado prematuro quando nasce com idade
gestacional inferior a 37 semanas, segundo Suely Dornellas, pediatra
neonatologista e coordenadora da UTI Neonatal do Hospital e Maternidade Santa
Joana. No entanto, é possível classificar a prematuridade em diferentes níveis,
como:
- Prematuro tardio: aquele que
nasce entre 34 e 36 semanas e seis dias de gestação;
- Prematuro moderado: aquele que
nasce entre 32 e 33 semanas e seis dias de gestação;
- Muito prematuro: aquele que
nasce entre 28 e 31 semanas e seis dias de gestação;
- Prematuro extremo: aquele que
nasce com idade gestacional inferior a 28 semanas.
<><> Quais são as causas para a
prematuridade?
Existem diversos fatores que podem levar ao parto
prematuro, ou seja, é uma condição multifatorial. “Os principais fatores
associados a ele são a gemelaridade [gestação de gêmeos], hipertensão
arterial,
pré-eclâmpsia, infecções maternas, sendo a infecção urinária a principal, uso
de drogas ilícitas, álcool, desnutrição, idade materna avançada ou muito jovem,
e algumas alterações placentárias”, elenca Dornellas.
A pediatra explica, ainda, que muitas condições de
saúde maternas podem levar ao trabalho de parto prematuro, como o diabetes, má nutrição,
doença hipertensiva específica da gestação, entre outras. “Caso essas condições
não sejam acompanhadas e tratadas adequadamente no pré-natal, podem ser de
risco também para a gestante [durante o parto]”, alerta.
<><> Quais riscos estão associados ao parto
prematuro?
Segundo Dornellas, o bebê prematuro é mais propenso a
ter distúrbios respiratórios, cardiovasculares, infecciosos,
neurológicos, metabólicos, nutricionais e oftalmológicos.
De acordo com o Manual
MSD,
a maioria das complicações da prematuridade é causada por órgãos e sistemas que
ainda não se desenvolveram completamente, e o risco aumenta de acordo com o
grau de prematuridade.
<><> Como é feito o tratamento e cuidado
com bebês prematuros?
Por ter causas multifatoriais, o tratamento e o cuidado
com bebês vão depender do que levou ao nascimento prematuro e os riscos
associados ao parto.
Ainda segundo o Manual MSD, o tratamento inclui manejar
as complicações causadas por órgãos subdesenvolvidos. Por exemplo, é possível
que o recém-nascido prematuro receba tratamentos que ajudem com os problemas
respiratórios ou cerebrais pós-parto, transfusão de sangue para casos de
anemia, além de poder receber antibióticos para infecções.
No caso de bebês muito prematuros, pode ser necessária
a internação na terapia intensiva neonatal, podendo ser indicado o uso de tubo
de ventilação até que o bebê seja capaz de respirar sem ajuda. A alimentação
também pode ser feita por sonda até que ele consiga se alimentar do leite
materno.
Geralmente, o bebê prematuro segue internado no
hospital até que suas complicações médicas sejam controladas e ele tenha
ganhado peso o suficiente, consiga manter sua temperatura corporal adequada,
não tenha mais pausas na respiração e esteja consumindo uma quantidade adequada
de leite materno.
<><> É possível prevenir um parto
prematuro?
Sim, é possível prevenir o parto prematuro. “A
prevenção já se inicia antes da gestação com o planejamento familiar. Após a
gestação, o acompanhamento pré-natal adequado, uma alimentação balanceada, a
manutenção do peso corporal da gestante adequada, a vacinação em dia, evitar o
tabagismo, uso de álcool e drogas ilícitas, além do tratamento das patologias
médicas pré-existentes e a realização dos exames indicados pelo médico que
assiste o pré-natal”, elenca Dornellas.
¨ O que acontece nas primeiras horas de
vida do bebê? Confira 7 pontos
Você já pensou na importância das primeiras horas da
vida de um bebê assim que ele nasce? Além de respirar sozinho e regular sua
temperatura fora do útero, o recém-nascido vai aprender a mamar e passará por
exames e avaliações que podem evitar problemas futuros.
A seguir, saiba mais sobre os procedimentos essenciais
nas primeiras horas de vida dos bebês.
<<< 1. Avaliação geral
Ainda na sala de parto, o pediatra neonatologista
analisa se ele tem tônus muscular adequado e se está respirando naturalmente.
Essa avaliação é importante porque, dentro do útero materno, o pulmão do feto
fica cheio de líquido e ele recebe oxigênio através do cordão umbilical.
Nos primeiros 30 minutos após o nascimento, ocorre uma
mudança do padrão de circulação fetal para o chamado padrão de circulação
neonatal, ou seja, o bebê assume sua própria respiração e sua circulação passa
a ser igual a de um adulto.
Em 90% dos casos esse processo acontece naturalmente e
o bebê já vem ao mundo com um choro forte. Quando
isso não ocorre, o pediatra entra em cena para tomar as atitudes necessárias.
A equipe médica também monitora a frequência
cardíaca e
a cor da pele do recém-nascido. Esses parâmetros são pontuados de 0 a 2 e
permitem que o médico forneça uma nota de 0 a 10, conhecida como Escore de
Apgar. Valores de 8 a 10 pontos significam que a saúde está ótima; de 6 a 7
pode necessitar de algum cuidado especial; e abaixo disso indica algum problema
que necessite de intervenção médica.
“Esse processo é realizado no primeiro e no quinto
minuto de vida para podermos avaliar as condições ao nascimento e as respostas
do recém-nascido à ajuda prestada”, diz a médica Romy Zacharias, coordenadora
da neonatologia do Hospital Israelita Albert Einstein.
<<< 2. Contato pele a pele
O bebê que nasce bem, independentemente da via de
parto, é colocado imediatamente no colo da mãe. O recomendado é que a golden
hour — ou “hora dourada”, como é chamada essa primeira hora de vida — permita o
contato pele a pele e que a mãe já ofereça o peito. Isso dá mais segurança à
mulher e acalma o recém-nascido, que ouve os batimentos cardíacos da mãe e
vozes conhecidas.
“Além disso, hormônios desencadeados nesse processo
promovem a descida do leite mais precocemente e diminuem o risco de a mãe
apresentar sangramento excessivo”, destaca a médica neonatologista Tarita De
Losso, do Centro de Atenção Integral à Saúde da Mulher (CAISM), da Universidade
Estadual de Campinas (Unicamp). O contato também ajuda o bebê a já buscar o
peito da mãe, estimulando a amamentação. E ainda contribui para que o
recém-nascido perca menos calor.
<<< 3. Corte do cordão umbilical
O clampeamento do cordão umbilical acontece ainda com o
bebê em contato com a mãe. O Ministério da Saúde recomenda que ele seja cortado
quando a pulsação parar, o que significa que a circulação de sangue entre o
recém-nascido e a placenta cessou — acontece entre um e três minutos após o
nascimento.
O corte no momento correto leva ao aumento no volume
sanguíneo do recém-nascido e das suas reservas de ferro. Isso diminui o risco
de ele desenvolver anemia nos primeiros seis meses de vida.
<<< 4. Medidas antropométricas e colírio
Após o contato pele a pele e, principalmente, quando o
bebê não estiver mais mamando, é hora de realizar as medidas antropométricas,
que envolvem peso, comprimento e perímetro cefálico, a medida da circunferência
da cabeça. “A aspiração das vias aéreas não é mais indicada de rotina. Ela deve
ser realizada apenas se o neonatologista detectar a presença de secreção”, diz
a médica da Unicamp.
Outro cuidado importante que acontece na sala de parto
é a utilização de um colírio, que deve ser pingado nos olhos do recém-nascido
para fazer a profilaxia da conjuntivite neonatal. O bebê pode ser contaminado
por bactérias no ventre ou ao passar pelo canal de parto e a doença pode
desencadear sequelas graves, como a cegueira.
<<< 5. Vitamina e vacinas
Na sala de parto o bebê também recebe uma injeção de
vitamina K. A substância é essencial para a coagulação do sangue e só começa a
ser produzida para valer quando o recém-nascido está se alimentando bem.
Enquanto isso não acontece, ele apresenta um déficit dessa vitamina, o que pode
desencadear hemorragia.
No que se refere às vacinas, a única que é dada na
maternidade é a primeira dose contra a hepatite
B.
Ela deve ser aplicada nas primeiras 12 horas de vida e é importante porque
ajuda a prevenir a hepatite crônica, a forma mais comum da doença em bebês
contaminados ao nascer. Já a vacina
BCG,
que previne contra tuberculose, pode ser dada no primeiro mês de vida, mas
geralmente também é oferecida na maternidade.
<<< 6. Testes rápidos
Antes de o bebê ir para casa com os pais, ele passa por
alguns testes rápidos, entre eles, o do pezinho, que permite identificar várias
doenças e síndromes. A tipagem sanguínea também é feita para saber se o pequeno
tem incompatibilidade sanguínea com a mãe.
Além do teste
do pezinho,
o recém-nascido passa também pelos testes da orelhinha, do olhinho, do
coraçãozinho e da linguinha para detectar precocemente outras doenças e
problemas de saúde.
<<< 7. Primeiro banho
Ao contrário do que muitas pessoas imaginam, o banho
não precisa acontecer nos primeiros momentos após o nascimento, muito pelo
contrário. “As substâncias presentes na pele do recém-nascido hidratam e
protegem o tecido. Além disso, é importante que antes da lavagem a temperatura
do bebê fique estável”, orienta Tarita De Losso. A Organização Mundial da Saúde
(OMS) recomenda a realização do primeiro banho somente após 24 horas de vida.
¨ Primeiros 2 mil dias de vida podem
prevenir sobrepeso e obesidade na vida adulta
Criado em 2010, a partir de um programa da Organização
das Nações Unidas (ONU), o conceito dos primeiros mil dias (280 de gravidez +
730 dos primeiros dois anos) de vida envolve estratégias que são capazes de
impactar a saúde em longo prazo. Trata-se de uma janela de oportunidade que
ajuda a garantir o desenvolvimento físico e mental.
Mas, a partir de achados recentes da literatura
científica, pesquisadores de diversos países estão propondo ampliar o período
para até o quinto ano de vida. Um trabalho publicado em setembro no
periódico Nature Reviews
Endocrinology também
aposta nesse novo número.
Por meio de uma revisão de estudos, cientistas da
Austrália enfatizam a importância de reduzir o risco da obesidade logo nos 2
mil primeiros dias. “É melhor prevenir o quanto antes, evitando que a obesidade
se instale, porque o tratamento é muito mais complicado”, afirma a pediatra e
endocrinologista Lindiane Gomes Crisostomo, do Hospital Israelita Albert
Einstein.
Existem evidências de que, nesse período que engloba
tanto o ventre materno quanto os primeiros anos seguintes, o organismo está
mais sensível às influências do ambiente. É uma fase em que o corpo apresenta
maior plasticidade. Daí a importância de intervenções que, segundo pesquisas,
teriam efeitos duradouros.
“O ideal é começar já no pré-natal, com estímulo a
uma alimentação
saudável pela gestante, e seguir com incentivo ao aleitamento
materno após
o parto”, comenta Crisostomo. O zelo com a introdução
alimentar,
após os 6 meses de vida do bebê, favorece a adoção de bons hábitos ao longo da
infância.
Combater o sedentarismo é mais uma atitude essencial.
“Deve ser bem lúdico, para que a criança aprenda a gostar de atividade física
desde cedo”, sugere a médica.
Entre as estratégias também está estabelecer uma rotina de sono. Para cada
período há um determinado número de horas, que deve ser respeitado. “Quando não
se dorme o suficiente ocorre uma alteração na produção de certos hormônios,
caso do cortisol, que estão envolvidos com o aumento da pressão arterial, o
ganho de peso e o aumento do risco do diabetes, entre outros distúrbios”,
comenta a especialista.
A pediatra enfatiza ainda que as telas devem ser
proibidas até os 2 anos e, após esse período, precisa haver muita cautela ao
utilizá-las. “Além de interferir com o sono, a utilização exagerada pode
desestimular brincadeiras e exercícios físicos”, comenta.
Sem contar o hábito de fazer as refeições de olho nos
aparelhos. “Muitas vezes a criança nem percebe o que está comendo”, lamenta.
Para piorar, já existem evidências da relação com a puberdade precoce. “O
excesso no uso favorece alterações neuroquímicas”, avisa a pediatra e
endocrinologista.
<><> Estratégias antiobesidade
A pesquisa australiana traz orientações para cada fase
dos primeiros 2 mil dias de vida de uma criança. Saiba mais sobre os principais
pontos:
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Na gestação
Durante os nove meses ocorre o desenvolvimento da
placenta, dos órgãos e o crescimento do bebê. A adoção de um cardápio
equilibrado e a prática de atividade física orientada favorecem o ganho de peso
saudável da grávida. Realizar o acompanhamento pré-natal, com exames para
detectar precocemente o diabetes gestacional, entre outros distúrbios, é
fundamental.
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Até os 6 meses
Esse período é marcado pelo ganho de peso e crescimento
rápido do bebê. É tempo de incentivar o aleitamento materno, fortalecendo a
rede de apoio à mãe. Também vale estabelecer uma rotina de sono da criança e,
por meio de brincadeiras, estimular o desenvolvimento das habilidades motoras.
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Dos 6 aos 12 meses
O bebê já se senta sem apoio e a tendência é começar a
engatinhar. É a fase de introdução alimentar, que deve priorizar a variedade no
cardápio, com grande espaço para vegetais e outros itens nutritivos.
Por volta dos 9 meses, o bebê consegue fazer movimentos
de pinça com os dedos, o que facilita a manipulação de alimentos.
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Do 1º ao 3º ano de vida
A criança começa a falar, andar e aprende a segurar os
talheres. Nessa etapa, recomendam-se brincadeiras em ambientes seguros, que
permitam correr e escalar. Outra sugestão é envolver a criança, junto de toda a
família, no planejamento e preparo das refeições.
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Do 3º ao 5º ano de vida (pré-escolar)
Nessa etapa, o equilíbrio e a coordenação estão bem
aprimorados, há uma melhor compreensão dos sinais de saciedade e fome. Deve-se
estimular a prática de atividades físicas, como esportes ou dança. E continuar
com o incentivo de bons hábitos alimentares, orientando sobre as melhores
escolhas.
Fonte: CNN Brasil/Agência Einstein
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