sábado, 14 de dezembro de 2024

Por que terras férteis estão se tornando desertos

Quase metade da superfície sólida do planeta está prestes a se tornar um deserto não arável, de acordo com a Convenção das Nações Unidas para o Combate à Desertificação (UNCCD, na sigla em inglês).

Essas terras são marcadas há muito tempo pela baixa pluviosidade, e mesmo assim sustentam 45% da agricultura mundial. Agora, a seca extrema ligada ao aquecimento global causado pelo homem está ajudando a transformar essa área em um terreno baldio infértil.

Com uma em cada três pessoas do mundo vivendo nessas regiões áridas, especialistas alertam que a insegurança alimentar, a pobreza e o deslocamento em massa acompanharão a desertificação. 

O problema é tão grave que uma conferência das Nações Unidas sobre desertificação (COP16), a ser realizada na Arábia Saudita em dezembro, exige que 1,5 bilhão de hectares de terras desertificadas do mundo sejam restaurados até 2030. Pelos cálculos da ONU, essa é a porção que poderia ser reabilitada.

·        O que é desertificação?

A desertificação é uma forma de degradação pela qual a terra fértil perde grande parte de sua produtividade biológica – e econômica – e se torna um deserto.

Atualmente, até 40% das terras do mundo já estão degradadas, de acordo com a UNCCD.

Embora as mudanças climáticas, o desmatamento, o uso excessivo de pastagem para pecuária, práticas agrícolas insustentáveis e a expansão urbana sejam os principais fatores da desertificação, uma crise global de estiagem está exacerbando o problema.

A seca e o calor extremos provocam escassez de água e levam à degradação do solo e à perda de culturas e vegetação.

Com a previsão de que 2024 será o ano mais quente já registrado, a seca poderá afetar 75% da população mundial até 2050, de acordo com relatório da ONU divulgado nesta semana.

A escassez de água agrava ainda mais os impactos do desmatamento. Menos árvores significa menos raízes para prender o solo e evitar erosão.

Enquanto isso, questões sociais, como maior dificuldade para mulheres de possuir terras, também podem afetar a saúde da terra e do solo. A ONU observa que as mulheres investem com mais frequência em sistemas alimentares biodiversos, ao contrário dos homens, que se concentram principalmente em monoculturas de alta produtividade que podem degradar a terra rapidamente.

·        Por que enfrentar a desertificação é importante?

A grave degradação da terra e a desertificação estão afetando a capacidade do planeta de "apoiar o bem-estar ambiental e humano", disse um relatório da UNCCD de 2024.

A terra degradada não pode mais sustentar diversos ecossistemas ou ajudar a regular o clima, os fluxos de água e a produção de nutrientes vitais para toda a vida.

A terra saudável também proporciona segurança alimentar e um sistema agrícola sustentável, aponta o estudo.

Porém, com tanta terra fértil e produtiva degradada a cada ano, a desertificação contínua está acelerando a perda de biodiversidade, a fome e a pobreza.

Migração forçada e conflitos sobre recursos em declínio serão algumas das consequências futuras.

"São a terra e o solo sob nossos pés que cultivam o algodão para as roupas que vestimos, garantem a comida em nossos pratos e ancoram as economias das quais dependemos", observou Ibrahim Thiaw, secretário executivo da UNCCD.

·        O que pode ser feito?

Um tema fundamental dos esforços para combater a desertificação é a restauração do solo e a promoção de uma agricultura e de um manejo de pastagens mais sustentáveis e "positivos para a natureza", de acordo com Susan Gardner, diretora da divisão de ecossistemas do Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente (Pnuma).

Isso anda de mãos dadas com a conservação de "bacias hidrográficas" que armazenam água.

O Programa Mundial de Alimentos da ONU, por exemplo, tem trabalhado para melhorar a resiliência da água na Mauritânia e no Níger, no oeste da África, construindo "meias-luas" que retêm a água da chuva.

Os lagos semicirculares ajudam solos degradados a reter a água por mais tempo e a sustentar a vegetação. Além disso, eles são práticos e econômicos para a população local construir.

Mas medidas mais drásticas também estão sendo tomadas para impedir a expansão dos desertos.

Em 2007, as nações da região do Sahel, na África, decidiram impedir a expansão do deserto do Saara para o norte, alimentada pela seca e pela mudança climática, cultivando árvores, pastagens e vegetação para criar a Grande Muralha Verde.

Bilhões de árvores seriam plantadas ao longo de quase 8.000 km, do litoral oeste ao leste da África, para criar zonas de amortecimento e evitar mais desertificação.

De acordo com os números mais atualizados da ONU, um quinto da restauração desejada foi alcançado, com o progresso paralisado devido à falta de financiamento. No entanto, novas iniciativas estão avançando com o objetivo de tornar mais verdes 100 milhões de hectares de terras degradadas em toda a África.

Uma iniciativa semelhante de replantio na China e no deserto de Gobi, na Mongólia, também conhecida como a "Grande Muralha Verde", inclui esforços para reduzir o o uso excessivo de pasto entre os pastores da Mongólia.

Quase 80% das terras da Mongólia foram afetadas pela degradação até 2020, e uma iniciativa da ONU buscou combater a desertificação por meio do gerenciamento sustentável da terra, incluindo a proteção de quase 850 mil hectares na região sul de Gobi como corredores de biodiversidade.

 

¨         Mortes por calor ameaçam mais os jovens do que idosos

Um novo estudo alerta que o risco maior de morte relacionado ao calor extremo poderá passar dos idosos para os jovens até o fim do século.

Em um cenário em que as temperaturas globais médias aumentem em pelo menos 2,8º C além dos níveis pré-industriais até 2100, as pessoas com menos de 35 anos provavelmente sofreriam mais os efeitos de um mundo em aquecimento do que adultos mais velhos.

A conclusão é de uma pesquisa realizada com base em dados de mortalidade no México publicada na publicação científica Science Advances.

Através desses dados, os pesquisadores puderam comparar as idades e as datas das mortes com as condições ambientais e calcular a frequência com que a exposição ao calor úmido pode resultar em mortes prematuras.

Os cientistas há muito tempo suspeitam que o calor excessivo em um clima em aquecimento contínuo teria um impacto maior nas populações mais velhas. Surpreendentemente, as altas temperaturas em determinados climas parecem ser uma causa silenciosa de mortes entre os mais jovens.

<><> Fator de letalidade entre os jovens

De acordo com o estudo, entre 1998 e 2019, três em cada quatro mortes relacionadas ao calor no México envolveram pessoas com menos de 35 anos. Em contraste, um número maior de pessoas mais velhas foi responsável por eventos de mortalidade resultantes do clima frio.

Em um cenário em que a população global e as emissões de carbono continuam a crescer, os pesquisadores projetaram um aumento de 32% nas mortes relacionadas às temperaturas mais altas em pessoas com menos de 35 anos até 2100.

Ao mesmo tempo, uma redução quase idêntica nas taxas de mortalidade foi observada nos grupos de pessoas com idades mais avançadas.

A explicação para o motivo pelo qual os mais jovens podem estar sofrendo mais mortes relacionadas ao calor do que o previsto provavelmente se resume a razões sociais. Os mais jovens podem ter mais probabilidade de se expor ao calor ao ar livre, enquanto um clima mais quente pode reduzir os impactos relacionados ao frio para os idosos.

"Pessoas mais jovens têm níveis de atividade mais altos e são mais propensas a serem expostas ao calor em ambientes de trabalho ao ar livre", afirmou à DW o pesquisador-chefe do estudo Andrew Wilson, do Centro de Segurança Alimentar e Meio Ambiente da Universidade de Stanford.

<><> Qual o limite do calor excessivo?

A equipe de Wilson também descobriu que a quantidade de exposição ao calor que pode levar à morte é menor do que sugere a literatura científica.

Muitas variáveis ambientais, incluindo temperatura do ar e a umidade, são utilizadas para indicar o estresse por calor, sendo às vezes chamadas de temperaturas de "sensação real" ou "bulbo úmido". Estudos mais antigos colocam um limite de temperatura para estresse por calor humano em 35º C.

A exposição prolongada ao limite de bulbo úmido, de 35º C, significa, em termos teóricos, que o corpo seria incapaz de resfriar sua temperatura interna, o que resultaria na morte relacionada ao calor.

Esse limite, contudo, foi calculado em condições de laboratório, onde uma pessoa estaria descansando na sombra, sob ventos fortes, encharcada em água e nua, ou seja, dificilmente um cenário realista.

Wilson disse que, em alguns casos, os limites podem estar na casa dos 20º C. Estudos como o dele tentaram levar em conta as condições do mundo real.

"Descobrimos que mesmo em torno de 25º C, já há bastante mortalidade, especialmente entre os mais jovens", disse Wilson. "Isso provavelmente ocorre porque eles estão se movimentando [...] trabalhando ao ar livre [...] expostos ao sol."

<><> Problema global

Embora o estudo analise apenas dados de saúde mexicanos, também fornece uma perspectiva preocupante de um futuro potencial para outras nações na linha de frente de um mundo em aquecimento.

Os especialistas dizem que a mortalidade é uma grande parte do custo total das mudanças climáticas. "Acreditamos que muito menos pessoas morrerão de frio, e que muito mais pessoas morrerão de calor. Acreditamos que a maioria dessas mortes adicionais por calor ocorrerá em países de renda baixa e média", analisou Wilson.

"A maior redução nas mortes relacionadas ao frio ocorrerá na Europa e na América do Norte, certo? Assim sendo, esse já é um quadro de desigualdade", acrescentou.

Essas condições já são previstas há muito tempo, levando em conta o ritmo em que as emissões de carbono aumentaram nos últimos anos. O mundo já ultrapassou temporariamente o limite de 1,5º C de aquecimento em relação aos níveis pré-industriais, estabelecido no Acordo Climático de Paris.

Em 2017, estudos previram que até 70% da população da Índia poderia ser exposta a calor insuportável até 2100. Nos últimos anos, os países do Oriente Médio introduziram proibições de trabalho em determinados horários para combater condições extremas de calor.

 

Fonte: DW Brasil

 

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