terça-feira, 17 de dezembro de 2024

Polícia Federal rastreia financiamento do golpe com foco no agronegócio

A Polícia Federal (PF) intensificou as investigações sobre o financiamento de atos antidemocráticos após a prisão preventiva do general Walter Braga Netto, ex-ministro da Defesa e candidato a vice na chapa de Jair Bolsonaro em 2022. A notícia, publicada pelo jornal O Globo, aponta que Braga Netto é suspeito de liderar e financiar um plano que incluía sequestros e assassinatos de autoridades como o ministro do Supremo Tribunal Federal (STF), Alexandre de Moraes, e o presidente Luiz Inácio Lula da Silva. O general nega qualquer participação nos atos ou tentativa de obstrução das investigações.

Segundo a delação de Mauro Cid, ex-ajudante de ordens de Bolsonaro, Braga Netto teria recebido recursos em espécie de empresários do agronegócio para financiar as ações clandestinas. O dinheiro, transportado em uma sacola de vinho, foi entregue ao major Rafael de Oliveira, integrante das Forças Especiais do Exército, conhecido como “kids pretos”. Parte do montante foi utilizada na compra de celulares descartáveis, usados em operações para monitorar autoridades após a vitória de Lula nas eleições de 2022.

<><> Operação "Punhal verde e amarelo"

A PF identificou que, no dia 15 de dezembro de 2022, um celular foi adquirido em Goiânia por R$ 2,5 mil, em dinheiro vivo, pela esposa do major Rafael de Oliveira. Além disso, recargas de crédito de R$ 20 foram realizadas em uma drogaria de Brasília para aparelhos vinculados à operação “Copa 2022”, que, segundo o relatório da PF, utilizava seis celulares descartáveis habilitados com nomes falsos e chips anônimos.

Esses dispositivos foram usados na tentativa de executar ações como o sequestro de Alexandre de Moraes. Documentos apreendidos pela PF indicam a logística envolvida, incluindo “demandas para a preparação e condução da ação”, como a compra de celulares e outros materiais necessários.

<><> Envolvimento do agronegócio

O setor do agronegócio está no centro das investigações. A colaboração premiada de Mauro Cid revelou o papel de empresários do segmento, que teriam financiado atos antidemocráticos e bloqueios de rodovias após a derrota de Bolsonaro. Um áudio obtido pela PF mostra Cid afirmando que “empresários do agro” estavam “colocando carro de som em Brasília” e financiando ônibus para transportar manifestantes.

Os investigadores identificaram que Rafael Oliveira comprou um celular no valor de R$2,5 mil em uma loja em Goiânia no dia 15 de dezembro de 2022. A compra foi feita pela esposa do oficial, utilizando dinheiro em espécie. O rastreamento da PF revelou que, antes disso, ocorreram cinco recargas de crédito sequenciais no valor de R$20 para telefones que faziam parte do grupo “Copa 2022”, integrado por seis militares “kids pretos”. As recargas foram realizadas de forma simultânea em uma drogaria no Setor Sudoeste, em Brasília, também utilizando recursos em espécie.

No grupo, os militares utilizavam nomes codificados para dificultar a identificação, como “Alemanha”, “Argentina” e “Áustria”. Eles teriam utilizado uma série de técnicas de anonimização para planejar e implementar ações violentas, incluindo a tentativa de executar Moraes.

Em uma das trocas de diálogo entre Oliveira e Cid, o major pergunta se havia alguma novidade em relação à reunião ocorrida no dia 12, que a PF acredita ter ocorrido na residência de Braga Netto. Nessa conversa, Cid questiona Oliveira sobre a estimativa de gastos e questiona se a estimativa com hotel, alimentação e material ficaria em torno de R$100 mil. Oliveira responde que "Em torno disso".

"Há fortes indícios e substanciais provas de que, no contexto da organização criminosa, o investigado Walter Souza Braga Netto contribuiu, em grau mais efetivo e de elevada importância do que se sabia anteriormente, para o planejamento e financiamento de um golpe de Estado, cuja consumação presumia, na visão dos investigados, a detenção ilegal e possível execução o então presidente do Tribunal Superior Eleitoral e ministro do Supremo Tribunal Federal, com uso de técnicas militares e terroristas, além de possível assassinato dos candidatos eleitos nas eleições de 2022, Luiz Inácio Lula da Silva e Geraldo Alckmin e, eventualmente, as prisões de pessoas que pudessem oferecer qualquer resistência institucional à empreitada golpista", escreveu Moraes na decisão que autorizou a prisão de Braga Netto.

Outro documento da Agência Brasileira de Inteligência (Abin), obtido pelo O Globo, detalha a atuação do Movimento Brasil Verde e Amarelo (MBVA) na mobilização de caminhoneiros e no financiamento de atos extremistas, incluindo a depredação das sedes dos Três Poderes em 8 de janeiro de 2023.

<><> Material apreendido

Durante a prisão de Braga Netto, agentes da PF apreenderam celulares e “centenas de pen drives” pertencentes ao assessor do general, Flávio Botelho Peregrino. O conteúdo desses dispositivos está sendo analisado para identificar os financiadores do esquema e aprofundar a ligação com o agronegócio.

O general também é acusado de sediar reuniões para planejar ações ilícitas. Em depoimento recente, Mauro Cid afirmou que, em novembro de 2022, uma reunião na residência de Braga Netto contou com a presença de integrantes do núcleo militar das Forças Especiais. Dias após o encontro, o major Oliveira teria recebido o dinheiro da sacola de vinho, em local próximo ao Palácio do Planalto.

Em mensagens interceptadas pela PF, o major Oliveira questiona Cid sobre os custos da operação, estimados em cerca de R$ 100 mil, incluindo hospedagem, alimentação e transporte de manifestantes.

A Frente Parlamentar da Agropecuária (FPA), que reúne 340 parlamentares, pediu urgência nas investigações, mas ressaltou que “ações isoladas” não podem comprometer a imagem de um setor que movimenta mais de 6 milhões de produtores. Em nota, os ruralistas defenderam que a apuração ocorra de forma “legal, transparente e em estrita observância ao que determina a Constituição”.

As investigações seguem avançando, com foco em identificar e responsabilizar os financiadores e organizadores dos atos antidemocráticos que atentaram contra a democracia brasileira.

¨      Ruralistas teriam dado dinheiro vivo a Braga Netto para financiar assassinato de Lula

A prisão preventiva de Walter Braga Netto no sábado (16) por obstrução nas investigações pode revelar o elo entre a Organização Criminosa (OrCrim) golpista de Jair Bolsonaro (PL) e o "pessoal do agro", que teria dado dinheiro vivo para o general 4 estrelas financiar o plano de assassinato do presidente Lula, do vice, Geraldo Alckmin (PSB), e do ministro do Supremo Tribunal Federal (STF), Alexandre de Moraes, que presidia à época o Tribunal Superior Eleitoral (TSE) e era um dos principais alvos dos golpistas.

No relatório entregue pela Polícia Federal (PF) ao ministro do Supremo pedindo a prisão de Braga Neto, os investigadores citam uma declaração do tenente coronel Mauro Cid, em delação premiada, de que o dinheiro entregue a Braga Netto para financiar a ação dos chamados "kids pretos" - as Forças Especiais do Exército - teria sido obtido “junto ao pessoal do agronegócio”.

O dinheiro vivo dado pelos ruralistas a Braga Netto, segundo a PF, foi colocado em uma "sacola de vinho" pelo general e entregue ao major Rafael de Oliveira e usado para a compra de um aparelho celular para ser usado pela facção homicida da OrCrim na operação "Punhal Verde e Amarelo".

A ação, planejada na casa de Braga Netto, previa o assassinato de Lula, Alckmin e Moraes prenunciando o golpe de Estado. Braga Netto, então, seria alçado ao principal posto de comando, ao lado do general Augusto Heleno, no chamado gabinete de crise, que instalaria a nova Ditadura Militar no país.

A investigação da PF seguiu os rastros do Major Oliveira e comprovou que ele comprou um celular de R$ 2,5 mil em Goiânia no dia 15 de dezembro de 2022, com o dinheiro vivo entregue por Braga Netto.

No grupo “Copa 2022”, criado pelo facção que planejava os assassinatos, foram encontrados comprovantes de 5 recargas do celular pré-pago, que também teriam sido pagas pelos ruralistas.

Nos documentos apreendidos pela PF, os mentores da operação relatavam o registro de “demandas para a prep. (preparação) e condução da ação”, que incluía “seis telefones celulares descartáveis”.

“Nesse sentido, essa foi exatamente a estrutura de comunicação utilizada na denominada operação ‘Copa 2022’, em que militares Forças Especiais executaram uma ação clandestina no dia 15 de dezembro de 2022, para prender/executar o ministro Alexandre de Moraes na cidade de Brasília/DF. A ação empregou seis telefones celulares com chips da operadora TIM, habilitados em nomes de terceiros e associados a codinomes de países para anonimização da ação criminosa”, diz a PF.

No relatório, a PF ainda detalha o elo dos golpistas com “participação de lideranças do agronegócio em atos antidemocráticos e em ações de contestação do resultado eleitoral”. os ruralistas também financiaram e atuaram nos bloqueios nas estadas dando “recursos econômicos para financiar transporte de manifestantes e ações extremistas, como as ocorridas no 8 de janeiro”.

Em nota divulgada neste domingo (15), a Frente Parlamentar da Agropecuária (FPA) - bancada que faz lobby para os ruralistas no Congresso Nacional - diz que "é  inadmissível que ações isoladas sejam usadas para generalizar e comprometer a imagem de um setor econômico composto por mais de 6 milhões de produtores e que desempenha papel fundamental no desenvolvimento do país".

A CNA (Confederação da Agricultura e Pecuária do Brasil) e a ABAG (Associação Brasileira do Agronegócio) não se pronunciaram até o momento

 

¨      Jeferson Miola: Áudio de Nardes é chave para apurar elo de ruralistas com Braga Netto

O áudio de 20 de novembro de 2022 transmitido pelo ministro do TCU João Augusto Nardes para o “pessoal do agronegócio” é uma chave indispensável para se elucidar o papel dos ruralistas no financiamento do empreendimento golpista; e, também, para esclarecer o envolvimento direto dele, ministro Nardes, na conspiração [escutar o áudio].

No inquérito que indiciou a organização criminosa integrada por Bolsonaro e altos oficiais do Exército, a Polícia Federal descreveu em detalhes a cronologia dos preparativos da tentativa de golpe.

Esta cronologia tem importância capital, e deixa claro que quando transmitiu o áudio, Nardes demonstrava algum conhecimento sobre as articulações e iniciativas ocorridas antes daquele 20 de novembro de 2022, quando enviou o relato para seu “amigo Sartori” e o “time do agro”.

Nardes deixou implícito que tinha algum nível de informação sobre as ações criminosas planejadas; a mais grave delas o assassinato a tiros ou por envenenamento do presidente eleito Lula, do vice eleito Alckmin, e do ministro da Suprema Corte Alexandre de Moraes.

No áudio Nardes previu que viriam a acontecer eventos impactantes em “questão de horas, dias, no máximo uma semana ou duas”. Enigmático em várias passagens do áudio de 8 minutos e 20 segundos, ele conjecturou que “a situação para o futuro da nação poderá se desencadear de forma positiva, apesar desse principal conflito que deveremos ter nos próximos dias ou nas próximas horas”.

Citando “um movimento muito forte nas casernas”, profetizou “que vai acontecer um desenlace bastante forte na nação. [De consequências] imprevisíveis. Imprevisíveis”, dramatizou.

Nardes concluiu a mensagem em áudio prevendo que “os próximos dias serão nebulosos, o que vai acontecer de desdobramentos não se sabe, mas certamente teremos desdobramentos muito fortes nos próximos dias”.

“Falei longamente com o time do Bolsonaro essa semana”, disse Nardes. “Eu não posso falar muito até porque, sim, tenho muitas informações, mas queria passar pra ti, Sartori, e para o teu time aí do agro que eu conheço todos os líderes e sei da importância do agro”, completou.

O inquérito da PF deixa evidente que na mesma semana que Nardes falou “longamente com o time de Bolsonaro”, militares reuniram-se na residência funcional do general Braga Netto para finalizar o planejamento do plano assassino denominado “punhal verde amarelo”.

O inquérito descreve que depois desta reunião acontecida no dia 12/11/2022, “iniciaram-se as ações clandestinas para implementação do planejamento operacional, além de condutas voltadas a orientar e financiar as manifestações que pregavam um Golpe Militar”.

Segundo o depoimento de Mauro Cid, “o general Braga Netto afirmou à época que o dinheiro havia sido obtido junto ao pessoal do agronegócio”, e que “o dinheiro foi entregue [por Braga Netto] numa sacola de vinho”.

Nardes tem laços pessoais, políticos, empresariais e familiares com o agronegócio. No áudio ele relembra que como líder da bancada ruralista na Câmara dos Deputados organizou quebra-quebra e protestos violentos em Brasília em 1999 – “queimamos máquinas, tratores, fizemos uma escarcéu”. E se vanbloriou: “Então, conheço todos os passos que temos que fazer”.

Nardes parecia confiar plenamente no sucesso do plano golpista que lhe daria impunidade, tanto que deu a entender que o golpe não fracassaria – salvo na hipótese, como se pode depreender da fala dele, de quebra da unidade entre os conspiradores militares: “Só que haja uma capitulação por parte de alguns integrantes importantes e dirigentes que tudo se sente que vai pra um conflito social na nação brasileira”.

Nardes é uma peça central para o avanço das investigações, para o indiciamento de outros envolvidos e para a identificação dos ruralistas que financiaram a tentativa de golpe.

Nardes também precisa esclarecer se ele sabia e foi cúmplice do plano de assassinato de Lula, Alckmin e Alexandre de Moraes ao anunciar o acontecimento que produziria “um desenlace bastante forte na nação”.

 

¨      Com avanço das investigações do golpe, Frente Ruralista tenta se eximir e fala em "ações isoladas"

Em depoimento à Polícia Federal (PF), colhido no dia 21 de novembro de 2024, o ex-ajudante de ordens de Jair Bolsonaro, Mauro Cid disse que o general Braga Netto teria recebido dinheiro de empresários do agronegócio e repassado os valores ao major Rafael de Oliveira.

De acordo com a investigação, o montante foi entregue em uma caixa de vinho durante um encontro ocorrido em dezembro de 2022, no Palácio do Planalto ou da Alvorada. A informação consta em um relatório que embasa a prisão do general e aponta seu envolvimento em um plano de atentado contra o ministro Alexandre de Moraes, do Supremo Tribunal Federal (STF).

Diante dessa revelação, a Frente Parlamentar da Agropecuária (FPA), que reúne 340 deputados federais e senadores, manifestou neste domingo (15) apoio à condução de uma investigação urgente e rigorosa sobre as suspeitas de que integrantes do agronegócio possam ter financiado uma tentativa de golpe em 2022. A informação foi divulgada em reportagem da Folha de S. Paulo.

A frente parlamentar ruralista ressaltou que atos isolados não podem comprometer a reputação de todo o setor. “É inadmissível que ações isoladas sejam usadas para generalizar e comprometer a imagem de um setor econômico composto por mais de 6 milhões de produtores e que desempenha papel fundamental no desenvolvimento do país”, afirmou o grupo em nota.

A FPA ainda afirma a importância de que as investigações sejam conduzidas “de forma legal, transparente, equilibrada e em estrita observância ao que determina a Constituição Federal”. Também defende que os responsáveis sejam identificados e punidos “com o máximo rigor da lei, independentemente da atividade econômica de eventuais envolvidos”.

 

Fonte: Brasil 247/Fórum

 

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