PF
abre investigação contra padrinhos das emendas de R$ 4 bi
A Polícia
Federal (PF) abriu o inquérito, nesta terça-feira (24), para investigar a liberação
de R$ 4,2 bilhões em emendas parlamentares, do
chamado orçamento
secreto sem que os reais responsáveis pela
indicação dos recursos fossem comunicados, segundo informações do blog
de Daniela Lima, da GloboNews.
A Constituição exige
transparência na administração do dinheiro público como critério essencial. A
investigação foi determinada pelo ministro do STF, Flávio
Dino, após solicitações de partidos como o Novo,
da direita, e o PSOL, da esquerda, que questionaram o arranjo realizado no fim
do ano legislativo para a liberação dos recursos bilionários.
Conforme
relatado pela CNN, um dos alvos da investigação deve ser o
presidente da Câmara, Arthur Lira. A PF pretende esclarecer se houve
manipulação no orçamento e interferência na alocação das emendas parlamentares.
Embora
o nome de Lira não tenha sido mencionado diretamente no documento enviado pela
PF à Corte, a corporação aponta declarações que sinalizam que parte das emendas
seria “distribuída em desconformidade com as diretrizes procedimentais e
regimentais”.
O modelo utilizado para
destinar bilhões de reais a deputados, intermediado por líderes partidários e
apresentado como se fosse verba de emendas das comissões da Câmara,
tem Arthur Lira (PP), presidente da Casa, como principal articulador.
Alagoas, estado de origem de Lira, foi um dos maiores contemplados, recebendo
aproximadamente R$ 500 milhões. Ele é apontado como um nome forte para a
disputa pelo Senado em 2026.
Até o momento, o delegado
Tiago Adão Coutinho determinou a intimação dos deputados José Rocha (União
Brasil-BA), Adriana Ventura (Novo-SP), Glauber Braga (Psol-RJ) e do senador
Cleitinho Azevedo (Republicanos-MG).
Além disso, a investigação
buscará identificar se o processo de liberação e destinação das emendas sofreu
influência indevida de pessoas que não ocupam cargos parlamentares.
Flávio Dino determinou,
nesta segunda (23), a suspensão do pagamento de R$ 4 bilhões em emendas
parlamentares, capitaneado pelo presidente da Câmara e pediu à PF que
abrisse inquérito para investigar a liberação desses recursos. O PSOL ajuizou a
ação, citando irregularidades no direcionamento de emendas de comissão, que não
são obrigatórias e são determinadas por comissões no Congresso.
A decisão de Dino exige
que a Câmara dos Deputados publique as atas das reuniões em que as emendas de
comissão foram aprovadas dentro de 5 dias, encaminhando os documentos à
Secretaria de Relações Institucionais da Presidência.
“Tamanha degradação
institucional constitui um inaceitável quadro de inconstitucionalidades em
série, demandando a perseverante atuação do Supremo Tribunal Federal”, escreveu
Dino.
<><> 5,4 mil emendas sem transparência
O ofício, encaminhado
ao governo federal por 17 líderes partidários, pede a liberação do pagamento de
5.449 emendas de comissão, sem a identificação dos respectivos autores. Um
deles foi alvo da ação do PSOL.
Em manobra, Arthur
Lira, coordenou o envio de um ofício ao Executivo no qual 17 líderes
partidários assinaram como "padrinhos" a indicação de todas as
emendas de comissão. O Congresso, por sua vez, afirma que está cumprindo as
determinações legais, alegando que, apesar da falta de transparência, está
obedecendo ao que foi estabelecido na lei aprovada em novembro sobre as
emendas.
Lira, no mesmo dia,
decidiu cancelar todas as sessões de comissões previstas até 20 de
dezembro, último dia de atividade da Casa em 2025, argumentando "a
necessidade de o Plenário da Câmara dos Deputados tratar e votar proposições de
grande interesse nacional".
¨ Relembre os escândalos envolvendo o orçamento secreto,
que virou caso de polícia
O ministro Flávio
Dino, do Supremo Tribunal Federal (STF), determinou, nesta segunda-feira (23),
que a Polícia Federal investigue a manobra de Arthur Lira (PP-AL), presidente
da Câmara dos Deputados, para liberar a distribuição de R$ 4,2 bilhões em
emendas.
A decisão é uma
resposta às denúncias do PSOL, Partido Novo e instituições em que Lira e 17
líderes partidários tomariam para si a decisão sobre o destino das
verbas.
“Os recentes
“cortes de gastos” deliberados pelos Poderes Executivo e Legislativo tornam
ainda mais paradoxal que se verifique a persistente inobservância de deveres
constitucionais e legais – aprovados pelo Congresso Nacional – quanto à
transparência, rastreabilidade e eficiência na aplicação de BILHÕES de
reais”, ponderou Dino na decisão.
A rixa entre o
ministro e o Congresso, no entanto, não teve início nesta segunda-feira, mas
sim no início de agosto, quando Dino determinou que o orçamento secreto
utilizado pelos parlamentares entre 2020 e 2022, ainda no governo de Jair
Bolsonaro (PL), fosse aberto ao público, com a íntegra das informações dos
gastos dos deputados e senadores.
A temática, porém,
vem ganhando ainda mais força no STF, pois além da insistência do Congresso na
apropriação anônima de recursos que poderiam servir de investimento ao país – o
ministro da Casa Civil, Rui Costa, afirmou que mais de seis mil obras do novo
Programa de Aceleração ao Crescimento (PAC) dependem do repasse de emendas para
serem executadas -, o uso dos valores pode não ser tão bem aproveitado como os
parlamentares alegam.
Em novembro, um
relatório da Controladoria-Geral da União (CGU), enviado ao Supremo
Tribunal Federal (STF), a pedido do ministro Flávio Dino, demonstrou que menos
de 40% das obras financiadas por emendas parlamentares do antigo Orçamento
Secreto, entre 2020 e 2023, não foram feitas.
O levantamento
aponta ainda foram destinados R$ 330 bilhões para 10 cidades, das quais apenas
uma é capital, Macapá. As demais cidades, também no Amapá, somam pouco mais de
60 mil habitantes juntas – o que representa a destinação de R$ 4 mil a R$ 7 mil
por habitante.
Já em setembro, a
Procuradoria-Geral da República (PGR) apresentou ao STF outra denúncia, desta
vez contra os deputados Josimar Maranhãozinho (PL-MA), Pastor Gil (PL-MA) e
Bosco Costa (PL-SE), que teriam tentando desviar parte dos recursos de emendas
enviadas à Prefeitura de São José de Ribamar, localizada na Região
Metropolitana de São Luís, capital do Maranhão.
Como contrapartida
ao envio das emendas, os deputados do PL teriam pressionado o então prefeito da
cidade, Eudes Sampaio, a devolver cerca de R$ 1,6 milhão, de acordo com
inquérito da Polícia Federal (PF).
Parlamentares do
União Brasil também estão sob investigação da Polícia Federal, desta vez na
Operação Overclean, cujo alvo seria uma grande organização criminosa que usava
os recursos públicos de emendas e de licitações municipais.
De acordo com a
investigação da PF, importantes lideranças do União Brasil, como o ex-prefeito
de Salvador ACM Neto (2013-2021) e vice-presidente do partido, o governador de
Goiás, Ronaldo Caiado, e o senador do Amapá, Davi Alcolumbre, teriam desviado,
por meio do empresário Marcos Moura, mais conhecido como “rei do lixo”, cerca
de R$ 1,4 bilhão nos últimos anos
Em operação no
início do mês, a PF apreendeu R$ 1,5 milhão com suspeitos, montante
supostamente usado no pagamento de propinas.
<><> Excrescência
O GGN contou com a
opinião de especialistas sobre as polêmicas envolvendo as emendas parlamentares
e o orçamento secreto.
Para o Thomas
Traumann, ex-ministro de Comunicação Social, jornalista e mestre em ciência
política, trata-se de uma excrescência absurda.
“A partir da gestão
do Arthur Lira (PP-AL), o Congresso avançou sobre o orçamento de uma forma
inacreditável. É o sonho de qualquer um. Hoje eles estão com R$ 45 bilhões de
emenda sem nenhuma responsabilidade. É o sonho de qualquer político, você gasta
sem prestar contas. Essa emenda pix é de uma excrescência
absurda”, resumiu o mestre em ciência política.
Outro ponto que
deixou o ex-ministro perplexo foi a suposta crise institucional criada pelos
parlamentares e pela mídia tradicional sobre um assunto que se resume ao que
ele chama de “fazer o mínimo”.
“O que o Flávio
Dino está pedindo é simplesmente que cada deputado, cada senador seja
responsável pela emenda, ou seja, que ele diga para onde essa emenda foi, no
que ela foi gasta e que tenha uma prestação de contas dessa emenda sendo
monitorada pelo TCU [Tribunal de Contas da União]”, continua Traumann.
À Agência Brasil, a
assessora política do Instituto de Estudos Socioeconômicos (Inesc), Cléo
Manhas, avaliou que o aumento da execução do orçamento pelo Legislativo –
iniciado em 2015 por meio das emendas impositivas – piora a capacidade de
planejamento de políticas públicas e sua execução, reduzindo a eficiência na
prestação de serviços à população.
A especialista
destacou que o dinheiro para emendas impositivas não está previsto no Plano
Plurianual (PPA), enfraquecendo o planejamento do Executivo para executar
políticas públicas uma vez que o recurso na mão dos parlamentares é significativo
– R$ 49,2 bilhões em 2024, cerca de um quarto do total dos gastos não
obrigatórios, que é o que a União tem para investimentos.
“No PPA, o governo
coloca suas promessas de campanha. Nele, você tem quais são as prioridades,
quais as metas e indicadores que você tem que cumprir ano a ano. Aí vem os
parlamentares que têm um recurso enorme e mandam a seu bel prazer para onde
eles quiserem. Com isso, a lógica da programação e do planejamento fica em
segundo plano”, explicou.
¨ Deputados bancaram R$ 1 mi em shows neste ano na cidade
onde ponte caiu
A cidade de
Aguiarnópolis (TO), onde uma ponte desabou nesse
domingo (22/12) e deixou três mortos e
14 desaparecidos,
pagou pelo menos R$ 1,8 milhão em cachês a artistas e grupos musicais para
apresentações em festivais do município neste ano. O valor equivale a cerca de
5% de todo o orçamento da prefeitura.
Desse total, cerca
de R$ 1 milhão foi bancado por meio das chamadas emendas Pix. Trata-se de uma
modalidade de emenda parlamentar pouco transparente, em que o prefeito recebe o
dinheiro rapidamente e a contratação não precisa passar por regras mais rígidas
de fiscalização.
Apesar de a ponte
Juscelino Kubitschek, que desabou, ser de responsabilidade do governo federal,
a alocação de recursos vultuosos em festas e shows pode evidenciar uma
distorção de prioridades na política pública.
Aguiarnópolis é uma
cidade com 5 mil habitantes e contratou artistas de alcance nacional para seus
festivais.
Entre 24 e 26 de
maio, a prefeitura celebrou o 30º aniversário do município, com a presença de
nove artistas pagos com dinheiro público. A primeira noite foi estrelada por
cantores do gênero musical gospel. Davi Sacer, Valesca Mayssa e Marquinhos
Gomes ganharam, respectivamente, R$ 140 mil, R$ 130 mil e R$ 115 mil em cachês,
segundo dados do portal da transparência local consultados pela coluna.
No dia seguinte à
noite cristã, foi a vez de a banda Moleca 100 Vergonha se apresentar. O grupo
ganhou R$ 200 mil da prefeitura. Naquele sábado (25/5), também se apresentou o
grupo Cavaleiros do Forró, que recebeu mais R$ 150 mil em dinheiro público, e
Kevin Baetz, que recebeu R$ 8 mil.
Para fechar a
festa, o domingo contou com apresentações da dupla Ricardo & Thiago (que
ganhou R$ 90 mil em cachê), do DJ Igor Cunha (R$ 80 mil) e do cantor de arrocha
Nadson O Ferinha (R$ 280 mil), a estrela do evento.
A maioria desses
cachês tem como fonte de recursos as emendas Pix. O site da prefeitura não
detalha, porém, quem foram os autores dos repasses.
O banner de
divulgação dos shows aponta, no entanto, que o evento teve apoio do deputado
federal Filipe Martins (PL-TO) e dos deputados estaduais Jair Farias (sem
partido) e Fabion Gomes (PL), eleito prefeito de Tocantinópolis.
Em julho, a
prefeitura realizou shows com Deávele Santos (R$ 150 mil), Forró do Muído (R$
120 mil), Vitor & Luan (R$ 120 mil), Zé Ottávio (R$ 80 mil), Taísa Marques
(R$ 70 mil) e, novamente, Kevin Baetz (R$ 8 mil). A fonte de recursos consta,
nesses casos, como “outros convênios dos estados”.
Já em 11 de
novembro, Aguiarnópolis celebrou o Dia do Evangélico com um show da cantora
adolescente Maria Marçal, que recebeu R$ 150 mil em cachê. Ela tem apenas 15
anos e é um fenômeno no mundo gospel, com mais de 5 milhões de seguidores no
Instagram. A fonte do pagamento à artista consta no site da prefeitura como
“impostos não vinculados”.
¨ TCU diz que
emendas Pix sem plano de trabalho somam R$ 1 bilhão
Do total de R$ 4,4 bilhões
em “emendas pix” pagos pela União aos municípios em 2024, cerca de R$ 1 bilhão
ainda está sem os respectivos planos de trabalho, em descumprimento a uma
decisão do Supremo Tribunal Federal (STF). Segundo a CNN Brasil, as informações constam em um relatório do
Tribunal de Contas da União (TCU) enviado esta semana ao ministro Flávio Dino,
do Supremo Tribunal Federal (STF), relator das ações em trâmite sobre as
emendas parlamentares.
Segundo o TCU, até 9 de
dezembro, 5.585 transferências especiais, oficialmente chamadas de
"emendas pix", foram realizadas, sendo que 1.406 delas ainda têm
pendências em relação aos planos de trabalho necessários. O relatório detalha
que 1.080 planos não foram iniciados, 242 estão em fase de elaboração e outros
84 estão em ajustes, somando um montante de R$ 1.088.942.413,08.
Essas emendas são pagas
obrigatoriamente pelo governo federal, mas a exigência dos planos de trabalho
foi determinada pelo STF para garantir maior transparência e rastreabilidade.
A Advocacia-Geral da União
(AGU) chegou a recorrer da decisão do STF, mas o pedido foi rejeitado por Dino,
mantendo a obrigatoriedade da documentação. Embora o TCU observe uma redução
nos casos de descumprimento desde o início do monitoramento, o relatório alerta
que o processo precisa ser mantido.
Para otimizar o controle, o
TCU sugeriu a implementação de um sistema automatizado que permita aos
beneficiários das emendas inserir os dados diretamente no sistema.
Fonte: Fórum/Metrópoles/Brasil
247/Jornal GGN
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