Os
locais do mundo onde a população está mais vulnerável a inundações no fim do século
Um levantamento realizado na plataforma Human
Climate Horizons (HCH), do Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento
(PNUD) e do Climate Impact Lab, apontou quais são as regiões ao redor do mundo que podem ter o percentual
populacional mais afetado por inundações no fim do século.
Os dados são derivados de observações de satélite,
marégrafos e conjuntos de modelos do Sexto Relatório de Avaliação do Painel Intergovernamental
sobre Mudanças Climáticas (IPCC). O documento se baseia em pesquisas sobre o
efeito das mudanças climáticas na mortalidade, trabalho e demanda de energia,
divulgados em 2022, informou o HCH, em nota.
💡 Vale destacar que apesar das regiões estarem no topo do índice, não
quer dizer que, em números absolutos, esses países são os mais afetados – já
que, por exemplo,
20% de mil pessoas é menor que 10% de 100 mil habitantes. Ou
seja, os dados abaixo não são comparáveis.
Veja abaixo as regiões que podem ser mais afetadas:
1. Guiana - 19,55% da população total do país;
2. Ilhas
Marshall - 18,89%;
3. Suriname - 18,24%;
4. Ilhas Turcas e Caicos - 12,39%;
5. Maldivas - 12%;
6. Ilhas Cocos - 10,39%;
7. Quiribati - 9,35%;
8. Tuvalu - 8,19%;
9. Ilha de São Martinho - 7,58%;
10. Guiana
Francesa - 6,67%;
11. Ilhas Salomão - 6,37%;
12. Tonga - 5,67%;
13. Vietnã - 5,63%;
14. Seychelles - 5,29%; e
15. Gibraltar - 5,11%.
O levantamento acima considerou o horizonte temporal
de 2080 até 2099 e a partir de emissões intermediárias de gases de efeito
estufa, que podem resultar em um aumento de temperatura até 2100 de
aproximadamente 2,7ºC.
Essa projeção é próxima ao cenário estimado
pela Convenção-Quadro das Nações Unidas sobre a Mudança do Clima
(UNFCCC) no ano passado, que indicou um aumento de
temperatura global de 2,6ºC até 2100.
O HCH coleta dados de 24 mil regiões sobre
resultados climáticos e socioeconômicos para projetar a população impactada.
🌎 Considerando as mesmas métricas, o Human Climate Horizons indica
que 0,64% da população brasileira pode ser afetada por inundações no fim do
século.
☀️ Por que essas
regiões podem sofrer inundações?
Especialistas entrevistados pelo g1 explicaram
que existem dois grandes motivos para esses lugares estarem no topo de regiões
afetadas por inundações:
1. aumento do nível do mar; e
2. quantidade de habitantes em zonas litorâneas.
Sobre o primeiro aspecto, a professora Kyssyanne
Oliveira, da Universidade Federal do Espírito Santo, do Departamento de
Oceanografia e Ecologia, explicou que o nível do mar sobe porque o oceano está
aquecido.
O excesso de calor gerado pelas emissões de gases
do efeito estufa é absorvido pelo oceano, o que deixa as águas mais quentes e
resulta no derretimento das geleiras e do gelo marinho, aumentando o nível do
mar", declarou a professora.
Ela destacou que por meses, as três grandes bacias
oceânicas estiveram com temperaturas acima da média por longos períodos. Veja
abaixo como ficou a temperatura diária da superfície do mar.
🌪️ Furacões e ciclones extratropicais
Os oceanos, cada vez mais aquecidos, atuam também
como combustível para os furacões, permitindo que esses fenômenos se tornem ainda mais intensos.
As águas cada vez mais quentes fornecem uma fonte de combustível
ideal para a tempestade. É como adicionar uma dose extra de cafeína ao café da
manhã — não é o suficiente para fazer a tempestade acontecer, mas o suficiente
para dar a ela um impulso extra
— Andra Jenn, cientista sênior da Lawrence Berkeley National
Laboratory, que publicou um estudo analisando a relação entre o aquecimento do
Oceano Atlântico Norte e a rápida intensificação dos furacões
Esses fenômenos tendem a soprar água em direção às
regiões litorâneas – porém, a depender do local, as técnicas de drenagem podem
não ser suficientes, acabando por inundar algumas
regiões. Isso aconteceu, por exemplo, durante a passagem do
furacão Milton, nos Estados Unidos, e no litoral do Rio Grande do Sul, em maio
deste ano.
🌊 Assim como os furacões, a passagem de ciclones
extratropicais ao longo da costa brasileira também reduz a
pressão atmosférica ao nível médio do mar e sopra água em direção à costa,
resultando em um aumento momentâneo do nível do mar – esse fenômeno dificulta a
saída das águas dos rios durantes eventos extremos de cheia.
🧑 Mais habitantes nas costas das regiões
Ricardo de Camargo, professor do Instituto de
Astronomia, Geofísica e Ciências Atmosféricas da Universidade de São Paulo
(IAG-USP), destacou que as zonas litorâneas dessas regiões concentram uma maior
densidade populacional do que as regiões centrais – por isso o percentual de habitantes afetados é alto.
❌ E se mais pessoas passarem a residir nesses locais ao longo dos
próximos anos, maior poderá ser a porcentagem
de pessoas que podem ser impactadas por inundações.
A três regiões que podem ter mais impacto no fim do
século tem menos de um milhão de
habitantes. Segundo o compilador de dados Worldometer, a
população da Guiana em 2024 é estimada em 831.087 pessoas; das Ilhas Marshall,
36.973 habitantes; e Suriname, 634.431.
O g1 entrou em contato com o governo desses
países para entender quantos habitantes moram nas zonas litorâneas, mas não
teve retorno até a publicação.
"As pessoas tendem a morar em zonas litorâneas
muitas vezes por questões de facilidade, trabalho esporádico ou até por viverem
de recursos da pesca. De todo modo, vale destacar que toda essa população não
chegou hoje a esses locais. Então, elas não sabiam que poderiam correr risco ao
optarem por morar nessas regiões", diz o professor.
🆘 O que pode ser feito para ajudar as pessoas?
Segundo os especialistas, todos os países que
emitiram – e ainda emitem – gases de efeito estufa têm responsabilidade e deve
pensar em soluções para não subir a temperatura ao redor do mundo. Para tal,
eles sugerem algumas formas de contribuição:
·
A nível individual: indicam que o brasileiro opte, por exemplo, por utilizar mobilidade
urbana ao invés de carro, reduza o consumo de energia elétrica e pressione os
governos de terem políticas públicas voltadas para as questões climáticas.
·
A nível nacional: os países devem se responsabilizar em âmbito municipal, estadual e
federal para auxiliem na redução dessas emissões. Eles sugerem melhorias no
transporte público – para haver redução no uso de carro – e participação de
eventos e organizações que pensem no futuro do planeta, como a Cúpula do Clima,
também chamada de COP.
"Se você não tiver uma ação coordenada e
conjunta [para não existir um aumento de temperatura], os impactos das ações
isoladas não serão tão fortes. De todo modo, é preciso que cada indivíduo pense
no futuro do planeta e haja para que todos consigam viver da melhor forma
possível", destacou o professor do departamento de ciências atmosféricas.
Em novembro, os países participantes da 29ª
conferência do clima da Organização das Nações Unidas (ONU), a COP29, entraram em acordo sobre o estabelecimento de um mercado global de
carbono.
Essa decisão aconteceu meses após ter sido confirmado o aumento da temperatura global
ultrapassou 1,5 ºC ao longo de um ano (de
fevereiro de 2023 a janeiro de 2024).
🤝 O que é a COP?
A conferência do clima da ONU é um evento que reúne
governos do mundo inteiro, diplomatas, cientistas, membros da sociedade civil e
diversas entidades privadas com o objetivo de debater e buscar soluções para a
crise climática causada pelo homem.
A conferência vem sendo realizada anualmente desde
1995 (exceto em 2020, por causa da pandemia) e o termo COP é uma sigla em
inglês que quer dizer "Conferência das Partes", uma referência às 197
nações que concordaram com um pacto ambiental da ONU no início da década de
1990.
O tratado, chamado de Convenção-Quadro das Nações
Unidas sobre a Mudança do Clima (CQNUMC), tem como principal objetivo
estabilizar a emissão de gases de efeito estufa na atmosfera e, assim, combater
a ameaça humana ao sistema climático da Terra, cada vez mais evidente nos
últimos meses.
A próxima COP será em Belém, capital do Pará, no
Brasil. Foi a cúpula da COP28 que oficializou a decisão de eleger a cidade como
a sede da COP30, em 2025.
Com isso, o município se tornará o palco crucial
para as discussões sobre mudanças climáticas e estratégias globais para
combater os efeitos adversos do aquecimento global.
Fonte: g1
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