“No passado
eu era favorável a privatizar tudo, hoje não mais”, diz Soraya Thronicke
Em entrevista ao
programa Bom Dia 247, a senadora Soraya Thronicke (União-MS)
declarou ter mudado sua posição sobre privatizações e a condução do Estado na
economia. "Eu era no passado favorável a privatizar tudo, hoje não
mais", afirmou a parlamentar, reconhecendo uma mudança em sua visão
ideológica ao longo dos anos.
Soraya explicou que sua nova
perspectiva foi moldada pela experiência no Congresso e por análises mais
aprofundadas sobre o papel das empresas estatais. "Aquelas [empresas
públicas] que são essenciais, que regulam o mercado ou atendem a população, eu
sou a favor de manter. É o caso da Petrobras, do Banco do Brasil e da Caixa
Econômica Federal", disse.
A senadora relatou que,
durante um encontro com o ex-secretário de Privatizações Salim Mattar, tomou
conhecimento da existência de cerca de 600 a 700 empresas estatais, muitas
delas subsidiárias, o que a levou a considerar um posicionamento mais
criterioso. “Havia empresas deficitárias sem razão de existir. Mas fechar ou
vender indiscriminadamente seria um erro”, ponderou.
Soraya também destacou que
bancos públicos devem servir como ferramentas de apoio à sociedade, citando
exemplos como o financiamento habitacional e o crédito rural. "Eles
existem para subsidiar o povo brasileiro", enfatizou.
Ao abordar sua evolução
política, a senadora afirmou que não tem "compromisso com o erro" e
que considera saudável revisar opiniões com base em novas informações e
cenários. "Eu sou uma democrata e acredito em um Estado necessário,
adaptado às circunstâncias e comprometido com o bem-estar da população",
concluiu.
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Deputados de direita batem recorde de gastos com combustível para jatinhos em
2024
O valor destinado
pelos deputados federais para o
abastecimento de aviões particulares atingiu um recorde este ano. Dados
divulgados pelo jornal O Globo indicam que, entre janeiro e outubro de
2024, foram gastos R$ 785 mil com combustível para aeronaves privadas, o
maior valor registrado desde o início da série histórica, em 2008.
A verba, destinada
ao custeio das despesas legislativas, tem sido empregada no abastecimento de
aeronaves privadas, incluindo jatos e helicópteros emprestados por empresários
e amigos. Pelo menos 32 deputados utilizaram o benefício em 2024, mas apenas
dez possuem aeronaves próprias.
Entre os que mais
gastaram, está Nelsi Coguetto Maria, conhecido como Vermelho (PL-PR),
que apresentou uma despesa de R$ 53 mil para abastecer um bimotor executivo
Piper Seneca, que pertence a uma construtora com contratos em sua base
eleitoral.
Um desses
contratos, de R$ 4,5 milhões, envolve a pavimentação de uma estrada vicinal em
Marmeleiro (PR), custeada com emendas do deputado. Em sua defesa, Vermelho
afirmou que usa a aeronave "de maneira esporádica" e negou qualquer
irregularidade. O prefeito de Marmeleiro, Paulo Jair Pilati (MDB), também
assegurou que a contratação da construtora seguiu os critérios legais e que a
obra ainda não foi iniciada.
Outro caso que
atraiu a atenção foi o de Átila Lira (PP-PI), deputado que gastou pelo
menos R$ 30 mil para abastecer um jato particular registrado no nome
de Miguel Omar Barreto Rissi, que foi eleito prefeito de Parnaguá (PI) com
o apoio de Lira.
O gabinete de Lira
explicou ao jornal O Globo que o uso do avião fazia parte das atividades
eleitorais na região. Miguelão, por sua vez, afirmou que o empréstimo da
aeronave se deve à sua amizade com o deputado.
Elmar Nascimento
(BA), líder do União Brasil, também utilizou verbas públicas para
abastecer um helicóptero que teria sido utilizado para transporte
a festivais e um resort. O parlamentar justificou os deslocamentos como
sendo parte das atividades necessárias ao exercício de seu cargo.
Marcelo Freitas
(União-MG) apresentou comprovantes de despesas que somam R$ 36 mil,
referentes ao abastecimento do avião de um assessor de seu gabinete. A aeronave
pertence a Álvaro Santos Aparecido, nomeado em fevereiro deste ano com um
salário de R$ 7 mil. Nenhum dos dois se pronunciou sobre o assunto.
¨ O
neoliberalismo e a separação entre o econômico e político. Por Emir Sader
“No capitalismo, o econômico
é, portanto, não político, e o político, não econômico.” O que quer dizer com
isso Nancy Fraser, em seu artigo “A impossível democracia de mercado”,
publicado pelo Le Monde Diplomatique de dezembro de 2024?
A autora, uma das maiores
estudiosas do neoliberalismo e do capitalismo contemporâneo, cujo último livro,
“O capitalismo é um canibalismo” sairá em janeiro na França, de que o seu
artigo é uma parte.
Para ela, a crise atual não
se origina exclusivamente na esfera política. A crise atual é a forma que
assume a contradição que pode ser considerada a origem da crise democrática
atual. Sua manutenção é uma condição para a acumulação contínua de capital.
Este processo tende a desestabilizar os próprios poderes dos quais depende.
A topografia institucional
do capitalismo separa o econômico e o político. Cada um é atribuído a uma
esfera distinta. O poder de organizar a produção é privatizado e confiado ao
capital. A tarefa de governar recai sobre o poder publico.
Daí que ela conclui que no
capitalismo e’. portanto, não político, e o político, não econômico. Esta
separação, ao submeter vários aspectos da vida social ás “leis do mercado”,
priva a sociedade de decidir coletivamente o que queremos produzir. Também nos
priva dos meios para o destino do excedente social, a relação com a natureza e
sua relação com a produção. Em razão de sua própria estrutura, o capitalismo é,
portanto, fundamentalmente, antidemocrático.
Ao longo do século XX, o
capitalismo gerido pelo Estado, que sucedeu ao regime do laissez-faire, após a
crise de 1929, utilizou o poder público para conter ou desacelerar a crise. A
estabilidade foi restaurada por várias décadas, mas a dinâmica capitalista,
levou o capital a redobrar os esforços para libertar o mercado da regulação
política.
Foram reformuladas as
relações entre o Estado e o mercado. Os bancos centrais e as instituições
financeiras mundiais substituíram os Estados no papel de árbitros de uma
economia cada vez mais globalizada. O regime atual permite que o capital
financeiro imponha restrições aos Estados e aos cidadãos em benefício direto
dos investidores privados.
O capitalismo é a era da
‘governança sem governo', a era da dominação sem fachada de consentimento. Isso
teve como principal efeito de esvaziar o poder do Estado de sua substância.
Questões antes consideradas como pertencentes à ação política do Estado
tornaram-se áreas reservadas ao mercado.
Aquilo que é chamado
de déficit democrático é parte inerente do capitalismo financeirizado. As
disfunções politicas desse capitalismo não são apenas objetivas. Elas encontram
um correlato subjetivo, quando forças de direita conseguem atrair a eleitores
trabalhadores, prometendo retomar seus países do capitalismo global.
A crise atual não será
resolvida sem turbulências, segundo Nanci. A direita não tem soluções a
oferecer, enquanto as forcas progressistas não conseguem desmistificar a farsa
de como as forças do grande poder econômico são as que geram a crise.
Crises como esta
representam, na sua opinião, momentos decisivos em que a possibilidade de agir
sobre a própria forma de vida social está ao nosso alcance. Surge então a
questão: quem guiará o processo de transformação social, em benefício de quem e
com quais objetivos? Esse processo se deu no passado e acabou beneficiando
principalmente o capital. Devemos , segundo Nancy, nos colocar o desafio de
apontar o verdadeiro culpado e desmantelar a ordem disfuncional e
antidemocrática que é o capitalismo.
¨ A
conspiração rendida. Por Ronaldo Lima Lins
Que conspirem contra a
estrutura do Estado, depois de uma eleição, não surpreende. Afinal escrevemos
uma história recheada de episódios semelhantes, com desfechos lamentáveis.
Surpreende, talvez que, desta feita, a façanha girasse em torno de um
personagem que não se destacava nem pelo brilho, nem pela esperteza, nem pela
linguagem, cujos discursos só se caracterizavam pelas palavras de baixo calão.
É verdade que o mesmo desde o início se apresentou como um outsider,
provido de uma carreira militar tumultuada e premiada com a pena de reserva
para não sofrer outras consequências. Isso para não mencionar a atuação na
Câmara dos Deputados, com sucessivos mandatos transcorridos em brancas nuvens.
Não colocaremos os fatos do 8 de janeiro (e seus desdobramentos) em nenhum
panteão de histórias para contar, nem para os contemporâneos, nem para os netos
dos bisnetos.
Mesmo assim, apesar do
conteúdo raso que ronda a carreira do capitão renegado, é certo que mobilizou
um conjunto de pessoas, incluindo fardados de alta patente, no seu
aventureirismo. Custando ou não a crer, a Polícia Federal realizou
investigações inquestionáveis, tornando viável um bom número de prisões
preventivas. Alguns se espantam diante de um general de quatro estrelas ter se
envolvido na trama. Que fazer?... O cérebro humano possui um cadastro povoado
por tais anomalias e as exibe, não sem frequência, cada vez que um grupo se
reúne para se propor aos absurdos. Agora entram os advogados para nos submeter
a arranjos de argumentação e se possível convencer juízes do Supremo de que o
certo estava errado e vice-versa. Não lhes cabe uma tarefa simples. Rendida, a
conspiração perderá o encanto e terminará se reduzindo ao que verdadeiramente é
e sempre foi: manobra em torno do poder para usá-lo à sua vontade.
Aos estudiosos da
política, incluindo Machiavel, não escapa a excruciante máxima segundo a
qual uma parcela da população não deve, a não ser por delegação da maioria,
impor nomes e costumes à revelia da Constituição. Bolsonaro e seus asseclas não
passavam de um grupo de inconformados, sem lastro para façanhas de maior
destaque. Só lhes resta doravante abaixar a crista e aceitar o peso da justiça,
como deu a entender o Braga Netto na incômoda cena de sua detenção.
Revendo os desatinos do 8 de
janeiro e semanas posteriores, não há como negar que as multidões na porta dos
quarteis jamais se traduziram realmente em manifestação de massa. Pareciam
setores de classe média, primos e parentes, aguardando que lhes viessem em
socorro. Esperaram em vão. No fim, com o rabo entre as pernas, se recolheram,
orientados pelo comando. Ficou-nos a triste memória. E a convicção de que ditadura
nunca mais. Do início ao fim, lhes faltou coragem. Quanto ao líder?
Reza todos os dias, de joelhos, torcendo para que o perdoem Lula e Alexandre de
Moraes. Melhor se sentar. Desta vez, NÃO. Será sem anistia.
Fonte: Brasil 247/Fórum
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