quinta-feira, 19 de dezembro de 2024

João Renato Paulon: Atentado, Armas Químicas e Narrativas - a Morte de Igor Kirillov

O conflito na Ucrânia reacendeu o debate sobre armas biológicas. A Rússia em 2022 acusou os Estados Unidos e o Pentágono de financiar laboratórios biológicos na Ucrânia com o objetivo de desenvolver armas biológicas. Em resposta, os Estados Unidos negaram categoricamente as acusações, classificando os laboratórios como centros de pesquisa biológica voltados para a saúde pública.

Por sua vez, a China reforçou as acusações russas, declarando que os EUA controlam 336 laboratórios em mais de 30 países, sendo 26 na Ucrânia, e exigiu transparência total sobre suas atividades biológicas militares, sugerindo uma verificação multilateral independente. A disputa acentuou ainda mais as divergências, intensificando a narrativa de ambos os lados. A mídia norte-americana, como a CNN, relatou que os laboratórios na Ucrânia são utilizados para pesquisas biológicas, mas isso não significa necessariamente que se trata de armas químicas. Moscou, por sua vez, acusa o Pentágono de envolvimento em programas biológicos sigilosos.

O chefe das tropas de defesa radiológica, biológica e química russas, General Igor Kirillov, morto em um atentado em Moscou nesta terça-feira (17) tornou-se uma figura central nessas denúncias. Kirillov, com uma carreira militar de destaque, era amplamente reconhecido por sua expertise em defesa química e biológica. Ele apresentou relatórios detalhados sobre os laboratórios biológicos dos EUA na Ucrânia, e denunciou o papel no financiamento dessas instalações. Em janeiro de 2024, Kirillov afirmou que autoridades norte-americanas estariam obstruindo investigações sobre a origem da pandemia de COVID-19 e manipulando a opinião pública.

A Ucrânia assumiu a responsabilidade pelo ataque , classificando-o como uma operação especial planejada pelo Serviço de Segurança da Ucrânia (SBU). Segundo O atentado é visto pela Rússia como uma tentativa de desestabilizar ainda mais a sua liderança militar e de enviar um recado direto sobre a capacidade operacional da Ucrânia de atingir alvos fora do campo de batalha. Para a Ucrânia, a ação simboliza um avanço significativo em sua estratégia de guerra assimétrica, minando a moral das forças russas e projetando uma imagem de resiliência. A resposta russa, no entanto, reflete um conhecido ditado popular: 'Os russos demoram para selar o cavalo, mas depois que montam, andam depressa.' Dmitry Medvedev, vice-chefe do Conselho de Segurança da Rússia, prometeu 'retribuição inevitável' contra os líderes políticos e militares ucranianos.

Os três casos apresentados revelam um padrão de manipulação geopolítica em que armas químicas e biológicas são usadas como justificativa para intervenções e para construir narrativas políticas. A guerra das versões, amplamente difundida pela mídia, esconde interesses mais profundos e enfraquece a busca pela verdade. A interconexão entre esses eventos reflete um padrão perigoso onde a informação se torna uma arma tão letal quanto as próprias armas em disputa. A resistência da Ucrânia em permitir investigações independentes sobre os supostos armamentos biológicos e químicos, aliada à relutância dos Estados Unidos em fornecer esclarecimentos públicos convincentes, intensifica a percepção de que as denúncias russas podem conter elementos que merecem uma análise mais cuidadosa, denunciam fissuras na mídia e alimentam dúvidas sobre a transparência das potências envolvidas e aprofundando a polarização geopolítica.

Diante de um cenário de desinformação e manipulação, torna-se urgente que governos, organizações internacionais e cidadãos exijam transparência e responsabilidade. A busca pela verdade não é apenas um exercício político, mas uma necessidade para impedir que narrativas manipuladas se tornem a base de conflitos devastadores. Se o mundo contemporâneo deve ser moldado pela verdade, é preciso resistir à instrumentalização da informação e questionar, com seriedade, os interesses que se escondem por trás de cada discurso e decisão.

 

¨      Como assassinato de general pela Ucrânia furou 'bolha' de normalidade em Moscou durante a guerra

Há uma batalha constante em Moscou entre dois polos: a aparência e a realidade.

Apesar de quase três anos de guerra, a vida aqui pode parecer normal, com as multidões de passageiros no metrô e os bares e clubes lotados de jovens.

Mas, de repente, algo acontece para lembrar que não há nada normal na Rússia de hoje.

Esse "algo" pode ser um drone ucraniano que evade as defesas aéreas de Moscou.

Ou — ainda mais dramático — o que aconteceu na manhã de terça-feira (17/12): o assassinato de um general russo de alto escalão na saída de um bloco de apartamentos.

Quando o tenente-general Igor Kirillov e seu assistente Ilya Polikarpov foram mortos por uma bomba escondida em um patinete elétrico, a realidade da guerra da Rússia na Ucrânia bateu à porta - pelo menos para os russos que estavam próximos à cena do crime.

"Uma coisa é ler sobre isso nas notícias, parece algo distante. Mas quando algo acontece ao lado de você, é completamente diferente e assustador", diz Liza, que mora em um prédio perto do local da explosão.

"Até então, [a guerra] parecia acontecer muito longe. Agora que alguém está morto, aqui, é possível sentir as consequências."

"Minha ansiedade foi às alturas. Cada som me deixa nervosa e me faz pensar se vem de um drone ou apenas algum barulho em um canteiro de obras", complementa ela.

Já ouvi muitas vezes em Moscou essa percepção da guerra da Rússia na Ucrânia como algo distante.

Tenho a sensação de que, para uma parcela considerável da população, esta é uma guerra que eles só vivenciam na tela da TV ou do smartphone.

De muitas maneiras, trata-se de uma guerra virtual.

Algo que não deixa de ser espantoso, se levarmos em conta o grande número de mortos e feridos.

Mas o assassinato de um general russo na capital do país representa um sinal de alerta definitivo, uma prova de que a guerra é muito real e está muito próxima de casa.

Isso servirá como um sinal de alerta para as autoridades russas? Provavelmente não.

Há poucos sinais de uma reviravolta da política do Kremlin na Ucrânia. É muito mais provável que Moscou intensifique o conflito.

Basta olhar os sinais.

Ao reagir às notícias do assassinato de Kirillov, o apresentador de um programa sobre política na TV estatal russa culpou a Ucrânia e afirmou que, "com este ataque, o presidente Zelensky assinou sua própria sentença de morte".

O ex-presidente russo Dmitry Medvedev declarou que "os investigadores devem encontrar os assassinos que estão na Rússia".

"Devemos fazer de tudo para destruir os clientes deles, que estão em Kiev", emendou ele.

Até o momento, o presidente Vladimir Putin não deu nenhuma declaração pública sobre o assassinato do general e do assistente.

Mas o líder russo disse muitas vezes antes que, diante de ameaças à segurança, a Rússia "sempre responderá".

Com base nessa promessa, uma retaliação é provável.

Na quinta-feira (19/12), Putin deve realizar sua coletiva de imprensa anual de fim de ano. Normalmente trata-se de uma maratona transmitida ao vivo por todos os principais canais de TV.

Me pergunto: o líder russo usará o evento para comentar sobre o dramático assassinato de Kirillov? Ele quebrará o silêncio sobre o que aconteceu na Síria?

O presidente russo até agora também não declarou nada sobre a queda de Bashar al-Assad, o principal aliado de Moscou no Oriente Médio.

E o que ele dirá aos russos sobre para onde seu país avança, enquanto a guerra na Ucrânia — que Putin ainda chama de "operação militar especial" — se aproxima da marca de três anos?

¨      Rússia prende suspeito de matar general em ataque em Moscou

O Serviço Federal de Segurança da Rússia (FSB) prendeu um homem de 29 anos nesta quarta-feira (18/12), suspeito de assassinar o general russo Igor Kirillov e seu assistente, Ilya Polikarpov, mortos em uma explosão em Moscou na manhã de terça-feira.

Segundo as autoridades do país, o suspeito é um cidadão do Uzbequistão, que admitiu ter sido recrutado pela Ucrânia para assassinar o general. Ele teria recebido os explosivos que usou na ação diretamente da agência de inteligência ucraniana SBU. A Rússia investiga o assassinato como um ataque terrorista.

Em Kiev, um oficial da SBU confirmou de forma extraoficial que a Ucrânia está por trás do assassinato, segundo diversos veículos de comunicação, incluindo agências de notícias como a Associated Press e DPA. Kirillov havia sido formalmente acusado de crimes de guerra na Ucrânia no dia anterior à sua morte, ele era o chefe da defesa radiológica, química e biológica da Rússia.

Como o assassinato aconteceu

O serviço secreto russo afirmou que, seguindo instruções da Ucrânia, o suspeito viajou para Moscou, onde recebeu um dispositivo explosivo caseiro. Ele então colocou a bomba em um patinete elétrico e o estacionou na entrada do prédio residencial onde Kirillov morava.

Em seguida, alugou um carro para monitorar o local e instalou uma câmera que transmitia ao vivo as imagens para os oficiais ucranianos, situados na cidade ucraniana de Dnipro. Quando Kirillov foi visto saindo do prédio, a bomba foi detonada por um dispositivo remoto.

De acordo com a declaração do FSB, a Ucrânia teria prometido 100 mil dólares (R$ 616,7 mil) ao suspeito. Ele também seria levado a um país da União Europeia após o crime.

O uzbeque foi identificado por meio do carro que utilizou na ação, captado pelas imagens de câmeras de segurança na rua. Ele pode pegar "uma sentença de prisão perpétua".

<><> Quem era Igor Kirillov

Embora vários assassinatos de oficiais russos tenham sido atribuídos a agentes do governo ucraniano, matar um general em Moscou e reconhecer o ato é algo incomum. Kirillov é o oficial militar de mais alto escalão a ser morto dentro do território da Rússia.

Kirillov, de 54 anos, chefiava desde maio de 2017 uma unidade russa responsável por lidar com proteção contra armas químicas, biológicas e radiológicas – conhecidas como "bombas sujas". Ele também se notabilizou por aparecer regularmente na imprensa espalhando desinformação sobre supostos "laboratórios biológicos dos EUA" na Ucrânia e por defender o ex-ditador sírio Bashar al-Assad.

Os ucranianos afirmam que a unidade chefiada por Kirillov faz uso de armas biológicas durante o conflito. O país alega que os russos usaram armas químicas mais de 4,8 mil vezes desde o início da guerra. A Rússia nega as acusações.

¨      O que se sabe sobre prisão de homem do Uzbequistão pelo assassinato de general em Moscou

Autoridades russas informaram nesta na quarta-feira (18/12) que um homem de 29 anos foi detido pelo assassinato do tenente-general Igor Kirillov e seu assistente, em Moscou.

general de alto escalão das Forças Armadas russas e seu assistente foram mortos em uma explosão em Moscou, na terça-feira (17/12).

Kirillov, chefe das Forças de Defesa Nuclear, Biológica e Química (NBC), estava na entrada de um complexo residencial quando um dispositivo escondido em uma scooter explodiu, informou o Comitê de Investigação da Rússia.

O Comitê de Investigação da Rússia (SK) afirmou que o suspeito — cuja identidade ainda não foi divulgada — admitiu que foi recrutado pelos serviços secretos ucranianos. No entanto, o SK não apresentou evidências que comprovassem essa alegação.

O SK informou que o homem detido — nascido em 1995 — é cidadão do Uzbequistão.

A nota acrescentou que ele é "suspeito de cometer um ato terrorista" e que, durante o interrogatório, "ele explicou que foi recrutado pelos serviços secretos ucranianos".

A agência de segurança ucraniana SBU já havia assumido a autoria do assassinato, conforme informou uma fonte à BBC na terça-feira.

A fonte ucraniana disse que Kirillov, de 54 anos, era "um alvo legítimo" e acusou o general de ter cometido crimes de guerra.

Na segunda-feira, um dia antes do assassinato, a Ucrânia havia acusado Kirillov, à revelia, afirmando que ele era "responsável pelo uso massivo de armas químicas proibidas". Moscou nega as acusações.

O Serviço Federal de Segurança da Rússia (FSB) divulgou um vídeo do interrogatório do suspeito.

Nas imagens, um homem algemado e de cabelos escuros aparece falando diretamente para a câmera.

Ele é ouvido dizendo em russo que receberia uma recompensa de US$ 100 mil e um passaporte europeu em troca do assassinato de Kirillov.

O FSB acrescentou que, sob instruções da Ucrânia, o homem detido chegou a Moscou e recebeu um dispositivo explosivo caseiro.

Não está claro se a confissão do suspeito foi feita sob coação.

O dispositivo explosivo foi colocado no patinete estacionado perto da entrada do prédio residencial onde Kirillov morava, afirmou o SK.

Para monitorar o local, o suspeito havia alugado um carro, onde instalou uma câmera de vídeo que transmitia ao vivo para os organizadores do ataque na cidade de Dnipro, na Ucrânia, acrescentou o comitê de investigação.

Quando Kirillov e seu assistente, Ilya Polikarpov, saíram do edifício, o dispositivo explosivo foi ativado remotamente, de acordo com a declaração.

Um porta-voz do Kremlin afirmou que o presidente russo, Vladimir Putin, "expressou profundas condolências" pela morte de Kirillov, conforme relatado pela agência de notícias estatal russa Tass.

<><> Quem era Kirillov

Kirillov é considerado a figura militar de mais alto escalão assassinada dentro da Rússia desde que o presidente Putin iniciou a invasão em larga escala da Ucrânia, em fevereiro de 2024.

Além de ser acusado pela Ucrânia, Kirillov já havia sido sancionado pelo Reino Unido devido ao suposto uso de armas químicas na Ucrânia.

O serviço de segurança ucraniano SBU afirmou que a Rússia usou armas químicas mais de 4,8 mil vezes sob a liderança do general.

Moscou nega as alegações e afirma que destruiu o último remanescente de seu vasto estoque de armas químicas em 2017.

Imagens da cena fora do prédio de apartamentos de Kirillov, no sudeste de Moscou, na terça-feira, mostraram a entrada fortemente danificada, com marcas de queimaduras nas paredes e várias janelas quebradas. Também era possível ver dois sacos de cadáveres na rua.

Na quarta-feira, o Ministério das Relações Exteriores da Rússia informou que o país levaria o assassinato de Kirillov à reunião do Conselho de Segurança da ONU na sexta-feira (20/12).

Oficiais russos prometeram encontrar e punir os responsáveis pelo crime.

¨      Assassinato do general Kirillov 'é definitivamente um ato de terror', diz ex-analista do Pentágono

O assassinato do tenente-general Igor Kirillov, chefe das Tropas de Defesa Radiológica, Química e Biológica russas, é, definitivamente, um ato de terrorismo, disse à Sputnik Michael Maloof, ex-analista sênior de políticas de segurança do Gabinete do secretário de Defesa dos EUA.

"[Os criminosos] colocaram a bomba em um patinete elétrico, do lado de fora do apartamento e a detonaram. Isso é terrorismo", disse ele.

O fato de o ataque ter ocorrido em Moscou e de os criminosos saberem onde Kirillov morava sugere planejamento e coordenação significativos, levantando questões sobre o possível envolvimento de agentes ucranianos ou indivíduos russos trabalhando para a Ucrânia.

Maloof disse que o papel de Kirillov em revelar o envolvimento da Ucrânia em pesquisas químicas e biológicas apoiadas pelos EUA fez dele um alvo.

"O que ele tinha feito foi revelar até que ponto a Ucrânia está envolvida em pesquisas químicas e biológicas ilegais nos EUA", explicou Maloof, observando a natureza sensível das revelações.

"O que os Estados Unidos estão fazendo nesses laboratórios de pesquisa que ela, quando era membro do governo Biden, não queria que fosse revelado?", perguntou Maloof. "Kirillov foi quem expôs que nesses laboratórios estavam em andamento pesquisas químicas e biológicas", finalizou.

O chefe das Tropas de Defesa Radiológica, Química e Biológica russas, tenente-general Igor Kirillov, e seu assistente foram mortos em resultado da explosão de uma bomba junto a um bloco residencial em Moscou na manhã de terça-feira (17).

                

Fonte: Brasil 247/BBC News Mundo/DW Brasil/Sputnik Brasil

 

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