segunda-feira, 2 de dezembro de 2024

Gilbert Achcar: O cessar-fogo no Líbano não é uma “vitória divina”

Poderia o acordo de cessar-fogo entre Israel e o Líbano ser uma nova “vitória divina”? Foi assim que o Hezbollah descreveu o acordo que encerrou o ataque israelense ao Líbano em 2006. Na época, o partido exibiu essa frase em grandes outdoors, acompanhada de uma foto do Secretário-Geral Hassan Nasrallah, em um claro jogo de palavras, pois o slogan podia ser interpretado tanto como uma vitória atribuída a Deus quanto como uma vitória liderada por Nasrallah, cujo nome, em árabe, significa “vitória de Deus”.

Independentemente dessa suposta dimensão divina, a reivindicação de vitória fazia sentido em 2006, quando o ataque israelense não conseguiu desferir um golpe decisivo ao Hezbollah, que resistiu ferozmente. O Estado sionista foi forçado a interromper sua guerra com base em uma resolução internacional, a Resolução nº 1701 do Conselho de Segurança da ONU, que não oferecia garantias reais para sua aplicação. Isso incluía até mesmo sua primeira cláusula, que exigia a retirada das forças do partido para o norte do rio Litani, sem mencionar a cláusula que reafirmava a resolução anterior nº 1559 (2004) do CSNU, que demandava o desarmamento do Hezbollah — a única organização que insistiu em manter armas no Líbano após 1990, sob o pretexto de resistir à ocupação israelense.

O partido conseguiu recuperar-se das feridas da guerra de 2006, que causou mais de mil mortes e uma destruição generalizada nas áreas sob seu domínio, em conformidade com o que mais tarde ficou conhecido como a “Doutrina Dahiya”. O financiamento iraniano permitiu ao Hezbollah pagar indenizações por perdas humanas e materiais, enquanto o armamento iraniano possibilitou não apenas compensar as perdas militares, mas também multiplicar sua capacidade de fogo em quantidade e qualidade, adquirindo um poder dissuasório contra o Estado sionista. Como é amplamente sabido, o poder militar do partido e o apoio iraniano cresceram ainda mais devido à sua intervenção na Síria para sustentar o regime de Assad, transformando-o, na prática, em uma divisão da Força Quds — a ala da Guarda Revolucionária Islâmica do Irã especializada em operações no exterior — encarregada de missões militares que incluíam o Iraque e o Iêmen.

·        O contexto atual

A situação atual e o acordo de cessar-fogo, negociado lentamente ao longo de meses e intensamente nas últimas semanas, são completamente diferentes de 2006. A principal diferença é que o golpe infligido pelas forças armadas sionistas ao Hezbollah é hoje muito maior, ainda que não fatal. Israel não tem ilusões de que pode eliminar o partido apenas com bombardeios, pois o Líbano oferece diversos refúgios locais e regionais, diferentemente da Faixa de Gaza, que continua sendo uma grande prisão apesar da rede de túneis escavada pelo Hamas.

A ofensiva lançada pelas forças armadas israelenses no Líbano há dois meses e meio, que começou com a explosão de dispositivos de comunicação do Hezbollah, conseguiu decapitar o partido ao eliminar a maioria de seus líderes e destruir suas capacidades e infraestruturas militares de maneira muito mais eficaz do que há 18 anos, graças a avanços tecnológicos que aprimoraram a inteligência israelense. O Hezbollah sairá desta guerra exausto, em um estado incomparavelmente pior do que em 2006, com capacidade limitada para se reconstruir, muito menos para ampliar suas forças.

Como destacou recentemente o embaixador de Israel na ONU, aprenderam-se as “lições de 2006 e da resolução 1701”. Dessa vez, os israelenses estarão muito mais atentos para garantir a retirada total das forças do Hezbollah ao norte do rio Litani e impedir que o Irã reabasteça o partido por meio do território sírio. Israel exigiu garantias oficiais dos Estados Unidos para essas questões e manterá a liberdade de atacar qualquer movimento que viole o acordo, da mesma forma que atua contra operações iranianas na Síria.

·        Impacto financeiro e político

Além disso, a capacidade do Hezbollah de se recuperar perante sua base popular será mais limitada desta vez, não apenas porque as perdas humanas e materiais são maiores, mas também porque o Irã enfrenta hoje uma situação financeira mais difícil do que em 2006, antes das sanções mais rigorosas impostas pelos Estados Unidos.

Por fim, o Estado sionista conta com os esforços de Washington, em cooperação com Paris, para alterar o cenário político libanês, fortalecendo as forças armadas regulares do Líbano e impedindo o Hezbollah de se rearmar. Esse processo inclui a restauração das instituições governamentais libanesas, com a eleição de um novo presidente e a formação de um gabinete, pressionando pela escolha de Joseph Aoun, comandante das forças armadas libanesas.

O futuro dependerá da dinâmica entre Irã e Estados Unidos: se haverá um acordo político ou uma escalada de violência no Líbano, intensificando o confronto regional.

¨      Consulado do Irã na Síria é alvo de ataque terrorista

Ataque ocorreu pouco após Teerã e Moscou expressarem preocupação diante da escalada de violência na Síria; chanceler iraniano diz que aumento das atividades rebeldes no país é parte de um plano dos EUA e Israel para desestabilizar a região.

O Ministério das Relações Exteriores do Irã informou que o consulado iraniano na cidade de Aleppo, na Síria, foi atacado por terroristas neste sábado (30).

"O porta-voz do Ministério das Relações Exteriores do Irã, Esmaeil Baghaei, condenou veementemente o ataque de vários grupos terroristas armados ao consulado iraniano em Aleppo e, referindo-se às disposições da Convenção [de Viena] sobre Relações Consulares de 1963, que proíbem quaisquer ataques a edifícios consulares, observou que a violação dessa convenção é inaceitável por qualquer pessoa, grupo ou governo", disse o órgão em comunicado.

O ataque veio poucas horas após o Ministério da Defesa sírio informar que as Forças Armadas da Síria estavam engajadas em combates com grupos terroristas nas províncias de Aleppo e Idlib.

Baghaei enfatizou que Teerã avalia medidas legais e internacionais em resposta à ação, e destacou que os funcionários do consulado escaparam ilesos do ataque.

Anteriormente, veículos de mídia sírios informaram que funcionários do consulado iraniano estavam seguros em meio a confrontos armados entre o Exército e terroristas, acrescentando que declarações sobre a captura de um dos funcionários não foram confirmadas.

Rebeldes lançaram um ataque surpresa neste sábado, considerado o maior já realizado na Síria desde 2016, e conseguiram tomar o controle de parte de Aleppo, segunda maior cidade do país, atrás apenas da capital Damasco. A ação veio na esteira de outros ataques realizados ao longo da semana, que reacenderam a violência no país, que vive um conflito armado desde 2011, com vários grupos, incluindo organizações terroristas, em confronto entre si e contra as Forças Armadas Sírias.

O chanceler da Rússia, Sergei Lavrov, e seu homólogo iraniano, Abbas Araghchi, expressaram preocupação com a escalada de violência no país, em uma conversa telefônica realizada mais cedo.

"Durante a conversa, ambos os lados expressaram extrema preocupação com a perigosa escalada da situação na Síria em conexão com o ataque terrorista por grupos armados nas províncias de Aleppo e Idlib. Forte apoio à soberania e integridade territorial da Síria foi reafirmado", disse o MRE russo em comunicado.

Os chanceleres concordaram sobre a necessidade de intensificar esforços conjuntos visando estabilizar a situação na Síria e revisar urgentemente a situação de forma abrangente dentro da estrutura do formato de Astana.

O formato das negociações de Astana foi lançado em 2017, e inclui Rússia, Irã e Turquia como mediadores da crise síria.

O Ministério das Relações Exteriores iraniano também divulgou um comunicado sobre a conversa telefônica, afirmando que ambos os diplomatas concordaram que a discussão sobre os acontecimentos na Síria deveria ocorrer no formato tripartite de Astana, incluindo a Turquia.

"Na conversa, as partes, expressando forte apoio à soberania nacional e à integridade territorial da Síria e apoiando o governo e o exército desse país na luta contra grupos terroristas, declararam a necessidade de considerar essa questão [a atuação de terroristas na Síria] dentro da estrutura do processo de Astana e a necessidade de coordenação entre Irã, Rússia e Turquia — os três países mediadores [do formato Astana]", disse o ministério iraniano.

Abbas Araghchi afirmou que o aumento da atividade de grupos terroristas na Síria faz parte do plano dos EUA e Israel para desestabilizar a região.

¨      EUA e Israel estão por trás da ofensiva dos militantes na Síria, acredita analista turco

O momento da ofensiva dos grupos terroristas em Aleppo e Idlib, no noroeste da Síria, não surge por acaso e atende aos planos dos EUA e de Israel, disse o dr. Ali Fuat Gokce, professor da Universidade de Gaziantep, em uma entrevista ao jornal turco Aydinlik.

Na manhã de quarta-feira (27), grupos pertencentes ao Tahrir al-Sham (organização terrorista proibida na Rússia e em vários outros países) violaram o acordo de desescalada e atacaram posições das Forças Armadas sírias nas províncias de Aleppo e Idlib, noroeste da Síria.

As forças sírias, junto com a Força Aérea russa instalada no país, responderam aos ataques causando baixas consideráveis aos terroristas.

No entanto, segundo o canal de TV Al-Mayadeen, os militantes conseguiram fazer um avanço e agora controlam supostamente cerca de 40% da maior cidade síria, Aleppo.

Em sua entrevista à mídia turca, Gokce nomeia o Tahrir al-Sham como forças que lutam por procuração dos Estados Unidos no Oriente Médio.

Segundo ele, depois "da derrota de Israel no Líbano", Washington decidiu usar este grupo terrorista para cortar uma "rota essencial para o Hezbollah", movimento libanês com qual realmente lutou Israel e fez recentemente um acordo de cessar-fogo.

"No mesmo dia em que Israel foi derrotado na luta contra o Hezbollah e o cessar-fogo entrou em vigor, as formações do Tahrir al-Sham entraram em ação. Parece que o Tahrir al-Sham, controlado pelos EUA, está agindo em defesa de Israel", disse Gokce.

Ele disse que o objetivo dos EUA era capturar a região ao redor de Aleppo, pois alimentar conflitos inter-religiosos na área prejudicaria a retaguarda do Hezbollah.

¨      Centro Russo de Reconciliação para a Síria relata escalada de tensões no país

As tensões têm aumentado na Síria devido à ofensiva de grupos terroristas nas províncias de Aleppo e Idlib, localizadas no noroeste do país, informou nesta quinta-feira (29), Oleg Ignasyuk, vice-chefe do Centro Russo de Reconciliação para a Síria.

"O Centro Russo de Reconciliação para a Síria registrou uma deterioração contínua da situação na República Árabe Síria devido ao grupo terrorista Frente al-Nusra [antigo nome para Frente Fatah al-Sham, organização terrorista proibida na Rússia] e outros grupos armados de oposição radical que se deslocam para uma ofensiva conjunta contra as forças do governo sírio nas províncias de Aleppo e Idlib", disse Ignasyuk em um comunicado.

Para apoiar o país árabe, a Força Aérea russa tem atacado posições de grupos terroristas armados, bem como posições de seus equipamentos, postos de controle e armazéns, disse ele.

Nas últimas 24 horas, pelo menos 200 paramilitares foram mortos e a operação para repelir a ofensiva terrorista continua, acrescentou Ignasyuk.

Na manhã da quarta-feira (27), a Frente al-Nusra começou a bombardear aldeias e cidades nas províncias de Aleppo e Idlib, segundo o Ministério da Defesa sírio.

As forças sírias responderam aos ataques, causando baixas consideráveis ao grupo terrorista Tahrir al-Sham (anteriormente conhecido como Frente Fatah al-Sham, organização terrorista também proibida na Rússia e em vários outros países).

Já na quinta-feira (28), o Centro Russo de Reconciliação para a Síria informou que as Forças Armadas da Síria, com o apoio da Força Aérea russa, eliminaram cerca de 400 terroristas num dia.

Desde março de 2011, a Síria tem vivido um conflito em que as forças governamentais enfrentam grupos armados de oposição e organizações terroristas.

<><> Exército sírio está deslocando reforços para repelir ataques terroristas no norte do país

As Forças Armadas da Síria transferem reservas para as zonas de batalha nas províncias de Aleppo e Idlib para repelir ataques terroristas, informou o Comando-Geral do Exército da Síria.

Na quarta-feira (27), grupos pertencentes ao Tahrir al-Sham (organização terrorista proibida na Rússia e em vários outros países) violaram o acordo de desescalada e atacaram posições das Forças Armadas sírias nas províncias de Aleppo e Idlib, noroeste da Síria.

Eles atacaram vilarejos e povoados em uma grande parte da linha de contato.

O Exército sírio respondeu ao ataque. De acordo com Oleg Ignasyuk, vice-chefe do Centro Russo de Reconciliação para a Síria instalado no país, pelo menos 400 terroristas foram eliminados.

"Nossas Forças Armadas continuam a reforçar com efetivos e equipamentos todas as posições na linha de frente para impedir os avanços dos terroristas e repelir seus ataques", diz o comunicado.

Os militares sírios conseguiram recuperar o controle de vários territórios e o Exército vai continuar a atacar os terroristas até que eles sejam completamente expulsos dos territórios sob o controle das autoridades sírias ou até que sejam completamente destruídos.

As tropas sírias já eliminaram centenas de terroristas durante dias de combates, além da destruição de blindados e drones dos militantes, entre os quais há muitos mercenários estrangeiros, segundo a informação do comando.

A mídia síria relatou que a Força Aérea da Síria atacou os quartéis-generais dos terroristas nas cidades de Idlib, capital da província do mesmo nome, e de al-Dana, na mesma região.

 

Fonte: Correio da Cidadania/Sputnik Brasil

 

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