segunda-feira, 23 de dezembro de 2024

A escola de Papai Noel que já formou mais de mil bons velhinhos

No final do ano, um personagem toma conta da nossa rotina, aparece nos shoppings, nas ruas, nas festas, nos sonhos das crianças. O que muita gente nem imagina é o trabalho que dá ser Papai Noel.

Não basta colocar uma roupa vermelha para vestir o personagem. Papai Noel tem que aprender a interpretar, a cantar, ter jogo de cintura para escapar daquelas perguntas indiscretas que só criança faz.

“As crianças perguntam muito, querem saber muito e se o bom velhinho não estiver pronto para responder à altura, acaba decepcionando a criança", diz Limachem Cherem, diretor da Escola de Papai Noel do Brasil.

A escola de Papai Noel que fica em Realengo, na Zona Oeste do Rio de Janeiro, já formou mais de mil bons velhinhos. Foi criada 31 anos atrás pelo ator Limachem Cherem, que no fim do ano via a bilheteria do teatro infantil onde trabalhava esvaziar. Aí ele pensou no personagem que sempre tem trabalho no Natal. E esse tanto de Papai Noel para lá e para cá movimenta um mercado bastante peculiar.

No final do ano, todo mundo corre para se arrumar - fazer o cabelo, as unhas, a barba no caso dos homens... Com o Papai Noel não é diferente. Ele pode passar horas sentado em uma cadeira de um salão de beleza, se preparando para a grande. A equipe do Jornal Nacional encontrou um Papai Noel retocando os fios. O Paulo Aguilar começou a trabalhar como Papai Noel em 2019. Para ficar grande, a barba não é cortada desde março.

“A gente fica com aquele espírito de Papai Noel mesmo. Moro no Polo Norte e faço brinquedo para criançada, entrego brinquedo, sou o único”, diz Paulo Aguilar, músico e Papai Noel.

Cada Papai Noel é único, mas muitos vão até o salão da Grey Armas. A venezuelana diz que, desde novembro, atendeu uns 15 - para desespero das outras clientes.

“Minhas clientes falavam: ‘Grey, e cadê meu agendamento?’. Eu falei: ‘Gente, deixa eu primeiro atender o Papai Noel que vai dar presente a essas crianças e depois vem vocês’”, conta.

O Paulo Mendes é ator e treina candidatos a Papai Noel em São Paulo. Começou em 1991, quando o mundo era outro. Diz que daquela imagem que a gente sempre teve na cabeça, só ficou uma característica.

“Tem que ter uma barba. Agora a cor, a raça não importa. O importante é que a pessoa, quando se predispõe a fazer esse personagem, tenha a responsabilidade de passar toda essa magia do Natal para a criança”, afirma Paulo Mendes, ator e diretor da Cia do Bafafá.

É o primeiro Natal do Flávio como Papai Noel profissional. Mas ele conta que no trabalho, na família, já encarna o personagem há anos - nem tira mais a barba.

“O Papai Noel preto está tendo seu espaço hoje. Incorporar mesmo o espírito natalino e o personagem. Você, quando coloca essa roupa, você é o Papai Noel”, afirma o psicólogo Flávio Teles dos Santos.

 

¨      No Amazonas, Papai Noel recebe ajuda de voluntários para chegar até crianças indígenas e ribeirinhas

Em comunidades ribeirinhas do Amazonas, o Papai Noel está recebendo a ajuda de voluntários para chegar até as crianças.

Ele se transforma para transformar o Natal de muita gente. Em meio às dificuldades da seca, lá vai ele de barco, andando, pega carona pela lama e até chega remando. Ser Papai Noel na Amazônia não é para qualquer um.

“Basta ter coragem e paciência. A palavra certa é ‘amor’, quem tem amor faz tudo”, define Jorge Alberto Barroso, técnico em eletrônica.

Um amor que contagia outras pessoas: são os amigos do Papai Noel, como o programador Pedro Carvalho. São mais de 20 anos arrancando sorrisos pelos rios em Manaus.

“Isso é que faz a alegria da gente. A gente tem aqueles problemas de casa, do dia a dia, mas quando a gente vem para cá para ver uma criança receber um presente, aquele sorriso e aquele abraço, não tem coisa igual, não tem” , diz Pedro Carvalho.

Em 2024, mais de 5 mil brinquedos foram doados para a ação. O enfermeiro e artesão Laércio Valvassoura é de São Paulo. Ele faz parte do grupo de artesãos que produz bonecas de pano para o projeto.

“A gente já começou a produção para 2025. Somos duendes, amigos do Papai Noel de Manaus”, afirma Laércio.

O grupo começou com sete amigos, agora são dezenas de voluntários. Gente de Manaus e de outras partes do Brasil que faz questão de dedicar um pouco do seu tempo para alegrar o Natal ribeirinho. O sorriso das crianças na hora das brincadeiras é um presente para quem participa da festa.

"É maravilhoso. É uma experiência que não tem preço", diz uma voluntária.

Encontros que vão ficar na memória.

Repórter: Você já tinha visto o Papai Noel?

Alexandra Feitoza, estudante de 7 anos: Não.

Repórter: O que você ganhou dele?

Alexandra: Uma bola, um livro, uma boneca e uma escova de dentes.

Repórter: E o que você deseja para as pessoas nesse Natal?

Alexandra: Feliz Natal!

¨      Casal goiano transforma apartamento na Casa dos Papais Noéis

Há mais de 30 anos, a paixão pelo natal faz uma goiana transformar o apartamento onde mora na casa dos Papais Noéis.

É só chegar o fim do ano que começa uma movimentação diferente neste prédio, em Itumbiara, no sul de Goiás. São caminhões lotados de caixas. O destino: este apartamento, onde somos recebidos pela Míriam e o Rubens.

Durante nove meses do ano, lá funciona a sala de estar, mas quando chega perto do Natal saem todos os móveis e o lugar se transforma para receber uma superpopulação de Papais Noéis. E a gente encontra de vários tipos e de todos os tamanhos.

Eles ficam pelo chão... Pendurados... Tocando sax... E até juntando dinheirinho pros presentes. Os Noéis ocupam todos os cômodos da casa de 500 metros quadrados.

Tudo começou com um Papai Noel em um calhambeque vermelho. Um presente da mãe da Miriam no dia do casamento. O tempo passou e a coleção se multiplicou. Hoje, a empresária tem 1.231 Noéis expostos no apartamento, fora os que ainda ficaram no depósito.

"Sei de todos. Inclusive quando eu vou adquirir algum, eu sei: esse eu já tenho, esse eu já tenho, esse eu não tenho", afirma Miriam Cubas, empresária.

Dá trabalho manter uma coleção desse tamanho.

"Cada um tem uma caixa. Você não adianta colocar um Papai Noel na caixa do outro que não aceita. Não cabe. Nessa última montagem, nós começamos numa semana levantando 4h30 da manhã e indo até às 10h", diz Rubens Martins, empresário.

O casal adora receber visitas. Lucas e Carolina levaram os filhos para conhecer a coleção. O Frederico de um ano ficou encantado.

"Parece que você está em outro mundo. Você sai da realidade para vir em um mundo de fantasia", destaca Lucas Coelho.

No local tem representantes de quase 180 países. As bandeiras identificam a origem.

Miriam: "Muitas falam: para que isso? Por que você gosta disso?",

Repórter: O que você responde?

Miriam: Ah, eu amo, né? Minha paixão, meu hobby, é o que eu mais gosto. Cada um diferente um do outro, e eu fico assim encantada.

¨      ONG atende crianças que pediram cestas básicas como presentes de Natal

Uma tradição do final do ano são as cartinhas que as crianças escrevem para os Correios com pedidos de presentes. Nesse Natal, a Ação da Cidadania adotou essas mensagens pela primeira vez.

Em 2024, Lucas foi eleito o melhor aluno na escola. Ele sonha em ser advogado e todo ano escreve uma cartinha pro Papai Noel.

Repórter: No Natal do ano passado, o que você ganhou de presente?

Lucas Bicalho, estudante: Eu não consegui ganhar nada porque eu fiz a cartinha pro papai Noel, pro nosso Velhinho e, infelizmente, eu não consegui ganhar.

Repórter: Esse ano, o que você pede?

Lucas: Eu peço uma bicicleta, uma cesta básica e um videogame.

Repórter: Por que uma cesta básica?

Lucas: Porque a comida lá em casa tá acabando, entendeu?

Lucas enviou a carta pra campanha “Papai Noel dos Correios”, que conecta cidadãos voluntários aos pedidos das crianças.

A Lorena Marques também escreveu: “Olá Papai Noel. Lembra de mim? Sou eu, Lorena, tentando ganhar um presente. Estão 3 opções de presente: um, kit canetinha, dois, kit pulseira, e três, uma cesta básica”.

"Tá chegando o Natal e o Ano Novo, e é pra fazer ceia, é para ajudar nas coisas lá de casa".

Os Correios receberam mais de 600 cartas escritas por crianças de até 10 anos de idade pedindo comida como presente de Natal. Essas cartas foram encaminhadas para a Ação da Cidadania, que vai atender a todos os pedidos.

“Ao invés do mágico do Natal, a gente tem o básico, que é o direito à alimentação e que elas não tem. Esse Natal Sem Fome,, na verdade, é pra elas, porque não adianta você ter brinquedos se você tem fome. Como é que uma criança ou qualquer pessoa consegue viver, quanto menos brincar, se tá passando fome?”, diz Daniel Souza, presidente da ONG Ação da Cidadania.

Repórter: Alana ainda não escreve cartinha pro Papai Noel, né?

Verônica Reis Barbosa, mãe de Alana: Não, ainda não. Ela pede minha ajuda pra escrever a cartinha do papai Noel dela.

Repórter: E o que ela escreveu na carta?

Alana Reis Barbosa, 5 anos: Eu pedi uma boneca, uma cesta básica e uma roupa.

Alana teve o pedido atendido. Ganhou a cesta básica, a roupa e a boneca. E que a felicidade da Alana e os desejos da Lorena cheguem em todos os lares.

Repórter: Se você pudesse, num passe de mágica, mudar o mundo, o que você faria, Lorena?

Lorena: Acabar com a fome.

Repórter: E o que você deseja pras crianças do Brasil inteiro nesse Natal?

Lorena: Saúde, felicidade e alegria.

 

Fonte: g1

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