quarta-feira, 6 de novembro de 2024

Queda de idosos: entenda os riscos e veja como manter a casa segura

Uma queda dentro do apartamento foi o que causou o falecimento do cantor Agnaldo Rayol, de 86 anos, na segunda-feira (4). Segundo a assessoria, o cantor caiu no banheiro e bateu a cabeça, o que ocasionou um grande corte.

A morte do cantor é um alerta para um problema que pode trazer muitos riscos aos idosos: as quedas.

De acordo com a Organização Mundial da Saúde (OMS), até 2025, o Brasil será o sexto país do mundo em número de idosos. Em 2021, a expectativa de vida dos brasileiros era de 77 anos, segundo o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE).

O g1 conversou com a geriatra Anelise Fonseca, presidente da Sociedade Brasileira de Geriatria e Gerontologia (SBGGRJ), para entender:

•        quais os riscos na queda de idosos;

•        como prevenir quedas espontâneas;

•        a relação de quedas com doenças;

•        principais cuidados na saúde;

•        e como ter uma casa mais segura.

<><> Quedas e envelhecimento

"A pessoa idosa não percebe as dificuldades que tem", comenta Anelise Fonseca. A médica conta que é muito comum escutar de pacientes "de repente, eu fiquei idosa", e que filhos e netos de enfermos também demoram para aceitar e identificar o envelhecimento de seus entes.

Para ela, uma queda pode ser apenas a "ponta do iceberg", e diz que o tombo pode estar relacionado a outras doenças, como demência, depressão ou alguma enfermidade ocular. "[A queda] Pode ser um sinal para uma investigação mais profunda", avisa.

Existem diversos fatores que podem estar relacionados com as quedas de idosos, sendo o principal deles a senescência (o processo natural de envelhecimento). Com o envelhecimento, o corpo humano sofre algumas modificações fisiológicas, como a perda de músculo, de massa magra, de massa óssea e de visão.

"Se a pessoa idosa não fizer atividade física, não cuidar da alimentação, vai tender ao desequilíbrio e à perda da noção do próprio corpo", explica Anelise.

Além dos fatores biológicos, Anelise Fonseca cita a importância da atenção com o uso de medicamentos. É comum que idosos tomem sedativos, ansiolíticos ou diuréticos, que também podem estar atrelados aos riscos de queda, diz a médica. Sem contar que a senilidade pode causar confusão mental e fazer com que a pessoa acabe trocando remédios ou errando na dosagem.

"Uma fratura no fêmur pode gerar trombose e evoluir para uma embolia pulmonar ou embolia gordurosa", esclarece. Na verdade, a geriatra explica que os cuidados com a queda estão associados às consequências do não tratamento ou à evolução de outras complicações.

<><> Cuidados e prevenção

Existem alguns cuidados que podem e devem ser tomados por pessoas acima de 60 anos. A geriatra Anelise Fonseca lista alguns deles:

👟 usar um sapato adequado, emborrachado e confortável;

☀️ tomar sol por alguns minutos diariamente para evitar a carência de vitamina D;

🏋️ fazer atividades físicas;

🥗 alimentar-se bem e estar atento à ingestão de proteína;

🚶‍ manter a mobilidade, como caminhar e mover-se com frequência;

👩‍⚕️ e estar em dia com consultas médicas e atento a doenças ou alterações oculares.

Ela também reforça que quanto mais o idoso andar, caminhar e se mover, maior será sua independência, por isso a mobilidade é tão importante. E, apesar de a resistência de muitos pacientes, ela indica o uso da bengala como uma forma de dar segurança e estabilidade.

"O paciente que cai tem medo de cair de novo, então ele se isola e se deprime, anda menos ainda, fica menos sociável, mais introspectivo, e a depressão é um fator de risco para a demência", observa.

E atenção! Em caso de queda, familiares e cuidadores devem observar machucados, sonolência, tontura, possíveis fraturas e indicações de dor.

<><> Casa segura 🏠❤️

"O idoso cai mais em casa que na rua. Em casa ele se sente mais seguro", lembra a médica. Por isso, com a ajuda de Anelise Fonseca, o g1 listou algumas dicas de cuidados dentro de casa:

•        evite tapetes ou escolha opções antiaderentes;

•        mantenha os cômodos iluminados;

•        deixe itens de uso do dia a dia mais abaixo ou de fácil acesso para que não seja preciso o uso de bancos ou escadas;

•        use barras de proteção tanto nos boxes como ao lado de vasos sanitários nos banheiros;

•        mantenha corredores, caminhos e escadas livres, sem obstáculos, para um trânsito mais seguro entre um cômodo e outro;

•        escolha pisos antiderrapantes;

•        e, caso esteja cozinhando, evite deixar o fogão para atender telefone ou fazer outra função.

 

¨      Veja 5 formas de evitar queda de idosos em casa

Apesar de ser algo comum, a queda de idosos pode desencadear problemas maiores para o bem-estar e saúde, exigindo atenção especial daqueles que cuidam de pessoas mais velhas em casa.

Com a ajuda de Isabella D’Amico, geriatra e coordenadora do programa CASE (Casos de Alta Complexidade) do grupo Hapvida NotreDame Intermédica, e de Polianna Souza, geriatra do Hospital Israelita Albert Einstein, a CNN lista 5 principais cuidados para evitar queda de idosos em casa. Confira:

<><> 1. Manter doenças crônicas controladas

De acordo com D’Amico, algumas doenças crônicas podem propiciar a ocorrência de quedas. É o caso da depressão, diabetes, hipertensão arterial, artrite, Parkinson, Alzheimer e acidente vascular cerebral (AVC).

“É imprescindível que o idoso tenha acompanhamento médico regular e siga as orientações dadas pelo especialista e pela equipe multiprofissional”, explica.

<><> 2. Corrigir déficits visuais e auditivos

Segundo Souza, corrigir déficits visuais e auditivos também é uma medida importante para evitar quedas em casa. É o caso de catarata e da degeneração macular relacionada à idade (DMRI), que pode causar visão embaçada e dificuldade de enxergar à noite.

<><> 3. Fazer mudanças necessárias em casa

A residência do idoso deve ser adaptada para eliminar fatores que aumentam o risco de queda. As especialistas listam os principais cuidados:

  • Manter os ambientes bem iluminados;
  • Utilizar iluminação de segurança entre o quarto e o banheiro, já que 45% das quedas costumam ocorrer nesse caminho, principalmente à noite;
  • Usar pisos antiderrapantes em áreas úmidas, como banheiros, cozinhas e lavanderias;
  • Usar barras de apoio ao lado do vaso sanitário e dentro do box (mínimo de 60 cm de comprimento e fixadas a 75 cm do piso);
  • Utilizar um banco firme, preferencialmente fixado, ou cadeira de banho ou de plástico resistente no box do chuveiro, para que o idoso tome banho e se enxugue sentado;
  • Caso o vaso sanitário tenha caixa acoplada, usar barra de apoio fixada a 15 cm da caixa;
  • Instalar corrimões dos dois lados da escada, caso tenha uma em casa;
  • Manter imóveis bem fixos, preferencialmente nos cantos dos cômodos, sem risco de obstruir a passagem;
  • Cama, cadeiras e poltronas devem ter altura adequada ao idoso, facilitando o apoio dos pés no chão ao sentar e levantar;
  • Fixar armários na parede e organizá-los de forma que os itens de maior necessidade no dia-a-dia estejam ao alcance dos braços do idoso, evitando a necessidade do uso de bancos ou escadas para alcançá-los;
  • Instalar um abajur ou interruptor de luz ao lado da cama, para evitar que o idoso se levante no escuro ao longo da noite;
  • Organizar as roupas mais utilizadas em local de fácil acesso no guarda-roupa;
  • Utilizar sino ou campainha ao lado da cama para chamar ajuda quando necessário;
  • Cadeiras, poltronas ou sofás devem ter braços para facilitar o sentar e levantar;
  • Tapetes devem ser removidos ou fixados no chão.

<><> 4. Praticar atividade física

“Caminhadas, natação, hidroginástica, dança, alongamento, tai chi chuan, além de exercício físico resistido (musculação) para fortalecimento muscular podem ajudar no equilíbrio e propriocepção (também conhecida como cinestesia, é a capacidade de perceber a posição do corpo no espaço)”, afirma D’Amico.

No entanto, outras modalidades também podem ajudar. “O exercício ideal seria aquele capaz de trazer fortalecimento, flexibilidade, equilíbrio e coordenação motora, mas costumamos dizer que o exercício ideal é aquele que a gente realmente faz”, acrescenta Souza.

Modalidades como pilates e ioga também podem ser interessantes por trabalharem esses pilares. “Mas devemos pensar que o fortalecimento global, principalmente o de membros inferiores no caso das quedas, é fundamental”, completa.

<><> 5. Atentar-se com os medicamentos utilizados e manter-se hidratado

De acordo com Souza, alguns medicamentos podem aumentar o risco de quedas, como os psicotrópicos, levando a sonolência ou reduzindo atenção, reflexos e equilíbrio. É o caso de anti-hipertensivos, diuréticos, antialérgicos e hipoglicemiantes. “Isso acontece, principalmente, quando utilizados de forma não orientada”, afirma a geriatra.

Além disso, a combinação de medicamentos também pode alterar o equilíbrio, causar sonolência, tontura e redução da atenção. “É importante respeitar a prescrição médica e tomar os medicamentos no horário indicado, sempre
utilizando água”, complementa D’Amico.

A hidratação é fundamental na terceira idade e ao longo do tratamento com medicações. “uma vez que muitas classes de medicamentos se associam a queda através de um mecanismo que chamamos de hipotensão postural e a desidratação facilita a ocorrência desta anormalidade”, explica Souza.

 

•        O que é viver sozinho com demência

Há cerca de dez anos, a socióloga Elena Portacolone, professora da Universidade da Califórnia em San Francisco, surpreendeu-se ao iniciar um projeto de pesquisa com idosos: apesar de sempre marcar as entrevistas com antecedência, era comum que as pessoas que visitava não se lembrassem do compromisso. Estava claro que elas enfrentavam algum tipo de declínio cognitivo, mas, ainda assim, moravam sozinhas.

Graças à descoberta, Portacolone lidera um projeto da universidade voltado para esse grupo. Nos Estados Unidos, estima-se que pelo menos 4.3 milhões de pessoas com 55 anos ou mais apresentam um quadro de demência e vivem sós. Elas representam 25% do total de indivíduos com comprometimento cognitivo. Metade tem dificuldades para realizar atividades diárias, como tomar banho, se alimentar, fazer compras ou lidar com dinheiro, mas apenas um em cada três recebe ajuda.

A equipe da professora vem acompanhando cerca de cem idosos com demência que vivem sozinhos, listando suas maiores preocupações: em quem confiar? Quando terei um próximo episódio de esquecimento? Se achar que preciso de auxílio, a quem recorrer? Como camuflar minha condição? Seu trabalho foi retratado em reportagem da jornalista Judith Graham, da KFF Health News, e me levou a refletir sobre qual seria esse número no Brasil – talvez um vizinho de porta...

Segundo a pesquisadora, trata-se de uma “população invisível”: “o sistema de saúde parte do princípio de que todo idoso tem algum tipo de assistência familiar ou cuidador, o que não é verdade. O resultado é que essas pessoas ficam numa espécie de limbo”. Explica que, com o raciocínio e a memória em processo de deterioração, aumenta o risco de isolamento, de autonegligência e até de desnutrição.

O National Council of Dementia Minds (Conselho Nacional de Mentes com Demência) criou, em 2023, um grupo on-line com participantes nessa situação, como Kathleen Healy, de 60 anos, que afirmou: “minha casa pode estar um caos, ou eu estar doente e ter esquecido de pagar meus boletos, mas se ainda consigo sair, ninguém sabe o que está acontecendo comigo”. Ela foi funcionária da prefeitura da cidade de Fresno, na Califórnia, por 28 anos. Aposentou-se em 2019 porque, na sua avaliação, “o cérebro não funcionava mais”. Felizmente, tem uma pensão que cobre suas despesas, mas não conta com ninguém da família – sua irmã já tem a incumbência de cuidar da mãe, de 83 anos, que tem demência e mora com ela.

 

Fonte: g1/CNN Brasil

 

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