Queda de idosos: entenda os riscos e veja
como manter a casa segura
Uma queda dentro do
apartamento foi o que causou o falecimento do cantor Agnaldo Rayol, de 86 anos,
na segunda-feira (4). Segundo a assessoria, o cantor caiu no banheiro e bateu a
cabeça, o que ocasionou um grande corte.
A morte do cantor é um
alerta para um problema que pode trazer muitos riscos aos idosos: as quedas.
De acordo com a
Organização Mundial da Saúde (OMS), até 2025, o Brasil será o sexto país do
mundo em número de idosos. Em 2021, a expectativa de vida dos brasileiros era
de 77 anos, segundo o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE).
O g1 conversou com a
geriatra Anelise Fonseca, presidente da Sociedade Brasileira de Geriatria e
Gerontologia (SBGGRJ), para entender:
• quais os riscos na queda de idosos;
• como prevenir quedas espontâneas;
• a relação de quedas com doenças;
• principais cuidados na saúde;
• e como ter uma casa mais segura.
<><>
Quedas e envelhecimento
"A pessoa idosa
não percebe as dificuldades que tem", comenta Anelise Fonseca. A médica
conta que é muito comum escutar de pacientes "de repente, eu fiquei
idosa", e que filhos e netos de enfermos também demoram para aceitar e
identificar o envelhecimento de seus entes.
Para ela, uma queda
pode ser apenas a "ponta do iceberg", e diz que o tombo pode estar
relacionado a outras doenças, como demência, depressão ou alguma enfermidade
ocular. "[A queda] Pode ser um sinal para uma investigação mais profunda",
avisa.
Existem diversos
fatores que podem estar relacionados com as quedas de idosos, sendo o principal
deles a senescência (o processo natural de envelhecimento). Com o
envelhecimento, o corpo humano sofre algumas modificações fisiológicas, como a
perda de músculo, de massa magra, de massa óssea e de visão.
"Se a pessoa
idosa não fizer atividade física, não cuidar da alimentação, vai tender ao
desequilíbrio e à perda da noção do próprio corpo", explica Anelise.
Além dos fatores
biológicos, Anelise Fonseca cita a importância da atenção com o uso de
medicamentos. É comum que idosos tomem sedativos, ansiolíticos ou diuréticos,
que também podem estar atrelados aos riscos de queda, diz a médica. Sem contar
que a senilidade pode causar confusão mental e fazer com que a pessoa acabe
trocando remédios ou errando na dosagem.
"Uma fratura no
fêmur pode gerar trombose e evoluir para uma embolia pulmonar ou embolia
gordurosa", esclarece. Na verdade, a geriatra explica que os cuidados com
a queda estão associados às consequências do não tratamento ou à evolução de
outras complicações.
<><>
Cuidados e prevenção
Existem alguns
cuidados que podem e devem ser tomados por pessoas acima de 60 anos. A geriatra
Anelise Fonseca lista alguns deles:
👟 usar um sapato adequado, emborrachado e confortável;
☀️ tomar sol por alguns minutos diariamente para evitar a carência
de vitamina D;
🏋️ fazer atividades físicas;
🥗 alimentar-se bem e estar atento à ingestão de proteína;
🚶 manter a mobilidade, como caminhar e mover-se com frequência;
👩⚕️ e estar em dia com consultas médicas e atento a doenças ou
alterações oculares.
Ela também reforça que
quanto mais o idoso andar, caminhar e se mover, maior será sua independência,
por isso a mobilidade é tão importante. E, apesar de a resistência de muitos
pacientes, ela indica o uso da bengala como uma forma de dar segurança e estabilidade.
"O paciente que
cai tem medo de cair de novo, então ele se isola e se deprime, anda menos
ainda, fica menos sociável, mais introspectivo, e a depressão é um fator de
risco para a demência", observa.
E atenção! Em caso de
queda, familiares e cuidadores devem observar machucados, sonolência, tontura,
possíveis fraturas e indicações de dor.
<><> Casa
segura 🏠❤️
"O idoso cai mais
em casa que na rua. Em casa ele se sente mais seguro", lembra a médica.
Por isso, com a ajuda de Anelise Fonseca, o g1 listou algumas dicas de cuidados
dentro de casa:
• evite tapetes ou escolha opções
antiaderentes;
• mantenha os cômodos iluminados;
• deixe itens de uso do dia a dia mais
abaixo ou de fácil acesso para que não seja preciso o uso de bancos ou escadas;
• use barras de proteção tanto nos boxes
como ao lado de vasos sanitários nos banheiros;
• mantenha corredores, caminhos e escadas
livres, sem obstáculos, para um trânsito mais seguro entre um cômodo e outro;
• escolha pisos antiderrapantes;
• e, caso esteja cozinhando, evite deixar
o fogão para atender telefone ou fazer outra função.
¨ Veja 5 formas de evitar queda de idosos em casa
Apesar de ser algo
comum, a queda de idosos pode desencadear problemas maiores para o bem-estar e
saúde, exigindo atenção especial daqueles que cuidam de pessoas mais velhas em
casa.
Com a ajuda de
Isabella D’Amico, geriatra e coordenadora do programa CASE (Casos de Alta
Complexidade) do grupo Hapvida NotreDame Intermédica, e de Polianna Souza,
geriatra do Hospital Israelita Albert Einstein, a CNN lista 5
principais cuidados para evitar queda de idosos em casa. Confira:
<><>
1. Manter doenças crônicas controladas
De acordo com D’Amico,
algumas doenças crônicas podem propiciar a ocorrência de quedas. É o caso da
depressão, diabetes, hipertensão arterial, artrite, Parkinson, Alzheimer e
acidente vascular cerebral (AVC).
“É imprescindível que
o idoso tenha acompanhamento médico regular e siga as orientações dadas pelo
especialista e pela equipe multiprofissional”, explica.
<><>
2. Corrigir déficits visuais e auditivos
Segundo Souza,
corrigir déficits visuais e auditivos também é uma medida importante para
evitar quedas em casa. É o caso de catarata e da degeneração macular
relacionada à idade (DMRI), que pode causar visão embaçada e dificuldade de
enxergar à noite.
<><>
3. Fazer mudanças necessárias em casa
A residência do idoso
deve ser adaptada para eliminar fatores que aumentam o risco de queda. As
especialistas listam os principais cuidados:
- Manter os ambientes bem iluminados;
- Utilizar iluminação de segurança entre o quarto e o
banheiro, já que 45% das quedas costumam ocorrer nesse caminho,
principalmente à noite;
- Usar pisos antiderrapantes em áreas úmidas, como banheiros,
cozinhas e lavanderias;
- Usar barras de apoio ao lado do vaso sanitário e dentro do
box (mínimo de 60 cm de comprimento e fixadas a 75 cm do piso);
- Utilizar um banco firme, preferencialmente fixado, ou
cadeira de banho ou de plástico resistente no box do chuveiro, para que o
idoso tome banho e se enxugue sentado;
- Caso o vaso sanitário tenha caixa acoplada, usar barra de
apoio fixada a 15 cm da caixa;
- Instalar corrimões dos dois lados da escada, caso tenha uma
em casa;
- Manter imóveis bem fixos, preferencialmente nos cantos dos
cômodos, sem risco de obstruir a passagem;
- Cama, cadeiras e poltronas devem ter altura adequada ao
idoso, facilitando o apoio dos pés no chão ao sentar e levantar;
- Fixar armários na parede e organizá-los de forma que os
itens de maior necessidade no dia-a-dia estejam ao alcance dos braços do
idoso, evitando a necessidade do uso de bancos ou escadas para
alcançá-los;
- Instalar um abajur ou interruptor de luz ao lado da cama,
para evitar que o idoso se levante no escuro ao longo da noite;
- Organizar as roupas mais utilizadas em local de fácil
acesso no guarda-roupa;
- Utilizar sino ou campainha ao lado da cama para chamar
ajuda quando necessário;
- Cadeiras, poltronas ou sofás devem ter braços para
facilitar o sentar e levantar;
- Tapetes devem ser removidos ou fixados no chão.
<><>
4. Praticar atividade física
“Caminhadas, natação,
hidroginástica, dança, alongamento, tai chi chuan, além de exercício físico
resistido (musculação) para fortalecimento muscular podem ajudar no equilíbrio e
propriocepção (também conhecida como cinestesia, é a capacidade de perceber a
posição do corpo no espaço)”, afirma D’Amico.
No entanto, outras
modalidades também podem ajudar. “O exercício ideal seria aquele capaz de
trazer fortalecimento, flexibilidade, equilíbrio e coordenação motora, mas
costumamos dizer que o exercício ideal é aquele que a gente realmente faz”,
acrescenta Souza.
Modalidades como
pilates e ioga também podem ser interessantes por trabalharem esses pilares.
“Mas devemos pensar que o fortalecimento global, principalmente o de membros
inferiores no caso das quedas, é fundamental”, completa.
<><>
5. Atentar-se com os medicamentos utilizados e manter-se hidratado
De acordo com Souza,
alguns medicamentos podem aumentar o risco de quedas, como os psicotrópicos,
levando a sonolência ou reduzindo atenção, reflexos e equilíbrio. É o caso de
anti-hipertensivos, diuréticos, antialérgicos e hipoglicemiantes. “Isso acontece,
principalmente, quando utilizados de forma não orientada”, afirma a geriatra.
Além disso, a
combinação de medicamentos também pode alterar o equilíbrio, causar sonolência,
tontura e redução da atenção. “É importante respeitar a prescrição médica
e tomar os medicamentos no horário indicado, sempre
utilizando água”, complementa D’Amico.
A hidratação é
fundamental na terceira idade e ao longo do tratamento com medicações. “uma vez
que muitas classes de medicamentos se associam a queda através de um mecanismo
que chamamos de hipotensão postural e a desidratação facilita a ocorrência
desta anormalidade”, explica Souza.
• O que é viver sozinho com demência
Há cerca de dez anos,
a socióloga Elena Portacolone, professora da Universidade da Califórnia em San
Francisco, surpreendeu-se ao iniciar um projeto de pesquisa com idosos: apesar
de sempre marcar as entrevistas com antecedência, era comum que as pessoas que
visitava não se lembrassem do compromisso. Estava claro que elas enfrentavam
algum tipo de declínio cognitivo, mas, ainda assim, moravam sozinhas.
Graças à descoberta,
Portacolone lidera um projeto da universidade voltado para esse grupo. Nos
Estados Unidos, estima-se que pelo menos 4.3 milhões de pessoas com 55 anos ou
mais apresentam um quadro de demência e vivem sós. Elas representam 25% do total
de indivíduos com comprometimento cognitivo. Metade tem dificuldades para
realizar atividades diárias, como tomar banho, se alimentar, fazer compras ou
lidar com dinheiro, mas apenas um em cada três recebe ajuda.
A equipe da professora
vem acompanhando cerca de cem idosos com demência que vivem sozinhos, listando
suas maiores preocupações: em quem confiar? Quando terei um próximo episódio de
esquecimento? Se achar que preciso de auxílio, a quem recorrer? Como camuflar
minha condição? Seu trabalho foi retratado em reportagem da jornalista Judith
Graham, da KFF Health News, e me levou a refletir sobre qual seria esse número
no Brasil – talvez um vizinho de porta...
Segundo a
pesquisadora, trata-se de uma “população invisível”: “o sistema de saúde parte
do princípio de que todo idoso tem algum tipo de assistência familiar ou cuidador,
o que não é verdade. O resultado é que essas pessoas ficam numa espécie de
limbo”. Explica que, com o raciocínio e a memória em processo de deterioração,
aumenta o risco de isolamento, de autonegligência e até de desnutrição.
O National Council of
Dementia Minds (Conselho Nacional de Mentes com Demência) criou, em 2023, um
grupo on-line com participantes nessa situação, como Kathleen Healy, de 60
anos, que afirmou: “minha casa pode estar um caos, ou eu estar doente e ter
esquecido de pagar meus boletos, mas se ainda consigo sair, ninguém sabe o que
está acontecendo comigo”. Ela foi funcionária da prefeitura da cidade de
Fresno, na Califórnia, por 28 anos. Aposentou-se em 2019 porque, na sua
avaliação, “o cérebro não funcionava mais”. Felizmente, tem uma pensão que
cobre suas despesas, mas não conta com ninguém da família – sua irmã já tem a
incumbência de cuidar da mãe, de 83 anos, que tem demência e mora com ela.
Fonte: g1/CNN Brasil
Nenhum comentário:
Postar um comentário