sábado, 30 de novembro de 2024

Oniomania, vício em comprar: 'Fiz R$ 240 mil em dívidas com compras compulsivas', conta mulher

Camila Nunes precisa de um quarto extra em casa para acomodar as centenas de peças de roupas que tem – mais de duzentas são só de vestidos. Ela acumulou tudo isso ao longo de dez anos comprando compulsivamente. Nesse processo, fez uma dívida de mais de R$ 240 mil para manter o vício. Hoje, em tratamento, ela compartilha sua experiência com a doença nas redes e alerta sobre os perigos de comprar em excesso.

🛍️ Ela foi diagnosticada com oniomania, que, embora não seja catalogada como uma doença, é reconhecida como uma compulsão. Segundo psiquiatras, o hábito de comprar pode se transformar em vício, levando a crises descontroladas, pensamentos obsessivos e envolvimento em mentiras e dívidas para sustentar o comportamento.

Uma vez, cansada de comprar, cortei meu cartão de crédito. Mas não aguentei. No dia seguinte, fui até uma loja de bolsas e pedi que tentassem passar o cartão, mesmo cortado. Disse que meu sobrinho tinha quebrado sem querer, o que era uma mentira. Deu certo e acabei levando três bolsas iguais, mas de cores diferentes. — Camila Nunes, compradora compulsiva.

A goiana conta que, por ser normal e até estimulado, o hábito de comprar fazia com que sua compulsão passasse despercebida por anos, apesar de ela acumular mais roupas, sapatos e acessórios do que conseguiria usar ao longo da vida toda.

🛍️ Hoje, ela tem 65 calças jeans, 200 vestidos, 112 camisetas e 109 conjuntos de roupa íntima, além das mais de 260 peças que já havia vendido em um brechó para tentar diminuir a dívida. Muitas dessas peças nunca foram usadas. (Veja a foto abaixo)

🚨 Camila só percebeu que havia algo descontrolado em seu hábito de compras quando se viu presa em mentiras para justificar os gastos e esconder os inúmeros empréstimos que não conseguia pagar. Foram mais de R$ 240 mil em dívidas para adquirir produtos dos quais ela já nem se lembra.

“Eu escondia as sacolas e embalagens pela casa. Produtos venciam de tanto que tinha acumulado do mesmo item. Para sustentar isso, eu precisava mentir para as pessoas e me esconder, porque sabia que meu comportamento durante as compras não era normal e não queria que os outros percebessem. Uma vez entrei em uma loja e comprei um par de sapatos de cada tipo que tinham. Isso é doença.

— Camila Nunes compartilha nas redes sua jornada com a oniomania.

Ela conta que nunca contabilizou o valor total gasto com as compras compulsivas, que faz há mais de vinte anos. A dívida é uma fatia do que não ficou em dia depois que foi demitida do trabalho, logo após a pandemia, e que enquanto isso mantinha cartões e empréstimos em dia, mesmo que gastando todo o salário em parcelas quase "infinitas".

Hoje, Camila compartilha nas redes sociais seu tratamento e o processo de destralhar o apartamento onde vive. Mostra as centenas de itens acumulados para ajudar outras pessoas que também enfrentam a compulsão por compras. Os vídeos, feitos com bom humor, registram um processo que já dura mais de cinco anos e trazem alertas para que as pessoas reflitam sobre seus próprios hábitos de consumo.

Comprar faz parte do nosso dia a dia. Não parece anormal ver pessoas em filas de lojas durante promoções ou a internet mobilizada para compras em datas como esta sexta-feira (29), quando ocorre a Black Friday no Brasil.

No entanto, especialistas explicam que essa “normalização” de compras em grandes volumes e a euforia pelo consumo podem mascarar comportamentos que, na verdade, são compulsivos.

A psiquiatra Danielle Admoni, supervisora da residência em psiquiatria da Universidade Federal de São Paulo (UNIFESP), explica que a compulsão é uma doença e, no caso da oniomania, a compulsão é focada em comprar.

A compulsão é uma tentativa de preencher um vazio, superar uma tristeza profunda ou lidar com um trauma. Para isso, a pessoa compra, recebendo uma descarga de dopamina que gera felicidade momentânea. No entanto, esse efeito dura pouco e faz com que ela compre cada vez mais, em episódios descontrolados. Depois, tudo isso se transforma em culpa.

— Danielle Admoni, psiquiatra e supervisora da residência em psiquiatria da Unifesp.

O psicólogo Maico Costa, professor do Instituto de Ensino e Pesquisa do Hospital Albert Einstein, explica que a compulsão funciona como um vício: a pessoa começa comprando mais do que deveria e, sem perceber, isso vai aumentando até que passa o dia inteiro pensando em compras, aproveitando qualquer tempo disponível fazer isso.

“A compulsão pode evoluir a ponto de a pessoa deixar de dormir para fazer compras ou passar horas navegando em lojas online durante a noite. Ela perde o controle, adquirindo cinco ou seis produtos iguais, apenas em cores diferentes. É um comportamento incontrolável, que exige ajuda para ser tratado", reforça.

Ele reforça que a maior parte das pessoas só percebe quando está muito endividada e acaba achando que o problema é que não sabe lidar com o dinheiro, quando na verdade está lidando com episódios de compulsão.

🛍️ E como saber se os seus hábitos de compras são compulsivos? O que os médicos explicam é que é preciso avaliar vários fatores, mas listaram algumas perguntas para você refletir os seus hábitos de compras.

1.                      Você compra itens iguais ou parecidos?

2.                      Já gastou mais do que podia pagar?

3.                      Já fez empréstimos ou pediu dinheiro a amigos e familiares para quitar dívidas de compras?

4.                      Passa horas à noite navegando em lojas online?

5.                      Já mentiu ou escondeu sacolas de compras?

6.                      Costuma comprar para aliviar tristeza, estresse ou preocupações?

7.                      Sente culpa após realizar compras?

🚨ATENÇÃO: Não há um gabarito para essas respostas, mas o que os especialistas explicam é que é importante reavaliar o comportamento, observar o que você tem acumulado e como se sente depois de comprar.

Danielle Admoni, psiquiatra, acrescenta que, além da compulsão, é preciso também cuidado com as compras por impulso, como as feitas em datas como a Black Friday. Nesses momentos, há um movimento coletivo por compras e isso pode ajudar a observar a relação com comprar.

“Antes de finalizar uma compra, deixe o item no carrinho e reflita se realmente precisa dele. Veja se consegue esperar para comprar ou se isso te incomoda. Pergunte-se se está comprando porque todos estão fazendo isso ou se é uma oportunidade para algo que você realmente deseja ou necessita. E observe como se sente depois”.

 

Fonte: g1

 

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