sexta-feira, 1 de novembro de 2024

O que há por trás da loteria política de Elon Musk

Elon Musk não pode ser presidente dos Estados Unidos.

Nascido na África do Sul, ele é constitucionalmente inelegível para o cargo de chefe do Executivo. Existe, porém, um cargo que ele pode ocupar: CEO dos Estados Unidos da América S.A.

No começo deste mês, Elon Musk incorporou discretamente a expressão “Estados Unidos da América S.A.” ao endereço de seu “family office”, um serviço privado de gestão financeira, no estado do Texas — a notícia foi divulgada por Sarah Emerson na Forbes, e confirmada por uma busca no registro comercial do Texas. Embora ainda não se conheçam os planos exatos de Musk para os “Estados Unidos da América S.A.”, não é preciso forçar muito os olhos para enxergar os contornos de sua perspectiva.

Durante a campanha de Donald Trump, Musk já começou a reunir uma espécie de sócios, ao oferecer 47 dólares (268 reais) a quem indicasse um eleitor de algum dos estados indecisos para assinar seu abaixo-assinado, que ele diz estar usando na campanha de Trump para convencer as pessoas a irem votar. Ele também transformou isso num sorteio, e afirmou que, até as eleições, todo dia um signatário aleatório diferente receberá 1 milhão de dólares (5,6 milhões de reais), uma maneira bem-sucedida de chamar a atenção da imprensa. (O abaixo-assinado se destina aos apoiadores de Trump, mas qualquer pessoa de um estado indeciso pode assinar, e se os liberais participarem, podem atrapalhar as métricas e a distribuição, mas aí é outra conversa.) 

O comitê de ação política de Musk (um dos chamados Super PACs), que está movimentando essa loteria, o abaixo-assinado, e uma campanha, tem um apelido igualmente patriótico, America PAC, e os registros da Comissão Eleitoral Federal mostram que Musk já injetou nele 75 milhões de dólares (428 milhões de reais). 

Mas o que Musk está tentando comprar, exatamente?

A perspectiva de Musk para os EUA — um lugar de grande liberdade econômica, onde a atividade política pode ser criminalizada, sob o domínio das empresas de capital aberto controladas pela tecnologia — é uma das narrativas mais importantes destas eleições.

Seja como veículo de atividade política, escudo contra a fiscalização, ou uma tentativa mais formal de captura corporativa sobre o governo estadunidense, “Estados Unidos da América S.A.” aponta em uma direção clara: capitalizar o governo para o benefício privado. Mas pouca coisa no passado ou no presente de Musk permite imaginar que ele esteja simplesmente interessado na corrupção cotidiana dos contratos públicos. Sua admiração pelo presidente libertário da Argentina, Javier Milei, e pelo cripto-governante de El Salvador, Nayib Bukele, governantes oriundos da fermentação filosófica da Nova Direita, insinuam que pode haver um projeto mais profundo em curso. 

·        Acelerando para o absolutismo corporativo

Nick Land é um filósofo conhecido por inspirar as ideias básicas do “aceleracionismo”. Em um verbete da Wikipédia que o próprio Land considera excelente, o aceleracionismo é descrito como “a ideia de que o capitalismo e a mudança tecnológica devem ser ‘acelerados’ e intensificados drasticamente para criar uma mudança social radical”, ou, para outros — “a teoria de que o fim do capitalismo deveria ser causado por sua aceleração”. Em 2012, Land publicou uma série de blogs relacionados: O Iluminismo das Trevas.

Em O Iluminismo das Trevas, Land menciona o acadêmico de direita Hans-Hermann Hoppe, autor de Democracia, o Deus que Falhou. Land cita Hoppe para defender que a democracia é irrecuperável — o que nos deixaria à mercê de “zeladores temporários eleitos”, que tentam explorar o máximo que podem durante seu tempo de mandato. Por esse argumento, os reis pelo menos podem pensar a longo prazo enquanto exploram seus súditos.

Em busca de uma solução, Land e outro pensador da Nova Direita, Curtis Yarvin — um blogueiro e desenvolvedor de software, que desenvolveu muitas das ideias escritas pela Nova Direita sob o pseudônimo “Mencius Moldbug” — imaginaram uma nova forma de governo: uma grande empresa. (Yarvin às vezes usa alternativamente “monarquia” e “corporação”, descrevendo a própria corporação como “monarquia absolutista”, e vem recentemente tendendo mais ao monarquismo que ao corporativismo, se é que a diferença existe.)

Em vez de serem cidadãos de um estado, os estadunidenses seriam clientes de uma corporação — dirigida por um CEO responsável perante os acionistas, que seriam os proprietários diretos do governo corporativo. Esses acionistas seriam os lobistas e agentes de bastidores que atualmente detêm informalmente o poder político. Land e Yarvin defendem que formalizar seu poder, e deixar transparentes os seus incentivos, tornaria o governo mais eficiente. Como escreve Land em O Iluminismo das Trevas:

Uma vez que o universo da corrupção democrática seja convertido em uma S.A. de governo (de livre transferência), os proprietários do estado podem iniciar uma governança corporativa racional, a começar pela nomeação de um CEO. Como acontece com qualquer empresa, os interesses do estado agora estarão formalizados precisamente como a máxima ampliação de valor para os acionistas a longo prazo. Não há mais necessidades de que os habitantes (clientes) se interessem por nada na política. Na verdade, fazer isso equivaleria a apresentar tendências semi-criminosas. Se a S.A. de governo não entregar um valor aceitável em troca de seus tributos (renda soberana), eles podem notificar o serviço de atendimento ao cliente, e, se necessário, trocar de fornecedor. A S.A. de governo estaria focada na gestão de um país eficiente, atraente, vital, limpo e seguro, capaz de atrair clientes. Sem opinião, com saída livre.

Mais francamente, segundo Gil Duran na revista Nova RepúblicaYarvin propôs uma “reengenharia dos governos, divididos em entidades menores chamadas ‘colchas de retalhos’, que seriam controladas por sociedades de capital aberto soberanas chamadas ‘domínios'”:

“A ideia básica da Colcha de Retalhos é que, quando os péssimos governos que herdamos da história forem destruídos, eles deveriam ser substituídos por uma teia global de centenas, ou até milhares de mini países soberanos e independentes, cada um deles governado por sua própria sociedade anônima sem levar em conta as opiniões dos habitantes.” 

Um dos princípios da “gestão empresarial soberana” desses domínios, segundo Yarvin:

Um domínio é um negócio, não uma instituição de caridade. O objetivo é maximizar o retorno do investimento. Caso o domínio de alguma forma se esqueça disso, a longo prazo irá se deteriorar, desenvolver a síndrome da gigante vermelha, e se tornar gigantesco, corrupto e malcheiroso. Ele pode até mesmo se transformar em uma democracia.

Em uma interpretação generosa, Yarvin compara essa gestão a um hotel. “A ideia fundamental é que os proprietários lucrem ao proporcionar aos residentes um lugar agradável para morarem, serem felizes, e claro, serem produtivos. Se você não for legal, eles vão embora, os proprietários não terão um negócio, e você não terá um emprego.” (Os residentes podem ir embora, mas todos os outros governos também seriam domínios controlados pela tecnologia). Yarvin, porém, acrescenta:

Você exerce soberania indivisível (…) Sem restrições. Seus habitantes são como formigas na sua cozinha. Nenhuma combinação entre eles poderia se opor a você. Nem mesmo se eles se reunirem em uma grande multidão enfurecida, gritando, pulando para cima e para baixo, agitando seus pequenos cartazes e atirando paus e pedras. Todos serão massacrados por seus invencíveis exércitos de robôs. Pour la canaille: Faut la mitraille! [“Para a gentalha, use a metralha”]

·        Uma mistura entre China e Hong Kong

Yarvin e Land comparam esse sistema a lugares modernos como Hong Kong e Dubai, os “fragmentos perdidos do Império Britânico”. Land escreve em O Iluminismo das Trevas

Esses estados aparentemente oferecem uma qualidade muito alta de serviços a seus cidadãos, sem nenhum tipo de democracia significativa. Eles têm uma criminalidade mínima e altos níveis de liberdade pessoal e econômica. Eles tendem a ser bastante prósperos. São fracos apenas na liberdade política, e a liberdade política não é importante, por definição, quando o governo é estável e eficiente.

Hong Kong é uma referência importante. A ex-colônia britânica e zona econômica especial é há muito tempo um sonho libertário, que captura a imaginação de radicais do livre mercado, defensores do fim dos impostos, e magnatas dos negócios desde que Milton Friedman estreou ali sua série Free to Choose (Liberdade de Escolha), na rede PBS, como detalha Quinn Slobodian em seu livro Crack-Up Capitalism (Capitalismo do Colapso).

Dentre os principais aspectos do governo de Hong Kong estão o sufrágio limitado, nível baixo de tributação, e participação política reservada às empresas. É um sistema semelhante, para fins de comparação, à China contemporânea, onde o acordo é que o partido cuidará das coisas com tranquilidade e segurança para você, e, em troca, você não participará da política. 

O paralelo pode parecer difícil de perceber para alguns leitores americanos, mas Musk, que faz muitos negócios com a China, sem dúvida consegue enxergá-lo. Isso aparece quando ele compartilha sua perspectiva mais ampla para o Twitter, que ele renomeou como X na busca de torná-lo “o aplicativo de tudo”. Como ele mesmo já observou várias vezes, esse aplicativo existe na China, e é chamado de “WeChat”. Ele admira há muito tempo a joia da coroa do mercado tecnológico chinês, e busca imitá-la. “A vida diária nas cidades chinesas é quase impossível de lidar sem o WeChat, a tal ponto que ser bloqueado no super aplicativo do país já foi comparado a uma ‘morte digital'”, escreveram Dan Milmo e Amy Hawkins, no jornal The Guardian. Para além das redes sociais, o WeChat é usado para pagar contas, comprar passagens de trem e avião, e fazer pagamentos, e Musk gostaria que o X fosse “igualmente indispensável no Ocidente”.

“Nos próximos meses, incluiremos comunicações amplas, e a possibilidade de conduzir todo o seu mundo financeiro”, disse Musk sobre o X, em julho de 2023. Embora alguns pudessem esperar que Musk, ostensivamente libertário, se horrorizasse diante do controle distópico do WeChat, ele está, em vez disso, buscando reproduzi-lo com o X. Segundo Shirin Ghaffary, no site Vox, em uma reunião em junho de 2022, Musk teria dito à sua equipe: “você praticamente vive no WeChat na China, porque é tão fácil de usar e útil na vida cotidiana, e eu acho que, se conseguirmos atingir isso, ou chegar perto disso no Twitter, seria um enorme sucesso”.

Yarvin tem ideias semelhantes para o X. Entrevistado em um podcast em março desse ano, com a chamada “Conselhos de Curtis Yarvin para Elon Musk”, ele criticou a forma como Musk administra o X e viu oportunidades muito maiores. “É preciso transformar as Notas da Comunidade em algo que funcione tão bem quanto um tribunal, ou até melhor, e aí você estará construindo poder real”, disse. E continuou: “seria incrível formalizar essas credenciais e transformar o Twitter no principal intermediário do capital de reputação”.

·        Linha direta com Trump

As ideias da Nova Direita de Yarvin e Land assumiram um lugar central na estrutura de apoio intelectual de Trump. Um mês depois da posse de Trump em 2017, o site Politico publicou que Yarvin “havia criado um canal com a Casa Branca de Trump, comunicando-se com Steve Bannon [consultor de Trump] e seus assessores por meio de um intermediário”. (Yarvin negou os relatos de que teria conversado com Steve Bannon). Peter Thiel, descrito como um amigo de Yarvin, que investiu em sua startup em 2013 e recebeu Yarvin em uma festa na noite das eleições de 2016, teria ficado decepcionado com o governo Trump por não levar tão adiante ideias como as de Yarvin. “Thiel fantasiava que a eleição de Trump de alguma forma obrigaria a um acerto de contas nacional”, segundo Barton Gellman, que publicou uma extensa entrevista com o empresário em 2023. “Ele acreditava que alguém precisava destruir as coisas, eliminar a regulação, acabar com o estado administrativo, para que o país pudesse se reconstruir.”

J.D. Vance, candidato a vice-presidente, ex-funcionário de uma das empresas de Thiel, já discutiu ideias semelhantes, citando Yarvin. Ao participar de um podcast em 2021, Vance foi convidado a oferecer seus conselhos a Trump em um possível segundo mandato. Vance mencionou Yarvin, e aconselhou: “demita todos os burocratas de nível intermediário, todos os fucionários públicos do estado administrativo, e substitua-os pelo nosso pessoal”. Como apontou Gaby Del Valle, do site The Verge, o conselho dado por Vance foi a proposta de Yarvin, “Aposente Todos os Funcionários Públicos” (RAGE, na sigla em inglês) — com o objetivo de “‘reiniciar’ o governo sob o controle de um executivo todo-poderoso”. 

Podemos ver a osmose dessas ideias na política dominante do Partido Republicano com o “Anexo F”: um decreto que eliminaria as proteções trabalhistas para os funcionários públicos federais, e permitiria ao governo Trump aposentar todos os funcionários públicos e desmontar o estado administrativo. Trump assinou o decreto em 2020, e se Biden não tivesse sido eleito naquele ano, ele teria entrado em vigor.

Vance encerrou suas declarações acrescentando: “estamos em um período republicano tardio. Se vamos resistir a isso, precisamos ficar muito delirantes e muito ousados, e partir em direções que deixam muitos dos atuais conservadores desconfortáveis.” James Pogue, da revista Vanity Fair, observa que essa terminologia também vem da ideologia da Nova Direita de Yarvin: evoca o “período republicano tardio” dos EUA, aguardando um César que chegue e tome o poder.

Um ano depois, em 2022, Thiel fez a maior contribuição de todos os tempos para um comitê de ação política em apoio à campanha um único candidato ao Senado — 10 milhões de dólares para a campanha de Vance em Ohio.

Cristalizando a influência de Yarvin e da Nova Direita, Thiel e os bilionários de tecnologia teriam escolhido J.D. Vance a dedo para ser o vice-presidente de Trump, após meses de negociação entre Trump e um elenco que incluía Thiel, David Sacks (que foi cofundador do PayPal com Thiel), e Jacob Helder (consultor da empresa de Thiel, Palantir). O mesmo artigo citava uma fonte próxima a Thiel, que teria dito: “para Thiel, Vance é uma aposta geracional”.

·        Elon Musk e seus políticos de estimação

Dias depois de Trump escolher Vance como candidato a vice, Elon Musk se comprometeu publicamente a doar 45 milhões de dólares por mês para a campanha de Trump.

Desde a escolha de Vance, Musk se tornou uma figura-chave na campanha de reeleição de Trump. Em agosto, Trump aventou a ideia de nomear Musk para seu gabinete. Um mês depois, Trump atendeu à sugestão de Musk e prometeu criar um “Departamento de Eficiência Governamental” (DOGE), que seria chefiado pelo próprio Musk. Sua função seria realizar uma “auditoria financeira e de desempenho completa de todo o governo federal e fazer recomendações de mudanças drásticas” — como substituir todos os funcionários públicos.

“Thiel e Vance, juntamente com Elon Musk, Steve Bannon, David Sacks, e outros integrantes do movimento antidemocracia”, escreve Robert Reich no jornal The Guardian, “acreditam que a única forma dos verdadeiros libertários vencerem nos EUA é se uma figura estilo César arrancar o poder do sistema e instalar um regime monárquico, administrado como uma startup”.

Musk pode só ter incorporado isso. Mas ele tem em quem se inspirar.

Desde que assumiu o cargo, em dezembro de 2023, o libertário argentino Javier Milei vem fazendo um intensivo das ideias de Yarvin e Thiel, conduzindo seu país por uma terapia de choque econômica e de privatização em seu primeiro ano — que incluiu reduzir a aposentadora dos trabalhadores, desmontar os serviços públicos (ele fez campanha com uma motosserra), e abrir os recursos do país para as empresas estrangeiras. “Tudo que puder estar nas mãos do setor privado”, disse Milei a uma estação de rádio local, “irá para as mãos do setor privado”. No início do ano, Thiel visitou Milei na Argentina, com a pauta do novo presidente já em curso. Após a reunião, Thiel teria observado que “as ideias de Milei são tão relevantes mundialmente quanto são para a Argentina”.

Musk apoiou Milei desde o início. Há apenas um mês, ele observou que “o presidente [Milei] está fazendo um excelente trabalho restaurando a grandeza da Argentina” — e, com espantosa semelhança  aos comentários de Thiel, disse a Milei: “o exemplo que você está criando com a Argentina será um modelo útil para o resto do mundo”. (Créditos para Jacob Sugarman, que escreveu para a revista The Nation.) De forma mais honesta, talvez, o embaixador da Argentina nos EUA, Gerardo Werthei, observou que Musk “manifestou um desejo de ajudar a Argentina, e tinha uma visão muito positiva de tudo que temos, especialmente o lítio”.

Musk já fez elogios semelhantes ao presidente de El Salvador, Nayib Bukele, o governante que adotou o Bitcoin como moeda corrente no país, e criou um programa de “cidadania por investimento”, que oferece vistos de residência para investidores estrangeiros que invistam 1 milhão de dólares (5,6 milhões de reais) na economia usando Bitcoin (“disponível para os primeiros mil investidores”). A lei ainda oferece cidadania direta para estrangeiros que façam doações em Bitcoin de quantias não divulgadas ao governo.

Após uma reunião entre Musk e Bukele na sede da Tesla, em Austin, Musk tuitou: “Acabei de ter uma excelente conversa com [o presidente Bukele]. Falamos muito sobre a natureza da realidade, o futuro da humanidade, e como as tecnologias como IA e robótica afetarão o mundo. El Salvador tem um líder incrível.”  Bukele publicou no X um resumo em vídeo, onde Musk lhe diz que o local da Tesla tem “três vezes o tamanho do Pentágono”.

O próprio Musk adora parcerias público-privadas. Ele se beneficia de bilhões de dólares em contratos públicos através da SpaceX, essencialmente substituindo as funções da Nasa, e da Starlink. Ele recebe outros bilhões em subsídios do governo e créditos tributários para a Tesla. (No segundo trimestre de 2024, quase 60% do faturamento da Tesla decorria da venda de créditos de carbono). Com um segundo governo Trump e um novo presidente da Comissão Federal de Comunicação, Musk também pode estar na fila para receber outros bilhões em subsídios federais para banda larga, que lhe foram negados pelo governo Biden.

Essa estratégia, de se tornar um monopólio por meio de contratos com o setor público, é endossada pelo próprio Peter Thiel em seu livro De Zero a Um — que destaca a Tesla como exemplo. A própria empresa de Thiel, Palantir, saiu do papel com um investimento da In-Q Tel, ligada à CIA, e, recentemente, fechou um contrato com o governo britânico para integrar todos os dados de saúde dos pacientes do sistema público NHS em um repositório central, dentre uma série de clientes públicos e corporativos que compõem a expectativa de que ela se torne a maior empresa de IA do mundo.

Em O Iluminismo das Trevas, Land realiza seu próprio experimento mental sobre como transformar o governo em uma empresa de propriedade dos acionistas. O primeiro passo para isso, escreve ele, inclui: 

mapear de forma precisa todo o cenário social de suborno político (‘lobby’), e converter os privilégios administrativos, legislativos, judiciais, midiáticos e acadêmicos obtidos com esses subornos em ações fungíveis. 

Nesse ponto, as pessoas que detêm o verdadeiro poder político podem ser identificadas.

Uma vez que vale a pena subornar os eleitores, não há necessidade de excluí-los completamente desse cálculo, embora a parcela de sua soberania seja estimada com o escárnio adequado. A conclusão desse exercício é o mapeamento da entidade governante que é a instância realmente dominante da política democrática.

Se é possível haver alguém em condições de “mapear de forma precisa todo o cenário social de suborno político (‘lobby’), e converter os privilégios administrativos, legislativos, judiciais, midiáticos e acadêmicos obtidos com esses subornos em ações fungíveis”, seria a pessoa encarregada de fazer uma “auditoria financeira e de desempenho completa de todo o governo federal”.

Talvez as ações constituam os “Estados Unidos da América S.A.”.

 

Fonte: Por Sam Butler, em The Intercept

 

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