sábado, 2 de novembro de 2024

Guerra dos Sexos marca corrida eleitoral nos EUA

Na reta final para a eleição dos Estados Unidos, que acontece no dia 5 de novembro, o comício do candidato republicano Donald Trump em Nova York foi assunto na imprensa mundial por declarações polêmicas e propagação do discurso de ódio.

Entre afirmações racistas, xenofóbicas e misóginas no evento, apoiadores republicanos chamaram Kamala Harris de “anticristo”, “diabo”, “burra” e “prostituta que destruirá o país com seus cafetões”.

Esta não é a primeira vez que comentários misóginos chamam a atenção na disputa. Neste ano, a corrida para a Casa Branca é marcada por uma “Guerra de Sexos”.

Além de se tratar de uma candidata disputando contra um homem, Kamala Harris também pode se tornar a primeira mulher a assumir a presidência dos EUA. Não é a democrata, no entanto, que traz a questão de gênero para campanha eleitoral.

Kamala tem evitado dar declarações desse tipo, se colocando como a “melhor pessoa” para ocupar o cargo e a “mais preparada”. Foram Donald Trump e o companheiro de chapa, JD Vance, que fizeram a eleição toda sobre gênero.

·        Comentários machistas

Os republicanos, em diversas ocasiões, fizeram comentários machistas e produziram alguns dos momentos mais memoráveis da campanha, nos quais dispararam insultos, já reconhecidos por diversas mulheres, contra a democrata.

Em um post de agosto nas redes sociais, por exemplo, Trump alegou que a Kamala já havia usado sexo para avançar na carreira. A publicação, feita originalmente por outro usuário, apresentava fotos de Kamala e Hillary Clinton ao lado do comentário: “Engraçado como os boquetes impactaram as carreiras de ambas de maneira diferente”.

Em outro momento, em julho deste ano, JD Vance defendeu um comentário que fez em 2021 sobre “mulheres com gatos e sem filhos” no comando do país, o que gerou reações imediatas dos eleitores.

Na época, em entrevista à Fox News, Vance se referiu à vice-presidente Kamala Harris como uma das “mulheres sem filhos que têm gatos” que estão “infelizes com suas próprias vidas e escolhas que fizeram e por isso querem tornar o resto do país miserável também".

·        Famosos

Eleitores e celebridades, como a atriz Jennifer Aniston, reagiram imediatamente nas redes sociais. Em um post no Instagram, Aniston escreveu: “Eu realmente não posso acreditar que isso venha de um potencial vice-presidente dos EUA”.

A atriz, que costuma ser discreta sobre sua vida pessoal, falou publicamente sobre sua jornada de fertilidade e criticou a posição de Vance em relação aos direitos reprodutivos.

“Tudo o que posso dizer é… Sr. Vance, rezo para que sua filha tenha a sorte de um dia ter seus próprios filhos”, escreveu Aniston. “Espero que ela não precise recorrer à fertilização in vitro como segunda opção. Porque você também está tentando tirar isso dela”, afirmou.

Logo após o debate entre Kamala e Trump, no dia 10 de setembro, a cantora americana Taylor Swift se posicionou na corrida eleitoral depois de muita expectativa.

Em um post no Instagram, Taylor declarou o voto em Kamala Harris e assinou o texto como “Childless Cat Lady”, fazendo referência à frase de Vance. O post estava acompanhado de uma foto da cantora com seu gato, gesto que diversas mulheres adotaram para protestar contra o insulto nas redes sociais.

A chapa democrata também recebeu apoio de nomes como Oprah Winfrey, Beyoncé, Meryl Streep e Julia Roberts. Além disso, Kamala viralizou nas redes sociais – principalmente no TikTok – com montagens feitas por eleitores da candidata ao som de músicas feministas, fazendo passos de dança e dizendo frases cômicas ao longo da carreira.

Trump e Vance, por outro lado, abraçaram uma “hipermasculinidade” na campanha eleitoral. Os republicanos se aproximaram de nomes como do famoso empresário do mundo da luta Dana White, Elon Musk e Kanye West, que já deram diversas declarações machistas.

Na Convenção Republicana, Donald Trump caminhou ao som de "This is a man’s world" (“Este é um mundo masculino”, em tradução livre), e o lutador aposentado Terry Gene Bollea, mais conhecido como Hulk Hogan, rasgou a camisa em frente ao público e chamou o ex-presidente de “gladiador”.

·        Opinião pública

Ao observar a disparidade na corrida, especialistas avaliam que Kamala Harris personifica o poder feminino e tenta se concentrar na experiência como promotora para manter suas posições de maneira firme, calma e até debochada, enquanto Trump e Vance tratam este poder como uma ameaça.

A questão do aborto também é um ponto crucial para entender essa “batalha de gêneros”. Atualmente, Trump defende que os estados devem decidir a própria legislação sobre o tema. O republicano, no entanto, tem dificuldade em encontrar uma mensagem consistente para os direitos reprodutivos.

Trump já mudou diversas vezes de posição e deu respostas vagas e contraditórias a perguntas sobre a questão, que se tornou uma grande vulnerabilidade para os republicanos nesta corrida.

O candidato tenta se aproximar das eleitoras, principalmente depois de ter nomeado três juízes do Supremo Tribunal que ajudaram a derrubar, há dois anos, a legislação conhecida como “Roe vs. Wade”, que garantia o direito nacional ao procedimento.

Em um comício na Pensilvânia, Trump prometeu às mulheres que ele seria o “protetor” delas e as salvaria do medo e da solidão – e foi alvo de críticas. “Vocês não vão mais pensar em aborto”, afirmou.

Os números não deixam dúvidas sobre a guerra de sexos entre eleitores. Enquanto 55% das mulheres apoiam a candidatura de Kamala Harris, 41% das americanas votam em Trump.

Por outro lado, 56% dos eleitores masculinos apoiam Trump, enquanto o número de homens que apoiam a democrata chega a 40%. É o que mostra uma pesquisa da NBC News divulgada em outubro.

A campanha democrata está preocupada com o alcance que tem entre o público masculino, principalmente entre os homens negros. Enquanto faz campanha para Kamala, uma das tarefas do ex-presidente Barack Obama tem sido atrair o eleitorado em discursos públicos na reta final da corrida.

O apelo tem tido efeito. Uma nova pesquisa da NAACP mostrou que o apoio de Donald Trump entre os jovens negros diminuiu desde agosto, enquanto o de Kamala Harris cresceu. Os dados foram colhidos entre 11 e 17 de outubro.

Cerca de 21% dos homens negros com menos de 50 anos declararam apoio ao ex-presidente, número menor que os 27% registrados em agosto. Já o apoio a Kamala entre este grupo cresceu de 51% para 59% no mesmo período.

O cargo de presidência também é visto como uma ocupação masculina. Cerca de 30% dos americanos acham que o gênero de Kamala Harris vai prejudicar as chances de vitória da democrata, e apenas 8% acreditam o mesmo sobre Trump, de acordo com a publicação britânica “The Economist”.

·        Trump anda com caminhão de lixo durante campanha: 'Homenagem para Kamala e Joe Biden'

O candidato republicano à Casa Branca, Donald Trump, andou em um caminhão de lixo durante um evento de campanha nesta quarta-feira (30). A jornalistas, o ex-presidente disse que o veículo era uma homenagem a Kamala Harris e Joe Biden.

Trump foi até Green Bay, no Wisconsin, na tarde desta quarta-feira para fazer um evento de campanha. Ao descer do avião, o republicano entrou em um caminhão de lixo plotado com o nome dele. Ele conversou com os jornalistas de dentro do veículo.

A palavra "lixo" virou uma peça-chave na campanha presidencial dos últimos dias. No domingo (27), um comediante disse em um comício de Trump que Porto Rico era uma "ilha de lixo flutuante". Ele também fez piadas com latinos, negros, judeus e palestinos.

O caso irritou porto-riquenhos — que são cidadãos americanos —, além de latinos e democratas. Alguns membros do Partido Republicano também criticaram a fala. A campanha de Trump tentou distanciá-lo da polêmica, dizendo que as falas do comediante não refletiam as opiniões do candidato.

Já nesta quarta-feira, o presidente Joe Biden sugeriu que eleitores de Trump são "lixo". Mais tarde, o democrata se explicou em uma rede social, dizendo que ele estava se referindo à retórica de ódio entoada por apoiadores do republicano.

A fala do presidente pegou mal nas redes sociais. Trump também aproveitou o deslize para dizer que Biden e Kamala não amam os americanos. A estratégia é virar contra os democratas a polêmica que se iniciou com a fala sobre Porto Rico.

Já Kamala Harris disse que discordava de críticas contra qualquer pessoa quando são baseadas no voto.

"Lutamos por uma democracia e, ao contrário de Donald Trump, não acredito que as pessoas que discordam de mim sejam o inimigo. Ele quer colocá-las na prisão. Eu lhes darei um lugar à mesa", disse durante comício na Carolina do Norte.

¨      Por que Kamala mantém Biden de fora de sua campanha?

defesa apaixonada que Kamala Harris fez da unidade do país e de seus valores democráticos no encerramento de campanha, na terça-feira (29) em Washington, lembrou o tom combatente dos discursos proferidos por Joe Biden há quatro anos, quando ele disputou o comando dos EUA com Donald Trump. Mas Biden está longe, praticamente escondido.

Desde que desistiu da reeleição e indicou sua vice para substituí-lo, o presidente, no entanto, tem sido o grande ausente em comícios e eventos de campanha liderados pela candidata democrata. Os estrategistas de Kamala preferem que ele fique de fora da campanha democrata, que até julho era centrada nele.

Em vez do presidente, Kamala tem recorrido a outras figuras de alto nível do Partido Democrata, como Bill Clinton, Barack e Michelle Obama, para energizar os eleitores. Na tentativa de firmar-se como uma agente da mudança, como ela vem se apresentando, a candidata democrata tem que marcar distância do impopular Biden, que tem índice de aprovação em torno de 40%, e diferenciar-se de seu governo.

"É hora de uma nova geração de liderança na América. Foi uma honra servir como vice-presidente de Joe Biden. Mas trarei minhas próprias experiências e ideias para o Salão Oval", explicou Kamala no Parque Ellipse, nas imediações da Casa Branca.

Sua campanha teme os improvisos de Biden. Conhecido por ser uma máquina ambulante de gafes, o presidente fez jus à fama. Numa videoconferência com líderes hispânicos, atacou os seguidores de Trump, ao defender Porto Rico, classificado como ilha de lixo flutuante por um comediante apoiador do ex-presidente no comício do Madison Square Garden, em Nova York.

"O único lixo que vejo flutuando por aí são seus apoiadores. A demonização dos latinos é inconcebível e antiamericana", disparou Biden. Era o que faltava para que a repercussão negativa do episódio, que estava concentrada no campo republicano, passasse automaticamente para a seara democrata.

A Casa Branca retificou as declarações do presidente, ao esclarecer que ele se referia ao humorista Tony Hinchcliffe e não aos simpatizantes do ex-presidente. Kamala teve que discordar do chefe em público, e o ex-presidente retomou o jogo.

Manter um presidente fora da disputa não é inédito. Na corrida eleitoral de 2000 contra George W. Bush, o vice-presidente Al Gore achou por bem afastar-se de Bill Clinton, que, embora com popularidade alta, foi arrastado no escândalo sexual com Monica Lewinsky. Bush ganhou, mas, oito anos depois, o republicano John McCain excluiu o então presidente, desgastado pela guerra do Iraque e pela recessão econômica, de sua campanha.

Biden manifestou interesse em percorrer o país com Kamala, mas seu papel foi reduzido a encontros com doadores e sindicalistas da base democrata.

A ausência gera incômodo e questionamentos para a candidata. Afinal, era ele o candidato vencedor das primárias e a principal figura do partido antes do desempenho desastroso em junho no debate com Trump. Depois disso, passou a ser considerado dano colateral para a campanha democrata.

 

¨      Mídia: 'Se Harris perder, haverá uma corrida maluca para culpar alguém por sua derrota'

A poucos dias das eleições nos Estados Unidos, os democratas estão "à procura de culpados" caso sua candidata, Kamala Harris, perca para Donald Trump, disse um jornal norte-americano.

A reportagem publicada pelo The Hill aponta que alguns estão "esperançosos" de que a democrata ganhe as eleições, mas outros expressam "frustrações" com vários acontecimentos durante a campanha.

Segundo o jornal norte-americano, os democratas estão culpando Harris e a sua equipe por mensagens descritas como "decepcionantes" durante a campanha, em especial aquelas relacionadas à questão econômica. Por outro lado, uma ala do partido culpa o presidente dos EUA, Joe Biden, por "demorar muito" para se afastar da candidatura.

Uma estratégia democrata, citada pelo The Hill, considerou que os apoiadores estão "nervosos" e procuram "cobrir as costas" antes das eleições de 5 de novembro. O texto afirma, também, não haver surpresas que tais acusações estejam ocorrendo antes das eleições.

"Se Kamala Harris perder, haverá uma corrida maluca para culpar alguém [pela sua perda]", diz.

Há democratas que continuam criticando a escolha do vice-presidente, o governador de Minnesota, Tim Walz. O que "será certamente questionado" se Donald Trump vencer, observou o jornal.

O The Hill destacou que a distância que Harris mantém de Joe Biden – que recentemente comparou os apoiadores do candidato republicano a "lixo" – também "irritou" os partidários do presidente, que consideraram que o democrata teve uma administração "bem-sucedida" e deveria estar mais presente na campanha.

"Deveria estar lá fora", disse um democrata da ala de Biden à mídia norte-americana, ressaltando que o presidente deveria ter destaque na campanha. "A razão pela qual ela está onde está é por causa dele", acrescenta.

Joel Payne, estrategista democrata consultado pelo The Hill, disse que a "ansiedade" dos membros do seu partido é "compreensível" em relação a um possível segundo mandato de Trump, mas estimou que a candidata democrata "está fechando a campanha com força".

Como a corrida presidencial está "acirrada", segundo a mídia norte-americana, isso cria "nervosismo e paranoia" em ambos os partidos. Os republicanos também poderiam reconsiderar se apoiariam novamente Donald Trump em uma terceira candidatura, caso ele perca nas próximas para Kamala Harris.

 

¨      Juiz ordena que Elon Musk vá a tribunal por doação de US$ 1 milhão na eleição dos EUA, diz mídia

A doação do comitê de ação política (America PAC) do empresário Elon Musk em apoio à candidatura do ex-presidente norte-americano Donald Trump caracterizou para a Justiça da Filadélfia "loteria ilegal", e sob ordens judiciais, as partes devem comparecer a uma audiência nesta quinta-feira (31).

O gabinete da promotoria pública da Filadélfia entrou com o processo na segunda-feira (28) contra a doação do America PAC de Musk, que prometia sortear US$ 1 milhão (cerca de R$ 5,7 milhões) aos eleitores de Donald Trump. De acordo com a petição, o gesto do empresário caracterizava "loteria ilegal" que induziu os moradores da Pensilvânia a compartilhar dados pessoais.

A partir da ação, um juiz ordenou que todas as partes, incluindo Elon Musk, compareçam a uma audiência judicial na Filadélfia nesta quinta-feira (31) em um processo que busca impedir que um comitê de ação política controlado pelo bilionário conceda o prêmio em dinheiro aos eleitores registrados nos EUA em estados-chave antes da eleição de 5 de novembro.

"É ainda ordenado que todas as partes estejam presentes no momento da audiência", escreveu um juiz na quarta-feira (30) em uma ordem no Tribunal de Apelações Comuns do Condado de Filadélfia, segundo apuração da Reuters.

Até agora, nenhum representante do America PAC se manifestou sobre a questão.

Musk prometeu dar US$ 1 milhão por dia para alguém que assinasse sua petição on-line de liberdade de expressão e direitos de armas, dividindo a opinião de juristas sobre se a doação violava ou não leis federais.

A medida do empresário vem na esteira de uma disputa acirrada entre Donald Trump e a vice-presidente Kamala Harris, candidata democrata à presidência.

A campanha de Trump depende amplamente de grupos externos para angariar votos, o que significa que o super PAC fundado por Musk — o homem mais rico do mundo — desempenha um papel descomunal que poderia caracterizar abuso de poder econômico.

 

Fonte: g1/Sputnik Brasil

 

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