sábado, 9 de novembro de 2024

Como o agro brasileiro poderia se dar bem se Trump sobretaxar produtos importados

O republicano Donald Trump foi eleito o próximo presidente dos EUA sob a promessa de aumentar as tarifas de importação para parceiros comerciais, principalmente a China, nação com a qual ele já travou uma guerra comercial no primeiro mandato, entre 2017 e 2021.

Em seu plano econômico, Trump promete impor uma alíquota de 60% ou mais às importações de produtos chineses, e taxas de 10% a 20% na entrada de mercadorias de outros países.

🚢 O Brasil é um importante fornecedor de alimentos para os EUA hoje: é o maior para o café, por exemplo. Outros itens agrícolas que têm peso na exportação para os americanos são suco de laranja, carne bovina, produtos da cana-de-açúcar, couro e soja.

Então, um "tarifaço" do Trump poderia impactar o agro do Brasil? Analistas de mercado e associações entrevistadas pelo g1 destacaram dois pontos:

  • é muito difícil que Trump taxe a importação de produtos de primeira necessidade, como o café e a carne, sob o risco de provocar um aumento nos preços dos alimentos nos EUA; além disso, o país é o que mais consome café no mundo e esse setor (cafeterias e torrefações) gera muitos empregos.
  • uma possível guerra comercial deve atingir mais a China e produtos de tecnologia; neste cenário, a China pode taxar produtos agrícolas dos EUA, o que teria impacto positivo para o agro, levando a um aumento das vendas de soja do Brasil para o país asiático, como aconteceu no primeiro mandato de Trump, e também de carne bovina e milho.

<><> Veja detalhes a seguir.

🛃Tarifas de Trump e os alimentos

É consenso entre os analistas e associações entrevistados que é pouco provável que Trump taxe a importação de produtos alimentícios do Brasil.

Para o analista da consultoria Safras & Mercado Fernando Henrique Iglesias, o republicano não vai correr o risco de enterrar a sua popularidade causando um aumento de preços de produtos de primeira necessidade nos EUA.

"Hoje, por exemplo, os Estados Unidos são o segundo grande comprador de carne bovina do Brasil [depois da China]. Eles estão na pior posição do seu rebanho de bovino desde os anos 50. Então, eles não têm muito como abrir mão do Brasil neste momento", exemplifica Iglesias.

"Para qualquer governo do mundo, alta de preços dos alimentos é um assunto extremamente delicado. Por mais protecionista que Trump seja, ele não vai tomar uma medida que custe caro ao seu governo", acrescenta.

Para Iglesias, a guerra comercial do Trump deve ficar muito concentrada na China e em produtos de tecnologia, como aconteceu no primeiro mandato do republicano. "Como em carros elétricos chineses, componentes eletrônicos, e outros manufaturados que a China exporta", ressalta o analista da Safras.

A consultoria StoneX vai na mesma linha, ressaltando que os esforços protecionistas de Trump serão focados nos chineses.

"Não existe, até o momento, a expectativa da imposição de tarifas sobre produtos alimentícios brasileiros", diz a StoneX, lembrando que o primeiro governo Trump não taxou produtos agrícolas do Brasil.

Foi diferente, contudo, para os produtos industrializados. Em 2019, o republicano impôs tarifas para o aço brasileiro.

Café: o maior produto agrícola de exportação do Brasil aos EUA

O Brasil é o principal fornecedor de café dos EUA, país que está entre os maiores consumidores mundiais da bebida. Cerca de 15% das exportações brasileiras deste produto vão para o país norte-americano.

Por isso, não seria nem "sensato" da parte dos EUA aumentar imposto de importação, comenta o diretor-geral do Conselho dos Exportadores de Café do Brasil (Cecafé), Marcos Matos.

"Quando cito sensatez, refiro-me ao fato de não ser lógico tributar ou ampliar tributação sobre algo que os Estados Unidos não produzem e em que lideram o ranking de consumo", pontua Matos, acrescentando que a população americana gasta, por ano, US$ 110 milhões em café.

Este dado faz parte de um estudo conduzido pela empresa de pesquisa norte-americana Technomic, em 2022, a pedido da National Coffee Association (NCA, principal associação de café dos EUA).

Esse mesmo estudo revela que o setor cafeeiro (torrefações, cafeterias, etc) sustenta mais de 2,2 milhões de empregos nos EUA, proporcionando US$ 100 bilhões em salários, além de representar 1,3% da economia do país, e responder por US$ 38 bilhões de receitas de impostos.

"Vale lembrar que uma das promessas de campanha de Donald Trump - um direcionador de seu desempenho na eleição - foi a segurança na economia. Com todo esse arcabouço econômico que envolve o café nos Estados Unidos [...] ter segurança jurídica e política, bem como micro e macroeconomia bem definidas, é bom para a economia dos EUA", ressalta Matos.

O representante da Cecafé pondera que ainda é preciso aguardar o início do governo Trump para fazer uma análise mais certeira das relações comerciais. Apesar disso, ele afirma que espera que o republicano "seja bem-sucedido e sensato" e mantenha uma relação "racional" com seus parceiros comerciais.

📈Brasil pode aumentar venda de soja para a China

Há um outro consenso entre os entrevistados pelo g1: a de que as exportações de soja do Brasil podem aumentar para a China, caso os EUA levem para a frente a promessa de taxar os produtos do gigante asiático.

Isso já aconteceu no primeiro mandato de Trump, quando os dois países protagonizaram uma intensa guerra comercial entre 2018 e 2019.

Em resposta a barreiras tarifárias impostas por Trump, a China taxou, em 2019, uma série de produtos norte-americanos, incluindo a soja, com uma alíquota de 25%, destaca um relatório da consultoria StoneX.

Esse movimento fez a China ampliar as suas compras de soja brasileira na época, para compensar a redução da importação do grão americano.

Brasil e EUA são, respectivamente, os maiores exportadores mundiais da leguminosa. Além disso, os brasileiros são os maiores fornecedores do grão para o mercado chinês.

A soja, assim como o milho, é muito importante para a China conseguir alimentar seus rebanhos, principalmente o de suínos, que é o maior do mundo.

"Se o Trump colocar tarifas, nós temos a expectativa de que o Brasil consiga fortalecer o comércio de soja com a China", diz o presidente da Associação Brasileira dos Produtores de Soja (Aprosoja), Maurício Buffon.

Diante de temores de uma possível tensão comercial, exportadores dos EUA correram para enviar soja para a China neste fim de ano, disse à Reuters a analista Rosa Wang, da JCI, empresa de agroconsultoria sediada em Xangai.

Esse movimento fez com que, em outubro, as importações chinesas de soja aumentassem 56%, em relação a igual mês do ano passado, para 8 milhões de toneladas, segundo cálculos da agência Reuters.

A analista reforçou que, desde 2018, a China tem feito esforços para direcionar a sua fonte de suprimento de soja para o Brasil. Segundo ela, isso colocou o país asiático em uma melhor posição para conseguir impor tarifas de comércio sobre os produtos agrícolas dos EUA.

  • 🌽Milho

Um relatório da StoneX destaca que as exportações de milho brasileiro também podem ser beneficiadas.

Assim como no mercado de soja, o Brasil e os EUA são competidores mundiais nas vendas de milho. Em 2023, o país chegou a superar os americanos como maior exportador do cereal.

"A China se consolidou como um grande importador de milho. Apesar de o país atualmente comprar volumes menores dos EUA [...], uma possível guerra comercial poderia impactar também o mercado do cereal, assim como de outras commodities agrícolas", acrescenta um relatório da StoneX.

  • 🥩Carne

Por fim, o mercado de carnes do Brasil é outro setor que pode se beneficiar de uma nova guerra comercial entre chineses e americanos.

A China é um dos maiores compradores mundiais de carne.

"Os EUA são um competidor direto do Brasil no mercado de carnes. O Brasil lidera nas exportações de frango, enquanto os Estados Unidos são o segundo colocado. No caso da carne suína, quem lidera são os EUA, e o Brasil vem em terceiro. Na carne bovina, o Brasil é líder global, enquanto os EUA estão um pouco abaixo [quarto lugar]", explica diz Iglesias, da consultoria Safras.

O g1 procurou outras associações de produtos importantes da exportação brasileira para os EUA.

A Associação Brasileira da Indústria de Cana-de-Açúcar (Unica) disse que não vai comentar o tema.

A Associação Brasileira das Indústrias Exportadoras de Carnes (ABIEC) e a Associação Nacional dos Exportadores de Sucos Cítricos (CitrusBR) não responderam até o fechamento desta reportagem.

 

¨      Chegada de Trump ao poder dificulta ainda mais o crescimento econômico da UE, diz mídia

A questão da futura competitividade da União Europeia (UE) na economia global foi discutida e está enfrentando um novo desafio, a ascensão de Donald Trump à presidência dos EUA, o que leva a divisão entre os países-membros do bloco, escreve o jornal Financial Times.

As preocupações dos países da UE com uma economia já prejudicada pela COVID-19 e pela crise ucraniana aumentaram devido às expectativas de cumprimento das promessas de campanha de Trump.

Em particular, o artigo destaca que as maiores preocupações incluem:

ameaças de impor tarifas sobre as importações da UE aos EUA;

exigência de a Europa gastar mais com sua própria defesa;

revogar várias leis ambientais.

"Não é preciso haver uma guerra ou uma pandemia para reconhecer que enfrentamos problemas profundos e subjacentes em relação à nossa competitividade que precisam ser resolvidos", cita o jornal o primeiro-ministro grego Kyriakos Mitsotakis.

Em seu relatório para a Cúpula da Comunidade Política Europeia em Budapeste, o ex-presidente do Banco Central Europeu Mario Draghi propôs alocar € 800 bilhões (R$ 4,95 trilhões) de investimentos à economia europeia anualmente.

Os governos dos Estados, por sua vez, estão diminuindo os gastos para reduzir suas dívidas públicas aumentadas pelas crises recentes.

Assim, poucos países europeus estão realmente prestes a participar no aumento da dívida conjunta da UE que é prevista de acordo com o plano de Draghi.

Portanto, a reunião em Budapeste revelou, segundo o artigo, muitas armadilhas da política europeia que alguns querem resolver às custas de outros e vice-versa.

¨      Brasil fornece à Rússia mercadorias em valor recorde desde fevereiro de 2022

Em outubro, o Brasil forneceu mercadorias para a Rússia em um valor recorde de US$ 216 milhões (R$ 1,29 bilhão), o mais alto desde fevereiro de 2022, e o volume total do comércio de novo voltou ao crescimento, segundo avaliações da Sputnik com base em dados do Comex Stat.

Desta forma, em outubro, as empresas brasileiras dobraram suas exportações para a Rússia em termos anuais e aumentaram 1,4 vez ao mês - para US$ 216,3 milhões. Este é o volume máximo de exportação mensal desde fevereiro de 2022. Ao mesmo tempo, as vendas de produtos russos para o Brasil aumentaram 9% ao mês e 25% em um ano, alcançando US$ 1,05 bilhão (R$ 6,29 bilhões).

Como resultado, o comércio bilateral cresceu para US$ 1,3 bilhão (R$ 7,7 bilhões), de US$ 1,1 bilhão em setembro e US$ 938 milhões no mesmo período do ano passado. Antes disso, o volume de negócios diminuiu durante dois meses consecutivos.

Em dez meses, o comércio dos dois países subiu para um recorde de US$ 10,8 bilhões (R$ 64,7 bilhões) para este período, um quinto (20%) a mais do que no ano passado.

<><> Rússia bateu recorde de exportação de fertilizantes para o Brasil em outubro

O Brasil importou US$ 425 milhões (R$ 2,4 bilhões) em fertilizantes russos em outubro, a maior quantidade desde agosto de 2022.

Em meados do outono russo, a Rússia aumentou o fornecimento de fertilizantes ao Brasil em 1,6 vezes em relação ao mesmo período do ano passado — até 1,3 milhão de toneladas. Ao mesmo tempo, o valor das exportações aumentou 1,7 vezes — para US$ 424,8 milhões (R$ 2,4 bilhões) —, o maior número desde o final do verão de 2022.

Em outubro, as empresas russas forneceram fertilizantes mistos, com exportação avaliada em US$ 156,1 milhões (R$ 889,5 milhões), fertilizantes à base de potássio — US$ 139,8 milhões (R$ 796,9 milhões) — e fertilizantes nitrogenados, com US$ 128,9 milhões (R$ 734,7 milhões) dos produtos exportados.

A participação dos produtos russos nas importações brasileiras aumentou para 28,1% no mês passado, ante 23,6% em setembro. A China ficou em segundo lugar, com 18,2%, e o Marrocos em terceiro, com 7,7%.

Nos dez meses deste ano, a Rússia vendeu 9,2 milhões de toneladas de fertilizantes a empresas brasileiras, em comparação com 7,8 milhões entre janeiro e outubro do ano passado. No entanto, em termos monetários, o custo dos fornecimentos permaneceu quase inalterado — US$ 2,99 bilhões (R$ 17 bilhões) em 2023 contra US$ 2,98 bilhões (R$ 16,99 bilhões) deste ano.

 

¨      Eleição de Trump deve mexer nas relações do Brasil com um de seus maiores parceiros comerciais; entenda

A eleição de Donald Trump deve mexer nas relações do Brasil com um de seus maiores parceiros comerciais.

Quando se trata de relação comercial, não há distância no mapa que evite impactos econômicos. No retorno à Casa Branca, Donald Trump promete aumentar as taxas de importação para estimular a indústria americana. Economistas explicam que medidas protecionistas podem atingir o Brasil - que exportaria menos.

"A gente tem, com as propostas que ele veiculou na campanha, que a gente também não sabe o quanto elas, de fato, serão executadas ou não, mas são propostas que primeiro olham para uma economia americana mais protegida. Então, a gente está falando de mais tarifas. Os produtos brasileiros para entrarem no território americano vão acabar pagando uma tarifa maior do que já pagam hoje. Então, a gente vai perder alguns benefícios e na verdade ter uma dificuldade maior para colocar esse produto lá”, afirma Juliana Inhasz, professora de economia do Insper.

Os Estados Unidos são nosso segundo maior parceiro comercial. Em 2024, o fluxo de exportações para lá chegou a quase US$ 33 bilhões. O que mais vendemos: petróleo, aço, ferro e café. Já as exportações para o nosso maior parceiro comercial, a China, ultrapassaram US$ 83 bilhões. Há duas décadas, o cenário era bem diferente. A China era o quarto maior comprador de produtos brasileiros. Hoje, os asiáticos lideram com folga.

Os produtores de carne suína acreditam que podem escapar de um eventual aumento de impostos porque a nossa produção complementa a americana, e que podem se beneficiar no caso de acirramento das relações comerciais entre Estados Unidos e China.

"Estamos preparados, inclusive, para suprir eventuais, digamos assim, brigas políticas, eventual diminuição da exportação americana para algum país em face de uma retaliação, o Brasil está pronto para trabalhar nessas partes”, diz Ricardo Santin, presidente da Associação Brasileira de Proteína Animal.

O setor do aço enxerga espaço para negociar com o novo governo para aumentar o limite de exportação do produto brasileiro, estabelecido na primeira gestão de Trump.

"Temos um regime desde 2018 em que cria, ao nosso ver, uma expectativa de maior flexibilização, uma melhora dessas relações estabelecidas desse comércio bilateral. Nós entendemos que existe uma possibilidade muito grande de que esse sistema seja melhorado”, diz Marco Polo de Mello Lopes, presidente executivo do Instituto Aço Brasil.

Fernando Martins toca uma fábrica de parafusos para a indústria automobilística na Grande São Paulo que pretende começar a exportar para os Estados Unidos. Mas ele acredita que, para o produto nacional ser mais competitivo, é preciso reduzir o "custo Brasil".

"A China, mesmo com uma sobretaxa nos produtos chineses, vai ser mais competitiva. A gente não vai conseguir ter custo competitivo na situação que nós estamos”, diz Fernando Martins, diretor-presidente da fábrica.

Faltando mais de dois meses para a posse, Nelson Marconi, professor de economia da FGV, diz que é preciso aguardar para saber como será o novo governo Trump.

"Tudo depende da magnitude e alcance das medidas que ele está anunciando. Se realmente implementar o que ele falou, eu acho que a gente pode ter um impacto significativo aqui. No primeiro mandato, ele também falou que faria várias dessas medidas, fez algumas, mas ele não foi tão profundo assim, digamos, tão intenso. Agora, ele está defendendo um protecionismo maior do que da outra vez. Vamos ver realmente até onde vai isso”, afirma Nelson Marconi, professor de economia da FGV EAESP.

 

Fonte: g1/Sputnik Brasil

 

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