sábado, 30 de novembro de 2024

Bolsonaro fugirá, anotem. E a culpa será desse bundamolismo inexplicável

Jair Bolsonaro vai fugir. Podem anotar isso. Não é um fato consumado, mas toda a lógica mostra tal desfecho e ele, sem qualquer pudor, admitiu a intenção em entrevista à Folha de S.Paulo nesta quinta-feira (28). Pois é, a mesma Folha que ele atacou e ameaçou por quatro anos, inclusive segurando uma cópia da primeira página do jornal no cercadinho de apoiadores do Palácio do Alvorada, durante seu mandato, dedicando a ela um rosário de insultos. Agora, a Folha serve de porta-voz a um golpista assumido.

“Embaixada, pelo que vejo na história do mundo, quem se vê perseguido, pode ir para lá... Se eu devesse alguma coisa, estaria nos Estados Unidos, não teria voltado”, respondeu ele ao entrevistador quando questionado sobre correr da responsabilidade nas ações que enfrenta na Justiça. Bolsonaro já fugiu para uma embaixada, no caso a da Hungria, no começo deste ano, em pleno carnaval, quando a decretação de sua prisão preventiva era iminente. Fui filmado se escondendo como um rato, com o travesseiro debaixo do braço. Ao sair, deu uma desculpa vergonhosa e infantil, como de costume.

A divulgação esta semana do relatório final da Polícia Federal sobre a trama para perpetrar um golpe de Estado no Brasil, mantendo-o no poder após a derrota eleitoral para Lula, apenas serviu de cereja do bolo num episódio repleto de provas e de conhecimento público muito antes do inquérito ser concluído pelas autoridades. O mundo já sabia de seus planos e as toneladas de bobagens pseudoargumentativas que invadem as redes para tentar isentá-lo de culpa servem apenas às hostes de seguidores fanáticos que o veneram.

Espécie de cosplay de Augusto Pichonet com QI parco, Bolsonaro notabilizou-se nas últimas quatro décadas por falar coisas dantescas e por estar sempre relacionado, assim como os filhos, em acusações de desvios e “pequenos delitos” típicos do baixo clero parlamentar brasileiro. Trambiques com imóveis, histórias envolvendo gasolina e gastos de verba de gabinete, rachadinhas com funcionários fantasmas, enfim, toda sorte de supostas miudezas delitivas. O que sempre foi expressivo em seu vocabulário, no entanto, são as ameaças de golpe e a empolgação com que fala de ditadores e ditaduras.

Uma vez no poder máximo, na Presidência da República, perambulou quatro anos como uma alma penada chiliquenta durante um mandato caótico que se preocupou apenas em alimentar as paranoias grotescas que habitam a mente de seus súditos fundamentalistas. Perdeu a reeleição e acabou perdendo junto o rumo de casa. Era preciso ficar no cargo e agora sim dar um golpe, de verdade.

Dois então comandantes das Forças Armadas, o general Marco Antônio Freire Gomes e o tenente-brigadeiro Carlos de Almeida Baptista Júnior, respectivamente do Exército e da Aeronáutica, já o deduram sem rodeios ou meias-palavras. Ele os chamou para propor um golpe de Estado, deu uma “minuta” rocambolesca que serviria com um simulacro de AI-5 versão 3.0 para que fosse lida, e então recebeu um sonoro não dos dois militares. Apenas o comandante da Marinha, o almirante Almir Garnier Santos, teria topado e se excitado com o plano de arruinar o sistema democrático do país, recuperado a duras penas depois de 21 anos de ditadura militar, há quase quatro décadas.

Seu ajudante de ordens era como uma telefonista do golpe. Flagrado em dezenas e dezenas de diálogos criminosos com inúmeros interlocutores das mais variadas patentes, o tenente-coronel Mauro Cesar Barbosa Cid tratava abertamente do que seria preciso fazer para que o chefe continuasse no poder. O general Augusto Heleno, do GSI, anotava em seu caderninho (apreendido) cada passo para a guerra psicológica conseguir adesão, convencendo o povo, a imprensa e o mundo. Algo que, de tão infantil, merecia até gargalhadas. Só que a coisa era muito mais séria.

Um plano para assassinar o então presidente eleito Lula, seu vice, Geraldo Alckmin, e o ministro Alexandre de Moraes, do Supremo Tribunal Federal, era tramado por um general da reserva que era o número dois na Secretaria-Geral da Presidência da República, com o plano impresso dentro da sede da chefia do Estado brasileiro. A reunião para levar a cabo o morticínio ocorria na residência do vice na chapa de Bolsonaro derrotada na eleição, o general de Exército Walter Braga Netto, que foi também ministro da Defesa e da Casa Civil, o homem mais próximo e diretamente ligado ao então presidente.

Esse resumo em tom professoral serve apenas para embasar a tese insuperável e inquestionável de que Jair Bolsonaro será condenado e enviado à prisão em pouco tempo. Isso é tão verdadeiro que ele, tendo tal consciência, admitiu ao repórter da Folha que fugirá numa boa para a embaixada de algum país de governo de extrema direita. Sair do país seria mais difícil, tendo em vista que sua cara é conhecida em qualquer lugar e ele está sem o passaporte, mas se enfiar numa dessas representações diplomáticas seria moleza, como já fez.

Quando isso ocorrer, virá em nossas bocas um gosto amargo de bundamolismo. Sim, um bundamolismo que nos impedirá mais uma vez de fazer a coisa certa, de cumprir a lei e de produzir justiça. É até difícil entender que medo é esse que tantas autoridades têm de um homem tão limítrofe e patético, ainda que ele seja perigoso e ardiloso.

Como inúmeros juristas vêm afirmando após a declaração dada por Bolsonaro à Folha, de que fugirá para não cumprir sua pena de prisão, tal admissão já é mais do que suficiente para a decretação de uma prisão preventiva como medida cautelar objetivando não perder o acusado de vista.

Mas não, mais uma vez nada será feito. A coisa inevitavelmente permanecerá assim até o dia em que acordaremos e receberemos a notícia de que Bolsonaro cruzou o portão de uma tal embaixada, onde permanecerá insuflando sua matilha de beócios e ameaçando a democracia no Brasil. Sim, Bolsonaro fugirá e ao nosso bundamolismo caberá apenas lamentar.

<><> ‘Bolsonaro não se beneficiaria do golpe e seria traído pelos militares’, diz advogado do ex-presidente

O advogado de Jair Bolsonaro (PL), Paulo Cunha Bueno, disse em entrevista ao programa ‘Estúdio i’, da Globo News, que o ex-presidente não seria beneficiado pela trama golpista no seu governo, informa o G1. Na visão da Defesa de Bolsonaro, a trama golpista beneficiaria apenas a junta militar, que assumiria o poder e trairia o então presidente.

"Não tem o nome dele lá, ele não seria beneficiado disso. Não é uma elucubração da minha parte. Isso está textualizado ali. Quem iria assumir o governo em dando certo esse plano terrível, que nem na Venezuela chegaria a acontecer, não seria o Bolsonaro, seria aquele grupo", afirmou. O advogado ainda disse que Bolsonaro foi abordado sobre o golpe e que não era obrigação dele denunciar.

Segundo Bueno, o ex-presidente também não sabia do plano “Punhal Verde e Amarelo”, que visava os assassinatos do presidente Lula (PT), do vice-presidente Geraldo Alckmin e do ministro Alexandre de Moraes, do Supremo Tribunal Federal (STF). "Ele não sabia disso. Esse Punhal Verde e Amarelo nunca chegou ao conhecimento dele", comentou.

Apesar das afirmações do advogado de Bolsonaro, o relatório da PF sobre o inquérito do golpe aponta que o ex-presidente sabia e liderava a trama. Provas coletadas apontam que ele convocou reuniões para pressionar os comandantes das Forças Armadas por apoio no golpe e chegou a editar uma minuta golpista.

 

•                        Prestes a ser denunciado e preso, Bolsonaro apela ao STF por anistia

Indiciado pela Polícia Federal no inquérito do plano golpista, Jair Bolsonaro (PL) fez um apelo ao Supremo Tribunal Federal (STF), para conceder anistia ao político da extrema-direita. "Eu apelo aos ministros do Supremo Tribunal Federal, eu apelo. Por favor, repensem, vamos partir para uma anistia, vai ser pacificado", disse Bolsonaro, que também está inelegível por declarações golpistas, ao espalhar fake news de que as urnas eletrônicas brasileiras não têm segurança contra fraudes.

"Para nós pacificarmos o Brasil, alguém tem que ceder. Quem tem que ceder? O senhor Alexandre de Moraes. A anistia, em 1979: eu não era deputado, foi anistiada gente que matou, que soltou bomba, que sequestrou, que roubou, que sequestrou avião, e 'vamos pacificar, zera o jogo daqui para frente'. Agora, se tivesse uma palavra do Lula ou do Alexandre de Moraes no tocante à anistia, estava tudo resolvido. Não querem pacificar? Pacifica", afirmou durante entrevista à revista Oeste.

A Polícia Federal (PF) concluiu o inquérito que apura a existência de uma organização criminosa acusada de atuar coordenadamente para evitar que o então presidente eleito, Luiz Inácio Lula da Silva, e seu vice, Geraldo Alckmin, assumissem o governo, em 2022, sucedendo ao então presidente Jair Bolsonaro, derrotado nas últimas eleições presidenciais.

A PF confirmou que já encaminhou ao Supremo Tribunal Federal (STF) o relatório final da investigação. Entre os indiciados pelos crimes de abolição violenta do Estado Democrático de Direito, golpe de Estado e organização criminosa estão Bolsonaro; o ex-comandante da Marinha Almir Garnier Santos; o deputado federal Alexandre Ramagem (PL-RJ), ex-diretor da Agência Brasileira de Informações (Abin); o ex-ministro da Justiça Anderson Torres; o ex-ministro do Gabinete de Segurança Institucional (GSI) Augusto Heleno; o tenente-coronel do Exército Mauro Cid, ex-ajudante de ordens de Bolsonaro; o presidente do PL, Valdemar Costa Neto; e o ex-ministro da Casa Civil e da Defesa, Walter Souza Braga Netto.

Segundo a PF, as provas contra os indiciados foram obtidas por meio de diversas diligências policiais realizadas ao longo de quase dois anos, com base em quebra de sigilos telemático, telefônico, bancário, fiscal, colaboração premiada, buscas e apreensões, entre outras medidas devidamente autorizadas pelo Poder Judiciário.

As investigações apontaram que os envolvidos se estruturaram por meio de divisão de tarefas, o que permitiu a individualização das condutas e a constatação da existência de ao menos seis núcleos: o de Desinformação e Ataques ao Sistema Eleitoral; o Responsável por Incitar Militares a Aderirem ao Golpe de Estado; o Jurídico; o  Operacional de Apoio às Ações Golpistas; o de Inteligência Paralela e o Núcleo Operacional para Cumprimento de Medidas Coercitivas.

“Com a entrega do relatório, a Polícia Federal encerra as investigações referentes às tentativas de golpe de Estado e abolição violenta do Estado Democrático de Direito”, informou a PF.

<><> Relatório da PF sobre trama golpista intensifica pressão para barrar PL da anistia no Congresso

Lideranças do Congresso Nacional avaliam que a divulgação do relatório da Polícia Federal sobre o inquérito do golpe pressiona os lideres do Congresso a a barrarem a anistia de golpistas. A expectativa é de que Hugo Motta (Republicanos-PB) e Davi Alcolumbre (União Brasil-AP), favoritos para vencerem a eleição na Câmara e no Senado, não cedam à pressão do bolsonarismo pelo avanço do PL da Anistia e enterrem a pauta.

Segundo O Globo, a pressão para que a anistia aos golpistas seja arquivada não é feita somente por parlamentares de esquerda. Integrantes do União Brasil, MDB e PSD avaliam que não há clima para discutir o assunto no curto prazo e que a anistia ficará travada pelo menos até 2025. No Senado, integrantes do MDB dependem que Alcolumbre assuma um compromisso público contra pedidos golpistas.

Da mesma forma, o PSD, que é maior bancada do Senado e o partido presidente da Casa, Rodrigo Pacheco, é contra discutir anistia e disse que as articulações para um golpe “não foram um momento isolado”. “Isso não foi um ato isolado, teve um planejamento. Se não tivesse sido o comandante do Exército e da Aeronáutica, poderíamos estar vivendo um momento terrível no país”, disse o líder do PSD, Omar Aziz.

Na Câmara, a proposta de anistia encontra dificuldades desde que foi transferida para uma comissão especial, uma manobra articulada pelo presidente da Casa, Arthur Lira (PP-AL), que evitou sua tramitação na Comissão de Constituição e Justiça (CCJ), presidida pela bolsonarista Caroline de Toni (PL-SC). Petistas pressionam Hugo Motta para que o colegiado sequer seja instalado, e, nos bastidores, há pouco entusiasmo entre os partidos para discutir o tema.

O líder do União Brasil na Câmara, Elmar Nascimento (BA), que chegou a apoiar o avanço da proposta na CCJ, mudou sua postura após perder força como possível candidato à presidência da Casa. O deputado Rodrigo Valadares (União-SE), relator da proposta na CCJ, reconheceu que a posição de Nascimento agora é de neutralidade. “Não diria que ele mudou de posição, mas que está neutro. Até porque não está nas mãos dele o assunto”, afirmou Valadares.

 

•                        Bolsonaro diz esperar apoio de Trump para voltar ao poder

Indiciado pela Polícia Federal (PF) no âmbito do inquerito que paura uma tentativa de golpe de Estado, Jair Bolsonaro (PL) tem manifestado sua esperança de retornar ao poder no Brasil, com uma estratégia que envolve apoio externo e alianças com líderes de direita, principalmente com o presidente eleito dos Estados Unidos, Donald Trump.

Mesmo proibido de se candidatar até 2030 devido a uma decisão da Justiça e enfrentando uma série acusações criminais, Bolsonaro acredita que o apoio de Trump e a implantação de  possíveis sanções econômicas por conta da gestão do presidente eleito dos EUA contra o governo de Luiz Inácio Lula da Silva (PT) poderiam mudar o rumo de sua carreira política.

Em entrevista ao jornal estadunidense The Wall Street Journal, Bolsonaro ressaltou que a eleição de Trump é uma "virada de jogo" para os políticos de direita, especialmente na América Latina, onde a esquerda venceu recentemente as eleições presidenciais no México e no Uruguai. “Trump está de volta, e é um sinal de que nós também voltaremos”, declarou, referindo-se à sua possibilidade de retornar à presidência em 2026.

Na entrevista, o ex-mandatário revelou que ele e seu filho, o deputado federal Eduardo Bolsonaro, estão em constante contato com o novo governo dos EUA desde a vitória de Trump nas eleições de 5 de novembro. "Fiquei acordado a noite toda torcendo pelo ‘Laranjão’", afirmou, demonstrando seu apoio a Trump. Ele também fez questão de destacar a frase "é hora do MAAGA - Make All Americas Great Again (Faça Todas as Américas Grandes Novamente)", em referência ao slogan da campanha de Trump, o “MAGA”, exibindo um livro que o ex-presidente dos EUA lhe deu com a inscrição “Jair - You are GREAT” (Jair, você é ótimo).

Apesar da proibição judicial de concorrer a cargos públicos até 2030, Bolsonaro planeja registrar sua candidatura à presidência em 2026, apostando que a pressão internacional, especialmente de Trump, possa retardar a execução da sentença. "Contanto que o tribunal eleitoral não recuse meu registro, ele é válido", afirmou, sugerindo que o processo poderia ser adiado para além da data da eleição, garantindo sua participação no pleito.

Em relação às possíveis sanções econômicas dos EUA, Bolsonaro fez uma comparação com as sanções impostas à Venezuela durante o governo Trump, indicando que a pressão econômica poderia ser uma estratégia para enfraquecer o governo Lula. “Trump também tem se preocupado muito com a Venezuela e discutiu comigo maneiras pelas quais podemos devolvê-la à democracia”, disse, deixando claro que vê em Trump uma figura chave para seu retorno ao poder no Brasil.

O governo Lula se absteve de comentar as declarações de Bolsonaro, e representantes do novo governo de Trump, assim como do Supremo Tribunal Federal (STF), não responderam aos pedidos de comentários sobre as afirmações do ex-mandatário.

Jair Bolsonaro foi indiciado pela Polícia Federal, juntamente com outras 36 pessoas, por participar de uma suposta conspiração visando um golpe de Estado em 2022 para impedir a posse do presidente Lula. Ainda segundo a PF, o ex-mandatário teria  "pleno conhecimento" de um suposto plano para matar o atual chefe de Estado.

O procurador-geral da República, Paulo Gonet, irá decidir se denuncia Bolsonaro  e os demais investigados pelos crimes apontados pela PF, se arquiva o material ou se irá solicitar a realização de novas diligências.

 

Fonte: Fórum/Brasil 247

 

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