Extrema direita cresce em estados
estratégicos e fortalece planos de Tarcísio, Nikolas e Gayer para 2026
O centrão foi o grande
vencedor das eleições municipais. Marcado pelo fisiologismo e por muito
dinheiro de emendas que irrigam suas bases eleitorais, vai comandar seis em
cada 10 cidades brasileiras a partir de 2025. Mas os partidos de direita e
extrema direita também saíram fortalecidos e ganharam terreno em quatro das
cinco regiões do país, com vitórias em estados estratégicos que fortalecem os
planos de Tarcísio Freitas, Nikolas Ferreira e Gustavo Gayer para 2026.
Enquanto isso, os
partidos de esquerda perderam força no Norte, no Sul e no Centro-Oeste. No
Sudeste, o avanço foi tímido: 7,5%. Já no Nordeste houve um crescimento de
38,2% na quantidade de prefeituras em relação a 2020. Esse resultado, além de
garantir o saldo positivo da esquerda no desempenho nacional, reforçou a região
como principal reduto para uma provável candidatura do presidente Lula à
reeleição.
Esses cenários são
resultado de um levantamento feito pelo Intercept Brasil. Nele, foram
considerados como partidos de direita Agir (ex-PTC), DC, Novo, PL, PMB, PP,
PRD, PRTB e Republicanos — a análise de dados das eleições de 2020 ainda
incluiu siglas que não existem mais: PSC (incorporado pelo Podemos); PSL (virou
União Brasil após fusão com o DEM); PTB e Patriota (a fusão de ambos gerou o
PRD).
Já os partidos de
esquerda foram PT, PC do B e PSOL. Os demais foram classificados como de
centro-direita ou centro-esquerda. Vale ressaltar que há 41 eleições municipais
sub judice, ou seja, aguardam decisão da Justiça Eleitoral para confirmar o
resultado. Destas, 15 envolvem candidatos da direita, sendo sete do
Republicanos, cinco do PP e um de PL, União e PRD.
No primeiro turno,
mostramos que a maioria dos candidatos apoiados publicamente pela tropa de
choque da extrema direita no Congresso — Nikolas, Carla Zambelli, Gayer,
Damares Alves e Eduardo Bolsonaro — não foi eleita. Agora, os resultados finais
mostram que, apesar da declaração de voto não garantir a eleição, os partidos
de direita saem bem-sucedidos na estratégia de criar uma base para se
fortalecer para 2026.
• Republicanos abocanhou o dobro de
prefeituras
O Republicanos,
partido ligado à Igreja Universal e sigla do governador de São Paulo Tarcísio
de Freitas, foi a sigla de direita que mais cresceu no país: conquistou 223
novas prefeituras em 2024, uma alta de 102,8%. Com isso, passou de 217 vitórias
em 2020 para 440 neste ano.
No mesmo período, o PL
avançou de 349 para 517 (+48,1%), enquanto o PP foi de 701 para 752 (+7,3%).
Outro destaque foi o Novo, que saiu de uma para 19 prefeituras (+1.800%).
Vale ressaltar que o
partido de Tarcísio, ao qual também pertence a senadora Damares Alves, do DF,
cresceu nas cinco regiões do país. Foram 184 vitórias no Sudeste (+132,9% em
relação a 2020), 82 no Norte (+355,6%), 124 no Nordeste (+31,9%), 36 no Sul (+176,9%)
e 14 no Centro-Oeste (+7,7%).
No estado de São
Paulo, o salto foi de 23 para 87 prefeituras — crescimento de 278,3%. Com isso,
o Republicanos comandará 13,5% dos municípios paulistas. Juntos, os partidos de
direita venceram em 249 cidades no estado, contra 172 em 2020.
Mais do que aumentar a
força partidária em seu reduto eleitoral, Tarcísio ainda comemorou a vitória de
Ricardo Nunes na capital. Apesar do prefeito reeleito ser do MDB, o governador
bancou sua candidatura desde o início, diferentemente de Jair Bolsonaro, do PL,
que o apoiou mais timidamente e chegou a levantar dúvidas sobre quem seria seu
favorito em meio à disputa no primeiro turno entre Nunes e Pablo Marçal, do
PRTB.
• PL cresce e fortalece Nikolas, Eduardo
Bolsonaro e Gayer
Outro partido de
direita que ampliou suas bases nesta eleição municipal foi o PL. O salto de 349
para 517 prefeituras (+48,1%) em relação ao desempenho de 2020 é ainda mais
significativo porque se traduziu, também, em mais prefeitos conquistados nos
redutos de nomes importantes da sigla que flertam com uma candidatura a
governador ou ao Senado.
Em Minas Gerais,
apesar da derrota no segundo turno em Belo Horizonte, o PL aumentou de 41 para
53 o total de prefeituras (+29,3%) na comparação com as eleições de 2020. Além
disso, os partidos de direita e centro-direita, juntos, comandarão 768 municípios
a partir do ano que vem, o equivalente a 90% das cidades mineiras.
Um dos principais
líderes do PL no estado, o deputado federal Nikolas Ferreira, que apoiou
publicamente 21 das 53 vitórias da sigla, tem feito mistério sobre uma
candidatura a governador.
Recentemente, em
entrevista ao jornal O Tempo, ele disse que não sabe ainda que rumo tomar em
2026, mas pontuou que “não quer queimar cartucho” e governar Minas tendo Lula
como presidente, por temer que o petista o prejudique. Outro nome em ascensão
na direita no estado é o senador Cleitinho, do Republicanos, que é próximo de
Nikolas.
Já em São Paulo, o PL
mais do que dobrou suas prefeituras. Passou de 41 em 2020 para 105, um avanço
de 156,1%. O desempenho também reforça os planos de figuras como Eduardo
Bolsonaro, por exemplo, de tentar trocar a Câmara pelo Senado. Além disso, caso
Tarcísio mire a presidência em 2026, abre caminho para que o partido lance um
nome próprio para concorrer ao governo estadual.
Em Goiás, em que pese
a derrota no segundo turno em Goiânia, o PL também ganhou terreno. Passou de 14
prefeituras em 2020 para 26 (+85,7%). A ampliação das bases faz com que o
deputado federal Gustavo Gayer ganhe força em uma futura disputa ao governo, hoje
comandado por Ronaldo Caiado, do União Brasil, que não pode disputar a
reeleição.
• Esquerda só amplia força no Nordeste
Em números absolutos,
os partidos de direita venceram em 1.819 municípios, o que representa um
aumento de 3,7% em relação ao desempenho nas eleições de 2020. Já as siglas de
esquerda ganharam em 271 cidades (+14,8%) — mas o ganho percentual não
significa uma ascensão proporcional nas cinco regiões do país.
Enquanto os partidos
de direita aumentaram o número total de prefeituras nas regiões Sul (+22,3%),
Sudeste (+22,9%), Centro-Oeste (+6,9%) e Norte (+35,2%), a esquerda teve um
leve avanço no Sudeste, com 43 vitórias (+7,5%) e só se fortaleceu no Nordeste,
onde passou de 136 para 188 municípios (+38,2%).
Foi na região,
inclusive, que houve a única vitória de uma sigla de esquerda em capitais, em
Fortaleza, no Ceará. Evandro Leitão, do PT, obteve 50,38% e venceu André
Fernandes, do PL – uma diferença apertada de 10.838 votos em cerca de 1,5
milhão de eleitores.
No Norte, a queda foi
de 50%, com apenas sete eleitos em 450 municípios. Além disso, a esquerda
amargou uma derrota acachapante em Belém, no Pará, onde o atual prefeito
Edmilson Rodrigues, do PSOL, sequer conseguiu chegar ao segundo turno.
Já no Sul, a redução
foi de 26,8%, com apenas 30 eleitos em 1.191 cidades — ao menos a candidata
Cristina Graeml, do PMB, foi derrotada na disputa de segundo turno em Curitiba,
no Paraná. No Centro-Oeste, a esquerda caiu de 5 eleitos em 2020 para apenas 3
em 2024 (-40%).
O PT, entretanto,
registrou um crescimento no total de prefeituras no Brasil na comparação com
quatro anos atrás. Passou de 182 para 252, uma alta de 38,5%. Por outro lado,
170 dessas vitórias foram em municípios do Nordeste, o equivalente a 67,5% do
total.
Vale pontuar que o
número de prefeituras não é garantia de transferência direta de votos para
esquerda ou direita na disputa presidencial. Lula é um exemplo disso: ganhou em
2022 e, dois anos antes, a esquerda só havia eleito 236 prefeitos no país.
Por outro lado, os
resultados reforçam o peso do Nordeste para a esquerda, como foi na vitória
sobre Jair Bolsonaro em 2022 — na região, Lula ganhou em 98,9% das cidades no
segundo turno.
• Prefeituras são a base para 2026
No início de outubro,
pouco antes do primeiro turno, o deputado Gustavo Gayer fez um post em que
revelou parte da estratégia da extrema direita nestas eleições: tentar eleger o
maior número possível de prefeitos. Gayer disse que “serão esses prefeitos que
vão usar toda a máquina e estrutura em 2026 para eleger senadores”.
Ele ainda disse que a
extrema direita “errou no passado” ao “não se preocupar” em formar uma base de
prefeitos e vereadores. E que a estratégia de “aumentar os prefeitos de
direita” pelo Brasil passa por escolher nomes “muito bem selecionados” e que
tenham um posicionamento em comum em “pautas específicas” para apoiar a
campanha de 2026.
No primeiro turno, no
entanto, mostramos que essa transferência de votos não é tão direta assim: a
maioria dos candidatos a prefeito apoiados publicamente pela tropa de choque da
extrema direita no Congresso saiu derrotada. Dos 117 políticos que receberam o
aval dos deputados Carla Zambelli, Eduardo Bolsonaro, Gustavo Gayer e Nikolas
Ferreira, do PL, e da senadora Damares Alves, do Republicanos, só 31% foram
eleitos em 6 de outubro — dos 12 que avançaram para o segundo turno, apenas 4
venceram (33,3%).
“Se você estabelece
vínculo de base com um prefeito eleito não deixa de ser um recurso político e
uma vantagem para chegar em 2026 visando obter uma votação expressiva para o
Congresso ou até tentar se lançar em uma eleição majoritária”, disse, na ocasião,
o cientista político Jorge Chaloub ao Intercept.
Fonte: por Leandro
Becker, em The Intercept
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