quarta-feira, 30 de outubro de 2024

Como forte queda no preço do lítio afeta a América Latina

Um aumento espetacular – e uma queda retumbante.

Nos dois últimos anos, o preço do lítio despencou em mais de 80%, passando de US$ 70 mil (cerca de R$ 400 mil) para US$ 10 mil (cerca de R$ 57 mil) por tonelada.

Como explicar uma queda tão acentuada?

Apesar dos diversos fatores intervenientes, o motivo fundamental é um só: muita oferta e pouca demanda. Parece algo contraditório, considerando que o lítio é o supermineral que corre pelas veias das baterias dos carros elétricos, computadores e telefones celulares, que são produtos com altíssima demanda.

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Quando a procura por carros elétricos começou a aumentar nos grandes mercados mundiais, os produtores do chamado "ouro branco" se prepararam para uma alta demanda – originária, principalmente, da indústria automotiva.

Mas essa demanda ainda não atingiu os níveis esperados. Com isso, o mercado rapidamente percebeu que havia lítio disponível em quantidades excessivas.

E a China – o maior mercado de carros elétricos do mundo – teve participação fundamental neste processo. Afinal, no ano passado, as vendas desses veículos no país asiático foram inferiores às otimistas projeções dos produtores de lítio.

•        O impacto na produção

A queda dos preços trouxe consequências particularmente fortes para o maior produtor mundial de lítio – a Austrália. A nova situação provocou a suspensão parcial de operações mineradoras no país e, em outros casos, a redução dos níveis de produção.

O anúncio foi feito por empresas de mineração de lítio como a Core Lithium, Albemarle e a Arcadium Lithium.

Mas, enquanto alguns produtores suspendem suas operações, outros, como a Pilbara Minerals, estão ampliando a produção. Eles acreditam que a demanda mundial e os preços do lítio irão se recuperar.

O fundador da empresa de investimentos Jevons Global, Kingsley Jones, compartilha esta confiança. Sua companhia tem sede na capital australiana, Camberra, e monitora o setor de metais e mineração.

"O lítio continua sendo muito estratégico para a transição energética", declarou ele à BBC.

Mas muitos analistas alertam que o excesso de oferta irá manter o mercado sob pressão, pelo menos, até 2028. E a Austrália, especificamente, enfrenta ainda outros desafios.

O país consome três vezes mais energia no seu processo de produção de lítio, em comparação com outros grandes produtores como o Chile e a Argentina, segundo o professor Rick Valenta, diretor do Instituto de Materiais Sustentáveis da Universidade de Queensland, na Austrália.

A extração australiana exige mais energia porque o mineral de lítio, também conhecido como espodumênio, é extraído da rocha sólida. Já no Chile e na Argentina, o mineral é produzido por evaporação da salmoura.

"Como a Austrália tem operações de extração de rocha dura, o país consome mais energia e produz mais emissões do que as operações em salmoura", explica Valenta.

•        O que acontece na América do Sul?

Quando falamos em América do Sul, estamos nos referindo basicamente a dois países: Chile e Argentina. A Bolívia também possui reservas do mineral, mas não está extraindo no momento.

Nos dois países, a queda dos preços trouxe consequências tanto para as empresas privadas que produzem o mineral, quanto para os cofres públicos, que recebem menos recursos das mineradoras pelo pagamento de impostos e royalties, que são as taxas específicas da mineração).

No Chile, o lítio é extraído por duas grandes empresas privadas que operam no deserto do Atacama: a SQM e a Albemarle. Elas extraem, processam e vendem o metal em terrenos pertencentes ao Estado.

Neste tipo de associação, o Estado chileno "aluga a propriedade mineradora" – ou seja, o deserto do Atacama, uma das melhores jazidas de lítio do mundo, considerando a qualidade do produto e os baixos custos de produção. Em troca, as empresas pagam para ter o direito de comercializar o recurso mineral.

A tributação imposta às duas companhias depende muito dos níveis de preço do lítio. É uma estrutura escalonada: quanto mais o preço subir, maior é o pagamento de impostos e royalties.

Por isso, como o preço despencou nos últimos dois anos, a receita fiscal também diminuiu, como explica o acadêmico Emilio Castillo, do Departamento de Engenharia de Minas da Universidade do Chile.

"Precisamos nos acostumar com os ciclos de preços, o que é normal nos mercados de minerais", afirma ele à BBC News Mundo, o serviço em espanhol da BBC. "Nós nos concentramos muito nos movimentos de curto prazo, mas precisamos pensar em um horizonte de 10, 20 ou 30 anos."

•        'Foi extraordinário'

No momento, "estamos muito longe de voltar aos US$ 70 mil por tonelada", segundo o acadêmico. "Foi algo extraordinário."

Mas, como a maior parte do lítio é empregada na fabricação de carros elétricos e as estimativas internacionais indicam que essa indústria seguirá se expandindo, espera-se que a demanda de lítio continue aumentando.

O que não se sabe é quais empresas irão conseguir sobreviver às temporadas de preços baixos, especialmente nas jazidas com custos de produção mais altos.

As diferentes projeções indicam que, nos próximos dois anos, o preço do carbonato de lítio pode aumentar para cerca de US$ 16 mil (cerca de R$ 91 mil) por tonelada e que, perto de 2030, poderá atingir US$ 18 mil (cerca de R$ 103 mil).

Enquanto os efeitos da queda dos preços do lítio prejudicam as finanças das duas grandes empresas que operam no deserto do Atacama e os cofres públicos do Chile, os efeitos negativos na Argentina aparentemente são muito maiores. Isso se deve à grande expectativa que existia sobre o desenvolvimento de novos projetos.

A Argentina vinha avançando a toda velocidade para aumentar a produção de lítio, acreditando que o preço se manteria em níveis altos. Mas as quedas dos preços "tiveram impacto muito significativo" naquele país, segundo o sócio da empresa de assessoria ao comércio e investimentos Quipu, Shunko Rojas.

Ele explica que pequenos projetos que estavam em desenvolvimento enfrentaram dificuldades financeiras. As empresas decidiram suspender algumas operações ou postergar os prazos previstos para o início da produção.

Entre as firmas que anunciaram algum tipo de revisão dos seus planos originais, segundo Rojas, destacam-se a Argosy Minerals, Galan Lithium, Lake Resources e a Arcadium, entre outras.

Em meados de setembro, a imprensa argentina informou que, devido à queda dos preços do lítio, a empresa mineradora Arcadium cancelou dois créditos internacionais, em um valor total de cerca de US$ 180 milhões (cerca de R$ 1 bilhão), obtido de organismos multilaterais.

Por outro lado, a empresa desacelerou seu plano de expansão do chamado projeto Fênix, na principal mina de lítio do país. E estas decisões trarão consequências para a receita esperada pelas províncias e pelo governo nacional argentino.

Apesar das dificuldades, a Río Tinto – segunda maior empresa de mineração do mundo – comprou recentemente a Arcadium, que tem forte presença na Argentina. Este é um sinal de que a empresa "observa possibilidades de longo prazo e quer aproveitar a oportunidade", segundo Emilio Castillo.

•        Considerações geopolíticas

Os especialistas destacam que a oferta e a demanda não são os únicos fatores que interferem no preço do lítio.

Por um lado, os Estados Unidos e a Europa olham para a América do Sul como um parceiro importante na sua cadeia de fornecimento para a fabricação de carros elétricos. Por outro, a China, como o maior fabricante de veículos elétricos e o maior mercado do mundo, também precisa garantir as matérias-primas necessárias para continuar desenvolvendo seus negócios.

Tudo isso, ante um cenário de incerteza sobre as novas políticas tributárias e incentivos para a produção de carros elétricos que cada país poderá criar nos próximos anos.

O subsecretário de Estado para o Crescimento Econômico, Energia e Meio Ambiente dos Estados Unidos, José Fernández, esteve em agosto na capital argentina, Buenos Aires. Ele declarou que a China estava inundando o mercado de lítio para "destruir a concorrência, baixar os preços e obrigar as empresas a sair do mercado".

Esta acusação não foi confirmada, mas ela reflete o conflito existente entre as maiores economias do mundo para garantir o acesso aos minerais fundamentais para o processo de transição energética.

E, neste contexto, o papel do Chile e da Argentina no mercado de lítio provavelmente irá se manter relevante.

 

•        Ministério da Agricultura rechaça a Danone por embargo à soja do Brasil

Em nota, pasta afirma que o Brasil considera "arbitrárias, unilaterais e punitivas" a normas da União Europeia (UE) sobre desmatamento, diz que dificultam o acesso de produtos brasileiros ao mercado europeu e frisa que o Brasil conta com uma das legislações ambientais mais rigorosas do mundo.

O Ministério da Agricultura e Agropecuária divulgou nesta terça-feira (29) uma nota em resposta às declarações da empresa francesa de laticínios Danone e outras empresas do setor alimentar europeu que manifestaram a intenção de deixar de comprar soja do Brasil por considerar que a aquisição contribui para o desmatamento no país.

A pasta destacou que "o Brasil conta com uma das legislações ambientais mais rigorosas do mundo, apoiada por um sistema de comando e controle eficiente e respaldado por uma complexa estrutura de monitoramento e fiscalização".

"Esse sistema tem permitido ao país combater o desmatamento ilegal com políticas públicas que abrangem o Cerrado, a Amazônia e outras regiões sensíveis, assegurando que a produção agrícola seja feita de maneira responsável e sustentável. Os compromissos internacionais brasileiros vêm sendo reafirmados periodicamente com metas ousadas de descarbonização, redução do desmatamento e fomento à agricultura sustentável, fatos confirmados durante a presidência do Brasil no G20", diz a nota.

O órgão acrescenta que as empresas brasileiras que atuam no mercado de exportação de soja e outros produtos agrícolas "estão em conformidade com rigorosos processos de due diligence [diligência prévia, em tradução livre], que garantem o cumprimento das exigências de seus clientes internacionais".

"Esses processos refletem os esforços e os investimentos em sustentabilidade feitos pelo setor produtivo brasileiro, com modelos de rastreabilidade robustos e reconhecidos internacionalmente."

A nota afirma ainda que o Brasil considera "arbitrárias, unilaterais e punitivas" as normas previstas no Regulamento de Desmatamento da União Europeia (EUDR, na sigla em inglês), tendo em vista que "desconsideram particularidades dos países produtores e impõem exigências com impactos significativos sobre os custos e a participação de pequenos produtores no mercado europeu".

"Estas novas diretrizes dificultam o acesso ao mercado europeu de produtos brasileiros, da América Latina e de outras origens, incluindo a Ásia, em vez de apoiar uma transição justa e sustentável. Incentivos positivos são mais eficazes na promoção da proteção ambiental, compensando e remunerando aqueles que prestam serviços ambientais."

O ministério reiterou que a posição do Brasil é firme quanto a não aceitar regulamentações que ignorem nossos avanços ambientais e sociais, ao impor restrições desproporcionais a produtos brasileiros, e destacou que "a agricultura brasileira é um pilar da sustentabilidade global e já alcança altos padrões, refletindo nosso compromisso com um comércio justo e ambientalmente responsável".

"O Brasil está pronto para colaborar, mas exige ser tratado com a mesma justiça e equilíbrio que pautam as relações comerciais internacionais, devendo ser rechaçadas posturas intempestivas e descabidas como anunciadas por empresas europeias, com forte presença de atividade também no mercado brasileiro", conclui a nota.

O Brasil é um dos maiores produtores mundiais de soja e tem a Europa como um dos principais mercados. No entanto, mais cedo, a Danone europeia informou que não comprará mais soja do Brasil para alinhar suas operações a diretrizes mais rígidas de sustentabilidade impostas pela UE, que recentemente aprovou uma lei antidesmatamento que proíbe a compra de produtos brasileiros que não sejam ambientalmente sustentáveis. A decisão foi rechaçada por ruralistas, que pediram boicote aos produtos da empresa.

Posteriormente, a Danone Brasil emitiu uma nota afirmando que continua a comprar soja brasileira, em conformidade com as regulamentações locais e internacionais.

"A soja brasileira é um insumo essencial na cadeia de fornecimento da companhia no Brasil e continua sendo utilizada, sendo a aquisição da maior parte desse volume intermediada pela Central de Compras da Danone, incluindo processos que verificam sua origem de áreas não desmatadas e rastreabilidade", diz a nota.

 

•        Na ONU, Brasil insta EUA a reconsiderarem política de 'sanções severas' a Cuba

Em discurso na Organização das Nações Unidas (ONU), o ministro das Relações Exteriores do Brasil, Mauro Vieira, exigiu que os Estados Unidos retirem o embargo econômico a Cuba.

A cobrança do ministro vem após uma grave crise energética provada pela passagem do furacão Oscar pela pequena ilha caribenha. O fenômeno climático deixou seis pessoas mortas, além de causar um apagão nacional e a destruição de residências.

"É evidente que as severas sanções impostas injustificadamente a Cuba, tanto pelo embargo como por sua inclusão na lista de 'Estados patrocinadores do terrorismo', contribuíram ainda mais para exacerbar a situação", disse Vieira sobre os danos causados pela tempestade.

"Essas medidas, que já penalizam injustamente o povo cubano, agora impedem uma adequada resposta à crise humanitária gerada pelo furacão."

Os Estados Unidos impõem embargos comercial, econômico e financeiro mais longos da história à pequena nação do Caribe. O regime de sanções, como conhecemos hoje, tomou forma em 1962 quando praticamente todas as exportações a Cuba foram proibidas.

Segundo a lei norte-americana, toda empresa nacional ou internacional que negociar com a ilha pode ser alvo de sanções estadunidenses. Em 2021, a política foi agravada por Donald Trump, que incluiu o Estado cubano na lista de patrocinadores do terrorismo após seu antecessor, Barack Obama, retirá-lo da listagem.

"Por todas essas razões, instamos os Estados Unidos a reconsiderarem sua política sobre Cuba: eliminar as sanções, retirar Cuba da lista dos Estados patrocinadores do terrorismo e fomentar um diálogo construtivo baseado no respeito mútuo e na não interferência", afirmou o chanceler.

Desde 1992, a Assembleia Geral das Nações Unidas (AGNU) aprova anualmente uma resolução exigindo o fim do bloqueio econômico a Cuba. As únicas nações que votam consistentemente contra são os Estados Unidos e Israel.

Em 2019, primeiro ano de governo de Jair Bolsonaro, o ministro das Relações Exteriores de então, Ernesto Araújo, estipulou pela primeira vez que o Brasil votasse contra a condenação do bloqueio. Em 2020 não houve votação e, em 2021 e 2022, a chancelaria brasileira sob gestão de Carlos França se absteve.

 

Fonte: BBC News Mundo/Sputnik Brasil

 

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