sexta-feira, 20 de setembro de 2024

Saúde espacial: conheça as missões da Polaris Dawn para a saúde

Semana passada marcou um momento histórico na trajetória espacial da humanidade: a missão Polaris Dawn, lançada pela SpaceX na última terça-feira, 10, realizou a primeira caminhada espacial privada, além de ter alcançado a órbita mais alta da Terra em uma missão que não foi para outros corpos celestes, como a Lua. Mas além dos feitos históricos, a Polaris Dawn também executou missões relacionadas à saúde, com pesquisas que têm o objetivo de compreender a saúde tanto na Terra quanto em voos espaciais de longa duração.

As principais pesquisas que o programa Polaris envolvem a coleta de dados sobre o ambiente de radiação para o organismo humano e o fornecimento de amostras biológicas para análises multiômicas para um biobanco de longo prazo. O programa também pretende estudar mais sobre a prevalência humana de doença de descompressão e sobre a Síndrome Neuro-Ocular Associada ao Voo Espacial (SANS), que representa um risco à saúde humana em voos espaciais de longa duração.

>>>> Conheça abaixo algumas das pesquisas da Polaris Dawn:

•        Radiação

Conforme ocorrem avanços nos voos espaciais, há uma preocupação de levar medicina mais complexa ao espaço em vista de possíveis intervenções futuras que se façam necessárias. Uma das possibilidades em pesquisa é levar a radiologia ao espaço como componente essencial para diagnósticos e intervenções. O experimento atual é entender como a radiação espacial ambiente pode ser usada e dar início ao uso de radiografias de raios X no espaço.

Ainda no campo da radiação, a NASA, apoiada pelo Translational Research Institute for Space Health (TRISH), forneceu um monitor de radiação HERA-ativo com base na tecnologia Timepix para medir a radiação no ambiente durante todo o voo, assim como medir as doses recebidas pela tripulação Polaris Dawn com emblemas de radiação Crew Active Dosimet. Devido à altura que a Polaris Dawn alcançou e ao alto nível de exposição à radiação, a pesquisa também estudará o fenômeno chamado de “flashes de luz” que, segundo relatado por astronautas, vislumbravam flashes de luz ao fechar os olhos. O fenômeno ocorre devido à exposição a radiação, e é esperado que a tripulação da primeira caminhada espacial comercial veja ainda mais flashes, uma oportunidade que os pesquisadores encontraram para estudar o caso mais a fundo. 

O Pacific Northwest National Laboratory (PNNL), por sua vez, conta com um experimento para estudar a quantidade e o tipo de exposição à radiação que a tripulação de voos espaciais está sujeita a receber em voos futuros. O experimento Orbital High-Energy Space Neutron Activation Project (OHSNAP) tem o objetivo de medir o ambiente de nêutrons de alta energia na nave Dragon, utilizada pela Polaris Dawn, e registrar as interações.

•        Medicamentos para enjoo

Enjoo é comum em voos espaciais e, por isso, a Nasa está estudando a administração de escopolamina intranasal que se mostrou eficaz sem muitos dos efeitos colaterais indesejados. Ele também poderá ser usado como um medicamento de “resgate”, podendo tomar após os sintomas aparecerem, diferente de outras medicações que devem ser tomadas antes. Durante o voo, os membros passaram por pesquisas para avaliar como o corpo processa medicamentos e como isso interfere em eficácia e segurança dos medicamentos. Esse será um dos primeiros estudos sobre o assunto visto que, até então, as drogas são administradas com a suposição de que agem de forma similar à da Terra.

•        Ressuscitação cardiopulmonar (RCP)

Devido à microgravidade, compressões torácicas são desafiadoras no espaço e, apesar de existir um procedimento caso RCP fosse necessária, não existem boas práticas ou procedimento adequado na nave que foi lançada pela SpaceX. Por isso, a tripulação fará experimentos para encontrar o posicionamento ideal para realização de RCP utilizado um dispositivo adequado para validação.

•        Ultrassom e medidor de glicose

Os membros do Polaris Dawn têm acesso a um ultrassom inteligente e miniaturizado para escanear a si mesmos e coletar imagens de nível médico. A tecnologia foi preparada para que a própria tripulação se diagnostique e se trate caso ocorram problemas médicos. Outro dispositivo que a tripulação testou é um monitor contínuo de glicose, para que pessoas com diabetes tenham a certeza dos níveis de glicose mesmo em um voo espacial.

•        Mudanças cerebrais

Horas após retornarem do voo, os membros da Polaris Dawn foram fotografados para explicar as mudanças cerebrais observadas em outros astronautas. As fotos tiradas perto do pouso devem explicar se as mudanças são devido à readaptação à Terra ou reflexo de seus cérebros no espaço.

•        Descompressão espacial

Tem o objetivo de entender os efeitos da descompressão no corpo humano a partir do uso de um aparelho de ultrassom. O dispositivo em questão irá monitorar, detectar e quantificar êmbolos gasosos venosos (VEG), contribuindo para estudos sobre prevalência humana de doença de descompressão.

•        Registros de saúde e telemedicina

Os tripulantes responderão um questionário sobre suas experiências de sono, histórico de saúde e hábitos, assim como traços de personalidade. Já outra pesquisa irá analisar a perda da saúde óssea e muscular dos astronautas por meio de amostras de urina, com o intuito de identificar os membros da tripulação mais afetados. Na mesma linha, a NASA preparou o Tempus Pro, um dispositivo comercial para coletar e integrar medições de saúde, como pressão arterial, frequência cardíaca, frequência respiratória, temperatura e outros. Com esses dados, a pesquisa visa comparar os registros de saúde da tripulação com dados de exames periódicos. O dispositivo também conta com recurso de imagem por ultrassom, videolaringoscopia com orientação integrada e um recurso experimental de telemedicina, com comunicação via Starlink para se conectar com médicos e especialistas na Terra.

•        Desempenho cognitivo e dados do ambiente

A tripulação passou por um monitoramento do desempenho cognitivo por um aplicativo em um tablet, com testes que cobrem domínios cognitivos relevantes para voos espaciais, como memória, orientação espacial, reconhecimento de emoções, tomada de decisão de risco, entre outros. A tripulação também coletou dados fisiológicos e de movimento com um smartwatch e um novo sensor de eletrodo único, com registro de dados de alerta e humor, o ambiente da espaçonave (como os níveis de dióxido de carbono e temperatura) e os resultados de outras pesquisas (por exemplo, mudanças induzidas por voos espaciais na estrutura cerebral).

•        Síndrome Neuro-Ocular Associada ao Voo Espacial (SANS)

A Síndrome Neuro-Ocular Associada ao Voo Espacial (SANS) é um dos assuntos que a missão irá priorizar nas pesquisas em saúde. A SANS decorre da baixa gravidade no espaço que faz com que fluidos corporais se acumulem na cabeça e gerem pressão sobre os globos oculares, o que representa um risco à saúde em voos de longa duração. Uma das pesquisas do Polaris Dawn é identificar as alterações nos olhos ao entrar em microgravidade e medir se as mudanças de fluido estão de fato causando mudanças no olho, o que pode contribuir para a SANS. Para isso, a tripulação utilizou lentes de contato inteligentes com pequenos microssensores que medem a pressão dentro dos olhos. A tripulação do Polaris Dawn também realizou imagens em um ultrassom 3D para construir a estrutura do olho a fim de entender melhor as muitas mudanças nos olhos. 

Outra pesquisa que pretende entender a relação dos efeitos da microgravidade e o que leva à SANS, é o estudo de Pupilometria Automatizada. Utilizando pupilômetros automatizados, ferramenta utilizada para medir a pressão intracraniana de forma não invasiva, a pesquisa pretende entender os deslocamentos de fluidos para a cabeça causados pela microgravidade e o aumento da pressão intracraniana em astronautas, fatores que podem levar à síndrome. 

Os projetos estão sendo feito em colaboração com Translational Research Institute for Space Health (TRISH), BioServe Space Technologies at the University of Colorado Boulder, Space Technologies Lab at Embry Riddle Aeronautical University, Weill Cornell Medicine, Johns Hopkins University Applied Physics Laboratory, the Pacific Northwest National Laboratory e a U.S. Air Force Academy.

 

Fonte: Por Isabella Marin, em Futuro da Saúde

 

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