quarta-feira, 18 de setembro de 2024

Jair de Souza: Censura dos EUA a veículos russos, liberdade de expressão e a luta de classes

Os Estados Unidos acabaram de tomar drásticas medidas com vistas a impedir que os meios de comunicação russos possam continuar levando suas mensagens ao público estadunidense, assim como aos dos países suscetíveis à influência geopolítica dos Estados Unidos.

Dentre esses meios, foram alvos de censura os veículos Rossiya Sevodniya (A Semana Russa), TV-Novosti, Ruptly, Sputnik e o canal televisivo RT.

No caso específico de RT (muito seguido no Brasil através de sua versão em língua espanhola www.actualidad.rt.com), a alegação esgrimida para justificar este flagrante ato de censura é que a atividade jornalística por eles desenvolvida está a serviço da política da Federação Russa, uma vez que tem conseguido impedir que a visão geopolítica cultivada pelo establishment estadunidense se faça valer da maneira como seus promotores gostariam que ocorresse.

Como alguém que costuma acompanhar regularmente as transmissões de RT, devo dizer que é impossível não reconhecer que os ideólogos dos Estados Unidos estão totalmente corretos sobre a capacidade de influenciar em seus espectadores.

Basta fazer um pequeno teste prático dedicando-se a sintonizar as emissões de RT por um determinado período de tempo e confrontar o conteúdo e as formas de difusão observados com aquilo que os meios identificados com o “American way of thinking” transmitiram no mesmo intervalo de tempo.

De fato, quase que tão somente aqueles que já estavam plenamente ideologicamente ganhos pela visão política das classes dominantes afinadas com o capitalismo made in the USA serão capazes de se manterem incólumes em seus posicionamentos após terem sido expostos a essa outra maneira de ver os acontecimentos do mundo.

Mais especificamente, as autoridades estadunidenses se queixam de que sua visão sobre o conflito na Ucrânia tem sofrido enormes entraves para se impor, mormente em função da narrativa contraposta oferecida através de RT.

Sendo assim, está mais do que comprovado que os que defendem a continuidade da hegemonia dos Estados Unidos no mundo estão cobertos de razão para estarem preocupados.

Porém, o que é mais curioso em toda esta história é que os Estados Unidos pretendem ser tidos como os paladinos da defesa da liberdade de expressão no mundo.

Por isso, sempre que algum governo de alguma nação toma alguma medida que interfira com as práticas de seus grandes oligopólios midiáticos, eles se levantam de imediato para tachar a quem assim agiu de ser um censurador infame e inimigo da liberdade de expressão.

Em consequência, buscam validar sua condenação internacional através de fortes campanhas de desprestígio.

Para ilustrar o que mencionamos no parágrafo anterior, podemos trazer à tona o recente caso em que o Judiciário brasileiro ordenou o bloqueio em nosso país das transmissões da plataforma X (ex-Twitter), de propriedade do multibilionário de nacionalidade estadunidense Elon Musk, por sua recusa em cumprir com as determinações da legislação brasileira.

Em tal oportunidade, os defensores da “liberdade de expressão” à la Estados Unidos não vacilaram em botar a boca no trombone para acusar o responsável por tomar essa decisão de censurador e violador dos direitos de expressão, ou seja um ditador.

De todos esses acontecimentos, deveríamos extrair uma lição muito valiosa. A de que, em um mundo composto por classes com interesses confrontantes, a liberdade de expressão, assim como a liberdade de modo geral, depende essencialmente dos embates travados no processo de luta de classes.

É que cada classe social apenas aceita, valoriza, respeita e defende voluntariamente aqueles aspectos da liberdade de expressão que não firam suas aspirações e seus interesses maiores, ou seja, que não ponham em risco aquilo que a classe em questão considere como justo e desejável para si.

Quando assim não ocorrer, a difusão de mensagens e ideias que ameacem suas estruturas só será tolerada se a correlação de forças na sociedade em questão não lhe possibilitar seu bloqueio.

Não devemos nutrir nenhuma ilusão com respeito ao que será ou não permitido ao campo popular no tocante à liberdade de expressão. Nada do que existe em termos de comunicação em favor das classes trabalhadoras em nosso país e em todos os demais países capitalistas advém de concessões voluntárias dos grupos dominantes.

Só por meio de sua permanente e incansável luta ao longo do tempo, os trabalhadores do Brasil e do resto do mundo foram ganhando condições para fazer com que algumas de suas reivindicações viessem a ser respeitadas. É o que se dá, evidentemente, na questão da liberdade de expressão em sociedades de classes antagônicas.

Não nos resta a mínima dúvida de que a liberdade de expressão plena é o ambiente mais favorável para que as forças populares possam travar suas lutas dentro do capitalismo.

Mas, de nenhuma maneira deveríamos entender isso como nos obrigando a sair em defesa da liberdade de expressão dos grandes conglomerados dos oligopólios midiáticos.

Cabe aos trabalhadores lutar e zelar pelos direitos de livre expressão para os próprios trabalhadores, e nunca para seus grandes opressores.

Portanto, considero equivocada a ideia de que deveríamos ter condenado, por exemplo, a limitação imposta à máquina mundial do fascismo representada por X de Elon Musk, para evitar criar condições para que medidas similares sejam aplicadas contra nós no futuro.

Estou mais do que convencido de que o grande capital e seus agentes nunca vão precisar de nenhum precedente para justificar que se aplique contra as organizações populares algum golpe de força.

Tudo o que eles vão precisar para tal é que a correlação de forças no citado momento lhes viabilize a movimentação em tal sentido. As justificativas e explicações para que normalizem e tornem aceitável a situação serão encontradas e usadas em conformidade com as circunstâncias da ocasião.

Em meu entender, a maior e única garantia para que não sejamos alvos de limitações em termos de liberdade de expressão será conquistada através da intensificação do nível de organização e de conscientização de nosso povo, aprofundando nossa inserção junto ao mesmo, para que sejam as massas populares o grande fator que nos venha a prestar solidariedade ativa em nossa defesa no caso de que sejamos ameaçados.

¨      Sanções dos EUA contra mídia russa mostram hipocrisia do governo, diz chanceler cubano

As novas sanções de Washington contra meios de comunicação russos demonstram a hipocrisia da Casa Branca, que se declara a principal defensora da liberdade de expressão, afirmou o ministro das Relações Exteriores de Cuba, Bruno Rodríguez Parrilla.

"A imposição de novas medidas unilaterais dos Estados Unidos a meios de comunicação russos evidencia a hipocrisia de um governo que se posiciona como o maior defensor e promotor da liberdade de imprensa. Não se pode censurar a verdade", escreveu o ministro nas redes sociais nesta segunda-feira (16).

O Departamento do Tesouro dos EUA anunciou em 4 de setembro sanções contra Margarita Simonyan, editora-chefe do grupo midiático Rossiya Segodnya, do qual a Sputnik faz parte, além dos vice-presidentes Anton Anisimov e Yelizaveta Brodskaya. Também foram incluídos na lista o chefe da RT, Andrei Kiyashko, o responsável pelo departamento de projetos de mídia digital Konstantin Kalashnikov e vários outros funcionários do canal.

A pasta norte-americana endureceu as condições de operação do grupo de mídia e de suas subsidiárias, classificando-os como "missões estrangeiras".

As autoridades norte-americanas também anunciaram uma nova política que restringe a emissão de vistos para pessoas que alegadamente atuam em nome de meios de comunicação "apoiados pelo Kremlin". No entanto, o Departamento de Estado se recusou a revelar quem exatamente seria afetado pelas restrições.

As sanções não são direcionadas a jornalistas russos individuais, mas sim a funcionários das organizações sujeitas às restrições que estariam "envolvidos em atividades ilegais".

Além disso, as autoridades dos EUA apresentaram acusações contra Kalashnikov e a funcionária da RT Elena Afanasyeva por conluio com o objetivo de lavagem de dinheiro e violação da lei sobre o registro de agentes estrangeiros.

¨      Ataque 'orwelliano' à mídia russa é desespero dos EUA para salvar ordem mundial unipolar, diz analista

Autoridades dos EUA fizeram novas acusações contra a mídia Russia Today (RT) na sexta-feira (13), alegando que a emissora tem laços com a inteligência russa e está executando uma operação de influência global. Mas o verdadeiro motivo do ataque à mídia russa é mais sinistro, disse um observador à Sputnik.

A repressão de Washington em relação à RT está "conectada ao desejo de preservar a ordem mundial unipolar já praticamente inexistente de domínio ocidental, o que, claro, também significa domínio no espaço da informação, da mídia, a fim de preservar um único ponto de vista e suprimir e destruir todos os outros", disse o analista político Aleksandr Asafov à Sputnik.

"O aumento dos esforços nessa área está vinculado ao fato de o cidadão ocidental médio, eleitor e contribuinte que paga por tudo, não entender mais por que ele deveria financiar o desejo de suas elites políticas de ajudar um regime ditatorial distante como o da Ucrânia, e está começando a fazer perguntas e a encontrar respostas com bastante facilidade. É para evitar que façam isso que são tomadas medidas como essas, constituindo de fato censura total", explicou Asafov.

A guerra dos EUA contra o jornalismo, não apenas com a repressão da RT, mas o bloqueio das mídias sociais, o assédio a jornalistas independentes, etc., constitui a implementação prática das "histórias de horror que o escritor britânico George Orwell usou para aterrorizar o mundo inteiro. Em essência, a perseguição de jornalistas é uma tentativa de os punir por 'crime de pensamento', por uma pessoa pensar diferente e estar disposta a dizer a verdade", afirma o observador.

Quanto às novas restrições e acusações contra a RT, essas são apenas mais uma tentativa de silenciar a Rússia e roubar seu direito de apresentar uma perspectiva alternativa sobre os eventos mundiais, disse Asafov, observando que os EUA continuarão aumentando as apostas em sua tentativa de atingir essa meta "impossível".

As ações dos EUA são "baseadas em um pretexto", não em fatos, "e certamente não há bases legais para tais ações", enfatizou o analista político, apontando que o comportamento de Washington não é apenas uma violação do direito internacional e das ideias elevadas sobre liberdade de expressão e mídia, mas da própria legislação dos Estados Unidos. Na verdade, elas constituem a "aplicação prática da chamada 'ordem baseada em regras'", que em sua essência "pode ser comparada a um código pirata" que os EUA estão tentando impor a todos.

¨      Chancelaria da Rússia chama novas sanções dos EUA contra mídia russa de campanha por encomenda

Ao lançar uma campanha contra a mídia russa, os Estados Unidos declararam guerra à liberdade de expressão em todo o mundo, mas Moscou vai responder a essas ações, disse a representante oficial do Ministério das Relações Exteriores da Rússia, Maria Zakharova.

Segundo ela, os Estados Unidos tentam justificar as restrições sem precedentes à mídia russa de maneira muito cínica, chamando-as de luta contra a intervenção nos assuntos internos dos EUA.

"Na verdade, essa é apenas mais uma campanha por encomenda, uma 'caça às bruxas', quando uma atmosfera, especialmente cultivada, de medo geral e obsessão por espionagem permite que os círculos dominantes nos EUA manipulem a opinião pública e impeçam a população de aceder a qualquer informação inconveniente para eles", disse ela no comentário oficial da chancelaria.

A diplomata observou que Washington tenta assumir o papel de guardião da estabilidade social e da integridade dos processos democráticos, enquanto usa métodos de censura totalitários.

Zakharova destacou as buscas realizadas por forças de segurança norte-americanas em casas de jornalistas russos e investigações penais contra associados com a mídia russa.

"Tendo pisoteado definitivamente seus compromissos internacionais no que respeita a garantir o pluralismo de opinião e até mesmo as disposições de sua própria Constituição, os EUA realmente declararam guerra à liberdade de expressão em todo o mundo, passando a fazer ameaças abertas e chantagem contra outros Estados, em uma tentativa de colocá-los contra a mídia doméstica e estabelecer o controle exclusivo sobre o espaço de informação global", enfatizou.

De acordo com ela, Washington não pode aceitar a crescente popularidade da mídia russa contra o pano de fundo da imagem unilateral e falsa do que está acontecendo no planeta criada pela mídia ocidental.

Ao mesmo tempo, a Rússia não tem ilusões de como a censura desenfreada nos Estados Unidos vai ser avaliada pelas estruturas internacionais relevantes.

Moscou considera seu silêncio como aprovação de tais práticas e cumplicidade real na arbitrariedade cometida contra a mídia russa, acrescentou a representante oficial do ministério.

"As ações do governo dos EUA não vão ficar sem resposta", concluiu.

<><> Sanções contra a mídia russa

Recentemente, o Departamento de Estado dos EUA tornou mais rigorosas as condições sob as quais o grupo de mídia Rossiya Segodnya, do qual a Sputnik faz parte, opera nos Estados Unidos, definindo seu status como "missão estrangeira".

Conforme prescrito pela lei, tais missões são obrigadas a notificar o departamento sobre o pessoal e a propriedade que possuem nos Estados Unidos.

As autoridades norte-americanas também anunciaram uma nova política que limita a emissão de vistos para pessoas que supostamente atuam em nome de mídias "apoiadas pelo Kremlin".

Ao comentar as novas sanções, um porta-voz do Departamento de Estado disse que não são direcionadas contra jornalistas russos individuais, mas contra funcionários das organizações sancionadas que "se envolveram em atividades ilegais".

 

Fonte: Viomundo/Sputnik Brasil

 

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