sábado, 28 de setembro de 2024

Israel rejeita plano de cessar-fogo no Líbano apoiado pelos EUA

Israel rejeitou nesta quinta-feira os apelos globais por um cessar-fogo com o movimento Hezbollah do Líbano, desafiando seu maior aliado, os Estados Unidos, e avançando com ataques que mataram centenas de pessoas no Líbano e aumentaram os temores de uma guerra regional total.

Um avião de guerra israelense atingiu os arredores da capital Beirute, matando duas pessoas e ferindo 15, incluindo uma mulher em estado crítico, segundo o Ministério da Saúde do Líbano. Com isso, o número de mortes causadas por ataques durante a noite e nesta quinta-feira chegou a 28.

O ataque matou o chefe de uma das unidades da força aérea do Hezbollah, Mohammad Surur, de acordo com duas fontes de segurança, o mais recente comandante sênior do Hezbollah visado em dias de assassinatos que atingiram os altos escalões do grupo.

A fumaça foi vista subindo após o ataque perto de uma área onde estão localizadas várias instalações do Hezbollah e onde muitos civis também vivem e trabalham. A emissora de televisão Al-Manar, do Hezbollah, transmitiu imagens de um andar superior danificado de uma edificação.

No lado israelense da fronteira com o Líbano, o Exército realizou um exercício simulando uma invasão terrestre -- um possível próximo estágio após ataques aéreos incessantes e explosões de dispositivos de comunicação.

Israel prometeu proteger o norte do país e devolver às comunidades locais milhares de cidadãos que foram retirados desde que o Hezbollah lançou uma campanha de ataques entre fronteiras no ano passado em solidariedade aos militantes palestinos que lutam em Gaza.

"Não haverá cessar-fogo no norte", disse o ministro das Relações Exteriores de Israel, Israel Katz, no X. "Continuaremos lutando contra a organização terrorista Hezbollah com todas as nossas forças até a vitória e o retorno seguro dos moradores."

Esses comentários acabaram com as esperanças de um acordo rápido após o primeiro-ministro libanês Najib Mikati, cujo governo inclui elementos do Hezbollah, expressar esperança de um cessar-fogo.

Centenas de milhares de pessoas deixaram suas casas durante o mais pesado bombardeio israelense no Líbano desde uma grande guerra em 2006.

O Hezbollah tem enfrentado os militares israelenses desde que o movimento muçulmano xiita foi criado pela Guarda Revolucionária do Irã em 1982 para combater uma invasão israelense no Líbano. Desde então, ele se transformou no mais poderoso representante de Teerã no Oriente Médio.

EUA, França e vários outros aliados pediram um cessar-fogo imediato de 21 dias na fronteira entre Israel e Líbano. Eles também expressaram apoio a um cessar-fogo em Gaza.

O secretário de Estado dos EUA, Antony Blinken, disse à MSNBC que as principais potências mundiais queriam um cessar-fogo e que se iria reunir com autoridades israelenses em Nova York nesta quinta-feira.

¨      Governo reage ao assassinato de brasileiro no Líbano por Israel

O governo Lula (PT) divulgou, nesta quinta-feira (26), uma nota lamentando a morte do adolescente Ali Kamal Abdallah, de 15 anos, natural de Foz do Iguaçu, que faleceu no Vale do Bekaa, no Líbano, em decorrência dos bombardeios aéreos israelenses. De acordo com o Ministério das Relações Exteriores, o jovem e seu pai, de nacionalidade paraguaia, foram atingidos por uma explosão resultante dos ataques aéreos na segunda-feira (23). A Embaixada do Brasil em Beirute está prestando assistência à família do adolescente. 

No texto, a pasta, chefiada por Mauro Vieira, destacou que o pai de Ali Kamal também perdeu a vida na mesma explosão e que "ao solidarizar-se com a família, o governo brasileiro reitera sua condenação, nos mais fortes termos, aos contínuos ataques aéreos israelenses contra zonas civis densamente povoadas no Líbano e renova seu apelo às partes envolvidas para que cessem imediatamente as hostilidades", diz a nota. 

Em meio à escalada do conflito, o presidente Lula criticou a postura do primeiro-ministro de Israel, Benjamin Netanyahu. Durante uma entrevista em Nova York, Lula afirmou que Netanyahu não cumpre as resoluções da Organização das Nações Unidas (ONU) e que o comportamento de Israel "não tem o apoio da maioria do povo, que não concorda com esse genocídio". O presidente também ressaltou que a situação atual reforça a necessidade de fortalecer a ONU, de modo a torná-la ”mais forte e atuante".

As tensões aumentaram na região, especialmente após o chefe do Exército de Israel alertar suas tropas sobre uma possível entrada por terra no Líbano, em uma ofensiva contínua contra o grupo Hezbollah. Enquanto isso, as Forças Armadas israelenses continuam a mobilizar tropas da reserva para o norte do país, onde ocorrem confrontos transfronteiriços com o Hezbollah, sinalizando para uma possível invasão do Líbano por via terrestre. 

Leia a íntegra da nota do Ministério das Relações Exteriores. 

"O governo brasileiro tomou conhecimento, com profundo pesar, da morte, no Vale do Bekaa, Líbano, do adolescente brasileiro Ali Kamal Abdallah, de 15 anos de idade, natural de Foz do Iguaçu. O menor e seu pai, de nacionalidade paraguaia, foram atingidos por explosão como resultado dos intensos bombardeios aéreos israelenses na região, na segunda-feira. A Embaixada do Brasil em Beirute está prestando assistência aos familiares do menor. O pai do adolescente também faleceu como resultado da explosão.

Ao solidarizar-se com a família, o Governo brasileiro reitera sua condenação, nos mais fortes termos, aos contínuos ataques aéreos israelenses contra zonas civis densamente povoadas no Líbano e renova seu apelo às partes envolvidas para que cessem imediatamente as hostilidades".

¨      Líbano pede apoio internacional: hospitais em colapso em meio aos ataques de Israel

O Líbano enfrenta um cenário de caos e sofrimento diante da escalada de violência entre as forças israelenses e o grupo Hezbollah. O primeiro-ministro libanês, Najib Mikati, fez um apelo desesperado durante uma sessão de emergência do Conselho de Segurança das Nações Unidas, destacando o colapso dos hospitais no país, que estão "repletos de civis feridos", incapazes de receber mais pacientes. Entre as vítimas estão mulheres e crianças, e Mikati enfatizou a necessidade urgente de intervenção da comunidade internacional para pressionar por um cessar-fogo.

Em seu discurso, o premier destacou as constantes violações da soberania libanesa, clamando por uma resposta firme das Nações Unidas. "Os ataques a dispositivos eletrônicos e a ameaça de invasão terrestre espalharam terror e medo entre os cidadãos libaneses. Espero voltar ao meu país com uma posição explícita [do Conselho de Segurança da ONU], exigindo a cessação dessa agressão e o respeito à soberania e à segurança do meu país", disse Mikati aos membros do órgão. As informações foram publicadas pela CNBC Árabe e divulgadas pelo jornal O Globo.

O colapso do sistema de saúde no Líbano foi desencadeado após uma série de explosões devastadoras que atingiram áreas dominadas pelo Hezbollah no último dia 17 de setembro, resultando na morte de 37 pessoas e mais de 3 mil feridos. Essas explosões, causadas pela detonação de pagers e walkie-talkies, provocaram um nível de destruição que o país não estava preparado para enfrentar.

Segundo Wahida Ghalayini, chefe do departamento de emergência do Ministério da Saúde Pública do Líbano, 118 hospitais foram mobilizados para atender os feridos, com equipes médicas treinadas e salas de emergência funcionando 24 horas por dia. O plano de emergência foi unificado em todo o país, com quase 3,1 mil profissionais prontos para atuar, afirmou Ghalayini. 

Médicos estão trabalhando sem descanso e sob intensa pressão, lutando para atender a avalanche de feridos. De acordo com a emissora Cairo News, muitos profissionais da saúde estão “lutando para aliviar o sofrimento dos cidadãos”.

O ministro da Saúde libanês, Firass Abiad, falou ao jornal An-Nahar sobre a gravidade da situação, afirmando que o impacto das explosões sobrecarregaria qualquer sistema de saúde no mundo. Abiad descreveu a ofensiva israelense como uma "chacina", comparando a tragédia no Líbano às devastadoras cenas que ele testemunhou na Faixa de Gaza. Ele também falou à SBS Arabic, detalhando a gravidade dos ferimentos, incluindo amputações e lesões oculares, e lamentando a perda de tantas vidas, especialmente de crianças.

A situação no Líbano é de extrema gravidade. Com os hospitais saturados, a infraestrutura de saúde no limite e milhares de pessoas feridas ou desabrigadas, o país enfrenta uma crise humanitária. 

 

¨      Quais os possíveis cenários para invasão ao Líbano após advertência de Israel

Os últimos ataques de Israel no Líbano são uma preparação para a possível entrada de tropas por terra, segundo o chefe do Exército israelense.

"Vocês ouvem os caças sobrevoando; estamos atacando o dia todo. Isso é tanto para preparar o terreno para sua possível entrada, quanto para continuar a arruinar o Hezbollah", disse Herzi Halevi aos soldados na quarta-feira (25).

A recente escalada do conflito entre Israel e o Líbano faz com que muitos se lembrem da guerra de 2006, na qual um intenso bombardeio aéreo foi seguido por operações terrestres israelenses dentro do território libanês.

Após os ataques do Hamas a Israel em 7 de outubro de 2023, o grupo militante Hezbollah intensificou seus ataques a Israel a partir do sul do Líbano, e seguiu-se um ano de escalada contínua de ambos os lados.

Mas, se Israel decidir invadir o Líbano, como seria esta invasão? Será que Israel tentaria permanecer e controlar o território?

O primeiro-ministro de Israel, Benjamin Netanyahu, prometeu mais de uma vez um retorno seguro para cerca de 60 mil moradores que foram retirados de suas casas no norte do país devido à escalada de conflitos com o Hezbollah.

Na quarta-feira (25), ficou claro que Israel pretende entrar no Líbano de alguma forma, a fim de neutralizar a ameaça que o Hezbollah representa para esses moradores.

Herzi Halevi disse às tropas: "Hoje, vamos continuar, não vamos parar; vamos continuar atacando e atingindo eles em todos os lugares. O objetivo é muito claro — levar de volta com segurança os moradores do norte".

Ele disse que o Exército está "preparando o processo de manobra, o que significa que suas botas militares, suas botas de manobra, vão entrar em território inimigo, vão entrar em vilarejos que o Hezbollah preparou como grandes bases militares".

Antes disso, na segunda-feira (23), a recente escalada atingiu um estágio crítico, com mais de 550 pessoas mortas após uma intensa onda de ataques aéreos contra o que Israel disse serem alvos do Hezbollah no Líbano.

A autoridade de saúde local informou que dezenas de civis, incluindo mulheres, crianças e médicos, estavam entre os mortos.

Embora os ataques aéreos tenham continuado, muitos analistas estão prevendo que Israel também vai enviar forças terrestres para o Líbano em breve.

<><> Como seria a operação israelense no Líbano?

Em guerras anteriores no LíbanoIsrael seguiu diferentes métodos em suas operações terrestres.

Para entender os possíveis cenários, é importante relembrar as invasões passadas de Israel no Líbano, em 1982 e 2006.

<><> Guerra de 1982: uma invasão terrestre em grande escala

Em 1982, as forças israelenses invadiram o Líbano para tentar impedir incursões e disparos palestinos na fronteira, acabar com a presença e a influência síria no Líbano e "ajudar a formar um governo mais amistoso no Líbano, que seria capaz de assinar um tratado de paz com Israel" — de acordo com o site das missões diplomáticas israelenses.

Naquele momento, os palestinos, liderados por Yasser Arafat e sua Organização para a Libertação da Palestina (OLP), não reconheciam Israel, e Israel não apoiava um Estado palestino.

A invasão foi de grandes proporções, envolvendo milhares de soldados e centenas de tanques e veículos blindados. Ela coincidiu com um intenso bombardeio aéreo, naval e de artilharia. Os israelenses penetraram em várias frentes e, em uma semana, chegaram aos arredores da capital libanesa, Beirute, cercando a cidade.

<><> Como o mundo viu a invasão de 1982?

O líder da OLP, Yasser Arafat, e cerca de 2 mil soldados sírios que o apoiavam contra Israel foram forçados a deixar o Líbano.

Um correspondente da BBC escreveu na época: "Parece improvável que Arafat, que agora está indo para a Grécia de navio, encontre outro governo árabe disposto a acolhê-lo depois do efeito calamitoso de sua permanência no Líbano".

Mas Israel foi amplamente condenado em todo o mundo, uma vez que, em setembro de 1982, centenas de palestinos foram massacrados por milícias cristãs em Beirute, enquanto as tropas israelenses não fizeram nada.

O episódio, que mais tarde ficou conhecido como Massacre de Sabra e Chatila, foi noticiado na época como uma vingança pelo assassinato do presidente eleito Bashir Gemayel quatro dias antes.

<><> Guerra de 2006: uma incursão terrestre limitada de Israel no Líbano

A incursão terrestre em 2006 foi limitada e relativamente lenta em comparação à de 1982, e restrita a cidades e seus arredores a não mais do que alguns quilômetros dentro do Líbano.

O analista político israelense Yoav Stern disse à BBC, em 23 de setembro, que não achava que a próxima incursão terrestre seria semelhante à que aconteceu em 1982 — mas, sim, que seria uma incursão lenta, cautelosa e calculada.

Ele sugeriu que Israel poderia ocupar as cidades do sul do Líbano uma a uma, em vez de lançar uma invasão rápida e em grande escala. Seria semelhante ao que aconteceu em 2006, mas em uma profundidade maior dentro do território libanês, chegando até o Rio Litani.

O Rio Litani é, há muito tempo, um limiar importante para ambos os lados que buscam o controle de áreas importantes do Líbano.

Stern baseia sua previsão na presença de longa data do Hezbollah nas cidades do sul do Líbano, o que impediria que Israel ocupasse estas cidades e as deixasse rapidamente.

O analista militar e ex-general Hisham Jaber argumenta que, em uma possível invasão de Israel ao sul do Líbano, as tropas israelenses não permaneceriam no local por um longo período.

"Israel vivenciou as consequências de tentar manter o terreno em uma invasão em 2006", ele diz, acrescentando que qualquer possível invasão agora assumiria uma forma muito diferente.

Jaber espera que as operações terrestres israelenses no Líbano sejam limitadas a ataques pela fronteira com um escopo muito restrito. Isso inclui áreas limitadas, com cada ataque que Israel possa realizar não durando mais do que um dia.

Ele acredita que Israel vai dispensar a opção de uma invasão terrestre e, em vez disso, continuar a intensificar os ataques aéreos, amplificados por assassinatos e operações de segurança cibernética.

<><> Onde poderia ser a invasão?

Jaber espera que as operações terrestres israelenses sejam restritas a "áreas muito limitadas em cidades libanesas na fronteira", mas ele não descarta que Israel realize o que se assemelha a "operações de comando" em outras áreas do Líbano.

Stern, por outro lado, acredita que o escopo da possível operação terrestre inclua o sul do Líbano, ou seja, "a área entre a fronteira libanesa-israelense e o Rio Litani".

Ele não descarta que considerações táticas poderiam forçar Israel a se infiltrar em algumas áreas ao norte do Rio Litani, e depois se retirar delas, ou a realizar pousos em áreas livres de combate. Ele sugere que Israel poderia se infiltrar em áreas no interior do Líbano, com o objetivo de criar uma vantagem de negociação no futuro.

A incursão na guerra de 1982 concentrou-se em três eixos principais — dois deles partiam de uma área conhecida como Dedo da Galileia em direção ao Vale do Bekaa, no leste do Líbano, e às regiões montanhosas no centro, enquanto o terceiro eixo era ao longo da estrada costeira do sul até Beirute.

A invasão também incluiu a realização de um desembarque naval de soldados de infantaria e veículos blindados ao norte da cidade de Sidon, no sul do país.

<><> Quais seriam os objetivos da invasão?

O objetivo declarado da guerra de 1982 e de suas operações terrestres era retirar as cidades do norte de Israel do alcance efetivo dos foguetes e da artilharia dos combatentes palestinos no sul do Líbano, fazendo-os retroceder 40 km da fronteira libanesa-israelense.

Israel citou o objetivo adicional de destruir a infraestrutura da OLP, incluindo sua sede em Beirute, e expulsar as forças sírias do Líbano.

O ataque israelense em 1982 não se limitou ao sul do Líbano, mas incluiu grandes áreas no Vale do Bekaa, nas Montanhas de Chouf e em Beirute.

Hisham Jaber acredita que as penetrações terrestres de curto alcance — ou incursões limitadas — podem ter um efeito militar geral mínimo a longo prazo.

Stern, por outro lado, acredita que Israel terá como objetivo principal, ao promover uma possível incursão no sul do Líbano, fazer com que os combatentes do Hezbollah retrocedam para o norte do Rio Litani, por dois motivos principais:

"Para impedir o disparo de foguetes de curto alcance contra cidades israelenses, e para evitar a repetição de um ataque semelhante ao ataque de 7 de outubro no norte de Israel."

 

Fonte: Reuters/Brasil 247/BBC News

 

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