Insônia: novo foco de lucro contínuo das
farmacêuticas
Com lucros milionários
e distribuição de dividendos crescentes, empresas farmacêuticas têm investido
pesado nos medicamentos para dormir como zolpidem e benzodiazepínicos e no
desenvolvimento de novos medicamentos e patentes envolvendo o sono. O uso contínuo
de sedativos garante à indústria uma lucratividade bilionária e contínua com
drogas que muitas vezes induzem dependência, ainda que afetem a arquitetura do
sono e deixem o indivíduo com a falsa sensação de descanso.
A cultura do alívio
sintomático imediato em detrimento do foco no bem-estar futuro ignora a
necessidade de investigação clínica das causas dos transtornos do sono. Doenças
que aumentam a inflamação do corpo, como diabetes e doença celíaca, se
constituem em diagnósticos diferenciais causais e podem ter essa identificação
atrasada pela ausência de análise. O paciente é quem será prejudicado.
Assim, as causas
clínicas da insônia raramente são investigadas e as demais consequências do uso
indiscriminado de benzodiazepínicos, como dependência e alterações de memória,
embora relativamente comuns no abuso, dificilmente são associadas ao seu uso. Isso
leva ao consumo de mais medicamentos para o tratamento dos efeitos colaterais
dos sedativos, colaborando novamente para mais ganhos da indústria, num grande
círculo vicioso. É necessário interromper esse ciclo, realizando a correta
investigação das queixas dos pacientes, para que eles lucrem, não o acionista
da farmacêutica.
É comum que a causa do
transtorno do sono esteja nos hábitos dos indivíduos. As soluções ditas
naturais, ainda que com respaldo científico, são desacreditadas em detrimento
dos produtos da moda. Utilizando-se da irracionalidade consequente a ativação
dos circuitos do medo cerebral, um exemplo disso está nas reportagens
alarmistas financiadas pela indústria, nas quais mães são orientadas a não
dormirem perto do bebê, mas o uso de sedativos em puérperas aumenta a cada
dia.
Sempre houve a
recomendação de que o uso dessas drogas fosse apenas para casos de exceção,
assim como o utilizar medicamentos para emagrecer e a cirurgia bariátrica. No
entanto, a sensação que se tem é que todo mundo virou uma exceção, onde o
modelo econômico de receita continuada – similar aos streamings de séries e
vídeos, com entrada de capital recorrentemente – chegou aos medicamentos e a
alta lucratividade passou a ser a régua.
• Remédio nem sempre é indicado para
tratar insônia; entenda o distúrbio e calcule se você dorme o suficiente
Todo mundo quer ter um
sono de qualidade, mas é praticamente impossível ter 100% de aproveitamento.
Sempre terá aquele dia que você vai dormir mal, vai acordar no meio da noite ou
vai acordar sentindo que não descansou o suficiente. Isso é normal e não configura
insônia, um distúrbio sério que acaba sendo banalizado.
A insônia é um
distúrbio do sono caracterizado pela dificuldade de adormecer, permanecer
dormindo ou ambos, mesmo se a pessoa tiver tempo suficiente e um ambiente
propício para um sono reparador.
"O diagnóstico
precisa ter uma história médica bem coletada para entender se é transtorno. Às
vezes, a insônia é sintoma de uma doença, como ansiedade e depressão",
explica Rosa Hasan, coordenadora do Laboratório do Sono do Instituto de
Psiquiatria (IPq) da Universidade de São Paulo (USP).
A neurologista explica
que, quando o paciente tem queixas de sono, é preciso analisar o horário que
ele está dormindo, se o ambiente do sono está bom, quais os hábitos do dia a
dia. Se tudo está em ordem e a pessoa continua dormindo mal, é preciso procurar
ajuda médica.
<><> Hora
do remédio?
Imagine se todos os
problemas pudessem ser resolvidos apenas com uma pílula mágica? Infelizmente,
essa não é a realidade e isso também vale para a insônia. Inclusive, a primeira
opção de tratamento é a terapia cognitivo-comportamental (TCC) para compreender
a origem e os motivos da insônia.
Além disso,
especialistas lembram que é importante promover mudanças comportamentais, como
estabelecer um horário para dormir, ter um bom ambiente para o sono, controlar
a exposição à luz, tentar introduzir técnicas de relaxamento e reduzir o
consumo de cafeína, álcool e nicotina.
Caso as medidas não
farmacológicas não sejam suficientes, aí pode ser a hora de entrar com o
medicamento. Mas tudo deve ser bem conversado com o médico, já que o tratamento
é individualizado. Ou seja, o que serve para você não necessariamente vai
servir para seu amigo.
Rosa Hasan lembra que
todos os medicamentos trazem vantagens e desvantagens. Por isso, a
automedicação NUNCA é indicada.
"Os medicamentos
trazem riscos. Você pode tomar um remédio que 'chumba' muito, você acorda de
noite e pode se machucar. Pode ocorrer uma sedação residual de manhã. Alguns
indutores podem causar até um tipo de sonambulismo. Tem também o risco de dependência.
Mesmo os remédios seguros, usados com indicação, trazem efeitos adversos",
alerta Rosa Hasan.
<><>
Insônia aguda e crônica
“A insônia é diferente
da privação de sono (que é quando a pessoa dorme pouco). Na insônia o indivíduo
tem a oportunidade de dormir, mas acaba acordando mais cedo do que o desejado e
não consegue voltar”, explica Luciano Drager, professor associado do departamento
de clínica médica da FMUSP e presidente da Associação Brasileira do Sono (ABS).
O distúrbio é dividido
em dois tipos:
• Insônia aguda: é uma condição de curto
prazo. A pessoa tem dificuldades no sono que duram alguns dias ou semanas, mas
não mais que três meses. Pode estar relacionada com fatores externos, como
divórcio, morte, doença. Se ela persistir por mais de três meses ela vira
crônica.
• Insônia crônica: a pessoa tem
dificuldades para dormir e sintomas diurnos relacionados (leia abaixo) por pelo
menos três vezes por semana e dura pelo menos três meses.
A sonolência não é o
principal sintoma da insônia. O distúrbio pode afetar quase todos os aspectos
da vida. A pessoa pode ter mais dificuldades na concentração, pode ficar mais
irritada, pode ter problemas de memória, prejuízos metabólicos e cardiovasculares
a longo prazo.
Entre os sintomas
diurnos relacionados à perda de sono estão:
• Fadiga
• Atenção ou memória prejudicada
• Problemas com trabalho, escola ou
desempenho social
• Irritabilidade ou humor perturbado
• Sonolência
• Diminuição da motivação
• Aumento de acidentes ou erros
• Problemas comportamentais, como
hiperatividade ou agressividade, especialmente em crianças
Fonte: Por Isabel
Braga, em Brasil 247/g1
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