terça-feira, 17 de setembro de 2024

Eleições à vista e cenário político conturbado: Geórgia pode sofrer um golpe do Ocidente?

Prestes a passar por eleições parlamentares no próximo mês, a Geórgia pode embarcar em uma revolução colorida empreendida pelos Estados Unidos. Analistas comentam a possibilidade e avaliam o contexto histórico do país.

De acordo com o Serviço de Inteligência Externa da Rússia (SVR, na sigla em russo), que apontou a possibilidade de intervenção norte-americana, as ONGs pró-ocidentais do país estão recrutando um grande número de pessoas para monitorar de perto as eleições parlamentares de 26 de outubro, querendo descredibilizar o pleito.

A intervenção dos EUA na política georgiana, entretanto, não é novidade alguma, aponta Rodrigo Ianhez, historiador e especialista em história da União Soviética, em entrevista ao podcast Mundioka, da Sputnik Brasil. Segundo o especialista, desde o fim da URSS "a Geórgia já sofreu algumas revoluções coloridas […]. Agora há tensão, há pressão".

Em 2003, a Geórgia passou pela então denominada Revolução Rosa, um momento considerado de ingerência de poderes estrangeiros sobre a definição da política nacional, que culminou com um golpe, no qual o governo foi assumido por um dos líderes insurgentes, Mikhail Saakashvili, que ficou no poder até 2012.

O governo Saakashvili foi "muito alinhado aos Estados Unidos", recorda Ianhez. A possibilidade de intervenção passa justamente por esse cenário, segundo os analistas. O atual governo da Geórgia, dirigido pela presidente Salome Zurabishvili, do partido Sonho Georgiano, não segue religiosamente as medidas do Ocidente, embora seja uma administração que o leve em consideração.

E, nos últimos três anos, "o partido tenta uma reaproximação com a Rússia e busca um equilíbrio entre esses dois polos", conta o historiador. Essa posição, portanto, tem levado a oposição a "taxar o partido como alinhado à Rússia, servindo aos interesses de Putin. Mas não é o caso", acrescenta.

O cenário mostra, segundo Danielle Makio, professora no curso de relações internacionais da Universidade Estadual Paulista (Unesp), mestre em relações internacionais pela Universidade KIMEP, no Cazaquistão, e membro do Centro de Investigação em Rússia, Eurásia e Espaço Pós-Soviético (CIRE), que "não podemos afirmar que as instituições da Geórgia estão seguras, muito pelo contrário".

"A Geórgia tem sofrido alguma pressão do Ocidente para se alinhar a uma agenda liberal democrática, uma agenda político-ideológica mais próxima desse mundo ocidental, considerando todas essas influências externas e considerando a própria situação da política nacional. Tivemos recentemente levantes populares muito importantes na Geórgia. Uma parcela significativa da população indo às ruas questionar a decisão do governo de aprovar a lei dos agentes estrangeiros, por exemplo", contextualiza a especialista.

<><> População dividida, cenário polarizado

De acordo com Ianhez, a Geórgia conta com uma população dividida. "[…] há uma divisão social bastante marcada em como as pessoas vão observar essa situação. Em primeiro lugar, aquelas pessoas que vivem em Tbilisi, a capital da Geórgia, têm uma posição bastante diferente daquelas que vivem na província". Ou seja, segundo o historiador, a população da capital costuma tendenciar suas preferências para as relações com o Ocidente, enquanto os provincianos enxergam com bons olhos as relações regionais com os vizinhos russos.

Além disso, os marcadores de classe e idade são importantes. Ianhez afirma que a população mais jovem e a classe média alta também têm uma tendência pró-Ocidente. Já os mais velhos costumam ter uma relação muito melhor com o passado e uma relação mais tranquila com a Rússia, e a classe trabalhadora desconfia do Ocidente.

"A gente observa nos inúmeros protestos que têm ocorrido, alguns bastante turbulentos, nos últimos meses. Esses protestos ocorrem basicamente com uma oposição se opondo ao governo e levantando bandeiras da União Europeia, da Ucrânia. Houve uma manifestação que foi em apoio ao governo, e essa manifestação imediatamente foi taxada como um esquema da Rússia. E os participantes, muitos vindos da província, foram apresentados como pessoas ignorantes, enfim, de pouca instrução, sem esse refinamento urbano e das classes altas da Geórgia", exemplifica o historiador sobre o atual momento vivido no país.

Makio reafirma que a Geórgia vive uma situação política polarizada, com uma parcela da população que olha para o passado com um olhar crítico e apoia uma aproximação maior com o Ocidente, enquanto há aqueles que olham para o passado de uma forma mais nostálgica, "entendendo que o legado disso é uma política de um Estado e uma sociedade que têm muito mais a ganhar com uma cooperação com parceiros mais históricos e mais próximos pensando cultural e politicamente".

Embora a situação de polarização seja evidente, Inhaez aposta que a influência russa tem ganhado espaço no governo georgiano, que tenta fazer esse equilíbrio nas relações com o Ocidente e com o Oriente.

"Eu realmente não creio que o Ocidente consiga se impor com muita facilidade, mesmo se valendo da crise instaurada e das eleições que observaremos nas próximas semanas", avalia o historiador.

Além disso, a participação da Rússia na economia georgiana é imprescindível. Conforme o historiador, a Geórgia tem uma economia agrícola e é uma importante produtora de vinhos, e, historicamente, "90% dos vinhos são consumidos pela Rússia".

Outra fonte de renda importante é o turismo. Nesse setor, afirma Ianhez, a participação russa é de "80% visitando o país vizinho".

A professora da Unesp, Danielle Makio, destaca ainda que o país também tem se aproximado da China, o que pende ainda mais para uma relação mais amistosa com a Rússia, grande parceira de Pequim.

"Esse desejo de uma cooperação mais próxima com a China também acaba fazendo com que haja uma certa reorientação de relações internacionais, pensando um pouco mais nesse entorno eurasiático russo e da China, e não tanto em uma relação exclusiva com o Ocidente ou que coloque o Ocidente como prioridade cabal", analisa.

 

¨      'Questão política': Brasil sedia reunião de países sul-americanos com pesquisas na Antártica

O Brasil sediou neste mês a 35ª Reunião de Administradores de Programas Antárticos Latino-Americanos (RAPAL), grupo de oito países do continente sul-americano que têm interesse nas pesquisas científicas realizadas no continente frio.

Composta por Argentina, Chile, Uruguai, Brasil, Peru e Equador, nações que mantêm missões científicas no local, a RAPAL também agregou a Colômbia e a Venezuela como observadores.

O grupo se reúne anualmente desde 1990 nas capitais dos países-membros, onde discute e aprova medidas para fortalecer a cooperação logística e científica, incrementar a defesa do meio ambiente e consolidar a presença dos países latino-americanos no Sistema do Tratado da Antártica.

À reportagem, Jefferson Cardia Simões, professor titular de geografia polar e glaciologia da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS) e delegado nacional do Comitê Científico de Pesquisa Antártica (SCAR, na sigla em inglês), explica que as questões relacionadas à Antártica são bem divididas em diferentes esferas.

Dessa forma, cabe a entidades como a RAPAL gerir questões logísticas quanto ao uso de estações, de portos e ao transporte aéreo e naval dos seus países-membros. Já as questões científicas ficam a cargo da SCAR, onde ocorrem as colaborações dos programas.

Por fim, as questões políticas quanto ao território se dão no âmbito do Sistema Tratado Antártico, conjunto de regulamentos e fóruns que define tanto regras de uso do continente quanto o estado das relações internacionais do continente.

<><> Diplomacia pela ciência

A confusão entre esses diferentes âmbitos de atuação ocorre pois, especialmente no caso da Antártica, a diplomacia se dá por meio da ciência.

Ao todo, sete Estados reivindicam parte do território antártico, lembra à Sputnik Brasil a doutoranda do Instituto de Estudos Estratégicos da Universidade Federal Fluminense (UFF) e do Centro para Estudos da América Latina e Caribe (LACS) da Southwest University of Science and Technology Gabriele Hernandez.

"Aqui na América do Sul a gente tem dois Estados que reivindicam o continente: a Argentina e o Chile", diz Hernandez, que também é pesquisadora na Escola de Guerra Naval (EGN). Os demais são Austrália, França, Noruega, Nova Zelândia e Reino Unido.

Todas essas sete reivindicações foram feitas antes do Tratado Antártico e, ainda que tenham assinado o documento, esses países ainda mantêm suas contestações.

Oficialmente, explica Hernandez, "a Antártica não tem dono, não pertence a nenhum país, mas os países que mantêm estações de pesquisa dispõem de maior autonomia e um certo nível de governabilidade nos territórios onde estão essas estações científicas".

Ou seja, manter uma estação de pesquisa no continente gelado, além de ser uma iniciativa científica, "é uma questão política". Países que mantêm bases por lá têm direito a voto e a veto nas reuniões do Tratado Antártico.

"Então você tem voz ativa na tomada de decisão em relação a tudo o que é feito no continente."

Hoje, 29 países têm direito a voto, e o Brasil é um deles. Para Cardia, isso se deve ao Programa Antártico Brasileiro (Proantar), que há 42 anos defende o direito do Estado brasileiro de participar nas decisões sobre o futuro dessa região do planeta, que inclui o continente de 13,8 milhões de km² e o oceano Austral.

A Antártica tem uma profunda importância para o Brasil. Poucos percebem, mas "para o clima brasileiro, a Antártica é tão importante quanto a Amazônia", diz o cientista. "É do embate dessas massas de ar que saem dos trópicos e com as massas de ar que saem da Antártica que nós vamos regular o sistema climático aqui no Hemisfério Sul."

Sendo assim, é de extrema importância que o Brasil e o resto da América do Sul tenham não só um programa substancial de investigação científica, mas consolidem sua presença no local. "A América do Sul é o continente mais próximo da Antártica e, certamente, o mais afetado pelas condições ambientais da Antártica."

Além disso, defende Cardia, a Antártica faz parte do entorno estratégico brasileiro, sendo uma região de atenção da Política Nacional de Defesa (PND) e da Estratégia Nacional de Defesa (END).

"Isso é o motivo político de estar presente na Antártica."

Nesse sentido, os países sul-americanos parecem estar trabalhando bem. A Argentina e o Chile possuem, respectivamente, 14 e 13 estações científicas no continente. Afinal, eles são os dois Estados com a maior proximidade geográfica com a Antártica.

Dessa forma, as reuniões da RAPAL, embora muito focadas em questões administrativas e logísticas, se configuram também como forma de a América do Sul conceber e estreitar um ponto de vista próprio para o continente.

 

¨      Em meio a crise na segurança pública, Equador recorre aos EUA e assina acordo de US$ 25 milhões

Em meio à crise de segurança pública que o Equador enfrenta nos últimos anos, a ministra das Relações Exteriores do país, Gabriela Sommerfeld, e o embaixador norte-americano, Arthur Brown, assinaram um acordo na área que vai custar US$ 25 milhões (R$ 139,1 milhões).

"Nosso compromisso com a segurança dos equatorianos se concretiza no acordo de cooperação que permitirá um investimento de US$ 25 milhões", disse o diplomata norte-americano durante a cerimônia de assinatura do acordo.

O acordo tem como objetivo fornecer assistência técnica, fortalecimento de capacidades e equipamentos para beneficiar as instituições de segurança e justiça, por meio da implementação de projetos estratégicos nos próximos anos.

A chancelaria equatoriana anunciou na rede social X que Brown já entregou US$ 10 milhões (R$ 55,1 milhões) adicionais "para apoiar o Equador em segurança cidadã, [e] combate ao crime organizado transnacional […]".

A ministra equatoriana destacou que o apoio da comunidade internacional é crucial para erradicar a violência e a insegurança. Brown adiantou que, nas próximas semanas, sua equipe se reunirá com instituições governamentais do Equador para coordenar planos e projetos.

"Estamos convencidos de que os desafios de segurança precisam de respostas abrangentes, nas quais o Estado, a sociedade civil, o setor privado e a cooperação internacional trabalhem de maneira coordenada", afirmou.

No final de julho, a ministra do Interior, Mónica Palencia, informou que até então em 2024, os homicídios haviam caído 19% em comparação com o mesmo período de 2023.

Apesar disso, na última quinta-feira (12) foi assassinada a diretora interina da Penitenciária do Litoral, localizada na cidade equatoriana de Guayaquil, Daniela Icaza, durante uma viagem. O crime ocorreu nove dias depois de o diretor da prisão da província de Sucumbíos, Álex Guevara, ter sido também assassinado, em um atentado armado.

Até 30 de setembro está em vigor um estado de exceção e toque de recolher em 7 das 24 províncias do país, devido à persistência de episódios violentos.

¨      Peru decreta estado de emergência na região amazônica por conta da crise hídrica

O Governo do Peru decretou nesta sexta-feira (13) estado de emergência por 60 dias na região amazônica do país por conta da atual crise hídrica. Conforme Lima, há registros de quedas sem precedentes nos volumes dos rios, incluindo o Amazonas.

"Declaração do estado de emergência no departamento de Loreto por perigo iminente devido ao déficit hídrico, pelo prazo de sessenta (60) dias corridos, para a execução de medidas e ações excepcionais, imediatas e necessárias, para a redução do muito alto risco existente, bem como para resposta e reabilitação correspondentes", pontua o decreto.

Há semanas, o Serviço Nacional de Meteorologia e Hidrologia do Peru (Senamhi) alerta sobre a diminuição acelerada do volume nos principais rios da região, o que afeta o transporte e o comércio fluvial, prejudica os ecossistemas e dificulta o uso e consumo de água.

De acordo com dados do Senamhi, o aumento das temperaturas e dos raios ultravioletas agravaram a seca, com rios como o Ucayali e o Amazonas diminuindo o volume a uma taxa diária de 10 centímetros, alcançando mínimos históricos.

Além disso, a Floresta Amazônica peruana atingiu novos recordes históricos de calor, com valores próximos a 40 °C. Há expectativa de chuvas, com a queda repentina nos termômetros, porém não devem aliviar a crise.

"Precisamos de chuvas consecutivas nas cabeceiras das bacias e na cordilheira. Estamos com déficit de chuvas", respondeu o Senamhi à Sputnik.

O Ministério do Ambiente também confirmou que os rios Amazonas, Marañón, Napo, Nanay e Huallaga permanecem em "nível vermelho", ou seja, muito baixos para a navegação e outras atividades.

O perigo de encalhe ameaça o comércio na região, onde os produtos de primeira necessidade estão se esgotando, sem que os agricultores e produtores consigam abastecer os mercados, resultando no aumento dos preços e no desabastecimento. A temporada de chuvas na Amazônia peruana costuma começar só em dezembro.

 

Fonte: Sputnik Brasil

 

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