Depressão em idosos: veja como identificar
e ajudar no tratamento
A depressão atinge
10,2% das pessoas com 18 anos ou mais de idade, segundo o levantamento mais
recente realizado pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE).
Dessas, a faixa etária com maior prevalência do diagnóstico é os idosos entre
60 e 64 anos (13,2%). Entre 2013 e 2019, período em que os dados foram
analisados, a doença cresceu 48% entre idosos de 75 anos ou mais.
Segundo a psicóloga
Larissa Fonseca, especialista clínica em ansiedade, crise de pânico, burnout e
sono, a alta incidência de depressão em idosos acontece devido a uma combinação
de fatores. “Os idosos se tornam mais solitários, seja pela perda de pessoas
próximas e amigos, pela diminuição de atividades, até, inclusive, dificuldade
em relação à mobilidade, limitando-o fisicamente, e a diminuição de propósito
de vida”, explica.
Além disso, nessa fase
também ocorre a diminuição na produção de neurotransmissores como serotonina e
dopamina, responsáveis por promover a sensação de bem-estar, de motivação e
pela regulação de emoções. “Isso aliado à vulnerabilidade física e mental, também
contribui para o aumento dos casos de depressão nessa faixa etária”, completa.
Para completar, o uso
de certos medicamentos, comuns durante o envelhecimento, também podem
contribuir para o desenvolvimento dos sintomas da depressão. “Muitos
medicamentos, como aqueles usados para tratar hipertensão ou problemas
neurológicos, podem ter efeitos colaterais que agravam ou desencadeiam sintomas
depressivos. E aqui podemos pensar inclusive em qualquer faixa etária que se
encontre um sujeito sistemicamente comprometido, por exemplo”, afirma Marcelle
Alfinito, psicóloga especialista em saúde mental.
Doenças crônicas, como
pressão alta, diabetes, dislipidemia, fibromialgia também podem estar
associadas a um risco maior de depressão na terceira idade, de acordo com Tania
Ferraz Alves, coordenadora do departamento de Psicogeriatria da Associação
Brasileira de Psiquiatria (ABP).
“É importante realizar
o diagnóstico precoce e tratar com medicação. Quando o remédio tem efeitos no
sistema nervoso central, é possível reavaliar o uso. Mas o importante é tratar
as doenças crônicas para que se possa ter uma estabilidade”, afirma.
• Como a depressão costuma se manifestar
na terceira idade?
A depressão em idosos
pode ser difícil de ser identificada, pois os sintomas costumam ser diferentes
da doença em pessoas mais jovens, de acordo com o Instituto Nacional de
Envelhecimento (NIA, na sigla em inglês), dos Estados Unidos. Em alguns casos,
a tristeza não é o principal sintoma da depressão. Além disso, idosos podem não
estar dispostos a falar sobre seus sentimentos com outras pessoas, dificultando
a identificação dos sinais de alerta.
Segundo as
especialistas consultadas pela CNN, os principais sintomas de depressão na
terceira idade incluem:
• Queixas somáticas, como dores físicas
sem causa aparente, fadiga e insônia;
• Apatia;
• Irritabilidade;
• Isolamento social;
• Mudanças de comportamento;
• Alterações no apetite;
• Dificuldade de atenção;
• Esquecimento.
“Muitas vezes, esses
sintomas são atribuídos ao envelhecimento ou a outras condições físicas, o que
pode atrasar o diagnóstico e as intervenções necessárias”, alerta Alfinito.
Outro ponto importante
a ser destacado é que podem existir dois tipos diferentes de depressão na
terceira idade. O primeiro é a depressão de início tardio, que se caracteriza
por um quadro depressivo em uma pessoa que nunca teve a doença anteriormente.
“Nesses casos,
geralmente, a pessoa tem menos um componente genético [como fator de risco para
desenvolver a depressão] e mais os chamados ‘componentes psicossociais’, que
seriam aspectos relacionados a mudanças de vida, autonomia, doenças clínicas,
isolamento, falta de suporte social, limitações físicas e perdas funcionais,
luto, separação, aposentadoria, além de alterações cerebrais”, explica Alves.
O outro tipo de
depressão comum na terceira idade é aquela que acontece em uma pessoa que,
durante sua vida adulta, já teve um quadro depressivo e, durante a idade idosa,
apresenta um novo episódio de depressão. “Geralmente, nesses casos, o
componente genético e familiar é maior, e os aspectos psicossociais favorecem a
recorrência do quadro”, acrescenta.
• Como lidar e tratar a depressão em
idosos?
A abordagem da
depressão em idosos deve ser feita com cuidado e respeito, principalmente nos
casos em que há uma maior resistência ao tratamento. “Idosos que resistem ao
tratamento ou à busca de ajuda podem ser mais difíceis de tratar,
principalmente devido ao estigma associado à saúde mental. É importante abordar
o tema com empatia e paciência, explicando que a depressão é uma condição
médica tratável”, orienta Alfinito.
Nesse sentido,
envolver profissionais de saúde, como médicos de confiança que já acompanham o
idoso, pode ajudar, além de incentivar a participação em atividades sociais,
práticas de autocuidado e oferecer suporte emocional contínuo.
“O suporte familiar é
fundamental, oferecendo acolhimento e encorajando a busca por tratamento. A
inserção em atividades sociais como aulas diversas e a prática de exercícios
físicos também são fundamentais para a recuperação”, acrescenta Fonseca.
Os profissionais de
saúde também devem estar atentos aos sinais de alerta. Isso porque muitos
idosos não reconhecem seus sintomas como sinais da depressão e, por isso, não
procuram psiquiatras ou psicólogos para tratá-los. “Eles acabam indo à UBS
[Unidade Básica de Saúde] ou ao médico de família com queixa sobre o sono,
sobre a falta de apetite, sobre dores, cansaço e fadiga, sintomas que, para
eles, têm explicação médica”, exemplifica Alves.
Nesse caso, é
importante que o profissional converse sobre a possibilidade de ser um quadro
de depressão, na visão da psiquiatra. “Hoje, o clínico geral e o médico da
atenção primária são treinados a tratar quadros depressivos leves e moderados
com uso de medicações seguras. O geriatra também tem experiência nisso e,
muitas vezes, encaminha o paciente com quadro mais resistente ao tratamento com
psiquiatra depois de uma primeira abordagem”, acrescenta a especialista.
De maneira geral, o
tratamento da depressão na terceira idade pode ser feito por meio da
psicoterapia, como a terapia cognitivo-comportamental (TCC) e terapia
interpessoal (IPT), e de medicamentos para depressão, que podem equilibrar os
hormônios que afetam o humor, como a serotonina.
• Taxa de suicídio é maior entre idosos
Segundo o Ministério
da Saúde, a taxa de brasileiros acima dos 60 anos que tiraram a própria vida
saltou de 6,8 a cada 100 mil habitantes, em 2010, para 7,8 em 2019. A análise
da pasta é baseada em dados registrados no Sistema de Informações sobre Mortalidade
(SIM) e no Sistema de Informação de Agravos de Notificação (Sinan).
Na visão de Fonseca,
isso pode estar relacionado ao “medo da dependência física”. “Além da sensação
de ser um fardo para os familiares, transformando o suicídio em uma alternativa
para alívio do sofrimento. Além disso, a presença de doenças crônicas debilitantes
e o aumento da solidão contribuem para o agravamento da depressão e,
consequentemente, para o aumento do risco de suicídio”, afirma.
Além disso, os dados
mostram que a taxa de suicídio é maior entre homens idosos. “Entre eles, temos
alguns fatores de risco para o transtorno psiquiátrico, como a dependência
química, o uso de álcool, mudanças na vida, como aposentadoria, além de doenças
crônicas e, até mesmo, câncer, que é uma doença que representa uma dificuldade
para lidar”, acrescenta Alves.
• Como prevenir a depressão na terceira
idade?
A depressão na
terceira idade pode ser prevenida por meio de medidas que funcionam para
preservar a saúde física e mental. É o caso da prática de atividades físicas,
alimentação equilibrada e atividades que trabalhem a cognição, como jogos,
palavras-cruzadas, aprender uma nova língua ou a tocar um instrumento musical,
entre outras.
Outra ferramenta
importante, citada por Alfinito, é a psicoeducação sobre o diagnóstico da
depressão e sobre cognição. “Saber como os pensamentos influenciam na depressão
é algo que considero fundamental no manejo clínico. A nossa interpretação sobre
uma situação vivida influencia diretamente no que sentimos, em como agimos e em
nossas reações corporais”, explica a psicóloga.
Além disso, o próprio
tratamento da depressão em quem já teve ou tem a doença é uma forma de prevenir
novos quadros depressivos no futuro. “Quando você faz a manutenção do
tratamento, você acaba diminuindo a chance de uma recorrência”, afirma Alves.
• Pesquisa aponta que 82% das mulheres na
menopausa relatam depressão
Fase marcada por
alterações significativas na vida de uma mulher, a menopausa chega acompanhada
de ondas de calor, insônia e, para 82% das mulheres, de depressão e ansiedade,
de acordo com um levantamento realizado pela plataforma Plenapausa.
Entre agosto de 2021 e
junho de 2024, o site disponibilizou o “Teste da Menopausa”, que colheu
respostas de mais de 17 mil mulheres de todo o Brasil.
Com uma média de idade
de 47 anos, as entrevistadas relataram sofrer de depressão e/ou ansiedade,
identificados logo após a menopausa. Mais do que as alterações hormonais, a
pesquisa mostrou que esta fase da vida das mulheres também possui um grande
impacto na saúde mental.
“A menopausa envolve
mudanças hormonais intensas que afetam não só o corpo, mas também o cérebro. A
falta de conhecimento e suporte agrava o sofrimento psicológico”, afirma Márcia
Cunha, CEO e co-fundadora da Plenapausa — primeira femtech do Brasil com foco
na saúde da mulher a partir da menopausa.
“É preciso quebrar o
silêncio em torno da menopausa e mostrar que buscar apoio psicológico é um
passo essencial para cuidar da saúde mental”, ressalta, reforçando a
importância de campanhas como a do Setembro Amarelo, que abrem espaço para o
diálogo de temas como esse.
Fonte: CNN Brasil
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