segunda-feira, 30 de setembro de 2024

Brasileiros procuram empréstimos para financiar apostas na esperança de obter auxílio financeiro

Nos últimos anos, o mercado de apostas online no Brasil tem experimentado um crescimento explosivo. Cerca de 15% da população brasileira joga ou já jogou nas famosas bets. Só no ano passado, os brasileiros gastaram mais de 50 bilhões de reais em apostas online, segundo dados do Banco Central – este valor corresponde a mais do que o balanço das exportações brasileiras de carne bovina do ano inteiro, que movimentou cerca de 45 bilhões, sendo o Brasil um dos maiores exportadores do alimento no mundo.

Dados inéditos levantados pela klavi – empresa entre as pioneiras do Brasil na coleta e inteligência de dados provenientes de contas bancárias através de compartilhamento voluntário de dados –, revelam um cenário preocupante: 29% das pessoas que buscaram empréstimos nos últimos 12 meses fizeram ao menos um depósito em casas de apostas durante o mesmo período. O valor médio gasto em apostas por essas pessoas foi de R$1.113,09, mas há casos extremos, com 5% dos apostadores gastando mais de R$4 mil reais. Em situações ainda mais alarmantes, alguns indivíduos chegaram a fazer depósitos superiores a R$50 mil em apostas antes de recorrerem a empréstimos.

Quanto aos valores dos empréstimos solicitados por essas pessoas, a klavi revela que a maioria busca quantias relativamente baixas, variando entre R$500 e R$4.000 reais. Esses números indicam uma relação preocupante entre o comportamento de apostas e a necessidade de crédito, sugerindo que, para muitos, o custo do jogo pode estar diretamente relacionado à busca por auxílio financeiro.

Nesse sentido, Bruno Moura, Diretor de Negócios e Marketing da klavi, ressalta que este cenário é um cenário preocupante. "Isso é um reflexo de uma crise financeira crescente. Esse comportamento não apenas coloca em risco a saúde financeira dos indivíduos, mas também evidencia a necessidade urgente de uma abordagem mais proativa e responsável por parte das instituições financeiras e regulatórias", pondera.

Segundo o Datafolha, o gasto mensal dos apostadores é de 263 reais. Além do mais, 17% dos que recebem Bolsa Família apostam. Destes, um terço gasta mais de 100 reais por mês com apostas esportivas. Se olharmos para o mundo, o Brasil só perde para os Estados Unidos e Reino Unido em volume de apostas, superando Índia e Itália. De todos os apostadores, 49% pertencem à classe C e 37% à classe B. Deles, 61% são homens e 39% mulheres, segundo o instituto.

"Esse cenário é particularmente inquietante quando consideramos que muitos dos apostadores são beneficiários de programas sociais, como o Bolsa Família. Isso indica que, para alguns, a promessa de um grande prêmio está levando a decisões financeiras precipitadas e arriscadas, que podem ter consequências devastadoras no longo prazo", ressalta Bruno Moura.

<><> O perigo por trás das apostas: endividamento e vício

Pesquisa realizada pela Hibou Pesquisa e Insights revela que 2/3 dos entrevistados afirmaram participar de jogos de apostas, sendo a maioria preferindo loterias (47%), seguido de apostas online (11%) e jogos como o "tigrinho" (8%) ainda sendo menos populares. Curiosamente, 2/3 dos participantes jogam com o objetivo principal de ganhar dinheiro, e metade gasta entre 50 e 100 reais mensais, indicando um hábito de apostas relativamente moderado. Além disso, 48% dos jogadores relataram ter ganhos em modalidades como loteria e bingo, com valores sacados que variam entre 100 e 1.000 reais.

No entanto, a pesquisa da Hibou também aponta preocupações significativas. Embora 91% dos apostadores nunca tenham enfrentado problemas de segurança ou fraude, 16% admitiram ter sofrido dificuldades financeiras devido às apostas, a ponto de venderem bens ou pedirem dinheiro emprestado. Além disso, 2/3 dos entrevistados conhecem alguém que já se endividou por causa dos jogos. Essa realidade reforça a percepção de que, para os não jogadores, o vício é uma preocupação real, com 88% acreditando que jogar vicia, especialmente em jogos como o "tigrinho", considerado o mais perigoso e que, segundo 56% dos entrevistados, deveria ser proibido.

"É preciso urgentemente chamar a atenção para a necessidade de uma regulamentação mais rigorosa e de uma maior conscientização sobre os riscos associados às apostas. É essencial que o setor de crédito e as instituições financeiras estejam cientes dessa dinâmica para que possam tomar medidas que protejam os consumidores", reflete Bruno Moura.

Ele explica, ainda, que, nesse contexto, o Open Finance pode desempenhar um papel transformador. Com o compartilhamento seguro e controlado de dados financeiros, o Open Finance oferece uma oportunidade única para uma compreensão mais profunda do perfil financeiro dos consumidores e isso pode ajudar as instituições financeiras a identificar comportamentos de risco e fornecer soluções mais eficazes e personalizadas. "Por exemplo, ao ter acesso a um panorama mais detalhado da situação financeira dos clientes, os credores podem criar mecanismos de proteção e educação financeira, ajudando a evitar que os consumidores caiam em ciclos de endividamento associados ao jogo", finaliza.

•        Sobre a klavi

A klavi é uma das empresas pioneiras do Brasil na coleta e inteligência de dados provenientes de contas bancárias através de compartilhamento voluntário de dados, com soluções que incluem agregação de dados, modelagem de scores e informações de crédito ou estilo de vida. A empresa já ajudou mais de 20 milhões de brasileiros a terem acesso a serviços de empresas distribuídas entre diversos setores, como o financeiro, varejo e telecomunicações.

 

•        Omissão de Bolsonaro criou 'pandemia da aposta' no Brasil; entenda

O Brasil vive hoje uma "pandemia nacional" das apostas, descreveu o ministro da Fazenda, Fernando Haddad (PT). Segundo ele, a atividade das chamadas bets cresceu rapidamente e sem controle no país nos últimos cinco anos. O vício nos jogos e os prejuízos que isso têm causados às famílias e a toda a economia viraram um "problema social".

Esse problema está relacionado principalmente à omissão do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL). Em seu governo, o mercado de apostas no Brasil deveria ter sido regulado, com fixação de regras e limites para a atividade. Bolsonaro, no entanto, não agiu para isso. Sem a supervisão governamental, as bets cresceram vertiginosamente.

Nos últimos 12 meses, embolsaram cerca de R$ 68,2 bilhões. Comprometeram 0,62% do Produto Interno Bruto (PIB) brasileiro, 0,95% do consumo total, 1,92% de toda a massa salarial brasileira e 1,38% do orçamento familiar das classes D e E, que abrangem beneficiários de programas sociais federais.

Não deveria ter sido assim.

Em 2018, ainda durante o governo de Michel Temer (MDB), entrou em vigor a lei 13.756, que liberou as apostas esportivas no Brasil – algo que, até então, era ilegal. Tal lei era uma antiga MP assinada por Temer buscando destinar recursos de loterias para o esporte nacional. Foi modificada no Congresso e acabou legalizando as bets.

A mesma lei estabeleceu que o governo tinha dois anos para regulamentar artigos da legislação para regular o mercado de apostas. O prazo poderia ser prorrogado uma única vez, por mais dois anos. Como a lei entrou em vigor em dezembro de 2018, ao final, o governo empossado tinha até dezembro de 2022 para regulamentar as apostas.

Acontece que, depois de Temer, assumiu Bolsonaro. E, em 2022, ele estava completamente determinado em se reeleger – o que não aconteceu.

A omissão de Bolsonaro, inclusive, está registrada num estudo da consultoria Strategy& sobre o mercado de apostas no Brasil. "O governo federal não cumpriu o prazo para regulamentar as apostas esportivas de cota fixa. Com as eleições presidenciais no período, o timing se mostrou crítico. Com isso, a disposição para aprovar o regulamento diminuiu substancialmente", descreveu a empresa.

"A lei previa que durante o governo do Bolsonaro o assunto tinha que ser regulamentado. Bolsonaro não fez isso", ratificou Haddad, criticando o antigo presidente. "O governo Bolsonaro simplesmente sentou em cima do problema como se ele não existisse."

<><> Nova realidade

As falas do ministro vieram nesta sexta-feira (27), em um pronunciamento sobre as apostas no Brasil. Além de criticar Bolsonaro, lembrou que o presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) tomou ações sobre o tema assim que tomou posse.

"No primeiro semestre do atual governo, nós mandamos uma Medida Provisória para o Congresso Nacional regulamentar e pra botar ordem no caos que se instalou no país com essa verdadeira pandemia. A medida provisória infelizmente não foi votada e caducou", afirmou Haddad, referindo-se à MP 1.1182/2023, editada em julho.

Haddad também disse que a regulamentação das apostas veio só seis meses depois, por meio da Lei 14.790/2023. "Aproveitamos um outro projeto de lei e, no final do ano passado, conseguimos incluir nele o texto da MP que havia caducado", afirmou, fazendo uma ressalva.

"Inseriram no projeto de lei um dispositivo dizendo que a regulamentação só passaria a valer seis meses depois de publicado", disse.

<><> Regulamentação ativa

A regulamentação, agora em vigor, prevê o cadastramento de empresas para que elas sejam autorizadas a operar no Brasil. Para se cadastrar, as companhias precisam passar por um crivo do Ministério da Fazenda e pagar R$ 30 milhões por uma licença de cinco anos – algo que entraria como arrecadação para os cofres da União.

Empresas autorizadas a operar no Brasil precisam recolher em forma de impostos 12% de tudo o que recebem em apostas ao governo. Já os apostadores contemplados vão ter de pagar 15% de imposto de renda sobre seus prêmios.

Além da questão tributária, a regulamentação das bets prevê restrições de publicidade e obrigatoriedade para desestímulo às apostas. Menores de idade, inadimplentes e quem pode influenciar nos resultados dos jogos estarão proibidos de jogar.

"O presidente já pediu providências de todos os ministérios envolvidos: Fazenda, Saúde, Desenvolvimento Social, Esporte. Tudo para coibir a lavagem de dinheiro, o endividamento, o banimento das empresas não credenciadas do espaço brasileiro. Chegou a hora de colocar ordem nisso e proteger a família brasileira", acrescentou Haddad.

Neste mês, o governo publicou uma portaria prevendo a suspensão do funcionamento dos sites desse tipo de jogo que não estiverem devidamente regularizados no país a partir do dia 11 de outubro. Empresas de jogos que operarem no Brasil sem autorização podem receber multas de até R$ 2 bilhões.

 

•        Gusttavo, Lira e você. Por Paulo Motoryn

Não é só em São Paulo que a eleição envolve relações controversas com casas de apostas, como você viu aqui na última edição.

A história que vou contar essa semana é de Maceió, onde o prefeito JHC, do PL, apoiado pelo presidente da Câmara dos Deputados, Arthur Lira, do PP de Alagoas, caminha para uma reeleição tranquila.

Mas a calmaria do pleito na capital alagoana teve um abalo depois que o cantor sertanejo Gusttavo Lima teve a prisão decretada em um caso que envolve a empresa de apostas esportivas online Vai de Bet.

A decisão foi revogada no dia seguinte por um desembargador do Tribunal de Justiça de Pernambuco – mas o calvário do cantor pode estar só começando.

O caso teve implicações em Maceió porque a imprensa local, muito oportunamente, relembrou o fato de que a Vai de Bet foi patrocinadora de eventos como o São João Massayó e o Verão Massayó, organizados pela administração municipal.

E que, até o momento, a prefeitura não publicou os contratos ou os valores envolvidos.

Uma das atrações do São João, com cachê de R$ 1,2 milhão, foi… Sim, Gusttavo Lima. Durante o show, o cantor parou a música e levou uma roleta com o logo da Vai de Bet, sorteando prêmios de R$ 1 mil a R$ 10 mil para fãs.

É claro que eu fui checar no Portal da Transparência e no Diário Oficial se realmente não havia informação sobre as ações publicitárias. Não há menção à Vai de Bet ou a algum de seus CNPJs associados.

Em nota, a prefeitura de Maceió diz que os acordos estão “amparados na legislação municipal”, mas não informa qual o contrato ou os valores envolvidos.

O tema tem causado impacto negativo para JHC, ainda que seja difícil que altere o curso da eleição por lá.

Mas essa é uma informação que talvez valha a atenção da Polícia Federal. Afinal, a Operação Integration apura justamente se havia participação direta de Gusttavo Lima nas atividades da Vai de Bet, da qual teria adquirido 25%.

Se o contrato de patrocínio realmente não existir, e o cantor tiver recebido ou intermediado os pagamentos, a PF pode presumir uma presença ainda mais ativa de Gusttavo Lima nos negócios da Vai de Bet...

Quem disse que a eleição em Maceió não pode trazer emoção para o povo brasileiro?

 

•        Haddad critica atraso em regulamentação de bets

O ministro da Fazenda, Fernando Haddad, se manifestou hoje (27) sobre as bets, os jogos de apostas online. Depois do presidente Luiz Inácio Lula da Silva ter defendido que o governo federal proponha medidas de controle sobre apostas esportivas no país e que restrinja o uso do cartão do Bolsa Família em apostas, o ministro da Fazenda defendeu que “chegou a hora de colocar a ordem nisso e proteger a família brasileira”.

Em áudio enviado por sua assessoria de imprensa a jornalistas no final da manhã de hoje (27), Haddad disse que há um atraso na regulamentação das bets, o que vem de governos anteriores. Segundo o ministro, o atual governo tentou regulamentar as casas de apostas no primeiro semestre de 2023 por meio de uma medida provisória, mas o documento “caducou” e não foi votado pelo Congresso Nacional.

Agora, disse, o presidente Lula pediu providências aos seus ministros para que ocorra essa regulamentação.

“O tempo agora chegou. O presidente Lula fez todo o possível para colocar ordem nisso. E agora ele está munido de todos os instrumentos necessários pra regulamentar esse assunto, que é muito delicado pra família brasileira. O presidente já pediu providências de todos os ministérios envolvidos, Fazenda, Saúde, Desenvolvimento Social e Esporte”, disse.

Segundo Haddad, a regulamentação das bets era um tema que já deveria ter sido discutido no governo do ex-presidente JairBolsonaro.

“As bets foram legalizadas no final do governo Temer e a lei previa que o Executivo teria dois anos para regulamentá-la, prorrogáveis por mais dois. Ou seja, a lei previa que durante o governo do ex-presidente Jair Bolsonaro o assunto tinha que ser regulamentado. Mas Bolsonaro não fez isso”, ressaltou.

“Infelizmente isso não aconteceu no governo anterior. Infelizmente houve um descaso com esse assunto. E agora eu posso assegurar que o Executivo do Brasil tem em suas mãos os instrumentos necessários pra regulamentar e coibir os abusos que nós estamos verificando na nossa sociedade. Fique certo de que o governo está atento e, apesar desse enorme atraso e desse descaso, chegou a hora de colocar a ordem nisso e proteger a família brasileira”, reforçou Haddad.

De acordo com o ministro, a regulamentação proposta pelo governo prevê a coibição da lavagem de dinheiro e do endividamento das famílias por meio de apostas. “Também será preciso fazer um acompanhamento das famílias de baixa renda e dos adultos que estejam em condição de dependência.”

<><> Grupo de trabalho

O Ministério do Desenvolvimento e Assistência Social, Família e Combate à Fome (MDS) anunciou nesta sexta-feira (27) a criação de um Grupo de Trabalho para analisar o uso de recursos do cartão Bolsa Família com apostas online (bets).

O grupo vai funcionar em parceria com a Rede Federal de Fiscalização do Bolsa Família e Cadastro Único com objetivo de apresentar uma proposta, até o dia 2 de outubro, de restrição ao desvirtuamento do propósito do programa. Ministério da Fazenda, Ministério da Saúde e Casa Civil também vão trabalhar na ação de forma integrada.

 

Fonte: Nr7.agencia/The Intercept/Agencia Brasil

 

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