quarta-feira, 18 de setembro de 2024

Aquiles Lins: ‘Cadeirada em Marçal é fruto da normalização da intolerância’

O que vimos no debate da TV Cultura com candidatos à Prefeitura de São Paulo foi mais uma demonstração do que pode acontecer quando o extremismo é normalizado. O apresentador José Luiz Datena (PSDB) agrediu o ex-coach de extrema direita Pablo Marçal (PRTB) com uma cadeira. A agressão se deu após Marçal aproveitar uma pergunta de Datena para provocá-lo sobre uma acusação de assédio sexual que foi arquivada pela Justiça, e em seguida questionar o adversário sobre quando desistiria da corrida, chamando Datena de "arregão". Não deu outra. Datena partiu para cima de Marçal com uma cadeira nas mãos e a desferiu sobre o ex-coach.

Datena foi expulso do debate e Marçal foi levado a um hospital. Em entrevista, o apresentador ressaltou que as alegações feitas por Marçal eram falsas e afetaram gravemente sua família, especialmente sua sogra, que faleceu após uma série de problemas de saúde que, segundo Datena, foram agravados pelos efeitos das acusações.

Pablo Marçal esperava por este desfecho após as seguidas provocações ao candidato do PSDB. Seu combustível eleitoral parece ter chegado ao teto. Segundo a pesquisa Datafolha, 44% dizem não votar de jeito nenhum em Marçal, é a maior rejeição. Em um histórico de fakeadas e tiro na orelha no universo da extrema direita, algo precisava ser feito.

Estas provocações e demais práticas de Pablo Marçal são incompatíveis com os princípios democráticos e com a preservação de um espaço público saudável, seguro e inclusivo. Ao promover a intolerância, a violência e a exclusão, o ex-coach milionário intoxica o ambiente que deveria servir para ouvir as propostas dos candidatos e mina o próprio alicerce da convivência pacífica.

Tudo isso acontece sob o olhar complacente da Justiça Eleitoral e sob a normalização dos veículos de comunicação, que legitimam as distorções do ambiente democrático promovidas por Pablo Marçal ao lhe conferir assento e espaço. Assim como foi feito com Jair Bolsonaro. Permitir que Pablo Marçal siga concorrendo à Prefeitura de São Paulo normaliza o absurdo e alarga o precedente perigoso para outras candidaturas similares já nas eleições gerais de 2026. Inclusive a do próprio Marçal. Este populismo digital da extrema direita está infeccionando gravemente a nossa já combalida democracia e precisa ser extirpado pelos mecanismos institucionais.

 

•        A vítima de Datena e LaMarçal! Por Arnóbio Rocha

A vítima dos ogros.

Ela estava lá quietinha, ouvindo atenta, noutras vezes, fazia cara de paisagem com os absurdos que diziam os candidatos e as candidatas, o nível era baixíssimo e cuidava de baixar mais ainda, desde a garota que veio dos extremos da vulnerabilidade para o ultraliberalismo, assim, sem nenhum estágio intermediário.

No entanto ela continuava lá, impassível.

O “prefeito” recandidato que continua sem saber porque herdou a prefeitura e nunca entendeu o seu papel, tenta mais 4 anos para descobrir, apela para o parceiro governador, que promete um dia conhecer a 23 de maio, quem sabe a 25, juntos com o inelegível, já tinham curtido o 7 de setembro da “anistia” ao golpistas.

Ela nem vermelha de vergonha ficou.

Então, não mais que de repente, daqueles momentos típicos de um domingo modorrento, de quem perdeu na rodada, ouviu a música do Fantástico e quis morrer de vez. Nesse exato instante, o maior dos boçais, o laMarçal, verte suas fezes pela boca, atacando um candidato do “queremos ibagens, produção”, provoca ferinamente.

Coitada, ela que suportava tudo aquilo calada, sem se pronunciar, nem mesmo o direito de ir ao banheiro, foi tomada de assalto, sem nem perceber direito, é objeto da fúria de um machão contra outro machinho canalha, covarde. Infelizmente quem realmente sentiu a agressão foi ela, a Cadeira.

Foi rápido, ela se espatifou no chão, ninguém a socorreu, ainda teve que ouvir o “francês” dos candidatos, o horror do público, o pavor dos e das demais candidatas, mas nenhum foi-lhe solidário (a), caída, machucada ali, naquele chão frio, humilhada por eles. Apenas um rapaz da produção lhe levou ao hospital, sabe que foi heroína por uns instantes.

O boletim médico diz que ela passa bem, só não sabe o estado psicológico dela, e da população.

 

•        Marçal cavou a cadeirada desde o primeiro dia de campanha. Por Bepe Damasco

Não se trata de justificar agressões físicas, que de per si são condenáveis em debates civilizados de ideias e propostas. O problema é que a presença de um delinquente como Pablo Marçal em qualquer campanha eleitoral significa rebaixar, degradar e avacalhar o debate, impedindo que a população seja esclarecida sobre projetos e programas.

Quem estica a corda do jogo sujo e ofende adversários como se estivesse em uma briga de arruaceiros assume o risco de levar um soco na cara ou uma cadeirada. Mas estou convencido de que Marçal fez tudo de cabeça pensada, tanto que elevou o tom dos ataques ao candidato Datena, que em debate anterior já tinha partido para cima dele, sendo contido pelo apresentador. Ou seja, ele percebeu que seria fácil fazer Datena explodir e perder o controle outra vez.

Caberia à mídia ter zelado por um mínimo de compostura e educação nos debates. Bataria seguir a lei e não convidar Marçal, uma vez que pela legislação eleitoral só candidatos de partidos com, no mínimo, cinco deputados federais devem ser obrigatoriamente chamados para os debates de rádio e TV, requisito não alcançado pelo nanico PRTB do candidato.

Bem, vá lá que seja razoável o argumento dos veículos de TV, segundo o qual o convite a Marçal é um sinal de respeito ao seu eleitorado, algo em torno de 20%, segundo as pesquisas. Contudo, desde a participação no primeiro debate, se não me engano na Rede Bandeirantes, ficou claro que o candidato é indigno de frequentar espaços voltados para a discussão política, cujo objetivo é justamente confrontar ideias.

Marçal, agora, repete Bolsonaro e faz do leito hospitalar um palanque eleitoral. De agredido que se mostrava inteiro depois da cadeirada, a ponto de querer continuar no debate, subitamente Marçal vivou paciente do Sírio e Libanês, com suspeita de "fraturas nas costelas", conforme sua assessoria.

Mas há uma pedra no seu caminho. Não há como fraudar os boletins médicos em uma unidade de saúde conceituada como o Sírio Libanês. Repare que não há boletim médico divulgado pelo hospital até o momento. E, se houver, duvido que confirme fraturas nas costelas. Basta ver a cena da cadeirada, para se ter certeza de que as costelas não foram atingidas.

Algo me diz que o tiro da vitimização vai sair pela culatra. As próximas pesquisas indicarão os possíveis impactos eleitorais do episódio. Algo me diz, porém, que para o tipo de eleitor que Marçal disputa não é mérito nenhum ser agredido fisicamente e pode estar pensando assim: "Ué, mas se dizia tão esperto e acabou levando uma cadeirada? Que malandro é esse?"

Ou a Justiça Eleitoral cassa a candidatura de Marçal, ou pode vir coisa pior por aí.

 

•        Marçal: a cadeirada e o abismo. Por Florestan Fernandes Jr

A cadeirada de Datena sobre Marçal durante o debate da TV Cultura na noite do domingo (16/09) é o ápice da desmoralização do sistema democrático no Brasil. Um processo de desmonte que teve início já no golpe jurídico/parlamentar contra a presidenta Dilma e que se estendeu e aprofundou durante quatro anos de escárnio do desgoverno Bolsonaro.

Depois dos atos terroristas do 8 de janeiro, achávamos que estávamos no subsolo da incivilidade. Mas não. O buraco é mais profundo.

O desmonte do Estado Democrático de Direito continua em marcha acelerada, comandado pela dupla Malafaia/Bolsonaro e agora encorpada pelos coach/influencers que ingressaram na política para cupinizá-la. 

O ex-presidente inelegível, impune nas dezenas de crimes que cometeu, articula diuturnamente os caminhos para instituir seu tão sonhado estado autocrático de extrema-direita no país.

Este ano, o processo de esculhambação do sistema eleitoral tem um novo capítulo e outro protagonista.

Como candidato a prefeito, Pablo Marçal está conseguindo mais do que atacar as urnas eletrônicas. Ele zomba da Justiça Eleitoral dia sim, e dia também.

A última é que o coach digital, que já deveria ter sido afastado do processo eleitoral, montou seu circo de horrores no centro de um debate de televisão que deveria discutir propostas para a maior cidade da América do Sul. A cena grotesca que domina todas as redes sociais desde a noite de ontem, só poderia ter sido protagonizada por personagens como Marçal e Datena. O fato, por si só, é desolador. Mas há algo ainda pior: virou piada, virou meme e fonte de diversão, numa incompreensão tristíssima que esse espetáculo atenta contra todos nós.

A cena de “telecatch”, todo o humor jocoso que vejo e a ausência de debate sério sobre as repercussões, me lembram de um dos contos dos Irmãos Grimm, O Flautista de Hamelin. Nele, os ratos, encantados com a melodia, seguiam festivos o Flautista, que os conduziria para fora da cidade (a polis, o ambiente de civilidade) e, ao final, os afogaria num rio caudaloso.

Esse pequeno recorte da fábula, trazido para o fato de hoje, nos mostra o perigo do entorpecimento coletivo, da incompreensão da gravidade do momento em que vivemos. Que o despertar nos venha, enquanto é possível.

 

•        Datena fez o certo pelas linhas tortas e Marçal deve ser cassado. Por Alex Solnik

Ao agredir Marçal com uma cadeira, depois de ser chamado de covarde várias vezes, Datena fez o que a Justiça Eleitoral já deveria ter feito há muito tempo: tirou Marçal do debate.

Datena levou cartão vermelho pelo que fez, e Marçal fugiu alegando ter sido machucado.

Datena fez o certo pelas linhas tortas, é claro, agora vai ser processado por agressão e possivelmente sairá fora da eleição.

Não pode haver mais debate com Marçal.

E a cassação de seu registro deve ser prioridade da Justiça Eleitoral, antes que haja um incidente mais grave que o de hoje.

 

Fonte: Brasil 247

 

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