Aquiles Lins: ‘Cadeirada em Marçal é fruto
da normalização da intolerância’
O que vimos no debate
da TV Cultura com candidatos à Prefeitura de São Paulo foi mais uma
demonstração do que pode acontecer quando o extremismo é normalizado. O
apresentador José Luiz Datena (PSDB) agrediu o ex-coach de extrema direita
Pablo Marçal (PRTB) com uma cadeira. A agressão se deu após Marçal aproveitar
uma pergunta de Datena para provocá-lo sobre uma acusação de assédio sexual que
foi arquivada pela Justiça, e em seguida questionar o adversário sobre quando
desistiria da corrida, chamando Datena de "arregão". Não deu outra.
Datena partiu para cima de Marçal com uma cadeira nas mãos e a desferiu sobre o
ex-coach.
Datena foi expulso do
debate e Marçal foi levado a um hospital. Em entrevista, o apresentador
ressaltou que as alegações feitas por Marçal eram falsas e afetaram gravemente
sua família, especialmente sua sogra, que faleceu após uma série de problemas
de saúde que, segundo Datena, foram agravados pelos efeitos das acusações.
Pablo Marçal esperava
por este desfecho após as seguidas provocações ao candidato do PSDB. Seu
combustível eleitoral parece ter chegado ao teto. Segundo a pesquisa Datafolha,
44% dizem não votar de jeito nenhum em Marçal, é a maior rejeição. Em um histórico
de fakeadas e tiro na orelha no universo da extrema direita, algo precisava ser
feito.
Estas provocações e
demais práticas de Pablo Marçal são incompatíveis com os princípios
democráticos e com a preservação de um espaço público saudável, seguro e
inclusivo. Ao promover a intolerância, a violência e a exclusão, o ex-coach
milionário intoxica o ambiente que deveria servir para ouvir as propostas dos
candidatos e mina o próprio alicerce da convivência pacífica.
Tudo isso acontece sob
o olhar complacente da Justiça Eleitoral e sob a normalização dos veículos de
comunicação, que legitimam as distorções do ambiente democrático promovidas por
Pablo Marçal ao lhe conferir assento e espaço. Assim como foi feito com Jair
Bolsonaro. Permitir que Pablo Marçal siga concorrendo à Prefeitura de São Paulo
normaliza o absurdo e alarga o precedente perigoso para outras candidaturas
similares já nas eleições gerais de 2026. Inclusive a do próprio Marçal. Este
populismo digital da extrema direita está infeccionando gravemente a nossa já
combalida democracia e precisa ser extirpado pelos mecanismos institucionais.
• A vítima de Datena e LaMarçal! Por
Arnóbio Rocha
A vítima dos ogros.
Ela estava lá
quietinha, ouvindo atenta, noutras vezes, fazia cara de paisagem com os
absurdos que diziam os candidatos e as candidatas, o nível era baixíssimo e
cuidava de baixar mais ainda, desde a garota que veio dos extremos da
vulnerabilidade para o ultraliberalismo, assim, sem nenhum estágio
intermediário.
No entanto ela
continuava lá, impassível.
O “prefeito”
recandidato que continua sem saber porque herdou a prefeitura e nunca entendeu
o seu papel, tenta mais 4 anos para descobrir, apela para o parceiro
governador, que promete um dia conhecer a 23 de maio, quem sabe a 25, juntos
com o inelegível, já tinham curtido o 7 de setembro da “anistia” ao golpistas.
Ela nem vermelha de
vergonha ficou.
Então, não mais que de
repente, daqueles momentos típicos de um domingo modorrento, de quem perdeu na
rodada, ouviu a música do Fantástico e quis morrer de vez. Nesse exato
instante, o maior dos boçais, o laMarçal, verte suas fezes pela boca, atacando
um candidato do “queremos ibagens, produção”, provoca ferinamente.
Coitada, ela que
suportava tudo aquilo calada, sem se pronunciar, nem mesmo o direito de ir ao
banheiro, foi tomada de assalto, sem nem perceber direito, é objeto da fúria de
um machão contra outro machinho canalha, covarde. Infelizmente quem realmente sentiu
a agressão foi ela, a Cadeira.
Foi rápido, ela se
espatifou no chão, ninguém a socorreu, ainda teve que ouvir o “francês” dos
candidatos, o horror do público, o pavor dos e das demais candidatas, mas
nenhum foi-lhe solidário (a), caída, machucada ali, naquele chão frio,
humilhada por eles. Apenas um rapaz da produção lhe levou ao hospital, sabe que
foi heroína por uns instantes.
O boletim médico diz
que ela passa bem, só não sabe o estado psicológico dela, e da população.
• Marçal cavou a cadeirada desde o
primeiro dia de campanha. Por Bepe Damasco
Não se trata de
justificar agressões físicas, que de per si são condenáveis em debates
civilizados de ideias e propostas. O problema é que a presença de um
delinquente como Pablo Marçal em qualquer campanha eleitoral significa
rebaixar, degradar e avacalhar o debate, impedindo que a população seja
esclarecida sobre projetos e programas.
Quem estica a corda do
jogo sujo e ofende adversários como se estivesse em uma briga de arruaceiros
assume o risco de levar um soco na cara ou uma cadeirada. Mas estou convencido
de que Marçal fez tudo de cabeça pensada, tanto que elevou o tom dos ataques ao
candidato Datena, que em debate anterior já tinha partido para cima dele, sendo
contido pelo apresentador. Ou seja, ele percebeu que seria fácil fazer Datena
explodir e perder o controle outra vez.
Caberia à mídia ter
zelado por um mínimo de compostura e educação nos debates. Bataria seguir a lei
e não convidar Marçal, uma vez que pela legislação eleitoral só candidatos de
partidos com, no mínimo, cinco deputados federais devem ser obrigatoriamente
chamados para os debates de rádio e TV, requisito não alcançado pelo nanico
PRTB do candidato.
Bem, vá lá que seja
razoável o argumento dos veículos de TV, segundo o qual o convite a Marçal é um
sinal de respeito ao seu eleitorado, algo em torno de 20%, segundo as
pesquisas. Contudo, desde a participação no primeiro debate, se não me engano
na Rede Bandeirantes, ficou claro que o candidato é indigno de frequentar
espaços voltados para a discussão política, cujo objetivo é justamente
confrontar ideias.
Marçal, agora, repete
Bolsonaro e faz do leito hospitalar um palanque eleitoral. De agredido que se
mostrava inteiro depois da cadeirada, a ponto de querer continuar no debate,
subitamente Marçal vivou paciente do Sírio e Libanês, com suspeita de "fraturas
nas costelas", conforme sua assessoria.
Mas há uma pedra no
seu caminho. Não há como fraudar os boletins médicos em uma unidade de saúde
conceituada como o Sírio Libanês. Repare que não há boletim médico divulgado
pelo hospital até o momento. E, se houver, duvido que confirme fraturas nas
costelas. Basta ver a cena da cadeirada, para se ter certeza de que as costelas
não foram atingidas.
Algo me diz que o tiro
da vitimização vai sair pela culatra. As próximas pesquisas indicarão os
possíveis impactos eleitorais do episódio. Algo me diz, porém, que para o tipo
de eleitor que Marçal disputa não é mérito nenhum ser agredido fisicamente e pode
estar pensando assim: "Ué, mas se dizia tão esperto e acabou levando uma
cadeirada? Que malandro é esse?"
Ou a Justiça Eleitoral
cassa a candidatura de Marçal, ou pode vir coisa pior por aí.
• Marçal: a cadeirada e o abismo. Por
Florestan Fernandes Jr
A cadeirada de Datena
sobre Marçal durante o debate da TV Cultura na noite do domingo (16/09) é o
ápice da desmoralização do sistema democrático no Brasil. Um processo de
desmonte que teve início já no golpe jurídico/parlamentar contra a presidenta
Dilma e que se estendeu e aprofundou durante quatro anos de escárnio do
desgoverno Bolsonaro.
Depois dos atos
terroristas do 8 de janeiro, achávamos que estávamos no subsolo da
incivilidade. Mas não. O buraco é mais profundo.
O desmonte do Estado
Democrático de Direito continua em marcha acelerada, comandado pela dupla
Malafaia/Bolsonaro e agora encorpada pelos coach/influencers que ingressaram na
política para cupinizá-la.
O ex-presidente
inelegível, impune nas dezenas de crimes que cometeu, articula diuturnamente os
caminhos para instituir seu tão sonhado estado autocrático de extrema-direita
no país.
Este ano, o processo
de esculhambação do sistema eleitoral tem um novo capítulo e outro
protagonista.
Como candidato a
prefeito, Pablo Marçal está conseguindo mais do que atacar as urnas
eletrônicas. Ele zomba da Justiça Eleitoral dia sim, e dia também.
A última é que o coach
digital, que já deveria ter sido afastado do processo eleitoral, montou seu
circo de horrores no centro de um debate de televisão que deveria discutir
propostas para a maior cidade da América do Sul. A cena grotesca que domina
todas as redes sociais desde a noite de ontem, só poderia ter sido
protagonizada por personagens como Marçal e Datena. O fato, por si só, é
desolador. Mas há algo ainda pior: virou piada, virou meme e fonte de diversão,
numa incompreensão tristíssima que esse espetáculo atenta contra todos nós.
A cena de “telecatch”,
todo o humor jocoso que vejo e a ausência de debate sério sobre as
repercussões, me lembram de um dos contos dos Irmãos Grimm, O Flautista de
Hamelin. Nele, os ratos, encantados com a melodia, seguiam festivos o
Flautista, que os conduziria para fora da cidade (a polis, o ambiente de
civilidade) e, ao final, os afogaria num rio caudaloso.
Esse pequeno recorte
da fábula, trazido para o fato de hoje, nos mostra o perigo do entorpecimento
coletivo, da incompreensão da gravidade do momento em que vivemos. Que o
despertar nos venha, enquanto é possível.
• Datena fez o certo pelas linhas tortas e
Marçal deve ser cassado. Por Alex Solnik
Ao agredir Marçal com
uma cadeira, depois de ser chamado de covarde várias vezes, Datena fez o que a
Justiça Eleitoral já deveria ter feito há muito tempo: tirou Marçal do debate.
Datena levou cartão
vermelho pelo que fez, e Marçal fugiu alegando ter sido machucado.
Datena fez o certo
pelas linhas tortas, é claro, agora vai ser processado por agressão e
possivelmente sairá fora da eleição.
Não pode haver mais
debate com Marçal.
E a cassação de seu
registro deve ser prioridade da Justiça Eleitoral, antes que haja um incidente
mais grave que o de hoje.
Fonte: Brasil 247
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