Alto endividamento, educação fraca e
corrupção: Ray Dalio lista desafios do Brasil em novo relatório
Uma das maiores
referências para investidores no mundo, Ray Dalio listou as maiores fraquezas e
pontos fortes do Brasil, em relação a 35 países, em relatório divulgado nesta
semana.
O documento do
fundador da Bridgewater Associates analisa como os países estão se saindo e
suas perspectivas para os próximos dez anos.
No caso do Brasil, o
investidor que previu a crise econômica de 2008 destaca a pouca inovação, o
alto nível de desigualdade, pouco espaço para aumentar endividamento, corrupção
e baixa qualidade da educação como principais pontos negativos da economia brasileira.
Do lado positivo, ele
cita os recursos naturais e o retorno financeiro do trabalhador em relação ao
que é investido em educação.
<><> Veja
abaixo todas as considerações do investidor:
• Posição fraca em educação
Dalio afirma que um
dos pontos negativos do Brasil é a sua fraca posição relativa em educação,
indicando que apenas 3% da população possui formação superior completa, e
somente 2% conclui o doutorado.
“Em anos de educação,
o Brasil é pobre — os alunos têm em média 9,4 anos de educação contra 11,7 na
média dos principais países. As pontuações do PISA, que medem a proficiência de
alunos de 15 anos em todos os países, são ruins — 397 contra 479 na média dos
principais países”, diz o relatório.
Nesse ponto, o Brasil
fica na 18º posição entre os outros países analisados.
• Pouca inovação
Quanto à inovação e
tecnologia, o levantamento aponta que o país possui poucos pedidos de patentes
globais, com menos de 1%. Além de uma parcela pequena em gastos globais em
pesquisa e desenvolvimento (P&D\0 e apenas 2% dos pesquisadores globais.
“Vemos o país não
investindo nem leve, nem pesadamente em pesquisa e inovação, e seus resultados
de inovação, incluindo invenções e ganhos, são baixos”.
• Desigualdade
A proporção entre a
parcela com mais renda e aquela mais pobre é também um ponto levantado pelo
documento. Segundo o investidor, as rendas dos 10% mais ricos cresceram 3%,
enquanto as rendas dos 60% mais pobres cresceram 6% nos últimos dez anos.
“O crescimento
relativamente baixo da renda dos 60% mais pobres aumenta os riscos da
desigualdade”, diz.
• Taxa de crescimento é a pior entre os
emergentes
O levantamento indica
que o Brasil terá um crescimento de 1,7% por ano, ficando na média global, mas
o pior entre os países emergentes: 18º lugar entre os 18 países.
Esse índice é puxado,
segundo o relatório, pela expectativa de alta de 1,6% da produtividade por
trabalhador, à medida que o baixo crescimento da força de trabalho terá pouco
impacto.
A perspectiva não
considera choques exógenos, como de commodities ou políticos, desastres
naturais ou guerras.
“O crescimento da
produção por trabalhador é impulsionado significativamente pela produtividade e
endividamento. No longo prazo, a produtividade é mais importante, enquanto as
oscilações no endividamento tendem a ser um importante impulsionador no curto prazo”.
• Cultura de trabalho e corrupção
Uma das justificativas
para a pior taxa de crescimento e que se soma aos pontos negativos apontados
pelo estudo é a cultura brasileira, principalmente no mercado de trabalho.
O investidor diz que o
Brasil tem uma baixa classificação quanto à sua autossuficiência, já que os
trabalhadores têm uma “ética de trabalho relativamente fraca, seu nível de
apoio governamental é alto e seus mercados de trabalho são moderadamente
rígidos”.
A conclusão se baseia
em indicadores de horas trabalhadas, aposentadorias e férias, assim como o
percentual de 47% do PIB em despesas governamentais e 15% do PIB em
transferências de pagamentos para famílias.
Ainda mais, o
relatório afirma que o brasileiro prefere “saborear muito mais do que
realizar”, não valorizando suas conquistas.
Sobre a corrupção, o
documento analisa que o país apresenta níveis médios e “um Estado de direito um
tanto fraco”.
• Dívida e política monetária
O estudo também
analisa como a dívida pode ser um suporte ou prejuízo para o crescimento futuro
no ciclo econômico.
Para o Brasil, Dalio
argumenta que a posição de endividamento é ligeiramente melhor do que a de
outros países, classificada em 13º lugar entre os 35 países que analisamos.
O ônus total da dívida
é de cerca de 190% do PIB (incluindo dívidas de empresas financeiras), em
comparação com uma média global de 236%, pontua o documento.
“Com base nos níveis
atuais de dívida e nos custos do serviço da dívida, o país tem pouco espaço
para alavancar no futuro. Nos últimos anos, seu crescimento
não foi apoiado nem
deprimido pela criação de crédito, o que é neutro para o crescimento daqui para
frente”.
Dessa forma, o estudo
conclui que a postura da política monetária é geralmente pouco rígida.
• Recursos naturais
Já quando se fala em
pontos positivos, o relatório traz que os recursos naturais são o principal
aporte forte do Brasil.
O indicador usado no
estudo inclui a produção total de energia, agricultura e metais industriais
para capturar a capacidade de produção absoluta de cada nação, bem como
exportações líquidas para capturar a autossuficiência relativa para cada uma
das categorias. O suprimento de água doce também entra na conta.
Neste cenário, o
Brasil ocupa a 3º posição do ranking. Contudo, a eficiência na alocação de
recursos ainda tem a desejar, classificada pelo relatório como “fraca” e em
momento de piora.
• Brasil é um país feliz
O estudo também
avaliou bem-estar dos cidadãos, sendo que o “Brasil pontua modestamente alto em
nosso índice de felicidade e pontua neutro em nosso índice de saúde”, com 5% da
população em condição de subnutrição no país contra 2% da média global.
• Valor da mão de obra
Para o investidor, “o
valor que seus trabalhadores fornecem em relação aos níveis de educação e seus
níveis de investimento” é um dos pontos fortes do país, já que nações que têm
trabalhadores bem educados e que são relativamente baratos, com taxas de investimento
mais altas, crescem mais rápido do que aqueles que não têm.
Ou seja, a mão de obra
no Brasil é ainda mais barata do que a média de 35 países analisados, mesmo que
a sua base educacional seja considerada baixa e os níveis de maquinário e
propriedade intelectual fiquem estáveis ao ano (0%).
Além disso, as pessoas
em idade ativa trabalham em média 20,2 horas por semana, sendo o 24º país entre
os 35 medidos nesta proporção de produtividade.
Desse ponto, ele
conclui que “o investimento no Brasil é mais produtivo do que o investimento em
outros países com níveis semelhantes de desenvolvimento econômico,
classificados em 5º lugar entre 18 países emergentes”.
Fonte: CNN Brasil
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