Pablo
Marçal negocia fazendas endividadas com agiotas
Dono de fazenda em Itu
(SP), o próprio candidato à prefeitura paulistana explica em vídeo como contata
os criminosos; condenado por crime em Goiás tem R$ 168 milhões em participações
de 24 empresas, mas declara apenas quatro à Justiça Eleitoral...
— Network vale mais
que dinheiro, nunca mais você empresta dinheiro pra ninguém, não precisa, é só
ter network com agiota.
Esse foi o conselho de
Pablo Marçal durante uma palestra compartilhada em suas redes sociais. O
candidato a prefeito da cidade mais populosa do Brasil, São Paulo, vende a
figura de um milionário de origem humilde que alcançou a prosperidade por meio
de técnicas que todos poderiam alcançar. Com quais métodos?
Marçal dá aos
seguidores dicas de investimentos para se aproveitar de endividados e negociar
com agiotas. É ele quem diz, em vídeo:
— A fazenda vale R$ 8
milhões, está quebrada, desestruturada, foi jogada no lixo porque o cara
quebrou o emocional dele. Tá devendo o banco e vai executar agora, não tem
conversa. […] Fiquei sabendo que ele arrumou dinheiro com agiota. Já até
arrumei o número do agiota pra ligar pro agiota.
Vejam, Marçal está
dizendo com todas as letras que se relaciona com agiotas. Em que termos?
— Opa, tudo bem? Nós
vamos pagar você, mas não é hoje não. Quando acabar todas as possibilidades
dele. Não sou eu que sou a pessoa má. Eu torço pra que esse negócio não venha
parar na minha mão. Mas se vier parar na minha mão eu faço R$ 2 a 3 milhões sem
colocar 1 real.
A dica de Marçal está
prevista pela Lei nº 1.521 de 1951, que versa sobre os crimes contra a economia
popular, e caracteriza-se pelo abuso da situação de necessidade de outro com o
objetivo de obter lucro excessivo, com pena de 6 meses a 2 anos de detenção. O
crime de usura, denominação dada à prática da agiotagem no artigo 4º da lei,
tem sua pena agravada quando o autor possui condição econômica e social
superior à da vítima, ou quando o crime é cometido em detrimento de operários e
agricultores.
Mas o “conselho” de
Marçal circula no canal do Tiktok, Sociedade Milionária, e tem cerca de 1.500
curtidas.
MARÇAL DEIXA R$ 88
MILHÕES FORA DA DECLARAÇÃO AO TSE
Essas fazendas
adquiridas por meio de agiotas estão ou não estão na declaração de bens
entregue por Pablo Marçal à Justiça Eleitoral? Foi a pergunta que fizemos a
ele, por meio de sua assessoria de imprensa. sem resposta.
A declaração de Marçal
que consta no Tribunal Superior Eleitoral (TSE) totaliza R$ 169.503.058,17, mas
seu patrimônio é maior. Ele mesmo insinua ser bilionário. Alguns valores estão
subestimados e diversas participações em empresas do mesmo grupo não foram
declaradas e somadas.
Preso em 2005 pela sua
participação em um esquema de clonagem de cartões, Marçal teve uma ascensão
meteórica: ele possui, em 2024, 21 empresas registradas na Junta Comercial de
São Paulo. Elas somam R$ 168 milhões, mas apenas quatro delas estão na
declaração entregue ao TSE. E elas estão com valores subestimados.
Para o Tribunal
Superior Eleitoral, Marçal declarou participação em uma empresa aérea chamada
Aviation (80%), na Marçal Loteamentos (100%), na Marçal Participações (90%) e
na Marçal Holding (50%), somando R$ 80 milhões. Mas outra fatia de tamanho
semelhante, R$ 88 milhões, não está na declaração.
A participação de
Marçal nas empresas Marçal Holding e Marçal Participações foi subestimada. O
candidato declarou apenas R$ 700 mil pelas duas empresas, mas elas valem R$ 22
milhões, como aponta reportagem do UOL.
Outra parte do
patrimônio do candidato registrado na Junta Comercial de São Paulo (Jucesp) não
consta em sua declaração. São R$ 66 milhões de participações das empresas
principais em outros dezoito negócios, que vão de uma fazenda a uma empresa
digital.
EMPRESAS LIGADAS A
IMÓVEL EM ITU ESTÃO COM VALORES SUBESTIMADOS
Pablo Marçal tem R$
670 mil em participação na Fazenda Toscana Ltda, um dos braços do imóvel rural
em Itu (SP). É a fazenda apresentada em vídeo por seu sócio, Renato Carlini,
réu em São Paulo sob a acusação de oferecer material para o tráfico de drogas.
A fazenda foi comprada por R$ 6.165.712, durante um leilão. O imóvel rural está
associado à Marçal Participações, declarada ao TSE por R$ 450 mil.
Uma coisa é o imóvel
rural, com esse braço jurídico, outra a empresa homônima: a Fazenda Toscana
Ltda, pessoa jurídica com capital social de R$ 1 milhão, está associada a outro
guarda-chuvas empresarial do político, a Marçal Holding. Só que essa empresa foi
declarada à Justiça Eleitoral por apenas R$ 250 mil. Este observatório também
perguntou à assessoria do candidato de onde veio esse dinheiro — sem resposta.
O imóvel em Itu foi
arrematado em outubro de 2021, época em que estava avaliado em 12,3 milhões de
reais. O lance vencedor corresponde a metade do valor da propriedade. Segundo o
auto de arrematação, a compra da fazenda envolveu a Marçal Holding, responsável
por 42% da aquisição, e outras três empresas: Exo Participações (28%), E3
Holding Ltda (25%) e Xthor Plataforma de Ensino e Treinamentos (5%). O leilão
judicial foi realizado para quitar dívidas dos antigos proprietários da fazenda
junto a uma administradora de consórcios.
Outra empresa
associada à Marçal Holding é a Resort Digital, relativa a um resort em Porto
Feliz (SP). Ela tem um capital social de R$ 10 milhões, valor 40 vezes maior
que o declarado à Justiça Eleitoral na holding. Em outra entrevista para o
canal de Renato Cariani no YouTube, realizada no próprio resort, o candidato
afirma ter investido R$ 25 milhões na reforma do imóvel no interior paulista.
Não há registro disso na Justiça Eleitoral.
Tanto a fazenda quanto
o resort não são segredos para o público que acompanha o coach pelas redes
sociais. Somente o vídeo de Cariani sobre a fazenda já foi visto por 670 mil
seguidores do empresário, acusado de associação ao tráfico. Os imóveis também serviram
de palco para os reality shows promovidos pelo sócio de Cariani, Pablo Marçal.
O resort foi
apresentado no canal de Cariani no dia 5 de maio. A Fazenda Toscana, com 162
hectares em Itu, cinco dias depois, no dia 10 de maio. De Olho nos Ruralistas
constatou que ela se chamava Fazenda Jamaica — não há registro de uma fazenda
Toscana nos cadastros de imóveis rurais.
Ele contou para
Cariani como conseguiu a fazenda, que segundo ele estava falida:
— Comprei lá embaixo
[com os preços lá embaixo], destruído, família destruiu tudo. Estava tudo
acabado e eu comprei. A curiosidade disso aqui é que eu comprei sem vir aqui.
Comprei no helicóptero. Estava sobrevoando […] E meu advogado: “Olha, vai fazer
agora. Pode dar o lance?” Pode.
• Marçal minimiza ligação do presidente do
seu partido com o PCC e cocaína: "Não vou condenar o cara"
Em entrevista à
GloboNews na noite desta segunda-feira (26), o candidato do PRTB à prefeitura
de São Paulo, Pablo Marçal, minimizou a ligação do presidente de seu partido e
fiador de sua candidatura, Leonardo Avalanche, com a facção criminosa Primeiro
Comando da Capital (PCC).
Ao ser questionado
sobre o áudio em que Avalanche confessa ter elos com o PCC, o coach de extrema
direita "passou pano", se limitando a dizer que todos têm direito à
"ampla defesa" e cabe à polícia investigar tal relação.
"Eu entrei no
partido de última hora. Tem o contraditório e ampla defesa. Tenho que partir
disso. Vou fazer o que? Não vou condenar o cara. Eu não sou polícia",
declarou Marçal, que já foi condenado à prisão por integrar uma quadrilha de
fraude bancária.
Pablo Marçal ainda
disse que as denúncias de que seus correligionários trocariam carros de luxo
por pacotes de cocaína do PCC causam "constrangimento".
"Claro, isso é
totalmente constrangedor. Precisava de trabalhador, gente honesta, e tem esse
tipo de gente lá. O que eu posso fazer?", disparou.
<><> Pablo
Marçal, PRTB, PCC e cocaína
Uma nova e devastadora
bomba atingiu, na de quarta-feira (21), a campanha do coach Pablo Marçal
(PRTB), candidato à prefeitura de São Paulo. Uma investigação da Polícia Civil
paulista mostrou que dois assessores pessoais e muito próximos do presidente nacional
do PRTB (legenda de Marçal), Leonardo Avalanche, teriam trocado carros de luxo
por pacotes de cocaína com o PCC (Primeiro Comando da Capital), maior
organização criminosa do Brasil, além de terem cometido outros crimes graves,
como financiamento ao tráfico, fraude imobiliária e exploração da prostituição.
As informações são do jornal ‘O Estado de S. Paulo’.
Tarcísio Escobar de
Almeida, que chegou a ser nomeado presidente estadual do PRTB em São Paulo, mas
que teve que deixar a função três dias depois porque sequer tinha título de
eleitor, e Júlio César Pereira, conhecido como Gordão, eram os homens mais próximo
de Leonardo Avalanche na sigla que um dia foi liderada pelo caricato Levy
Fidélix. Foi Avalanche quem bancou, contrariando tudo e a todos, a candidatura
de Marçal para o executivo paulistano.
Conforme a apuração
das autoridades policiais, Escobar e Gordão têm relação direta com o PCC e
teriam realizado a função de financiar o tráfico de drogas para a poderosa
quadrilha brasileira que atua em pelo menos 24 países. Tanto Escobar como
Gordão já participaram de inúmeros eventos políticos do PRTB e o primeiro tem
até fotos com Marçal em encontros da legenda, além de registros na companhia de
Avalanche, o homem que manda no partido nacionalmente.
Os dois acusados
ligados ao partido de Marçal foram indiciados pela Polícia Civil no ano passado
e as investigações teriam chegado a eles, em 2020, por mero acaso. Os agentes
estavam monitorando na Zona Leste da capital paulista um homem chamado Francisco
Chagas de Sousa, conhecido no mundo do crime como Coringa, que seria dono de um
estabelecimento de venda de bebidas alcoólicas. Numa operação na adega, os
policiais encontraram drogas, uma pistola e um pen drive que trazia uma
complexa listagem e contabilidade de pessoas que seriam integrantes do PCC,
assim como os negócios que mantinham com a quadrilha. A Justiça autorizou o
aprofundamento das investigações e uma escuta telefônica revelou que Coringa,
que seria responsável pelo tráfico interestadual do PCC nos estados de São
Paulo e Paraíba, falava com Gordão, uma das lideranças do PRTB. Dias depois,
foi o nome de Escobar que apareceu nas investigações.
De acordo com a
Polícia Civil de São Paulo, Escobar teria orientado Gordão a tratar com Coringa
a troca de um automóvel BMW X5, avaliado em mais de R$ 700 mil, por cocaína. A
conversa explicava que Escobar entraria em contato na sequência para esclarecer
melhor como seria a transação. “Nos diálogos mantidos entre ambos, Coringa e
Gordão, ficou evidente tratar-se de negociação de veículos com o fim de que
sejam trocados por drogas”, diz o trecho do inquérito produzido pela Delegacia
Seccional de Mogi das Cruzes e encaminhado ao Ministério Público.
Ainda segundo os
investigadores, a droga em si não passava pelas mãos dos dois investigados
ligados ao PRTB, mas era de conhecimento tácito por parte deles que os valores,
fossem em dinheiro ou por meio de carros luxuosos, era destinado à aquisição de
cocaína em grande quantidade, que após ser vendida, por valores altíssimos,
tinha o lucro dividido entre os três, Coringa, Escobar e Gordão. Em resumo, em
consonância com as investigações, eles financiavam a compra de pacotes de
cocaína com os carros e, depois de revendida a droga por um preço exorbitante,
dividiam os valores.
No mesmo inquérito, a
Polícia Civil afirma que Escobar e Gordão também estariam envolvidos na direção
de uma empresa que vende lotes de forma criminosa a pessoas simples e sem
instrução, o que seria crime de fraude imobiliária, além de gerenciarem um prostíbulo.
A reportagem afirma ainda que diálogos dos envolvidos obtidos pelos
investigadores mostram conversas abertas sobre a administração de questões
relacionadas ao PCC, como a advertência de integrantes, um controle minucioso
do contingente da quadrilha (espécie de censo) e outras atividades da
organização.
Fonte: Por Alceu Luís
Castilho e Tonsk Fialho, em De Olho nos Ruralistas/Fórum
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