sexta-feira, 2 de agosto de 2024

New York Times alerta para a reorganização da extrema direita no Brasil: "bolsonarismo sem Bolsonaro"

Bia Kicis, Nikolas Ferreira, Eduardo Bolsonaro... estes nomes são reconhecidos por nós que acompanhamos diariamente a política brasileira. Mas eles representam um fenômeno curioso que foi foco de uma extensa reportagem do New York Times Magazine nesta semana.

O jornal estadunidense produziu um conteúdo especial, assinado pelo jornalista Vincent Benvins, que relata a confusão e a reorganização da extrema direita no pós-bolsonarismo.

Depois do 8 de janeiro e da inelegibilidade de Bolsonaro, a matéria descreve de maneira detalhada o novo fenômeno do "bolsonarismo sem Bolsonaro".

A cisão se dá justamente entre atores políticos, como Kicis, Ferreira e Eduardo, que querem radicalizar o discurso do bolsonarismo, inspirados na mídia de extrema direita estadunidense.

A ideia é criar, inspirados no trumpismo e em Olavo de Carvalho, uma arena de debate intensa contra a esquerda para intensificar a guerra narrativa da extrema direita.

A reportagem coloca a senadora Damares Alves (Republicanos-DF) de outro lado, junto ao ex-deputado estadual do Rio Grande do Sul e ex-membro do MBL Fábio Ostermann (Novo), além do senador Marcos do Val (Podemos-ES).

Estes estariam preocupados em estabilizar o bolsonarismo como força política real, uma espécie de establishment, capaz de fazer coalizões e de fato governar, inspirados nos republicanos mais conservadores dos EUA.

O consenso, contudo, segundo Benvins, é na esperança da da volta de Trump para o poder para ganhar fôlego e tentar reviver o bolsonarismo, sem Bolsonaro, na política brasileira.

•        Bolsonaro réu? PGR recebe indiciamento no caso das joias e tem prazo para se manifestar

Com o fim do recesso no judiciário, o Procurador-Geral da República (PGR) Paulo Gonet dará início nesta quinta-feira (1º) ao pedido de indiciamento de Jair Bolsonaro (PL) feito pela Polícia Federal (PF) em relatório final sobre o furto e contrabando de joias da Presidência da República.

Além de Bolsonaro, outros 11 membros da organização criminosa foram indiciados pela PF neste caso, entre eles o tenente coronel Mauro Cid, o pai dele, general Mauro Lourena Cid, e os advogados do clã, Frederick Wassef e Fabio Wajngarten.

O indiciamento foi feito no dia 4 de julho, em meio ao recesso, e o prazo dado por Alexandre Moraes, do Supremo Tribunal Federal (STF), passa a valer a partir desta quinta.

Com a retomada dos trabalhos, Gonet terá até o dia 21 de agosto para se manifestar se tornará - ou não - Bolsonaro e os membros da quadrilha réus no caso.

Em conversas reservadas, Bolsonaro tem elogiado Gonet, a quem classifica como “um cara sério”.

•        Revés

No entanto, o PGR já deu sinais que deve acatar o pedido de indiciamento da PF.

No final de julho, Gonet emitiu parecer contra o pedido da defesa de Bolsonaro que tenta ter acesso ao conteúdo da delação do tenente-coronel Mauro Cid e documentos que comprovam a atuação da organização criminosa.

“Existem outras investigações em curso, ainda não finalizadas, que também se baseiam nas declarações prestadas pelo colaborador, o que reforça a inviabilidade do acesso pretendido neste momento processual”, justificou o procurador-geral.

Segundo a PGR, Bolsonaro já tem acesso ao processo de investigação e que a delação, segundo a legislação, é mantida em sigilo até a formalização da denúncia.

“Todos os elementos relevantes para as investigações desenvolvidas nesta Petição já se encontram documentados e foram franqueados à defesa do investigado. Caso exista outra investigação relacionada ao interessado, o pedido de acesso, certamente, será deferido nos autos pertinentes, uma vez demonstrada a condição de investigado”, diz o parecer.

Com a denúncia, o ex-presidente passará a ser réu e responderá pelos crimes de associação criminosa, peculato e lavagem de dinheiro, podendo ser condenado a até 32 anos de prisão, se somadas as penas relativas ao caso das fraudes em cartões de vacinação.

Bolsonaro e os bolsonaristas sabem que as chances de um arquivamento são pequenas e que o oferecimento da denúncia seria devastador para o clã e todo o seu campo político. A principal aposta da extrema direita é ganhar tempo com um possível pedido de prorrogação para novas diligências, além de manobras judiciais.

•        Caos político

Enquanto segue com sua estratégia de impor uma narrativa de perseguição política para nutrir a horda de extremistas, Jair Bolsonaro (PL) avalia com aliados as consequências de uma possível prisão - ou absolvição - pelo Supremo Tribunal Federal (STF).

O furto de joias, segundo a PF, é parte de apenas um dos cinco braços onde atuou a OrCrim de Bolsonaro.

No inquérito entregue ao STF e à Procuradoria-Geral da República, a PF lista ainda os "ataques virtuais a opositores" e também "às instituições, às urnas eletrônicas e ao processo eleitoral", os "ataques às vacinas contra a Covid-19 e medidas sanitárias na pandemia" e a "tentativa de golpe de Estado e de Abolição violenta do Estado Democrático de Direito".

As provas já levantadas contra o ex-presidente, segundo juristas de renome são robustas, e devem ser fortalecidas com o inquérito sobre a tentativa de golpe de Estado, que deve ser finalizado nos próximos dias.

A estratégia de Bolsonaro, no entanto, é montar uma narrativa "generalizada sem especificar com detalhe", como combinou com o advogado Frederick Wassef.

Nesta terça-feira (10), o ex-presidente pinçou uma informação sobre suas apostas nas lotéricas, que constam no relatório, para desviar o foco dos apoiadores para ludibriar a população e manter os extremistas mobilizados em torno da narrativa vitimista.

"A PF foi com tudo na lotérica do interior de São Paulo. Esperavam achar algum esquema de lavagem ou outro ilícito por parte de Bolsonaro. Nada acharam", escreveu, emendando com a estratégia de vitimização: "depois a PF se incomoda quando é acusada de perseguir Bolsonaro".

Dessa forma, aliados do ex-presidente afirmaram à coluna de Malu Gaspar, n'O Globo, que “Bolsonaro preso é um problema para o STF e pode gerar um movimento popular pela sua soltura”.

A avaliação dos aliados vai ao encontro da aposta de Bolsonaro. "Se Bolsonaro for absolvido, o Supremo será considerado um covarde, capturado pela direita. Se condená-lo, alimenta a tese bolsonarista de perseguição e pode produzir um caos político", emenda o mesmo aliado.

•        A preocupação de Bolsonaro

Em sua estratégia, Bolsonaro vai aprofundar a propagação da narrativa vitimista, pois acredita que deve ser indiciado em todos os inquéritos em que é investigado - e há elementos e provas suficientes para isso.

No entanto, a preocupação maior do ex-presidente passa pelo jogo de xadrez com Alexandre de Moraes, relator das investigações sobre a OrCrim no Supremo.

Ao levantar sigilo das investigações, Moraes busca expor ao máximo as mentiras ditas por Bolsonaro e aliados na narrativa de perseguição política.

O ex-presidente se preocupa, portanto, mais com o conteúdo das investigações, que pode colocar em xeque a estratégia de comunicação para ludibriar a população.

As informações e provas robustas, que podem fazer desmoronar as bandeiras do "mito" - em especial a de "incorruptível" -, podem causar uma desmobilização da base de apoio e desestruturar a principal aposta de Bolsonaro: de levar os extremistas às ruas e provocar um caos político diante de sua possível prisão.

 

•        PF suspeita que agentes da "Abin Paralela" atuaram na campanha de Ramagem em 2022

Ex-diretor da Agência Brasileira de Inteligência (Abin) durante o governo Jair Bolsonaro (PL), o delegado Alexandre Ramagem, atual deputado federal pelo PL do Rio de Janeiro e pré-candidato à Prefeitura do Rio de Janeiro, além de criar um dossiê secreto para Flávio Bolsonaro (PL-RJ) usar em sua defesa no caso de corrupção das "rachadinhas”, pode ter usado policiais federais da “Abin Paralela” para atuarem em sua campanha em 2022 para a Câmara.

A nova investigação da Polícia Federal (PF) suspeita sobre atuação de agentes após o depoimento do próprio deputado no âmbito da investigação sobre o monitoramento ilegal de pessoas e autoridades públicas pela Agência Brasileira de Inteligência (Abin). Um documento de gastos de campanha apreendido pela Polícia Federal (PF), relacionado a Alexandre Ramagem, inclui os nomes de dois agentes próximos ao ex-diretor da Abin. Em seu depoimento, Ramagem negou qualquer irregularidade.

Segundo informações do portal Metrópoles, entre 2019 e 2022, durante a gestão de Alexandre Ramagem, servidores da Polícia Federal teriam sido recrutados para trabalhar na Agência Brasileira de Inteligência (Abin). Entre os nomes mencionados estão Henrique Cesar Prado Zordan e Felipe Arlotta. Em julho de 2022, após ingressar na Abin, Henrique recebeu uma licença-capacitação. A suspeita é de que ele teria trabalhado na campanha de Ramagem durante esse período.

A Polícia Federal está investigando Henrique Cesar Prado Zordan e Felipe Arlotta, que atuaram na Agência Brasileira de Inteligência (Abin) e são apontados como integrantes do grupo de "subordinados" da organização criminosa. Henrique, que teve acesso às senhas das contas do parlamentar no Facebook e ajudava a “criar ou resgatar senhas do Facebook e até do TikTok”, e também perguntava sobre questões de segurança e potenciais adversários de Ramagem durante a campanha.

Henrique visitou Ramagem durante as campanhas, mas afirmou em seu depoimento que não participou delas. A Polícia Federal apurou planilhas de gastos de Ramagem e verificou que, na aba referente ao mês de agosto, constavam pagamentos “efetuados aos policiais federais durante o período” em que estavam afastados de suas funções.

<><> Dossiê que Ramagem fez para Flávio

O novo dossiê, encontrado em formato digital pela Polícia Federal, foi criado um mês antes de Ramagem ser indicado por Bolsonaro para substituir Maurício Valeixo para o comando da Polícia Federal em abril de 2020. A nomeação, no entanto, foi suspensa por decisão do Supremo Tribunal Federal (STF) e Ramagem seguiu à frente da Abin, onde teria criado juntamente com Carlos Bolsonaro (PL) uma agência "paralela" para investigar desafetos e até aliados do ex-presidente.

O documento, revelado pela Folha de S.Paulo nesta quarta-feira (31), seria intitulado "Bom dia Presidente" e reunia informações sobre servidores da Receita Federal que teriam feito o relatório que revelou o esquema de corrupção montado por Flávio Bolsonaro quando atuava como deputado estadual em seu gabinete na Assembleia Legislativa do Rio de Janeiro.

Ramagem afirmava sem provas, na tese ainda hoje levada adiante pela defesa de Flávio, que os servidores teriam acessado os dados ilegalmente para elaborar o relatório do Conselho de Controle de Atividades Financeiras, o Coaf.

Segundo a PF, o documento foi criado em março de 2020 e alimentado até março de 2021.

"Os metadados [do arquivo apreendido com Ramagem] indicam a construção do documento com as respectivas alterações para informar ao presidente da República sobre os auditores da Receita responsáveis pelo RIF [relatório de inteligência financeira] que deu causa à investigação do senador Flávio Bolsonaro", diz relatório da PF sobre o depoimento de Ramagem.

Sem provas, o dossiê levanta suspeitas da Operação Armadeira, desencadeada em outubro de 2019, que prendeu o auditor da Receita Marco Aurélio da Silva Canal sob suspeita de extorsão contra investigados na Operação Lava Jato.

Segundo o dossiê de Ramagem, a operação seria para desviar o foco dos servidores que produziram o relatório com os dados de Flávio.

O documento diz, sem provas, que a operação foi armada para pegar alguns "fiscais ladrões", mas que se tratava de "operação de marketing" de servidores inimigos de Bolsonaro.

Entre os servidores citados estão os  chefes do Escritório de Corregedoria da 7ª Região Fiscal (Escor07), Christiano Paes Leme Botelho, do Escritório de Pesquisa e Investigação da 7ª Região Fiscal (Espei07), Cleber Homen da Silva, além do então corregedor-geral da Receita, José Pereira de Barros Neto, e do secretário da Receita, José Barroso Tostes Neto.

A Receita abriu investigação, mas concluiu que a tese do clã Bolsonaro não tinha fundamento.

Além do novo dossiê, a PF encontrou ainda arquivos em que Ramagem faz pregações contra o sistema de urnas eletrônicas e um outro documento, com procuradores considerados inimigos pelo clã Bolsonaro.

 

Fonte: Fórum

 

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