New York Times alerta para a reorganização
da extrema direita no Brasil: "bolsonarismo sem Bolsonaro"
Bia Kicis, Nikolas
Ferreira, Eduardo Bolsonaro... estes nomes são reconhecidos por nós que
acompanhamos diariamente a política brasileira. Mas eles representam um
fenômeno curioso que foi foco de uma extensa reportagem do New York Times
Magazine nesta semana.
O jornal estadunidense
produziu um conteúdo especial, assinado pelo jornalista Vincent Benvins, que
relata a confusão e a reorganização da extrema direita no pós-bolsonarismo.
Depois do 8 de janeiro
e da inelegibilidade de Bolsonaro, a matéria descreve de maneira detalhada o
novo fenômeno do "bolsonarismo sem Bolsonaro".
A cisão se dá
justamente entre atores políticos, como Kicis, Ferreira e Eduardo, que querem
radicalizar o discurso do bolsonarismo, inspirados na mídia de extrema direita
estadunidense.
A ideia é criar,
inspirados no trumpismo e em Olavo de Carvalho, uma arena de debate intensa
contra a esquerda para intensificar a guerra narrativa da extrema direita.
A reportagem coloca a
senadora Damares Alves (Republicanos-DF) de outro lado, junto ao ex-deputado
estadual do Rio Grande do Sul e ex-membro do MBL Fábio Ostermann (Novo), além
do senador Marcos do Val (Podemos-ES).
Estes estariam
preocupados em estabilizar o bolsonarismo como força política real, uma espécie
de establishment, capaz de fazer coalizões e de fato governar, inspirados nos
republicanos mais conservadores dos EUA.
O consenso, contudo,
segundo Benvins, é na esperança da da volta de Trump para o poder para ganhar
fôlego e tentar reviver o bolsonarismo, sem Bolsonaro, na política brasileira.
• Bolsonaro réu? PGR recebe indiciamento
no caso das joias e tem prazo para se manifestar
Com o fim do recesso
no judiciário, o Procurador-Geral da República (PGR) Paulo Gonet dará início
nesta quinta-feira (1º) ao pedido de indiciamento de Jair Bolsonaro (PL) feito
pela Polícia Federal (PF) em relatório final sobre o furto e contrabando de joias
da Presidência da República.
Além de Bolsonaro,
outros 11 membros da organização criminosa foram indiciados pela PF neste caso,
entre eles o tenente coronel Mauro Cid, o pai dele, general Mauro Lourena Cid,
e os advogados do clã, Frederick Wassef e Fabio Wajngarten.
O indiciamento foi
feito no dia 4 de julho, em meio ao recesso, e o prazo dado por Alexandre
Moraes, do Supremo Tribunal Federal (STF), passa a valer a partir desta quinta.
Com a retomada dos
trabalhos, Gonet terá até o dia 21 de agosto para se manifestar se tornará - ou
não - Bolsonaro e os membros da quadrilha réus no caso.
Em conversas
reservadas, Bolsonaro tem elogiado Gonet, a quem classifica como “um cara
sério”.
• Revés
No entanto, o PGR já
deu sinais que deve acatar o pedido de indiciamento da PF.
No final de julho,
Gonet emitiu parecer contra o pedido da defesa de Bolsonaro que tenta ter
acesso ao conteúdo da delação do tenente-coronel Mauro Cid e documentos que
comprovam a atuação da organização criminosa.
“Existem outras
investigações em curso, ainda não finalizadas, que também se baseiam nas
declarações prestadas pelo colaborador, o que reforça a inviabilidade do acesso
pretendido neste momento processual”, justificou o procurador-geral.
Segundo a PGR,
Bolsonaro já tem acesso ao processo de investigação e que a delação, segundo a
legislação, é mantida em sigilo até a formalização da denúncia.
“Todos os elementos
relevantes para as investigações desenvolvidas nesta Petição já se encontram
documentados e foram franqueados à defesa do investigado. Caso exista outra
investigação relacionada ao interessado, o pedido de acesso, certamente, será
deferido nos autos pertinentes, uma vez demonstrada a condição de investigado”,
diz o parecer.
Com a denúncia, o
ex-presidente passará a ser réu e responderá pelos crimes de associação
criminosa, peculato e lavagem de dinheiro, podendo ser condenado a até 32 anos
de prisão, se somadas as penas relativas ao caso das fraudes em cartões de
vacinação.
Bolsonaro e os
bolsonaristas sabem que as chances de um arquivamento são pequenas e que o
oferecimento da denúncia seria devastador para o clã e todo o seu campo
político. A principal aposta da extrema direita é ganhar tempo com um possível
pedido de prorrogação para novas diligências, além de manobras judiciais.
• Caos político
Enquanto segue com sua
estratégia de impor uma narrativa de perseguição política para nutrir a horda
de extremistas, Jair Bolsonaro (PL) avalia com aliados as consequências de uma
possível prisão - ou absolvição - pelo Supremo Tribunal Federal (STF).
O furto de joias,
segundo a PF, é parte de apenas um dos cinco braços onde atuou a OrCrim de
Bolsonaro.
No inquérito entregue
ao STF e à Procuradoria-Geral da República, a PF lista ainda os "ataques
virtuais a opositores" e também "às instituições, às urnas
eletrônicas e ao processo eleitoral", os "ataques às vacinas contra a
Covid-19 e medidas sanitárias na pandemia" e a "tentativa de golpe de
Estado e de Abolição violenta do Estado Democrático de Direito".
As provas já
levantadas contra o ex-presidente, segundo juristas de renome são robustas, e
devem ser fortalecidas com o inquérito sobre a tentativa de golpe de Estado,
que deve ser finalizado nos próximos dias.
A estratégia de
Bolsonaro, no entanto, é montar uma narrativa "generalizada sem
especificar com detalhe", como combinou com o advogado Frederick Wassef.
Nesta terça-feira
(10), o ex-presidente pinçou uma informação sobre suas apostas nas lotéricas,
que constam no relatório, para desviar o foco dos apoiadores para ludibriar a
população e manter os extremistas mobilizados em torno da narrativa vitimista.
"A PF foi com
tudo na lotérica do interior de São Paulo. Esperavam achar algum esquema de
lavagem ou outro ilícito por parte de Bolsonaro. Nada acharam", escreveu,
emendando com a estratégia de vitimização: "depois a PF se incomoda quando
é acusada de perseguir Bolsonaro".
Dessa forma, aliados
do ex-presidente afirmaram à coluna de Malu Gaspar, n'O Globo, que “Bolsonaro
preso é um problema para o STF e pode gerar um movimento popular pela sua
soltura”.
A avaliação dos
aliados vai ao encontro da aposta de Bolsonaro. "Se Bolsonaro for
absolvido, o Supremo será considerado um covarde, capturado pela direita. Se
condená-lo, alimenta a tese bolsonarista de perseguição e pode produzir um caos
político", emenda o mesmo aliado.
• A preocupação de Bolsonaro
Em sua estratégia,
Bolsonaro vai aprofundar a propagação da narrativa vitimista, pois acredita que
deve ser indiciado em todos os inquéritos em que é investigado - e há elementos
e provas suficientes para isso.
No entanto, a
preocupação maior do ex-presidente passa pelo jogo de xadrez com Alexandre de
Moraes, relator das investigações sobre a OrCrim no Supremo.
Ao levantar sigilo das
investigações, Moraes busca expor ao máximo as mentiras ditas por Bolsonaro e
aliados na narrativa de perseguição política.
O ex-presidente se
preocupa, portanto, mais com o conteúdo das investigações, que pode colocar em
xeque a estratégia de comunicação para ludibriar a população.
As informações e
provas robustas, que podem fazer desmoronar as bandeiras do "mito" -
em especial a de "incorruptível" -, podem causar uma desmobilização
da base de apoio e desestruturar a principal aposta de Bolsonaro: de levar os
extremistas às ruas e provocar um caos político diante de sua possível prisão.
• PF suspeita que agentes da "Abin
Paralela" atuaram na campanha de Ramagem em 2022
Ex-diretor da Agência
Brasileira de Inteligência (Abin) durante o governo Jair Bolsonaro (PL), o
delegado Alexandre Ramagem, atual deputado federal pelo PL do Rio de Janeiro e
pré-candidato à Prefeitura do Rio de Janeiro, além de criar um dossiê secreto para
Flávio Bolsonaro (PL-RJ) usar em sua defesa no caso de corrupção das
"rachadinhas”, pode ter usado policiais federais da “Abin Paralela” para
atuarem em sua campanha em 2022 para a Câmara.
A nova investigação da
Polícia Federal (PF) suspeita sobre atuação de agentes após o depoimento do
próprio deputado no âmbito da investigação sobre o monitoramento ilegal de
pessoas e autoridades públicas pela Agência Brasileira de Inteligência (Abin).
Um documento de gastos de campanha apreendido pela Polícia Federal (PF),
relacionado a Alexandre Ramagem, inclui os nomes de dois agentes próximos ao
ex-diretor da Abin. Em seu depoimento, Ramagem negou qualquer irregularidade.
Segundo informações do
portal Metrópoles, entre 2019 e 2022, durante a gestão de Alexandre Ramagem,
servidores da Polícia Federal teriam sido recrutados para trabalhar na Agência
Brasileira de Inteligência (Abin). Entre os nomes mencionados estão Henrique
Cesar Prado Zordan e Felipe Arlotta. Em julho de 2022, após ingressar na Abin,
Henrique recebeu uma licença-capacitação. A suspeita é de que ele teria
trabalhado na campanha de Ramagem durante esse período.
A Polícia Federal está
investigando Henrique Cesar Prado Zordan e Felipe Arlotta, que atuaram na
Agência Brasileira de Inteligência (Abin) e são apontados como integrantes do
grupo de "subordinados" da organização criminosa. Henrique, que teve acesso
às senhas das contas do parlamentar no Facebook e ajudava a “criar ou resgatar
senhas do Facebook e até do TikTok”, e também perguntava sobre questões de
segurança e potenciais adversários de Ramagem durante a campanha.
Henrique visitou
Ramagem durante as campanhas, mas afirmou em seu depoimento que não participou
delas. A Polícia Federal apurou planilhas de gastos de Ramagem e verificou que,
na aba referente ao mês de agosto, constavam pagamentos “efetuados aos policiais
federais durante o período” em que estavam afastados de suas funções.
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Dossiê que Ramagem fez para Flávio
O novo dossiê,
encontrado em formato digital pela Polícia Federal, foi criado um mês antes de
Ramagem ser indicado por Bolsonaro para substituir Maurício Valeixo para o
comando da Polícia Federal em abril de 2020. A nomeação, no entanto, foi
suspensa por decisão do Supremo Tribunal Federal (STF) e Ramagem seguiu à
frente da Abin, onde teria criado juntamente com Carlos Bolsonaro (PL) uma
agência "paralela" para investigar desafetos e até aliados do
ex-presidente.
O documento, revelado
pela Folha de S.Paulo nesta quarta-feira (31), seria intitulado "Bom dia
Presidente" e reunia informações sobre servidores da Receita Federal que
teriam feito o relatório que revelou o esquema de corrupção montado por Flávio
Bolsonaro quando atuava como deputado estadual em seu gabinete na Assembleia
Legislativa do Rio de Janeiro.
Ramagem afirmava sem
provas, na tese ainda hoje levada adiante pela defesa de Flávio, que os
servidores teriam acessado os dados ilegalmente para elaborar o relatório do
Conselho de Controle de Atividades Financeiras, o Coaf.
Segundo a PF, o
documento foi criado em março de 2020 e alimentado até março de 2021.
"Os metadados [do
arquivo apreendido com Ramagem] indicam a construção do documento com as
respectivas alterações para informar ao presidente da República sobre os
auditores da Receita responsáveis pelo RIF [relatório de inteligência
financeira] que deu causa à investigação do senador Flávio Bolsonaro", diz
relatório da PF sobre o depoimento de Ramagem.
Sem provas, o dossiê
levanta suspeitas da Operação Armadeira, desencadeada em outubro de 2019, que
prendeu o auditor da Receita Marco Aurélio da Silva Canal sob suspeita de
extorsão contra investigados na Operação Lava Jato.
Segundo o dossiê de
Ramagem, a operação seria para desviar o foco dos servidores que produziram o
relatório com os dados de Flávio.
O documento diz, sem
provas, que a operação foi armada para pegar alguns "fiscais
ladrões", mas que se tratava de "operação de marketing" de
servidores inimigos de Bolsonaro.
Entre os servidores
citados estão os chefes do Escritório de
Corregedoria da 7ª Região Fiscal (Escor07), Christiano Paes Leme Botelho, do
Escritório de Pesquisa e Investigação da 7ª Região Fiscal (Espei07), Cleber Homen
da Silva, além do então corregedor-geral da Receita, José Pereira de Barros
Neto, e do secretário da Receita, José Barroso Tostes Neto.
A Receita abriu
investigação, mas concluiu que a tese do clã Bolsonaro não tinha fundamento.
Além do novo dossiê, a
PF encontrou ainda arquivos em que Ramagem faz pregações contra o sistema de
urnas eletrônicas e um outro documento, com procuradores considerados inimigos
pelo clã Bolsonaro.
Fonte: Fórum
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