terça-feira, 6 de agosto de 2024

EUA veem a América do Sul como campo de testes para manipulação política, diz embaixador russo

A posição de reconhecer ou não eleições em um país soberano é uma manifestação de política colonial, e Washington continua a ver a América Latina como seu próprio quintal e campo de testes para técnicas de manipulação política, disse o embaixador russo na Venezuela, Sergei Melik-Bagdasarov, à Sputnik.

Após o anúncio dos resultados oficiais das eleições na Venezuela, Moscou disse que a oposição venezuelana deveria admitir a derrota. O porta-voz do Kremlin, Dmitry Peskov, alertou terceiros países contra o apoio a tentativas de desestabilizar a situação dentro do país sul-americano.

"Mesmo antes da eleição na Venezuela, os EUA sugeriram que não tolerariam a reeleição de Nicolás Maduro. A própria posição de reconhecer ou não eleições em um país soberano em particular é uma manifestação clara de política colonial. O povo da Venezuela fez sua escolha. Ela deve ser respeitada. Mas parece que tal abordagem é estranha a Washington", disse Melik-Bagdasarov.

O diplomata explicou que os Estados Unidos acreditam que a América Latina é um campo de testes para métodos de interferência eleitoral.

"Os Estados Unidos continuam a ver a região da América Latina como seu quintal e um campo de testes para tecnologias políticas [técnicas de manipulação política]. De acordo com o presidente Nicolás Maduro, hoje estamos vendo tentativas de repetir o projeto 'Juan Guaidó' com algumas mudanças", acrescentou o diplomata russo.

A eleição presidencial da Venezuela foi realizada em 28 de julho, e o Conselho Nacional Eleitoral (CNE) declarou Nicolás Maduro o vencedor.

Washington, sem esperar pelos resultados da contagem de votos e auditoria subsequente, apelou à comunidade internacional para reconhecer o líder da oposição Edmundo González como o vencedor da eleição presidencial na Venezuela. Na sexta-feira (2), os legisladores dos EUA e da União Europeia (UE) que supervisionam as relações internacionais ameaçaram Maduro com "responsabilidade" se ele não desistisse voluntariamente de seus poderes como chefe de Estado legítimo.

<><> Maduro denuncia que Venezuela enfrenta um golpe de Estado 'ciberfascista'

O presidente reeleito Nicolás Maduro denunciou neste domingo (4) que a Venezuela enfrenta um golpe ciberfascista que busca dividir a Força Armada Nacional Bolivariana (FANB). Desde a divulgação do resultado eleitoral, quando Maduro venceu o opositor Edmundo González Urrutia, o país enfrenta dificuldades.

"Eu falo de um golpe cibernético, neste caso um golpe de Estado ciberfascista criminoso […] para eles é vital ferir de dentro as Forças Armadas Nacionais Bolivarianas, tentar dividi-las, desmoralizá-las, desmobilizá-las, porque elas ainda acreditam que os militares venezuelanos estão subordinados às ordens da oligarquia de sangue azul ou do império norte-americano", expressou Maduro durante um discurso em um evento militar.

O mandatário detalhou que o ataque é realizado através das diversas redes sociais.

"A campanha de assédio cibernético acontece nas contas do WhatsApp, através de chamadas e mensagens [...]. Nada de novo que não tenhamos visto em outros filmes, nada de novo que não tenha feito (Juan) Guaidó, quando tentaram invadir o país a partir da Colômbia", comentou.

Sobre isso, Maduro assegurou que as Forças Armadas estão coesas, unidas e em "combate pela paz, pela democracia e pela Constituição". Da mesma forma, parabenizou a Guarda Nacional Bolivariana por garantir a ordem e a segurança após os protestos em torno das eleições presidenciais de 28 de julho.

O Conselho Nacional Eleitoral divulgou na sexta-feira (2) um segundo boletim com 96,87% das atas apuradas, no qual confirmou a vitória de Maduro com 51,95% dos votos, em comparação com González, que teria obtido 43,18%.

De acordo com o órgão, as eleições tiveram uma participação de 12.386.669 eleitores, equivalente a 59,97% do eleitorado.

Já a Plataforma Unitaria Democrática (PUD, centro), sob a qual González se apresentou, rejeitou os resultados e anunciou o ex-diplomata como "presidente eleito".

Argentina, Chile, Costa Rica, Peru, Panamá, República Dominicana e Uruguai se recusaram desde o início a reconhecer a reeleição de Maduro, o que levou Caracas a retirar imediatamente o corpo diplomático desses países e a expulsar as missões presentes na Venezuela.

No início da última semana, o Governo do Peru reconheceu González como "presidente eleito" da Venezuela, o que levou Caracas a romper relações diplomáticas com Lima. Panamá, por sua vez, suspendeu as relações com a Venezuela.

 

¨      ‘Edmundo González, a nova farsa americana’. Por Jorge Folena

Qualquer pessoa com um mínimo de discernimento sabia, previamente, que o resultado da eleição de 28 de julho de 2024 na Venezuela seria impugnado caso o vencedor fosse o atual presidente Nicolás Maduro Moros, do Partido Socialista Unido da Venezuela (PSUV).

Na sexta-feira, 2 de agosto, o Conselho Nacional Eleitoral justificou o atraso na liberação das atas que detalham os resultados informando que os seus sistemas de informática estavam sendo atacados desde o dia da eleição, o que levou ao atraso na divulgação da apuração, que, com 96,87% dos votos contabilizados, apresenta Maduro com o equivalente a 51,95% (6,4 milhões) de votos e seu principal opositor, González, com o equivalente a 43,18% (5,3 milhões) de votos.

No mesmo período, autoridades venezuelanas denunciaram diversos ataques cibernéticos contra o país, vindos do exterior. Em decorrência dessas ofensivas, o sítio eletrônico da Telesur saiu do ar e talvez tenha sido derrubado justamente por se tratar de fonte de notícias com credibilidade internacional, responsável pela cobertura das diversas tentativas de golpe de estado na Venezuela, que, inclusive, já causaram muito danos patrimoniais e até a morte de algumas pessoas.

Antes que o órgão responsável pela eleição informasse o resultado, a oposição veio a público para manifestar que obteve mais de 70% dos votos, embora sem apresentar qualquer comprovação da veracidade dessa afirmação. Porém, isso foi suficiente para os Estados Unidos da América lançarem mais um ato vexatório na longa lista de sua política externa, repetindo a farsa da autoproclamação de Juan Guaidó como “presidente” da Venezuela na eleição anterior, e desta vez proclamando Edmundo González vencedor do pleito de 2024.

Na verdade, o que se passa na Venezuela há décadas é a luta contra o imperialismo norte-americano e o capitalismo exploratório, habituados a invadir e bombardear para se apossarem dos bens de qualquer país. Aliás, não foi à toa que Donald Trump expressou faz pouco tempo, sem qualquer pudor, que a intenção do seu país é mesmo tomar para si as ricas reservas de petróleo venezuelanas.

Em igual sentido foi a declaração de outro bilionário, Elon Musk, de que daria golpe de estado onde quisesse, referindo-se à provocação de grave instabilidade institucional na Bolívia em 2019, tendo como causa principal a disputa pelas valiosas reservas de lítio no país; o modo de agir foi o mesmo, com o candidato da oposição boliviana recusando-se a aceitar a vitória de Evo Morales. Aliás, Musk está sendo acusado pelo governo venezuelano pela difusão de informações falsas na sua rede X, visando fomentar a atual tentativa de golpe de estado na Venezuela.

Vale lembrar que, em março de 2024, Musk promoveu ataques contra o Tribunal Superior Eleitoral brasileiro e contra o Ministro Alexandre de Morais, a fim de desqualificar o processo eleitoral brasileiro e a eleição do Presidente Luiz Inácio Lula da Silva, do mesmo modo que estão fazendo atualmente contra a Venezuela; aliás, da mesma maneira que sempre fizeram contra qualquer governo progressista pelo mundo afora.

Contudo, países efetivamente soberanos, como a República Popular da China e a Federação Russa, sem levantar qualquer dúvida e com total respeito à autodeterminação da República Bolivariana da Venezuela, reconheceram desde a madrugada do dia 29 de julho de 2024 a reeleição de Nicolás Maduro para mais seis anos de mandato.

Apesar de noticiado recentemente que o presidente Maduro teria afirmado que os presidentes do Brasil, Colômbia e México “estão trabalhando para que se respeite a soberania popular da Venezuela”, considero que a exigência de apresentação das atas das mesas eleitorais, feita ao Conselho Nacional Eleitoral daquele país como condição para o reconhecimento da vitória do candidato do PSUV, representa uma grave tentativa de interferência na independência da Venezuela, pois qualquer litígio relacionado à eleição venezuelana deve ser dirimido pelo Poder Judiciário daquele país.

Com todo o respeito aos dirigentes dos três países, entendo que a hora é de dar apoio à soberania e à independência da Venezuela, não sendo o momento apropriado para se fazer críticas ou exigências que somente ampliam o coro da ação golpista da oposição venezuelana, que desde antes da divulgação dos resultados no dia 28 de julho, repetia a mesma ladainha e dizia ter em seu poder as atas que davam a vitória ao seu candidato González.

Quando a oposição exigiu a apresentação das atas, seus representantes já estavam previamente articulados com os ataques ao sistema de informática da Venezuela, que seriam utilizadas para retardar a divulgação final dos resultados, permitindo-lhes iniciar violentas “ondas de inconformismo” pelas ruas de cidades venezuelanas, em manobras típicas das ações promovidas pelos serviços secretos imperialistas nas diversas “revoluções coloridas” em curso pelo mundo desde o ano de 2010.

Infelizmente, a diplomacia brasileira, ao pretender arbitrar esta complicada questão, com massivos interesses econômicos e políticos em jogo, que passam longe da busca da paz para a América do Sul, pode ter servido de massa de manobra para os Estados Unidos, país sem nenhum apreço pela soberania dos demais, que não esconde de ninguém o objetivo de sujeitar o mundo inteiro aos seus interesses exploratórios.

Os Estados Unidos não respeitam a soberania popular nem a vontade democrática de nenhum país, tendo o Brasil experimentado sua interferência direta no golpe de 1964, no impeachment contra a presidenta Dilma em 2016 e na prisão ilegal do presidente Lula em 2018, que favoreceu a eleição de um fascista entreguista, subserviente aos interesses norte-americanos, que governou o país de 2019 a 2022 e praticou graves delitos, que estão sob investigação.

Aparentemente, a aceitação da eleição de Nicolás Maduro não será resolvida por meio da concórdia política e social, pois o império do Norte e seus vassalos na Europa e na América Latina continuarão em estado de guerra permanente contra a revolução bolivariana em curso na Venezuela. Lembrando que os norte-americanos já fizeram de tudo para impedir os mandatos anteriores do presidente Maduro (e de Hugo Chávez antes dele), mas, até aqui, não tiveram êxito.

Mas, apesar dessa luta constante, quero crer que existe esperança para os que só almejam ser respeitados e viver em paz. A geopolítica mundial está em movimento, transformando-se de modo acelerado e tornando mais plausível a cada dia a união da maioria global, que busca um novo caminho de cooperação, solidariedade, justiça social e tudo o mais que o imperialismo norte-americano sempre negou aos povos do mundo.

 

¨      Os argumentos dos EUA ao reconhecer Edmundo González como vencedor da eleição na Venezuela

Na quinta-feira (01/08), o governo dos Estados Unidos reconheceu Edmundo González Urrutia, que concorreu contra o presidente Nicolás Maduro, como vencedor da eleição presidencial na Venezuela.

“É evidente para os Estados Unidos e, mais importante, para o povo venezuelano que González Urrutia obteve o maior número de votos nas eleições presidenciais de 28 de julho na Venezuela”, disse o secretário de Estado, Antony Blinken, num comunicado de imprensa.

O Conselho Nacional Eleitoral (CNE) da Venezuela anunciou Maduro como vencedor da corrida presidencial no domingo (29/7), com 51,2% dos votos contra 44,2% de González.

Mas a oposição afirma que houve fraude nas eleições e que possui provas da vitória de González Urrutia.

·        Os argumentos dos EUA

Ao reconhecer González como vitorioso na eleição, os EUA citaram como argumento o fato de o CNE não ter apresentado evidências de que Maduro teria sido reeleito.

"A rápida declaração da CNE de que Nicolás Maduro seria o vencedor das eleições presidenciais não veio acompanhada de provas. O CNE ainda não publicou dados desagregados ou qualquer um dos editais, apesar dos repetidos apelos dos venezuelanos e da comunidade internacional", disse Blinken ao ler o comunicado.

O governo dos EUA também baseou sua decisão na avaliação do Carter Center, organização renomada que enviou observadores para a eleição na Venezuela. O Carter Center concluiu que o pleito não estava em conformidade com “parâmetros e padrões internacionais para processos eleitorais”.

“Conforme relatado pela missão de observação independente do Carter Center, a falha do CNE em fornecer resultados oficiais a nível distrital, bem como as irregularidades ao longo do processo, retiraram qualquer credibilidade do resultado anunciado pelo CNE”, estabelece o comunicado dos EUA.

Por sua vez, o presidente Maduro condenou o comunicado do governo dos EUA numa transmissão ao vivo na noite de quinta.

“Os EUA devem manter o nariz fora da Venezuela porque o povo soberano é quem está no comando”, comentou.

Maduro argumenta que a oposição está promovendo um golpe contra ele.

Em discurso, ele reiterou que pedirá que o Supremo Tribunal da Venezuela "esclareça" a polêmica eleição. Mas a oposição argumenta que o sistema judicial, incluindo a Suprema Corte, está sob o controle de Maduro e não age com independência.

·        Esforço diplomático

A declaração dos EUA veio apenas duas horas após Maduro ter afirmado estar disposto a “reiniciar o diálogo” com as autoridades norte-americanas, com base no que foi discutido no Catar no ano passado pelas delegações dos dois países, sem relações diplomáticas desde 2019.

Na ocasião, os EUA se dispuseram a relaxar sanções à Venezuela, se a oposição fosse autorizada a concorrer na eleição e o pleito fosse realizado em conformidade com as regras.

Mas, no decorrer da campanha eleitora, a principal liderança da oposição, Maria Corina Machado, foi impedida de concorrer. E, agora, o Conselho Eleitoral declarou a vitória de Maduro sem apresentar as atas de votação.

“Se o governo dos EUA estiver disposto a respeitar a soberania e parar de ameaçar a Venezuela, podemos retomar o diálogo", disse Maduro na rede social X, onde partilhou um documento com os pontos discutidos entre os dois países em Doha, em 2023.

Segundo o texto – que não conta com a assinatura de nenhum representante dos EUA na negociação – Washington “desbloqueará os bens do governo venezuelano atualmente congelados” após as eleições presidenciais no país caribenho, realizadas no último domingo, e a posse do presidente eleito, marcado para 10 de janeiro de 2025.

Tudo isso ocorre em meio a um esforço diplomático para persuadir Maduro a mostrar as atas e permitir a verificação independente delas, e logo após o presidente mexicano, Andrés Manuel López Obrador, conversar com o presidente Luiz Inácio Lula da Silva, e o presidente da Colômbia, Gustavo Petro, sobre como enfrentar a crise na Venezuela.

Os três concordaram com a necessidade de uma “verificação imparcial” das atas.

Lula ocupa um papel cada vez mais central na crise, depois de o Brasil ter assumido na quinta (01/08) a custódia da embaixada argentina em Caracas e a proteção dos seis opositores venezuelanos asilados ali, após a retirada de diplomatas argentinos ordenada por Maduro.

·        'Sigo firme ao lado do povo'

Enquanto isso, lideranças da oposição permanecem na Venezuela apoiando os protestos contra Maduro.

“Continuo firme ao lado do povo. Nunca deixarei vocês sozinhos e defenderei sempre a sua vontade!”, escreveu González Urrutia na rede social X, coincidindo com a publicação da declaração de Blinken.

Enquanto isso, a líder da oposição, María Corina Machado, também foi às redes para convocar uma manifestação para o sábado, 3 de agosto, enquanto o chavismo convocava uma mobilização paralela.

Pouco antes, Maria Corina Machado publicou uma coluna no jornal americano The Wall Street Journal na qual afirma que recebeu uma série de ameaças e teme ser presa.

“Escrevo isto escondido, temendo pela minha vida, pela minha liberdade e pelos meus compatriotas da ditadura liderada por Nicolás Maduro”, escreveu.

Machado foi projetada como possível candidata presidencial pela Plataforma Democrática Unitária, principal coligação de oposição venezuelana, mas foi desqualificada pela Suprema Corte venezuelana, controlado pelo partido de Maduro.

Os dias que se seguiram à contestada proclamação da vitória de Maduro foram turbulentos, com protestos de rua massivos, por vezes violentos, a demolição de estátuas de Hugo Chávez e a intensa repressão por parte das forças de segurança venezuelanas.

Os confrontos causaram pelo menos 11 mortos, centenas de feridos e o governo anunciou que prendeu mais de 1.200 pessoas.

 

Fonte: Sputnik Brasil/Brasil 247/BBC News Brasil

 

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