sábado, 31 de agosto de 2024

Chefe da fraude bancária que condenou Marçal é bispo evangélico no Paraguai...acredite!

Por onde anda o chefe da quadrilha integrada por Pablo Marçal nos anos 2000? De Olho nos Ruralistas descobriu que Danilo de Oliveira reside agora em Assunção, onde é o bispo responsável pela filial da Igreja de Cristo Ministério Nova Terra no bairro Loma Pytá, região leste da capital paraguaia, perto do aeroporto internacional. O Ministério Nova Vida é uma vertente da organização estadunidense “Igreja de Cristo”, fundada nos anos 70 em Pires do Rio, 135 quilômetros a sudeste de Goiânia.

Torcedor do Goiás e do Olímpia, o clube com mais títulos na história do futebol paraguaio, o bispo costuma fazer uma ponte aérea entre Assunção e Goiânia, centro do escândalo nos anos 2000 que envolveu o jovem Marçal. Pelo menos desde 2013, Danilo de Oliveira se divide entre os cultos no país vizinho e visitas a unidades da igreja pelo estado de Goiás. Nas chamadas, nada de Danilo de Oliveira, mas sim “Danilo de Assunção”.

Danilo vive em Assunção ao lado da esposa, a pastora Fernanda Doutor, com quem se casou em 2013 e possui uma filha. Em suas redes sociais, em meio a fotos de família e sermões, o bispo convida os internautas a integrar uma franquia de comércio de cadeiras, a One Pro, ao mesmo tempo em que se mostra assíduo divulgador de uma churrascaria brasileira em Assunção, a Brasa & Leña, onde ele comemorou 45 anos, em março no ano passado. As empresas estão registradas em nome de outras pessoas.

Ele também se dedica a defender a família Bolsonaro e a atacar o comunismo. Sem deixar de se aventurar na política local, com postagens de apoio ao ex-presidente paraguaio Mario Abdo Benítez, ultradireitista, e seu aliado e sucessor, o atual presidente Santiago Peña. O bispo costuma chamar o presidente Luiz Inácio Lula da Silva de “ladrão”. Em um post após a eleição de Lula, em 2022, ele comparou Lula a Barrabás.

Danilo e Marçal foram condenados em 2010 por integrar uma quadrilha de golpes digitais. Durante a ação penal, o bispo — na época pastor — chegou a pedir redução de pena com base na delação premiada. O pedido foi negado, pois a polícia considerou que suas informações não contribuíram para a investigação. A ele foi reconhecida apenas a atenuante da confissão, prevista no artigo 65 do Código Penal.

Pablo Marçal foi preso, conforme relatou a Folha, mas liberado após delatar os comparsas.

IRMÃO DE MARÇAL É LIGADO À IGREJA DO BISPO DANILO

— Eu fui muito inocente de ter que trabalhar com gente que não tem caráter, eu respeitei porque ele era um líder religioso. Consertava computadores pra ele. Me arrependo de ter me aproximado dessa pessoa.

A declaração foi feita por Pablo Marçal na sexta-feira (23) em entrevista ao programa Balanço Geral, da Record. Ele se referia exatamente ao bispo Danilo de Oliveira. Quando foi alvo de busca e apreensão por liderar a quadrilha, Danilo portava cartões bancários, aparelhos celulares e panfletos de divulgação da Igreja de Cristo. Depois da condenação, subiu na hierarquia e virou bispo. Além de exercer essa função no Ministério Nova Terra, ele possui cadastro de corretor imobiliário em Goiás.

Irmão de Pablo, Hudson Marçal Rosa já conduziu cultos na igreja de Danilo. Este observatório constatou interações entre os religiosos pelo menos até 2020, quando Hudson reagiu a um elogio do bispo a uma manifestação religiosa do ex-presidente Mario Abdo Benítez.

Pablo Marçal esteve em julho em Goiânia para lançar a candidatura a vereador do irmão pelo Partido Liberal. Ao contrário de Pablo, Hudson Marçal tem o apoio de Jair Bolsonaro, figura mais célebre do partido. Durante convenção do PL, dias antes, tirou fotos com Eduardo, o filho 03 do ex-presidente, e com a ex-primeira-dama Michelle Bolsonaro.

O lançamento da candidatura de Hudson ocorreu em outra igreja, a Ministério Vida Cristã, no Setor Bueno, bairro da capital goiana onde fica uma das sedes do Ministério Nova Terra. A lei eleitoral proíbe a realização de eventos dessa natureza em igrejas e templos religiosos. Embora tenha sido ignorada durante os relatos de lançamento da candidatura, a regra é estabelecida no art. 37 da Lei das Eleições (Lei nº 9.504/97).

Hudson Marçal declarou um patrimônio mil vezes menor que o do irmão famoso, conforme relato da Revista Fórum, Durante o governo de Ronaldo Caiado (União Brasil), ele foi gerente de Prospecção de Negócios da Goiás Fomento, agência de crédito do governo goiano. Outro bispo influente da Igreja de Cristo, Flávio Fonseca, também tem livre trânsito com Caiado. Ao lançar sua candidatura em São Paulo, Pablo Marçal contou que o pai, Wilson Marçal, trabalhou para vários políticos e que desde criança aconselhava os filhos a se tornarem políticos.

LÍDERES DO MINISTÉRIO NOVA VIDA DEFENDEM BOLSONARISMO E CITAM MARÇAL

A Igreja de Cristo Ministério Nova Terra, denominação à qual pertence o bispo Danilo de Oliveira, foi fundada e é conduzida pelo apóstolo Ulysses de Oliveira. Sua teologia inclui adoração a Israel e defesa sistemática do sionismo. Em 2022, Ulysses convidou todos os líderes que votassem em Lula a parar de frequentar a igreja. Em vídeo, o apóstolo disse que a escolha pelo candidato petista significava “concordar com a ladroagem” e que o eleitor se tornaria “companheiro de ladrões”:

— Não queremos andar junto com companheiros de ladrões, com perseguidores da igreja, com ateístas dentro da igreja. Entreguem seus cargos e vão cuidar da vida. Você que é pastor, que é líder, que é um servo de Deus, fez um voto no altar e se você não quer cumprir esse voto, por favor, se retire do nosso meio.

Não era uma iniciativa isolada. Em outubro de 2022, o bispo Danilo de Oliveira postou uma imagem em suas redes sociais comparando o pleito à escolha bíblica entre Jesus e Barrabás. “Dois mil anos se passaram e o povo continua escolhendo os ladrões”, postou ele várias vezes. Uma dessas postagens tem um comentário de um candidato a vereador pelo PL, mesmo partido de Hudson Marçal, o Coronel Urzêda. O militar diz que não trocaria seus princípios e valores “por conta da eleição do ex-presidiário”.

O antigo chefe de Marçal na quadrilha de golpes bancários segue dois perfis gerenciados por Pablo no Instagram. Um deles é a conta criada recentemente pelo candidato, após a suspensão de suas redes oficiais, onde Pablo Marçal possui 3,5 milhões de seguidores. O outro foi criado em 2013, três anos após a condenação de ambos. Tem apenas 396 seguidores e fotos do coach antes da fama. Pablo Marçal não segue Danilo de volta.

Outra informação no Instagram do bispo decorre de uma marcação feita em abril pelo jornalista goiano Leno Silva, integrante da Igreja da Terra. Leno foi mestre de cerimônia da Conferência Internacional do Ministério Nova Terra, em 2022. Na postagem compartilhada em abril, o jornalista aparece ao lado de um sorridente Pablo Marçal. Leno cria um diálogo. O candidato à prefeitura paulistana diz: “Bênção, tio Leno”. Leno pergunta ao amigo: “Pegou o Código, Marçal?”.

Ao lado, Leno Silva faz o seguinte comentário: “Dois alunos do pastor Danilo de Oliveira”. Ele escreve o endereço eletrônico de Danilo, criado quando ele ainda era pastor, por isso não transcrevemos como bispo. Doze anos após a condenação de Danilo e Pablo Marçal no caso das fraudes bancárias. Um mês depois, em maio, Leno Silva foi recebido na sede das empresas de Pablo em Alphaville, em Barueri (SP). Ao lado, Hudson Marçal.

SÉRIE MOSTRA QUE MARÇAL COMPROU DÍVIDA DE AGIOTAS PARA COMPRAR FAZENDAS

A proximidade entre o bispo Danilo de Oliveira e a família Marçal — negada pelo candidato — se soma a uma série de inconsistências na candidatura de Pablo Marçal à prefeitura de São Paulo. Elas vão da declaração de bens à Justiça Eleitoral à suspeita de utilização de métodos ilegais de divulgação de campanha, como tem sido retratado pela imprensa.

O empresário que diz ter enriquecido como coach não declarou vários bens milionários, conforme mostramos em vídeo da série Endereços, em nosso canal no YouTube:

Entre os bens não declarados pelo político estão a Fazenda Toscana, em Itu (SP), e um resort em Porto Feliz, também no interior paulista. A fazenda foi comprada em um leilão por R$ 6 milhões.

Em um vídeo, Pablo Marçal disse que tem um método para comprar fazendas por preços baixos: negociar com agiotas. Ele conta que compra a dívida do fazendeiro com o agiota, para pressionar o proprietário a vender o imóvel mais barato. Em outro vídeo, Marçal declara ser importante fazer uma “network com agiotas”.

O influencer Renato Cariani é outro interlocutor frequente de Marçal. Ele é réu em São Paulo, denunciado pelo desvio de insumos químicos de suas empresas para o tráfico de drogas. Em vídeos, Cariani mostra a fazenda e o resort do amigo. Enquanto passeiam pelo resort, ele pergunta a Marçal quanto ele gastou nas reformas do imóvel. O empresário responde: “R$ 25 milhões”. Esse valor não consta da declaração entregue por ele à Justiça Eleitoral.

 

¨      Boulos, Marçal e a pergunta de sempre: vai ficar tudo por isso mesmo? Por Paulo Moreira Leite

A comprovação de que uma falsa denúncia de Pablo Marçal contra Guilherme Boulos alimentou várias semanas de campanha tem muito a ensinar sobre os venenos que envenenam o jogo sujo de nossa vida política, presentes na disputa pela prefeitura de São Paulo.

Bastava uma simples consulta em cartório para demonstrar que o candidato do PSOL foi alvo de uma fraude infantil, a mais bisonha da história das campanhas eleitorais brasileiras em décadas. Isso porque os fatos usados para tentar incriminar Guilherme Boulos envolviam outra pessoa, que sequer era um homônimo — possuía um sobrenome diferente, inclusive.

Ainda assim, o caso foi pauta obrigatória da campanha por semanas, até que, finalmente, a verdade foi reconhecida, numa revelação banal e vergonhosa, expressão da fragilidade dos controles de nossa vida pública. Imagine as conversas de vizinhos, as fofocas nos locais de trabalho — tudo baseado numa mentira.

Desfeita a fraude, cabe perguntar o mais importante: vai ficar tudo por isso mesmo? O caso configura crime de calúnia, previsto no artigo 138 do Código Penal, que consiste em "imputar falsamente a alguém um crime".

A pena prevista é de seis meses a dois anos de prisão, além de multa. São punições que sublinham a gravidade do crime cometido, especialmente numa disputa eleitoral.

Eis aí uma boa oportunidade para se debater — a sério — o devastador vale-tudo de nossas disputas políticas.

Alguma dúvida?

 

Fonte: Por Tonsk Fialho, em De Olho nos Ruralistas/Brasil 247

 

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