quinta-feira, 1 de agosto de 2024

Assassinato 'flagrante' de Haniya 'pode ter cruzado a linha vermelha', adverte ex-oficial da CIA

O movimento Hamas já prometeu vingar-se após o chefe do gabinete político do grupo militante palestino, Ismail Haniya, ter sido assassinado em Teerã.

O assassinato de Ismail Haniya "teve claramente o apoio e conhecimento prévio dos Estados Unidos e do Reino Unido," disse em entrevista à Sputnik Larry Johnson, ex-agente da Agência Central de Inteligência (CIA) dos EUA.

"Digo isso porque também temos notícias, que chegam agora, de que navios de guerra dos EUA e do Reino Unido estão a caminho do Mediterrâneo. Em um dos navios americanos provavelmente está uma Unidade Expedicionária de Fuzileiros", disse Johnson.

Então, a situação "agora aumentou as tensões na região além do que eram, mesmo após o ataque ao consulado iraniano em abril", segundo ele.

Em resposta a esse ataque, o Irã "enviou uma mensagem muito clara para Israel de que, no futuro, quaisquer novas provocações como esta seriam enfrentadas com força, e agora tanto o Hezbollah como o Irã foram incitados a responder e Israel está calculando que pode suportar os golpes", acrescentou o ex-oficial de inteligência da CIA.

"Isso é extremamente perigoso. [...] Este ataque [contra Haniya] foi tão descarado que não acho que haverá qualquer contenção por parte do Irã ou do Hezbollah. Acho que isso pode ter realmente cruzado a linha vermelha. É extremamente preocupante porque isso tem a característica de ser capaz de sair fora do controle. E tem mesmo, estamos agora em uma situação de esperar para ver", enfatizou Johnson.

Anteriormente, o grupo militante palestino Hamas confirmou em um comunicado que Haniya foi morto no que o Hamas disse ser um ataque israelense em sua residência em Teerã, após ele ter participado da tomada de posse do novo presidente iraniano, Masoud Pezeshkian.

¨      Rússia condena veementemente assassinato do líder político do Hamas em Teerã

Moscou condena veementemente o assassinato do líder político do movimento palestino Hamas Ismail Haniya, na sequência do ataque de projétil ao prédio onde estava alojado em Teerã, informa o comunicado emitido nesta quarta-feira (31) pelo Ministério das Relações Exteriores da Rússia.

É de salientar que o ataque foi realizado quando o líder do Hamas se encontrava no Irã, com convite oficial para participar da cerimônia de posse do presidente iraniano eleito, Masoud Pezeshkian, diz a nota.

A chancelaria russa aponta para o impacto negativo do assassinato de Haniya nas negociações entre o Hamas e Israel.

"Os organizadores deste assassinato político estavam claramente conscientes das perigosas consequências que esta ação teria para toda a região. Não há dúvida de que o assassinato de Ismail Haniya terá um impacto muito negativo no progresso dos contatos indiretos entre o Hamas e Israel no âmbito dos quais eram conduzidas negociações sobre condições mutuamente aceitáveis do cessar-fogo na Faixa de Gaza", detalha o comunicado.

A chancelaria exorta mais uma vez todas as partes envolvidas "a mostrar moderação e abandonar passos que poderiam levar a uma degradação dramática da situação de segurança na região, e provocar um confronto armado em larga escala", conclui a declaração do ministério.

O Hamas confirmou nesta quarta-feira (31) que o chefe do gabinete político do movimento palestino, Ismail Haniya, se hospedava em uma residência de veteranos no norte de Teerã e foi morto ao ser atingido por um "objeto no ar".

¨      Irã jura vingança pelo assassinato de líder do Hamas; Israel diz estar pronto para todos os cenários

O líder supremo do Irã, Ali Khamenei, alertou nesta quarta-feira (31) que vingar o assassinato do líder do Hamas, Ismail Haniya, é "dever de Teerã", uma vez que o assassinato ocorreu na capital iraniana.

Khamenei emitiu uma mensagem após a morte de Haniya em Teerã. O aiatolá ofereceu suas condolências à Ummah, ou ao mundo mulçumano, à frente de resistência e à nação palestina pelo martírio do "valente líder e proeminente mujahid".

"O regime sionista criminoso e terrorista, com esta medida, preparou o terreno para uma punição severa para si mesmo. Consideramos a vingança de sangue por ele [Haniya], que foi martirizado dentro do território da República Islâmica do Irã, o nosso dever", disse o aiatolá Khamenei, citado pela agência Tasnim.

Ele acusou Israel de ter feito a ação, no entanto, à Sputnik, um representante do Exército israelense disse que Tel Aviv não assumiu a responsabilidade pelo assassinato de Haniya.

O líder do Hamas, que estava em Teerã para participar da cerimônia de posse do novo presidente iraniano, foi martirizado em uma residência especial no norte de Teerã após ser atingido por um projétil aéreo nas primeiras horas desta quarta-feira (31).

Também nesta quarta-feira (31), ao comentar o ataque feito em Beirute, no Líbano, na terça-feira (30), o ministro da Defesa israelense Yoav Gallant disse que Tel Aviv não está buscando intensificar a guerra, mas está se preparando para lidar com todos os cenários.

"A apresentação [ontem] à noite em Beirute foi focada, de alta qualidade e contida. Não queremos guerra, mas estamos nos preparando para todas as possibilidades, e isso significa que vocês devem estar preparados conforme necessário, e faremos nosso trabalho em todos os níveis acima de vocês", afirmou Gallant ao elogiar as forças que realizaram um ataque a um comandante do Hezbollah em Beirute durante a noite, segundo a Reuters.

Israel realizou um ataque em Beirute, que disse ter matado um comandante de alto escalão do Hezbollah que supostamente estava por trás de um ataque de foguetes no fim de semana que matou 12 pessoas nas Colinas de Golã. O ataque na capital libanesa matou pelo menos uma mulher e duas crianças e feriu dezenas de pessoas.

O Hezbollah não confirmou imediatamente a morte do comandante. A ação ocorreu em meio a hostilidades crescentes com o grupo militante libanês.

 

¨      Combates se aproximam e ameaçam hospital Nasser, em Gaza

Em Khan Younis, no sul de Gaza, os combates estão se aproximando cada vez mais do hospital Nasser, colocando-o sob ameaça e arriscando o acesso das pessoas a cuidados médicos. Apenas em julho, as equipes de Médicos Sem Fronteiras (MSF) nos hospitais Nasser e Al-Aqsa responderam a 10 incidentes com múltiplas vítimas gravemente feridas após bombardeios na região.

MSF pede urgentemente a todas as partes em conflito que garantam o acesso seguro das pessoas a cuidados médicos e evitem a evacuação do hospital Nasser, o que colocaria em risco centenas de pacientes.

“Qualquer escalada dos combates perto do hospital obstruiria o acesso de pacientes e equipes médicas, impossibilitando a prestação de cuidados”, alerta Jacob Granger, coordenador de projeto de MSF em Gaza. “O sistema de saúde está completamente dizimado, e evacuar centenas de pacientes e suprimentos médicos, às pressas ou não, seria uma tarefa impossível.”

"As consequências seriam devastadoras para as pessoas da região, que não têm para onde ir", diz Granger. "Fechar o hospital Nasser não é uma opção."

O hospital Nasser está prestando atendimento a cerca de 550 pacientes, incluindo pessoas com queimaduras graves e lesões traumáticas, recém-nascidos e mulheres grávidas. As pessoas atualmente internadas no hospital precisam de tratamento contínuo para sobreviverem, incluindo pacientes que requerem um alto nível de cuidados, oxigenoterapia ou monitoramento rigoroso. Como o último hospital de maior porte ainda ativo no sul de Gaza, o Nasser também fornece apoio essencial a outras instalações de saúde na região, incluindo a produção de oxigênio.

A guerra que invade o hospital Nasser ocorre enquanto as equipes de MSF no Nasser e no hospital Al-Aqsa têm sido inundadas por um grande número de pacientes feridos que têm chegado ao mesmo tempo. Somente em julho, isso ocorreu em 10 ocasiões distintas, após ataques e combates, muitas vezes em áreas onde as pessoas deslocadas estão abrigadas.

“Todos os dias de julho têm sido um choque após o outro”, diz Javid Abdelmoneim, líder da equipe médica de MSF.  “[Em 24 de julho] durante a última varredura no pronto-socorro, pensei em ir lá e verificar por mim mesmo, só para ter certeza de que nenhum paciente havia sido deixado para trás. Entrei atrás de uma cortina e havia uma garotinha sozinha, morrendo sozinha. Não havia ninguém lá”, relata Abdelmoneim.

“Sua perna esquerda estava torcida. Ela ainda respirava, mas foi deixada para morrer porque aqui, agora, o sistema não consegue lidar. E este é o resultado de um sistema de saúde em colapso: uma garotinha de 8 anos, morrendo sozinha em uma maca na sala de emergência. Em um sistema de saúde em funcionamento, ela teria sido salva.”

De acordo com o Ministério da Saúde, os níveis no banco de sangue do hospital Nasser estão criticamente baixos após cinco fluxos sucessivos de pacientes que chegaram, com cerca de 180 pessoas mortas e 600 feridas. Uma em cada dez pessoas que se voluntariaram para doar sangue durante uma atividade de coleta de sangue promovida pelo Ministério da Saúde e apoiada por MSF não estava apta para doar devido a anemia ou desnutrição.

No hospital Al-Aqsa, o setor de emergência não foi capaz de funcionar corretamente, pois está sobrecarregado de pacientes. Antes da guerra, o hospital Al-Aqsa tinha cerca de 220 leitos. Atualmente, o hospital tem entre 550 e 600 pacientes internados.

“O hospital Al-Aqsa já tem várias centenas de pacientes acima da capacidade de leitos”, diz Alice Worsley, coordenadora de enfermagem de MSF. A instalação está sobrecarregada dessa maneira após receber pacientes de um ataque israelense à escola Khadija, em Deir Al-Balah, em 27 de julho. “A situação era desesperadora: mesmo a resposta mais dedicada nem sempre pode salvar vidas sem suprimentos, leitos e equipe médica suficientes.”

“Cerca de 50% dos pacientes que atendemos eram crianças, muitas com lesões significativas que exigiam cuidados intensivos. Recebemos um menino de 6 anos de idade que teve 80% do corpo queimado. Recebemos um outro menino de 3 ou 4 anos de idade que sofreu uma lesão facial significativa e tivemos que colocar um tubo para ajudá-lo a respirar”, relata Worsley.

“O enfermeiro que estava me ajudando com esse paciente era um familiar da criança. Ele me disse que a mãe do menino havia sido morta no mesmo ataque. A criança tinha um gesso no braço, o que significa que obviamente já havia sido ferida nesta guerra há pouco tempo. Portanto, essa foi, pelo menos, a segunda vez que essa criança foi ferida em um incidente”, contou Worsley.

Em 22 e 27 de julho, as forças israelenses emitiram duas ordens de evacuação em Khan Younis, resultando em mais um deslocamento em massa reduzindo ainda mais o espaço disponível para que as pessoas possam dormir.  De acordo com o Escritório das Nações Unidas para a Coordenação de Assuntos Humanitário (OCHA), de 22 a 25 de julho aproximadamente 190 mil palestinos foram deslocados em Khan Younis e Deir Al-Balah.

Desde o início da guerra, estima-se que 1,7 milhão de pessoas foram alertadas para que se mudassem para uma área de 48 quilômetros quadrados, o que representa 13% da Faixa de Gaza, de acordo com a Organização Mundial da Saúde. 

Embora as chamadas zonas humanitárias tenham se mostrado inseguras em Gaza, a existência de tais áreas não elimina as obrigações das partes em conflito de proteger os civis – onde quer que estejam. Por quase 10 meses, o que temos visto é que nenhum lugar é seguro em Gaza.

MSF pede a todas as partes que garantam acesso seguro aos cuidados e evitem a evacuação do hospital de Nasser, o que colocaria em risco centenas de pacientes.

As equipes de MSF no hospital Nasser fornecem cirurgia ortopédica, cuidados com traumas e queimaduras, apoiam os setores de maternidade e pediatria e uma unidade de terapia intensiva neonatal. Em julho, equipes de MSF no hospital Nasser, no sul de Gaza, responderam a grandes fluxos de pacientes causados por incidentes com múltiplas vítimas gravemente feridas nos dias 1, 13, 16, 17 e 22 de julho.

No hospital Al-Aqsa, estamos oferecendo cuidados de reabilitação, cirurgia de trauma, cuidados avançados de feridas e pós-operatórios, fisioterapia e apoio à saúde mental. Em julho, equipes de MSF no hospital, na região central de Gaza, responderam a grandes fluxos de pacientes causados por incidentes com múltiplas vítimas gravemente feridas nos dias 9,13, 14, 16 e 27 de julho.

¨      Itamaraty condena ataque a Beirute e cita "extrema preocupação" com Israel e Hezbollah

O Ministério das Relações Exteriores do Brasil emitiu uma nota nesta quarta-feira (31) repudiando o bombardeio israelense em Beirute, capital do Líbano, na terça-feira (30). As Forças de Defesa de Israel anunciaram que realizaram um ataque no subúrbio sul da capital libanesa visando um "comandante responsável pelo assassinato de crianças em Majdal Shams e pela morte de vários outros civis israelenses". No último sábado, as IDF disseram que 12 pessoas haviam sido mortas em um ataque de foguetes nas Colinas de Golã, que atribuiu ao Hezbollah. O movimento libanês negou a acusação. O primeiro-ministro israelense Benjamin Netanyahu disse que Israel não deixaria o ataque nas Colinas de Golã sem resposta e que o Hezbollah pagaria um preço "que nunca pagou antes".

Em nota, o Itamaraty manifesta "extrema preocupação" diante da "escalada de hostilidades entre Israel e o braço armado do partido libanês Hezbollah". Leia:

Ataque aéreo israelense a Beirute

O governo brasileiro condena o ataque aéreo conduzido por Israel ontem, 30/07, em área residencial de Beirute.

O Brasil acompanha com extrema preocupação a escalada de hostilidades entre Israel e o braço armado do partido libanês Hezbollah. A continuidade do ciclo de ataques e retaliações leva a espiral de violência e agressões com danos cada vez maiores, sobretudo às populações civis dos dois países.

Desse modo, exorta as autoridades israelenses e o Hezbollah a se absterem de ações que possam vir a expandir o conflito, com consequências imprevisíveis para a estabilidade do Oriente Médio e a segurança internacional.

O governo brasileiro apela à comunidade internacional para que se valha de todos os instrumentos diplomáticos à disposição para conter imediatamente o agravamento do conflito.

 

Fonte: Sputnik Brasil/MSF-Imprensa/Brasil 247

 

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