quarta-feira, 24 de julho de 2024

Scott Ritter: saída de Biden da corrida eleitoral mostra quem realmente governa a América

O timing da saída repentina de Joe Biden da corrida presidencial levanta questões importantes sobre a condução da política norte-americana, argumenta o ex-oficial de inteligência do Corpo de Fuzileiros Navais dos EUA Scott Ritter.

"Não há dúvida de que Joe Biden não está apto para ser presidente dos Estados Unidos. Sem dúvida. Mas aqui está a questão. Se ele não está apto para concorrer como candidato do Partido Democrata, por que o nomearam?", questionou o ex-oficial de inteligência do Corpo de Fuzileiros Navais dos EUA e ex-inspetor de armas Scott Ritter, observando que os sinais da fragilidade de Biden eram visíveis durante a cúpula do G7 (grupo composto por Alemanha, Canadá, Estados Unidos, França, Itália, Japão e Reino Unido) na Itália no mês passado.

Segundo ele, o fato de Biden não estar apto para ser o próximo presidente dos EUA, mas ainda assim ter sido autorizado a "concorrer", levanta a questão: quem está realmente no comando nos Estados Unidos?

"Quem está comandando a América [do Norte]? Porque não é Joe Biden. Não sabemos quem. É um grupo não eleito de manipuladores oriundos do que acho que podemos chamar de establishment. Algumas pessoas podem se referir a isso como Estado profundo. E são essas as pessoas que mandam", afirmou Ritter, observando que "as decisões críticas de governança" que esse grupo toma são tomadas "para o povo norte-americano, mas não necessariamente em nome do povo norte-americano".

Ele descreve as eleições presidenciais de 2024 nos EUA como "um teste à democracia norte-americana" e uma "disputa entre as elites estabelecidas que se encontram no Partido Democrata e esta onda de populismo na forma de Donald Trump, que está assumindo o controle do Partido Republicano".

No entanto, embora normalmente seja permitido aos norte-americanos "ter uma palavra a dizer sobre o resultado" desse processo, o Partido Democrata e as "elites conhecidas e desconhecidas" optaram agora por interferir nesse processo e "vão selecionar quem será o seu candidato para a presidência nas eleições de 2024", o que "não é como deveria ser", observou.

"A América [do Norte] está em crise, uma crise de democracia, uma crise de identidade. E não parece que tenhamos uma solução porque, na maior parte dos casos, o povo norte-americano tem sido confundido, enganado e manipulado pelos principais meios de comunicação, fazendo-o de alguma forma pensar que isso é normal", lamentou Ritter.

<><> 'Decisão de abandonar campanha não foi de Biden, ele foi afastado pelo partido', diz republicana

A decisão do presidente Joe Biden de retirar sua candidatura à reeleição foi resultado de o Partido Democrata o ter afastado depois de determinar que ele já não era mais útil, disse à Sputnik a candidata republicana ao Congresso Kathleen Winn.

Ontem (21), Biden anunciou sua desistência da corrida presidencial de 2024 depois de decidir que era no melhor interesse do seu partido e dos Estados Unidos. Ele endossou sua vice-presidente Kamala Harris para ser a candidata do Partido Democrata para o cargo presidencial dos EUA, que foi aceito por ela.

"Não acho que Biden tenha desistido, foi antes o partido que o afastou", disse Winn no domingo (21). "Acho que Biden foi bem claro que não queria desistir. Me parece que as pessoas no seu partido, especialmente Chuck Schumer, Adam Schiff e George Clooney, aparentemente, todos decidiram que era hora de ele sair. E acho que ele deixou de ser útil. As pessoas deveriam começar a questionar quem

Winn acrescentou que é questionável se Biden ainda está apto para servir o restante de sua atual presidência. Biden está levando a culpa pelo Partido Democrata agora, mas os democratas foram longe demais, observou ela.

"Estamos em um lugar onde os americanos, independentemente de seu partido, querem trazer estabilidade e normalização de volta para este país, e muitos sentem que estamos em risco de perder nosso país, e é devido às políticas de Harris e Biden", disse Winn.

¨      Por decisão 'tardia', sucessor de Biden precisará de esforço brutal para vencer Trump, diz analista

A desistência de Biden da eleição presidencial marca um evento raro na política norte-americana. À Sputnik Brasil especialistas em política estadunidense explicam o que resta da campanha dos democratas com a retirada da tradicional candidatura à reeleição.

O presidente dos Estados Unidos e candidato a reeleição, Joe Biden, anunciou neste domingo (21) sua desistência na corrida pela Casa Branca.

Apesar de muito especulada, a decisão de Biden pegou todos de surpresa, com muitos de seus assessores mais próximos sendo informados um minuto antes de sua carta ao público ser publicada em sua conta no X (antigo Twitter), informou o jornal The New York Times.

A última vez que um candidato desistiu de concorrer foi há mais de 50 anos, quando Lyndon B. Johnson, que iniciou a guerra do Vietnã e foi vice de John F. Kennedy, desistiu após um péssimo início de campanha, lembrou a CNN.

Em entrevista à Sputnik Brasil, a professora de política internacional na Universidade Torquato di Tella na Argentina e colaboradora do Instituto de Estudos Sociais e Políticos (IESP) da Universidade do Estado do Rio de Janeiro (UERJ), Monica Hirst, afirma que a decisão é "acertada, porém tardia".

"Infelizmente, a campanha já está muito acelerada do ponto de vista da situação e do posicionamento do Trump."

Bárbara Motta, professora de relações internacionais da Universidade Federal de Sergipe (UFS) explica que ainda que Biden afirmasse publicamente que não desistiria, a dúvida sempre existiu no cenário político norte-americano. "E essa dúvida, somada aos acontecimentos recentes, é o que explica a chegada desse momento de 'não retorno'."

Nas últimas semanas, e especialmente após um fraco desempenho no debate, um conjunto de episódios "emblemáticos" evidenciaram uma imagem de "inaptidão" de Biden, como o ter esquecido o nome do secretário de Defesa, Lloyd Austin, e ter confundido Vladimir Zelensky com Vladimir Putin, presidente da Rússia, durante o encerramento da cúpula da Organização do Tratado do Atlântico Norte (OTAN) em Washington D.C.

A candidatura de Trump também ganhou bastante força nos últimos dias, apontam ambas analistas. "Principalmente a forma como o Trump reagiu a esse atentado, com uma imagem de bastante força, de se mostrar apto fisicamente", diz Motta.

<><> Quem sucederá Biden?

Segundo Motta, um sucessor para Biden não deve demorar para aparecer. "Quanto mais o Partido Democrata retardar essa decisão, mais as chances do Trump aumentam", diz.

"Ou porque o partido é visto como fraco, como vacilante, sem conseguir resolver internamente as suas questões ou porque não vai ser possível pensar numa estratégia de campanha específica para aquele candidato ou para aquela candidata."

Nesse sentido, o nome da vice-presidente Kamala Harris já é o mais cotado dentre os possíveis substitutos para o atual presidente. A política recebeu apoio não só de Biden, mas de figuras de peso dentro do partido como Bill e Hillary Clinton.

Robert Kennedy Jr., candidato independente, apelou aos democratas que decidissem um novo candidato em um processo aberto durante a Convenção Nacional Democrata, que acontecerá em 19 de agosto. Para a professora da UFS, no entanto, "em um horizonte de quatro meses para as eleições, um mês é muita coisa, é esperar muito".

Para Hirst, o nome de Harris também é o mais indicado até mesmo do ponto de vista de utilizar as doações já recebidas, uma vez que ela já fazia parte da chapa eleitoral. No entanto, "é uma pena que ela teve uma projeção tão limitada durante todo o mandato [atual de Biden]", diz a colaboradora do IESP.

"Isso foi um erro do governo Biden durante os últimos três anos e meio. Ela tem que recuperar um tempo perdido em muito pouco tempo e vai exigir um esforço brutal."

A própria nomeação de Harris como vice-presidente de Biden em 2020 foi feita com o fim de dar a seu nome uma projeção nacional, lembra Motta. "Mas ao longo dos últimos quatro anos, a vice-presidente quase não teve destaque, ou pelo menos não teve um destaque que a ajudasse ou ajudasse o partido nesse momento."

"Isso é um erro de estratégia que não é de agora, é um erro de estratégia que dura quatro anos."

Com sua desistência, "o momento Biden está completamente superado", decreta Hirst. "Agora é preto e branco. É uma campanha que vai ficar clara do ponto de vista do que está em jogo."

A professora da Universidade Torquato di Tella ressalta que, nesse "momento de liderança política extremamente problemático" dos Estados Unidos, a possível nomeação de Kamala Harris escancara a diferença entre os Democratas e os Republicanos nos temas fundamentais para os cidadãos estadunidenses, desde imigração e aborto, ao auxílio à Gaza e a Ucrânia.

"As posições de cada lado são bem conhecidas, são posições que não são bipartidárias, que não tem realmente uma ponte de construção de diálogo. São dois projetos de Estados Unidos muito diferentes."

<><> O impasse democrata

Ainda que o nome de Harris seja dado como quase certo dentro do cenário político norte-americano, isso não quer dizer que os dados já tenham sido lançados, apontam ambas as analistas.

Dentro do próprio Partido Democrata muito trabalho terá de ser feito uma vez que "Harris entra com uma situação bastante desigual do ponto de vista do poder da sua postulação", diz Hirst, e que "do ponto de vista de orientação política, ela e o Biden são diferentes", afirma Motta.

"Então que a estratégia de campanha vai precisar de substantivas alterações", diz a professora da UFS. "A figura da vice-presidência vai ser um dos elementos fundamentais para a gente entender qual vai ser a cara dessa chapa."

A escolha certa do vice-presidente traz robustez para as campanhas presidenciais. O exemplo claro disso foi a escolha "afiada" de Donald Trump pelo senador J. D. Vance, nome que "complementa noite e dia os significados e mensagens" de sua campanha, explica Hirst.

Para Motta, a estratégia dos democratas agora deve ser de apostar no ineditismo de lançar a primeira mulher negra candidata à presidência dos Estados Unidos, tentando aprofundar os laços com os setores mais progressistas.

A eleição presidencial passada foi a que mais mobilizou votos no país, no qual votar não é obrigatório. Tanto Joe Biden quando Donald Trump alcançaram números recordes de votos, evidenciando a polarização do eleitorado.

Na deste ano, contudo, as pesquisas apontam para um número maior de desinteressados, desiludidos por ambas as candidaturas, mas em especial pelas ações do atual presidente com o auxílio à Ucrânia e a Gaza.

"Há muito trabalho a ser feito e é preciso ver até onde se consegue mobilizar a sociedade norte-americana em direção ao fortalecimento dessa postulação", resume Hirst.

¨      Com a saída da corrida eleitoral, qual legado Joe Biden deixou na Casa Branca?

Biden anunciou que abandonaria a corrida presidencial de 2024 no último domingo (21), em meio aos apelos de democratas proeminentes e doadores para que se retirasse após seu péssimo desempenho no debate do mês passado contra o ex-presidente Donald Trump.

Em uma declaração sobre a sua decisão de se retirar da corrida presidencial de 2024, o presidente Joe Biden também refletiu sobre os resultados dos seus quatro anos no cargo, afirmando que os EUA construíram a "economia mais forte do mundo".

Ele elogiou os esforços para expandir o que descreveu como "cuidados de saúde acessíveis a um número recorde de norte-americanos", argumentando também que a sua administração supostamente forneceu "cuidados extremamente necessários a um milhão de veteranos expostos a substâncias tóxicas".

<><> É isso mesmo, Joe?

Em primeiro lugar, o colapso econômico dos EUA não mostra sinais de diminuir, com 36% dos norte-americanos recentemente inquiridos pela Pew Research classificando a economia nacional como "pobre". Acrescente-se a isso o fato de a dívida estatal dos EUA, que se situa atualmente em quase US$ 34,4 trilhões (cerca de R$ 191,1 trilhões), estar aumentando em US$ 1 trilhão (mais de R$ 5,5 trilhões) a cada 100 dias.

Além disso, a crise migratória dos EUA persiste, uma vez que novos dados da Alfândega e Proteção de Fronteiras (CBP, na sigla em inglês) revelam um aumento significativo nas passagens ilegais de fronteiras, com mais de 205.000 apreensões só em junho, elevando o total para o ano fiscal de 2024 para 2,5 milhões.

Enquanto isso, a overdose de drogas continua sendo uma das principais causas de morte por lesões em adultos nos EUA e aumentou nos últimos anos. As overdoses se referem especificamente a opioides sintéticos (fentanil) e estimulantes (cocaína e metanfetamina), de acordo com dados dos Centros de Controle e Prevenção de Doenças.

<><> Histórico de política externa de Biden

A crise na Ucrânia está em pleno andamento, à medida que a administração Biden continua colocando lenha na fogueira, fornecendo suprimentos militares a Kiev, apesar dos repetidos avisos da Rússia de que tal assistência apenas prolongaria o impasse.

Separadamente, a guerra de Gaza ainda está em vigor, apesar do muito alardeado plano de Biden para ajudar a garantir um cessar-fogo entre Israel e o Hamas. O presidente dos EUA disse no mês passado que a guerra de Gaza deve terminar agora e que Israel não deve ocupar o enclave palestino após o fim das hostilidades — outra declaração que aparentemente foi ignorada pelo Estado judeu.

Como a cereja no bolo, Biden não cumpriu a sua promessa de restaurar o acordo nuclear com o Irã de 2015, tendo as conversações de Viena sobre o assunto finalmente chegado a um impasse.

<><> Estado profundo poderia dar 'outro tiro' em Trump, sugerem ex-funcionários dos EUA

o candidato republicano à presidência dos EUA, Donald Trump, foi atingido na orelha por uma bala durante um comício de campanha por um potencial assassino de 20 anos que subiu em um telhado a menos de 180 metros do palco.

O incrível fracasso do Serviço Secreto levou a teorias de que forças além de apenas o atirador estavam envolvidas. O ex-presidente dos EUA e candidato republicano a presidente Donald Trump pode não conseguir chegar à eleição, disseram à Sputnik o ex-analista da Agência Central de Inteligência (CIA) dos EUA, Ray McGovern, e o ex-secretário assistente do Tesouro dos EUA, Paul Craig Roberts, em entrevistas separadas.

"Minha pergunta é se eles [o Estado profundo] vão tentar mais uma vez atirar em Trump", disse McGovern na sexta-feira (19). "Estou falando sério. Há muito em jogo. Tanta coisa em jogo. E eu só me pergunto se ele vai conseguir chegar lá e, chame-me de teórico da conspiração, mas esses indivíduos, eles não têm muita consciência se eles toleram genocídio em Gaza, se eles toleram meio milhão de jovens ucranianos sendo mortos por seus caprichos."

Roberts expressou sentimentos semelhantes no domingo (21). "A verdadeira questão é: o Estado profundo vai escapar da sua tentativa de assassinato e vai tentar outra?", disse Roberts. "Considero que vai haver mais tentativas contra a vida de Trump."

Roberts apontou que eles utilizaram várias táticas para se livrar de Trump antes de se virar para o assassinato: "Rússiagate, dois impeachments, porn star-gate, insurreição e depois quatro indiciamentos criminais e vários indiciamentos civis." "Os democratas que atuam pelo Estado profundo acreditavam que poderiam se livrar de Trump dessa maneira", disse Roberts.

"Quando essas tentativas falharam, eles viraram para o assassinato. A evidência acústica dos tiroteios deixa claro que havia mais de um atirador. [Thomas Matthew] Crooks foi o bode expiatório. Trump sobreviveu ao assassinato porque virou a cabeça."

 

Fonte: Sputnik Brasil

 

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