Maurício Abdalla: ‘Eleições nos EUA - o que
temos com isso?’
A direita liberal e a
mídia corporativa normalizam o fascismo ao tratá-lo como alternativa política
aceitável. Assim, tornam-se cúmplices do mal maior da modernidade: a gestão do
capitalismo sem as conquistas civilizatórias da burguesia revolucionária dos inícios
da modernidade e as das organizações dos trabalhadores e movimentos de esquerda
dos séculos posteriores.
A articulação
internacional do fascismo acende um alerta de ameaça de terror global, pior
ainda do que o que já vivemos.
Dizer que “B é pior do
que A” não significa dizer que A é bom. É angustiante ter de repetir uma
afirmação tão óbvia, uma vez que “pior” significa, primeiramente, “mais ruim”.
Quem insiste em dizer e repetir que uma coisa é ruim só porque alguém disse que
uma outra é pior, erra grosseiramente no uso elementar da lógica. Alguém
realmente acha que a afirmação de que chikungunya é pior que dengue faz a
dengue deixar de ser uma doença e passe a ser uma bendição?
Porém, algo tem
travado a capacidade de entendimento das pessoas e precisamos urgentemente
identificar as causas para destruir essa trava. Além de irritante, essa falta
de conexão de ideias é perigosa e bloqueia toda possibilidade de ação
consequente e opinião sensata.
Além de cometer esse
mesmo equívoco lógico, a esquerda repete o erro da direita liberal e da mídia
corporativa quando insiste em equiparar as duas candidaturas à presidência dos
EUA e nivelar seus resultados para o mundo. Isso equivale a admitir o fascismo
como alternativa normal, sob o argumento (por sua vez, correto) de que ambas as
candidaturas representam o imperialismo cruel e intervencionista dos EUA.
Pois, não foi algo
semelhante que levou a direita e a mídia brasileira a aceitarem o capitão
fascista como alternativa nas eleições nacionais de 2018, ou seja, por não
enxergarem em Haddad o representante ideal de suas ideias políticas? Não foi
“uma escolha difícil”, para elas?
O fato é que a
articulação internacional do fascismo (muito mais coesa e ativa que qualquer
articulação da esquerda mundial no presente) aposta suas fichas na eleição de
Trump e será fortalecida com sua vitória. Mesmo que fosse apenas simbólico (mas
não é!) o efeito da derrota de Trump para a extrema direita mundial já valeria
a vitória da candidata democrata.
Os problemas do
bloqueio à Cuba e Venezuela, do genocídio palestino, das guerras, do apoio ao
capital financeiro, indústria de armas, petróleo, fármacos e biotecnologia, das
espionagens e intervenções na soberania dos países do mundo, da violação do
direito internacional etc. seguirão. Afinal, alguém imagina que esses problemas
se resolvem apenas com eleições nos EUA? Para quem acredita que o governo
estadunidense controla realmente o Estado, resta o famoso bordão do Compadre
Washington: “sabe de nada, inocente!”.
Não fosse o DNA
nazi-fascista de Trump e dos trumpistas e a articulação internacional da
extrema-direita, que terá um enorme reforço com a eleição do candidato
republicano, poderíamos assistir a eleição dos EUA como mera curiosidade, ou
sequer nos preocuparmos com ela, como muitos faziam no passado. Poderíamos nos
ocupar apenas em zombar de quem se comporta como se fosse votar em um dos
candidatos de lá.
Realmente, nossa
opinião ou posicionamentos não têm absolutamente nenhum impacto nas eleições
estadunidenses, mas nem por isso precisamos exercitar a cegueira analítica de
forma tão despreocupada. Isso pode viciar e afetar nossas opções para as
eleições locais.
O mais importante é
que teremos eleições municipais no Brasil este ano e é aqui que votamos. Em
nosso país também precisamos deter o avanço da extrema-direita. Mas em um mundo
cada vez mais integrado, não podemos deixar de pensar globalmente e nas consequências
locais da política internacional.
Inclusive, os desafios
das nossas eleições municipais se conectam com o projeto do fascismo mundial,
do qual Trump é um poderoso representante. Isso é assunto para outra reflexão.
• Uma bíblia presidencial? Por Paolo Naso,
com tradução de Luisa Rabolini
O passo atrás
finalmente chegou e Joe Biden se retirou da corrida presidencial do próximo 5
de novembro. Pelo menos até a Convenção de Chicago, em 19 de agosto, o bastão
democrata passa para Kamala Harris. Para convencer o povo democrata e, acima de
tudo, inverter as pesquisas que, em sua maioria, a dão como perdedora, a
vice-presidente precisa escalar uma montanha de preconceito e ceticismo: uma
mudança é sempre possível, mas apenas com a condição, hoje muito difícil de
imaginar, de que a Convenção inflame os espíritos de um partido e um eleitorado
incertos e deprimidos. Enquanto esperam que os democratas resolvam suas
dúvidas, Trump permanece firmemente no centro do palco e, na situação de hoje,
ele é o homem a ser vencido. Ele está ciente disso e, especialmente após o
atentado de 13 de julho, adotou tons mais moderados do que o habitual,
preferindo jogar em seu campo e deixar que a fraqueza do campo adversário
afirme a força e a credibilidade de sua candidatura. Mobilizando-se com sua
habitual virulência comunicativa continua firme seu pessoal, os homens e
mulheres do MAGA ("Make America Great Again"), o slogan nostálgico,
porém eficaz, dessa campanha republicana.
Os dados econômicos,
as análises geopolíticas e os próprios noticiários nos dizem que se trata de um
sonho ilusório e regressivo, centrado em um soberanismo radical que já está
ultrapassado: a fraqueza e a volatilidade dos mercados são agora uma constante;
a normalização das relações com a Rússia certamente não está próxima; a China
está fortalecendo suas posições nos cinco continentes; num Oriente Médio em
chamas, o Irã certamente não está de braços cruzados. Mas a sugestão de que
Trump possa garantir um retorno aos tempos antigos da pax estadunidense, em que
a classe média, mais uma vez garantida e protegida, poderá impulsionar um novo
milagre, continua muito forte e atrai o aplauso de setores moderados, às vezes
bem distantes do impetuoso extremismo do candidato republicano. O grupo
religioso que mais compactamente apoia Trump é a articulada galáxia evangélica,
que, segundo dados do Pew Center de Washington, em 67% se expressa a seu favor:
muito mais do que os católicos (51%), os protestantes históricos (47%), os
evangélicos de origem hispânica (45%) ou os afro-americanos, entre os quais o
consenso ao magnata cai para 17%.
Como se sabe, a
galáxia evangélica estadunidense é altamente articulada e inclui redes
organizadas, como a influente Associação Nacional de Evangélicos (Nae),
megaigrejas, redes de telepregadores, igrejas independentes sem filiação
denominacional. Mas também pentecostais, igrejas de tradição fundamentalista,
associações pró-vida, movimentos e think tank da direita religiosa; até mesmo
segmentos minoritários das igrejas protestantes históricas. Em suma, estamos
diante de um fenômeno complexo e articulado que, embora hoje seja claramente
majoritário na direita, dentro dele tem outros componentes politicamente mais
moderados e, às vezes, orientados para os temas do pacifismo e da justiça
social. O nome mais conhecido é o de Jim Wallis, ex-editor da revista Sojourners,
e hoje nas livrarias com um livro que critica abertamente a direita religiosa:
The False With Gospel. Rejecting Nationalism, Reclaiming True Faith and
Refounding Democracy. Um livro desafiador que, com a linguagem de uma
espiritualidade evangélica carismática, denuncia a deturpação de um falso
evangelho, "branco", nacionalista, militarista e populista.
Mas essa, como outras,
são vozes minoritárias.
A grande obra-prima
política de Trump e daqueles que dirigem sua campanha foi transformar a figura
de um magnata sem escrúpulos, orgulhoso de sua amoralidade, numa testemunha da
fé cristã, que cita a Bíblia e até a divulga. Milhões de estadunidenses já viram
um comercial em que Trump acena com um exemplar da God Bless the USA Bible:
essa versão da Bíblia, que traz a assinatura presidencial e a invocação das
bênçãos de Deus sobre o leitor, é a única – ela afirma – na qual o
ex-presidente se reconhece plenamente. Embora o preço não seja exatamente
animador - sessenta dólares - ela se tornou um objeto de culto da direita
religiosa. Aos olhos do eleitorado evangélico, os três casamentos de Trump, a
condenação de ter pago o silêncio de uma estrela pornô com quem teve um caso
extraconjugal e a demente campanha sobre o "roubo eleitoral" de 2020
passam para o segundo plano. “No final, explicam os líderes do movimento, até o
rei Davi tinha suas culpas, mas se converteu e se tornou um instrumento nas
mãos de Deus".
"Jesus é meu rei,
Trump meu presidente”, gritou o povo evangélico que o aclamou na convenção
republicana que há poucos dias se concluiu em Wisconsin. Dele, seus apoiadores
apreciam a franqueza e a determinação com que, com atos políticos precisos, procurou
demolir a legislação sobre o aborto, limitar os direitos da comunidade LGBT,
apoiar grupos fundamentalistas do chamado "sionismo cristão" e pediu
uma América que, como ele disse em 27 de março, "volte a rezar".
Repetindo "Deus está comigo", Donald Trump se apresenta como o homem
da revanche de um país conservador e desorientado que, apesar de sua
Constituição e da dinâmica social que a atravessa, quer se declarar
"cristão" na convenção republicana que terminou nos últimos dias em
Wisconsin.
• Trump deu conselho monstruoso a sobrinho
sobre filho deficiente
O ex-presidente e
atual postulante ao cargo Donald Trump teria dado um conselho monstruoso a seu
sobrinho, filho de seu irmão mais velho Fred, Fred C. Trump III, que é pai de
uma criança que nasceu com deficiência grave.
A história é contada
pelo sobrinho em um livro que será lançado na 3ª feira (30). O título é “All in the Family: The Trumps and
How We Got to Be This Way” (em tradução livre “Tudo em família: os Trumps e
como chegamos a esse ponto”).
O pai de Fred Trump
III, irmão de Donald Trump, seria o herdeiro natural dos negócios da família,
que ficou bilionária no ramo da construção civil, mas teve problemas com a
bebida e morreu de ataque cardíaco nos anos 1980. Os negócios da família
ficaram então aos cuidados de Donald Trump.
Fred Trump III tem um
filho com deficiência cognitiva severa, portador de uma condição médica rara
que limita seu desenvolvimento intelectual e motor.
Foi conversando com o
tio que Fred ouviu de Donald Trump o conselho simplesmente monstruoso sobre
como deveria tratar o filho deficiente:
“Ele nem te reconhece.
Talvez você devesse simplesmente deixá-lo morrer e se mudar para a Flórida.”
O jornal “The New York Times” obteve uma cópia
do livro e divulgou alguns trechos do que foi escrito pelo sobrinho de Trump.
• morte de pessoas com deficiência
– Fred disse que a
declaração de Trump foi feita depois de ele ter pedido ao tio apoio para o
fundo médico que pagava pelos cuidados de seu filho. Antes, o ex-presidente,
quando estava ainda na Casa Branca, havia feito um comentário parecido depois
de uma reunião com ativistas pela causa das pessoas com deficiência. O encontro
tinha sido organizado por Fred com o apoio de sua prima Ivanka, filha de Trump.
A princípio, o republicano parecia empolgado, mas depois disse ao sobrinho:
“talvez esse tipo de pessoa devesse simplesmente morrer dada a forma em que
estão, todas as despesas“.
• insulto racial
- Fred contou em seu livro que ouviu o tio usar
um insulto racial. O episódio teria ocorrida na década de 1970 depois de Trump
ter seu carro danificado. Em busca de um culpado pelo que havia ocorrido, ele
teria dito para o sobrinho. “Olha o que os negros fizeram”. Segundo Fred, para
se referir aos “negros”, Trump usou a palavra “nigger”. O termo é ofensivo à
população negra dos Estados Unidos e não deve ser usado no país por sua
simbologia racista.
• Trump apela a investidores de criptomoedas
em conferência
O candidato
presidencial republicano Donald Trump compartilhou no sábado seus planos de
promover criptomoedas se for eleito para um segundo mandato e disse que quer
que os EUA se tornem uma "superpotência do bitcoin" sob sua
liderança.
Trump discursou em uma
conferência sobre criptomoedas em Nashville, Tennessee, onde, em seus esforços
para atrair investidores em criptomoedas, ele prometeu fazer dos Estados Unidos
a "capital criptográfica do planeta" e criar uma "reserva
estratégica" de bitcoin usando a moeda que o governo atualmente detém.
Na conferência, Trump
disse que também constituiria um conselho consultivo de criptomoedas e, em tom
de brincadeira, perguntou aos seus apoiadores se eles participariam.
"Teremos
regulamentações, mas de agora em diante as regras serão escritas por pessoas
que amam seu setor, não que odeiam seu setor", disse ele.
Em seu discurso de
quase uma hora de duração, Trump tentou repetidamente comparar seus planos de
crescimento do mercado de criptomoedas aos esforços do governo Biden para
regulamentar o setor .
Trump disse aos
participantes que o governo federal estava "bloqueando seu caminho".
Ele disse que queria que a criptomoeda fosse "minerada, cunhada e
feita" nos Estados Unidos.
<><> A
reviravolta de Trump em relação à criptomoeda
O gosto de Trump por
criptomoedas não é apenas novo, mas também contrasta fortemente com sua posição
anterior.
Em 2019, Trump
rejeitou a moeda digital, dizendo que seu "valor é altamente volátil e
baseado no nada".
Dois anos depois, ele
chegou a chamar o bitcoin de "golpe".
No entanto, ao longo
dos anos, Trump adotou a moeda digital e, a partir deste ano, sua campanha
começou a aceitar doações em criptomoedas.
• Trump recua sobre debate com Kamala
Harris
A vice-presidente
Kamala Harris, cotada para substituir Joe Biden nas eleições presidenciais dos
Estados Unidos, acusou o ex-presidente Donald Trump de ter recuado em
participar de um debate, marcado para o dia 10 de setembro. A campanha do
republicano afirmou na quinta-feira, 25, que não se comprometeria com nenhum
debate até o Partido Democrata oficializar o nome do candidato para a corrida à
Casa Branca.
Após sofrer pressão –
tanto da mídia, quanto de alguns aliados e financiadores do Partido Democrata
-, o presidente Joe Biden anunciou no dia 21 de julho a sua desistência à
reeleição e declarou apoio à vice-presidente Kamala Harris. Antes disso, as
campanhas de Biden e Trump tinham acordado um debate organizado pela ABC no dia
10 de setembro, mas agora não está garantido que isso pode acontecer.
Na quinta-feira, ao
pousar na Base Conjunta de Andrews, Kamala disse a jornalistas que “concordei
com o debate previamente acordado em 10 de setembro, ele concordou com isso
anteriormente. Agora parece que ele está recuando. Mas estou pronta. E acho que
os eleitores merecem ver a tela dividida que existe nesta disputa em palco de
debate e então, estou pronta. Vamos”.
Depois, o diretor de
comunicação da campanha de Trump, Steven Cheung, disse que “seria inapropriado
agendar coisas com Harris porque os democratas ainda poderiam mudar de ideia”,
pois a vice-presidente é apenas pré-candidata da legenda.
Kamala questionou por
meio de uma publicação no X (antigo Twitter): “O que aconteceu com ‘a qualquer
hora, em qualquer lugar?’”.
A alguns repórteres,
Trump afirmou que deseja debater com Harris, mas ainda não concordou com uma
data. “Eu não concordei com nada. Concordei em um debate com Joe Biden. Mas
quero debater com ela, e ela não será diferente porque eles têm as mesmas
políticas. Acho que debater é importante para uma corrida presidencial, acho
mesmo. Você meio que tem a obrigação de debater”, completou.
Fonte: Outras
Palavras/Riforma/Deutsche Welle/IstoÉ/CNN Brasil
Nenhum comentário:
Postar um comentário