segunda-feira, 29 de julho de 2024

Maurício Abdalla: ‘Eleições nos EUA - o que temos com isso?’

A direita liberal e a mídia corporativa normalizam o fascismo ao tratá-lo como alternativa política aceitável. Assim, tornam-se cúmplices do mal maior da modernidade: a gestão do capitalismo sem as conquistas civilizatórias da burguesia revolucionária dos inícios da modernidade e as das organizações dos trabalhadores e movimentos de esquerda dos séculos posteriores.

A articulação internacional do fascismo acende um alerta de ameaça de terror global, pior ainda do que o que já vivemos.

Dizer que “B é pior do que A” não significa dizer que A é bom. É angustiante ter de repetir uma afirmação tão óbvia, uma vez que “pior” significa, primeiramente, “mais ruim”. Quem insiste em dizer e repetir que uma coisa é ruim só porque alguém disse que uma outra é pior, erra grosseiramente no uso elementar da lógica. Alguém realmente acha que a afirmação de que chikungunya é pior que dengue faz a dengue deixar de ser uma doença e passe a ser uma bendição?

Porém, algo tem travado a capacidade de entendimento das pessoas e precisamos urgentemente identificar as causas para destruir essa trava. Além de irritante, essa falta de conexão de ideias é perigosa e bloqueia toda possibilidade de ação consequente e opinião sensata.

Além de cometer esse mesmo equívoco lógico, a esquerda repete o erro da direita liberal e da mídia corporativa quando insiste em equiparar as duas candidaturas à presidência dos EUA e nivelar seus resultados para o mundo. Isso equivale a admitir o fascismo como alternativa normal, sob o argumento (por sua vez, correto) de que ambas as candidaturas representam o imperialismo cruel e intervencionista dos EUA.

Pois, não foi algo semelhante que levou a direita e a mídia brasileira a aceitarem o capitão fascista como alternativa nas eleições nacionais de 2018, ou seja, por não enxergarem em Haddad o representante ideal de suas ideias políticas? Não foi “uma escolha difícil”, para elas?

O fato é que a articulação internacional do fascismo (muito mais coesa e ativa que qualquer articulação da esquerda mundial no presente) aposta suas fichas na eleição de Trump e será fortalecida com sua vitória. Mesmo que fosse apenas simbólico (mas não é!) o efeito da derrota de Trump para a extrema direita mundial já valeria a vitória da candidata democrata.

Os problemas do bloqueio à Cuba e Venezuela, do genocídio palestino, das guerras, do apoio ao capital financeiro, indústria de armas, petróleo, fármacos e biotecnologia, das espionagens e intervenções na soberania dos países do mundo, da violação do direito internacional etc. seguirão. Afinal, alguém imagina que esses problemas se resolvem apenas com eleições nos EUA? Para quem acredita que o governo estadunidense controla realmente o Estado, resta o famoso bordão do Compadre Washington: “sabe de nada, inocente!”.

Não fosse o DNA nazi-fascista de Trump e dos trumpistas e a articulação internacional da extrema-direita, que terá um enorme reforço com a eleição do candidato republicano, poderíamos assistir a eleição dos EUA como mera curiosidade, ou sequer nos preocuparmos com ela, como muitos faziam no passado. Poderíamos nos ocupar apenas em zombar de quem se comporta como se fosse votar em um dos candidatos de lá.

Realmente, nossa opinião ou posicionamentos não têm absolutamente nenhum impacto nas eleições estadunidenses, mas nem por isso precisamos exercitar a cegueira analítica de forma tão despreocupada. Isso pode viciar e afetar nossas opções para as eleições locais.

O mais importante é que teremos eleições municipais no Brasil este ano e é aqui que votamos. Em nosso país também precisamos deter o avanço da extrema-direita. Mas em um mundo cada vez mais integrado, não podemos deixar de pensar globalmente e nas consequências locais da política internacional.

Inclusive, os desafios das nossas eleições municipais se conectam com o projeto do fascismo mundial, do qual Trump é um poderoso representante. Isso é assunto para outra reflexão.

 

•        Uma bíblia presidencial? Por Paolo Naso, com tradução de Luisa Rabolini

O passo atrás finalmente chegou e Joe Biden se retirou da corrida presidencial do próximo 5 de novembro. Pelo menos até a Convenção de Chicago, em 19 de agosto, o bastão democrata passa para Kamala Harris. Para convencer o povo democrata e, acima de tudo, inverter as pesquisas que, em sua maioria, a dão como perdedora, a vice-presidente precisa escalar uma montanha de preconceito e ceticismo: uma mudança é sempre possível, mas apenas com a condição, hoje muito difícil de imaginar, de que a Convenção inflame os espíritos de um partido e um eleitorado incertos e deprimidos. Enquanto esperam que os democratas resolvam suas dúvidas, Trump permanece firmemente no centro do palco e, na situação de hoje, ele é o homem a ser vencido. Ele está ciente disso e, especialmente após o atentado de 13 de julho, adotou tons mais moderados do que o habitual, preferindo jogar em seu campo e deixar que a fraqueza do campo adversário afirme a força e a credibilidade de sua candidatura. Mobilizando-se com sua habitual virulência comunicativa continua firme seu pessoal, os homens e mulheres do MAGA ("Make America Great Again"), o slogan nostálgico, porém eficaz, dessa campanha republicana.

Os dados econômicos, as análises geopolíticas e os próprios noticiários nos dizem que se trata de um sonho ilusório e regressivo, centrado em um soberanismo radical que já está ultrapassado: a fraqueza e a volatilidade dos mercados são agora uma constante; a normalização das relações com a Rússia certamente não está próxima; a China está fortalecendo suas posições nos cinco continentes; num Oriente Médio em chamas, o Irã certamente não está de braços cruzados. Mas a sugestão de que Trump possa garantir um retorno aos tempos antigos da pax estadunidense, em que a classe média, mais uma vez garantida e protegida, poderá impulsionar um novo milagre, continua muito forte e atrai o aplauso de setores moderados, às vezes bem distantes do impetuoso extremismo do candidato republicano. O grupo religioso que mais compactamente apoia Trump é a articulada galáxia evangélica, que, segundo dados do Pew Center de Washington, em 67% se expressa a seu favor: muito mais do que os católicos (51%), os protestantes históricos (47%), os evangélicos de origem hispânica (45%) ou os afro-americanos, entre os quais o consenso ao magnata cai para 17%.

Como se sabe, a galáxia evangélica estadunidense é altamente articulada e inclui redes organizadas, como a influente Associação Nacional de Evangélicos (Nae), megaigrejas, redes de telepregadores, igrejas independentes sem filiação denominacional. Mas também pentecostais, igrejas de tradição fundamentalista, associações pró-vida, movimentos e think tank da direita religiosa; até mesmo segmentos minoritários das igrejas protestantes históricas. Em suma, estamos diante de um fenômeno complexo e articulado que, embora hoje seja claramente majoritário na direita, dentro dele tem outros componentes politicamente mais moderados e, às vezes, orientados para os temas do pacifismo e da justiça social. O nome mais conhecido é o de Jim Wallis, ex-editor da revista Sojourners, e hoje nas livrarias com um livro que critica abertamente a direita religiosa: The False With Gospel. Rejecting Nationalism, Reclaiming True Faith and Refounding Democracy. Um livro desafiador que, com a linguagem de uma espiritualidade evangélica carismática, denuncia a deturpação de um falso evangelho, "branco", nacionalista, militarista e populista.

Mas essa, como outras, são vozes minoritárias.

A grande obra-prima política de Trump e daqueles que dirigem sua campanha foi transformar a figura de um magnata sem escrúpulos, orgulhoso de sua amoralidade, numa testemunha da fé cristã, que cita a Bíblia e até a divulga. Milhões de estadunidenses já viram um comercial em que Trump acena com um exemplar da God Bless the USA Bible: essa versão da Bíblia, que traz a assinatura presidencial e a invocação das bênçãos de Deus sobre o leitor, é a única – ela afirma – na qual o ex-presidente se reconhece plenamente. Embora o preço não seja exatamente animador - sessenta dólares - ela se tornou um objeto de culto da direita religiosa. Aos olhos do eleitorado evangélico, os três casamentos de Trump, a condenação de ter pago o silêncio de uma estrela pornô com quem teve um caso extraconjugal e a demente campanha sobre o "roubo eleitoral" de 2020 passam para o segundo plano. “No final, explicam os líderes do movimento, até o rei Davi tinha suas culpas, mas se converteu e se tornou um instrumento nas mãos de Deus".

"Jesus é meu rei, Trump meu presidente”, gritou o povo evangélico que o aclamou na convenção republicana que há poucos dias se concluiu em Wisconsin. Dele, seus apoiadores apreciam a franqueza e a determinação com que, com atos políticos precisos, procurou demolir a legislação sobre o aborto, limitar os direitos da comunidade LGBT, apoiar grupos fundamentalistas do chamado "sionismo cristão" e pediu uma América que, como ele disse em 27 de março, "volte a rezar". Repetindo "Deus está comigo", Donald Trump se apresenta como o homem da revanche de um país conservador e desorientado que, apesar de sua Constituição e da dinâmica social que a atravessa, quer se declarar "cristão" na convenção republicana que terminou nos últimos dias em Wisconsin.

 

•        Trump deu conselho monstruoso a sobrinho sobre filho deficiente

O ex-presidente e atual postulante ao cargo Donald Trump teria dado um conselho monstruoso a seu sobrinho, filho de seu irmão mais velho Fred, Fred C. Trump III, que é pai de uma criança que nasceu com deficiência grave.

A história é contada pelo sobrinho em um livro que será lançado na 3ª feira (30).  O título é “All in the Family: The Trumps and How We Got to Be This Way” (em tradução livre “Tudo em família: os Trumps e como chegamos a esse ponto”).

O pai de Fred Trump III, irmão de Donald Trump, seria o herdeiro natural dos negócios da família, que ficou bilionária no ramo da construção civil, mas teve problemas com a bebida e morreu de ataque cardíaco nos anos 1980. Os negócios da família ficaram então aos cuidados de Donald Trump.

Fred Trump III tem um filho com deficiência cognitiva severa, portador de uma condição médica rara que limita seu desenvolvimento intelectual e motor.

Foi conversando com o tio que Fred ouviu de Donald Trump o conselho simplesmente monstruoso sobre como deveria tratar o filho deficiente:

“Ele nem te reconhece. Talvez você devesse simplesmente deixá-lo morrer e se mudar para a Flórida.”

 O jornal “The New York Times” obteve uma cópia do livro e divulgou alguns trechos do que foi escrito pelo sobrinho de Trump.

•        morte de pessoas com deficiência

– Fred disse que a declaração de Trump foi feita depois de ele ter pedido ao tio apoio para o fundo médico que pagava pelos cuidados de seu filho. Antes, o ex-presidente, quando estava ainda na Casa Branca, havia feito um comentário parecido depois de uma reunião com ativistas pela causa das pessoas com deficiência. O encontro tinha sido organizado por Fred com o apoio de sua prima Ivanka, filha de Trump. A princípio, o republicano parecia empolgado, mas depois disse ao sobrinho: “talvez esse tipo de pessoa devesse simplesmente morrer dada a forma em que estão, todas as despesas“.

•        insulto racial

-  Fred contou em seu livro que ouviu o tio usar um insulto racial. O episódio teria ocorrida na década de 1970 depois de Trump ter seu carro danificado. Em busca de um culpado pelo que havia ocorrido, ele teria dito para o sobrinho. “Olha o que os negros fizeram”. Segundo Fred, para se referir aos “negros”, Trump usou a palavra “nigger”. O termo é ofensivo à população negra dos Estados Unidos e não deve ser usado no país por sua simbologia racista.

 

•        Trump apela a investidores de criptomoedas em conferência

O candidato presidencial republicano Donald Trump compartilhou no sábado seus planos de promover criptomoedas se for eleito para um segundo mandato e disse que quer que os EUA se tornem uma "superpotência do bitcoin" sob sua liderança.

Trump discursou em uma conferência sobre criptomoedas em Nashville, Tennessee, onde, em seus esforços para atrair investidores em criptomoedas, ele prometeu fazer dos Estados Unidos a "capital criptográfica do planeta" e criar uma "reserva estratégica" de bitcoin usando a moeda que o governo atualmente detém.

Na conferência, Trump disse que também constituiria um conselho consultivo de criptomoedas e, em tom de brincadeira, perguntou aos seus apoiadores se eles participariam.

"Teremos regulamentações, mas de agora em diante as regras serão escritas por pessoas que amam seu setor, não que odeiam seu setor", disse ele.

Em seu discurso de quase uma hora de duração, Trump tentou repetidamente comparar seus planos de crescimento do mercado de criptomoedas aos esforços do governo Biden para regulamentar o setor .

Trump disse aos participantes que o governo federal estava "bloqueando seu caminho". Ele disse que queria que a criptomoeda fosse "minerada, cunhada e feita" nos Estados Unidos.

<><> A reviravolta de Trump em relação à criptomoeda

O gosto de Trump por criptomoedas não é apenas novo, mas também contrasta fortemente com sua posição anterior.

Em 2019, Trump rejeitou a moeda digital, dizendo que seu "valor é altamente volátil e baseado no nada".

Dois anos depois, ele chegou a chamar o bitcoin de "golpe".

No entanto, ao longo dos anos, Trump adotou a moeda digital e, a partir deste ano, sua campanha começou a aceitar doações em criptomoedas.

•        Trump recua sobre debate com Kamala Harris

A vice-presidente Kamala Harris, cotada para substituir Joe Biden nas eleições presidenciais dos Estados Unidos, acusou o ex-presidente Donald Trump de ter recuado em participar de um debate, marcado para o dia 10 de setembro. A campanha do republicano afirmou na quinta-feira, 25, que não se comprometeria com nenhum debate até o Partido Democrata oficializar o nome do candidato para a corrida à Casa Branca.

Após sofrer pressão – tanto da mídia, quanto de alguns aliados e financiadores do Partido Democrata -, o presidente Joe Biden anunciou no dia 21 de julho a sua desistência à reeleição e declarou apoio à vice-presidente Kamala Harris. Antes disso, as campanhas de Biden e Trump tinham acordado um debate organizado pela ABC no dia 10 de setembro, mas agora não está garantido que isso pode acontecer.

Na quinta-feira, ao pousar na Base Conjunta de Andrews, Kamala disse a jornalistas que “concordei com o debate previamente acordado em 10 de setembro, ele concordou com isso anteriormente. Agora parece que ele está recuando. Mas estou pronta. E acho que os eleitores merecem ver a tela dividida que existe nesta disputa em palco de debate e então, estou pronta. Vamos”.

Depois, o diretor de comunicação da campanha de Trump, Steven Cheung, disse que “seria inapropriado agendar coisas com Harris porque os democratas ainda poderiam mudar de ideia”, pois a vice-presidente é apenas pré-candidata da legenda.

Kamala questionou por meio de uma publicação no X (antigo Twitter): “O que aconteceu com ‘a qualquer hora, em qualquer lugar?’”.

A alguns repórteres, Trump afirmou que deseja debater com Harris, mas ainda não concordou com uma data. “Eu não concordei com nada. Concordei em um debate com Joe Biden. Mas quero debater com ela, e ela não será diferente porque eles têm as mesmas políticas. Acho que debater é importante para uma corrida presidencial, acho mesmo. Você meio que tem a obrigação de debater”, completou.

 

Fonte: Outras Palavras/Riforma/Deutsche Welle/IstoÉ/CNN Brasil

 

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