segunda-feira, 3 de junho de 2024

Escolas precisam de educação sexual e não de evangelização

"Tem um projeto bacana, Namoro Blindado, que está percorrendo as escolas de Bauru. A molecada já começa a falar de namoro e a dar aquela ‘bizoiada', a troquinha de olhares, mas tem como namorar certo e namorar direito. É uma ação criada pelo programa Escola do Amor, que a Record exibe todo sábado. É uma palestra para orientar a garotada sobre os relacionamentos".

É com essas palavras que o âncora do Balanço Geral SP chama o VT sobre um projeto que está ocorrendo nas escolas e mostrava uma palestra realizada em Bauru. O público-alvo da ação seriam alunos do sétimo ao nono ano, segundo a reportagem exibida há seis anos.

O foco é falar sobre amor, relacionamentos e ensinar os jovens sobre como terem namoros saudáveis e relacionamentos blindados e duradouros. "Saberemos como agir quando estivermos em um relacionamento", diz uma jovem de apenas 11 anos. Já o coordenador do projeto na cidade afirma que "muitas vezes, nem a própria família tem essa referência. Até os próprios pais estão perdidos em relação ao amor".

A origem do projeto, como dito pelo próprio âncora, é o programa Escola do Amor, apresentado pelo casal Renato e a Cristiane Cardoso. Segundo o site oficial, o projeto "visa a educação amorosa dos jovens, ensinando-os a compreender, conviver com as dúvidas e emoções da idade". Nele, são realizadas palestras de 45 minutos e depois os participantes ganham um livro escrito pelos apresentadores do programa semanal.

Nesta altura do texto, caro leitor, não sei sua opinião sobre o assunto. Em alguma medida, sendo bem generoso, até pode parecer que se trata de uma iniciativa bacana, mas na verdade ela é incrivelmente problemática e das mais diversas formas.

O primeiro ponto que me chamou muito a atenção foi a falta de repercussão negativa sobre o projeto. Apesar de a reportagem ser de seis anos atrás, eu ouvi falar pela primeira vez sobre o projeto apenas na semana passada através de um post de uma professora do curso de letras da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ). Fiquei bem chocado, pois muitas fake news tiveram proporções absurdas e bastante repercussão negativa. Lembram do suposto "kit gay" que o governo petista mandaria para as escolas? Lembram da mamadeira de piroca? Lembram do suposto projeto para ensinar crianças a transarem e a se tornarem homossexuais?

Por que todas essas fake news repercutiram tanto e um projeto totalmente enviesado, que nem mentira é, não repercutiu? Cadê o Nikolas Ferreira e seus semelhantes encabeçando um movimento de proteção às crianças? Não é coincidência, pois o público que repercute e cria as fake news citadas é conivente com o projeto descrito nesta coluna.

•                                    Devemos respeitar a laicidade da educação

Temo estar ficando repetitivo em minhas colunas, mas há um projeto por trás de tudo isso. Quem é o dono da Record TV? O bispo Edir Macedo. Um homem que, segundo a Forbes, tem uma fortuna de mais de 2 bilhões de dólares, o equivalente a mais de R$ 10 bilhões. A Record é claramente uma rede evangélica. Ela não esconde isso e não há qualquer tipo de problema, na verdade. Assiste quem quer e está tudo certo. No entanto, levar um projeto com tanto viés para dentro das escolas e dizendo que ele é laico é de um absurdo tremendo. Não é laico, é uma evangelização da educação e isso simplesmente não pode ser permitido.

A ideia de amor, do que seria um relacionamento saudável e sobre o papel do homem e de uma mulher na relação pode variar de religião para religião. Não é algo estático ou universal. Ir para escolas e ensinar crianças de 11 anos sobre essas questões, tendo como ponto de partida os ideais de uma religião, é ir contra a Constituição. Não importa o quanto digam que é laico. Não é.

Até agora, pautei minha discussão sobre a questão da não laicidade do projeto, mas há outro ponto relevante: estamos deixando de trabalhar o que verdadeiramente importa em detrimento de algo sem relevância científica e pautado apenas em viés ideológico.

•                                    Escolas precisam de educação sexual

Nossas crianças e jovens não precisam aprender sobre o amor, sobre o papel de um homem e de uma mulher na relação ou sobre como blindar um relacionamento. É preciso e urgente que haja um projeto de educação sexual nas escolas.

Aqui sei que rola muita confusão, intensificada por fake news. A ideia não é ensinar as crianças e jovens a transar. Não é ensinar as melhores posições sexuais ou como atingir o prazer, muito menos incentivar a fazer sexo. O único objetivo é os proteger, e, claro, com abordagens que respeitem as idades.

É importante que crianças entendam sobre partes do corpo que não podem ser tocadas e que se munam de informações para conseguirem identificar quando estão sendo molestadas. É uma pena, mas o abuso é muito frequente do que se imagina. Informações básicas já poderiam atenuar muito a questão.

Agora, quando se trata de jovens, adolescentes e pré-adolescentes, é importante que aprendam sobre Infecções Sexualmente Transmissíveis (IST), no sentido de proteção e de tratamento. É importante que aprendam sobre a importância do uso do preservativo. É importante ser falado sobre a gravidez na adolescência. É importante ser falado sobre a vacina contra HPV.

Enfim, há tantas coisas que precisam ser trabalhadas nas escolas nesse sentido, mas temo, sinceramente, que um projeto do tipo, no Brasil, simplesmente nunca seja possível. É triste, mas é verdade.

Imaginem o tamanho do movimento que a direita e a extrema direita irão encabeçar contra? Eles encontrarão forças, infelizmente, em uma população que não é muito bem-informada e que acreditará nas fake news criadas. Já consigo até imaginar o que Nikolas Ferreira falaria sobre, e até o mais ingênuo dos indivíduos sabe muito bem que não será nada positivo.

Eles dizem tanto que querem proteger nossas crianças, mas esse discurso me parece muito hipócrita. A real proteção eles não permitem. Eles dizem que são contra a ideologia, mas defendem a deles com unhas e dentes.

•                                    alemães mais solitários desde pandemia, diz estudo

Na Alemanha, a economia se recuperou mais rapidamente da pandemia de covid-19 do que as pessoas, especialmente os jovens de 18 a 29 anos: embora eles não sejam o grupo demográfico que mais sofre com a solidão, a taxa dos que dizem se sentir sozinhos (14,1%) ainda não voltou aos níveis pré-pandemia.

A conclusão é de um estudo inédito apresentado nesta quinta-feira (30/05) pelo governo alemão, intitulado Einsamkeitsbarometer (Barômetro da Solidão), que revelou ainda que o problema afeta desproporcionalmente doentes crônicos (60,7%), desempregados (26%), refugiados (24,8%) e imigrantes (16,3%), mães e pais solo (16,4%), além de solteiros (14,8%).

Os dados abrangem o período de 1992 a 2021, segundo ano da pandemia, quando muitas das restrições de contatos sociais já haviam sido relaxadas, e mostram que a chegada do vírus reverteu uma tendência histórica de queda nas taxas de solidão entre a população geral: de 7,6%, em 2017, a 28,2% em 2020 e 11,3% em 2021.

•                                    Os grupos mais afetados

Em 2021, 16,4% dos pais solteiros sofriam de solidão, enquanto esse índice em lares sem menores de idade era de 10,5%. Essa distância de cerca de seis pontos percentuais se manteve em levantamentos anteriores, nos anos de 2020, 2017 e 2013.

Índice semelhante é apresentado por pessoas acima de 18 anos que migraram para a Alemanha: 16,3%, contra 9,9% da população nativa.

O problema também é mais comum entre mulheres do que homens e se intensificou no primeiro ano de pandemia, atingindo uma em cada três mulheres contra menos de um em cada quatro homens, e baixando a 12,8% e 9,8%, respectivamente, em 2021.

•                                    Pandemia agravou solidão entre os jovens

Se consideradas apenas as faixas etárias dos entrevistados, jovens com idade entre 18 e 29 anos são os mais solitários. Entre eles, esse índice em 2021 foi de 14,1%, mas em 2020, primeiro ano da pandemia, chegou a 31,8% – bem acima dos 22,8% registrados por idosos acima de 75 anos em 2020, taxa que recuou a 10,2% em 2021.

Na quarta, um outro estudo, do Instituto Federal de Pesquisas Demográficas (BiB, na sigla em alemão), já havia apontado que, desde a pandemia, a solidão tornou-se um problema comum entre pessoas com menos de 30 anos, e que o fim das restrições de contato levou a uma "recuperação social" limitada.

"Na fase pós-pandêmica, a solidão persiste em um nível elevado – há uma tendência à cronicidade", disse Sabine Diabaté, pesquisadora do BiB.

Ao contrário do "Barômetro da Solidão", que considera apenas o período até 2021, o estudo do BiB também abrange o inverno de 2022-2023, período em que já não havia mais nenhuma restrição pandêmica.

Diretor do Instituto de Assistência e Pedagogia Social e um dos pesquisadores responsáveis pelo estudo divulgado nesta quinta, Benjamin Landes diz que a pandemia provocou um pico de solidão do qual os mais velhos se recuperaram melhor.

Antes da pandemia, porém, idosos acima de 75 anos costumavam ser os mais afetados em comparação com as demais faixas etárias, mas a diferença vinha caindo.

•                                    Solidão reduz confiança na democracia

O "Barômetro da Solidão" também corrobora a relação apontada por outras pesquisas entre solidão e democracia: pessoas solitárias votam menos e acreditam menos no Estado de direito, na polícia e nos políticos, além de acreditarem com mais frequência em teorias da conspiração. Isso porque, segundo Landes, elas tendem a desconfiar com mais frequência de seu entorno, o que por sua vez leva à erosão da confiança nas instituições democráticas.

•                                    Assunto é questão de saúde, mas ainda é tabu

Dados mais atuais só serão divulgados no ano que vem, mas, para a ministra alemã da Família, Lisa Paus, está claro que o assunto é um tabu na sociedade – "talvez a maior doença" no país, segundo a Fundação para Proteção do Paciente, grupo que representa interesses de doentes graves.

Segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS), a solidão compromete a saúde mental e psíquica, a qualidade de vida e a longevidade das pessoas. Seus efeitos sobre a mortalidade são comparáveis aos de outros fatores de risco amplamente conhecidos pela ciência, como o tabagismo, a obesidade e o sedentarismo.

O governo, agora, quer enfrentar o problema com campanhas de sensibilização e gastos de 70 milhões de euros (R$ 394,8 milhões) até 2027.

 

Fonte: Por Vinicius de Andrade, em Deutsche Welle

 

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