sábado, 29 de junho de 2024

Enxaqueca é uma das doenças mais incapacitantes do mundo, dizem especialistas

Ter dor de cabeça é algo corriqueiro – estima-se que 95% das pessoas vão ter ao menos um episódio ao longo da vida. Estresse, maus hábitos alimentares, preocupações e às vezes até mesmo a falta de uso de óculos podem provocar a dor. Mas ela também pode estar relacionada a diversos problemas de saúde mais sérios. Segundo a Organização Mundial da Saúde, aproximadamente 40% da população mundial, sofre de distúrbios envolvendo dores de cabeça frequentes, dentre as quais, a enxaqueca é a mais comum.

Considerada uma doença neurológica crônica, ela é também uma das mais incapacitantes, especialmente em adultos com menos de 50 anos. Estima-se que, só no Brasil, as perdas com produtividade por causa da enxaqueca esteja em torno de 67 bilhões de reais por ano. O CNN Sinais Vitais – Dr. Kalil Entrevista desta semana recebeu a neurologista Simone Amorim, do Hospital das Clínicas de São Paulo, e a neuropediatra Thaís Villa, para falar sobre esse tema, com dr. Roberto Kalil.

“A enxaqueca é um tipo muito específico de dor de cabeça, em que a dor é um dos sinais. Ele tem vários outros sintomas associados à dor. A dor é o ápice”, explica Simone Amorim. Segundo ela, a crise de enxaqueca é dividida em fases.

“Tem a fase pré-dor, que é aquela fase em que o paciente se sente cansado, sonolento, fadigado, associado a sintomas gastrointestinais, irritabilidade. Então, tem muita gente que nem associa esses sintomas que acontecem um dia, às vezes horas antes, de uma crise, à dor que ela vai ter daqui a pouco”.

Segundo Simone, o paciente passa pela crise em si e, por fim, o pós-crise, quando há uma espécie de exaustão cerebral. “É como se aquele cérebro tivesse trabalhado demais, foi superexcitado, e aí ele entra nessa exaustão, também com sonolência, com fadiga, essa ressaca mesmo”.

·        Quanto tempo pode durar uma crise enxaqueca?

A neuropediatra Thaís Villa explica que, se contarmos que uma dor de cabeça, na enxaqueca, por durar até três dias, se incluirmos o antes e o depois, às vezes o paciente pode ficar uma semana comprometido com uma única crise.

Hoje, segundo os dados disponíveis, a prevalência da enxaqueca na população brasileira é considerada alta — cerca de 15%, equivalente a mais de 30 milhões de pessoas. Segundo as neurologistas, há um componente hereditário importante, mas mais relevante que isso é aprender a detectar os sinais da doença, não necessariamente ligados à dor de cabeça.

“A mulher sofre muito mais com a dor de cabeça do que o homem, porque o hormônio estrogênio é um facilitador importante de dor. Como ela faz os picos típicos, as crises extremamente debilitantes, ela acaba sendo mais diagnosticada. No homem, o problema é o diagnóstico. Porque como ele tem muito menos dor que a mulher, acaba sendo menos diagnosticado”.

Crianças, que também tem muito menos episódios envolvendo dor, podem acabar, também, tendo diagnósticos errados.

“Muitas vezes, a criança tem náusea, muito vômito, quando ela vai viajar, vai andar de carro de ônibus, ela vomita muito. Às vezes um cheiro incomoda. E pode ser também muito disfuncional. É aquela criança que a mãe é chamada na escola para ir buscar, essa criança precisa ficar lá isolada, porque a luz atrapalha, o barulho atrapalha”, diz Simone.

Thaís também alerta para a importância de olhar os outros sintomas. “Porque a criança abre o quadro de enxaqueca com distúrbio de sono, muito bruxismo – é um sintoma muito frequente na infância – e déficit de atenção na escola. E aí vem a cilada. Ela tem isso tudo e ela não tem crise de dor. E aí vêm os diagnósticos errôneos: TDAH, distúrbios do sono, transtorno de aprendizado. E, na verdade, a enxaqueca é a doença que está por trás de tudo isso”, afirma.

Segundo as neurologistas, o tratamento para enxaqueca precisa passar por um treinamento do paciente. “Ele tem que entender que precisa de um tratamento para blindar o cérebro”, diz Thaís.

·        Analgésicos e alimentos com cafeína e chocolate podem piorar enxaqueca

E o uso de medicamentos analgésicos e o consumo de alimentos com substâncias estimulantes, como cafeína e chocolate, podem piorar o quadro. “Se você pensar que nós estamos falando de uma doença em que o cérebro está muito excitado, você colocar um estimulante, é colocar gasolina na fogueira da doença”.

Juntando isso ao uso de analgésicos comuns, que muitas vezes têm cafeína, inclusive, na composição, o que se cria é uma relação de dependência do cérebro com a dopamina que essas substâncias produzem no organismo, segundo as médicas. Esse círculo vicioso traz muito sofrimento ao cérebro no longo prazo, segundo Thaís.

“Já tem estudos mostrando que há perda neuronal, que lá na frente há maior risco para demência. Um cérebro em sofrimento vai precipitar várias complicações. Inclusive quadros demenciais, risco para Parkinson, entre outros”.

Por isso, Simone e Thaís defendem um tratamento com opções não medicamentosas, para que o paciente possa fazer uso de remédio apenas de maneira pontual e com substâncias específicas para o tratamento de enxaqueca, e não de dor de cabeça. Elas ainda explicaram o uso da toxina botulínica, o botox, para controle em que tem crise mais de 15 dias em um mês.

“É uma jornada muito dura. O paciente pode levar a vida inteira para ter um mínimo controle disso. Se fosse só a dor, como dizem meus pacientes… mas é distúrbio de sono, problema de humor, déficit cognitivo muito severo, déficit de atenção, memória, tontura”, afirma Thaís.

“Não é só dor de cabeça, não adianta ficar tomando analgésico e cafeína, tem que entender que é uma doença, e tem controle desta doença. E a gente tem hoje um cenário de tratamento impensável há 10, 15 anos. Então ninguém hoje precisa mais sofrer com a doença. Precisa tratar”, reforça Simone.

 

¨      Quando a dor de cabeça pode ser algo mais sério? Veja sinais de alarme

A dor de cabeça, ou cefaleia, é um sintoma comum de diversas condições de saúde. Segundo especialistas ouvidos pela CNN, cerca de 96% da população mundial vai ter o sintoma alguma vez na vida. Muitas vezes, a dor pode ser resolvida com analgésicos. Porém, em certos casos, o sintoma pode ser um indicativo de algo mais grave e requer tratamento adequado.

“A prevalência da cefaleia é alta na população em geral e as condições que causam dor de cabeça são muito comuns. Assim, é esperado que uma parcela da população apresente de forma esporádica esse sintoma”, explica Cesar Castello Branco Lopes, neurologista do Hospital Nove de Julho, à CNN.

No entanto, é importante não negligenciar essa dor, nem normalizá-la. De acordo com o especialista, toda dor que gera impacto na qualidade de vida de uma pessoa deve ser investigada e tratada adequadamente.

“Considerar essas dores como normais pode impedir o tratamento adequado e precoce das cefaleias. Infelizmente, a demora na procura de profissionais capacitados ainda é muito comum e ocorre quando a dor de cabeça, que antes era considerada normal, passa a atrapalhar e impactar o dia a dia do indivíduo”, afirma.

·        Principais causas da dor de cabeça

Para entender quando a dor de cabeça pode ser algo grave, é preciso, antes, compreender o que pode estar por trás desse sintoma. A cefaleia pode ser dividida em dois tipos: a primária, que não é causada por uma doença subjacente, e a secundária, que acontece como decorrência de uma outra condição de saúde, desde uma infecção viral, até condições mais graves, como tumores cerebrais.

“Existem mais de 200 tipos de dor de cabeça, o que é um fato que pouquíssimas pessoas sabem”, afirma Sophia Costa, chefe da neurologia do pronto-atendimento do Hospital Alemão Oswaldo Cruz, à CNN.

De acordo com a especialista, as dores de cabeça primárias estão relacionadas a um aumento da atividade de sensibilidade dolorosa em estruturas do cérebro. Os tipos mais comuns de cefaleia primária é a enxaqueca e a dor de cabeça tensional.

A enxaqueca é uma doença neurológica crônica caracterizada por episódios recorrentes de dor de cabeça, que costuma ser unilateral, pulsátil e que piora com atividades físicas, podendo ser acompanhada de náuseas, vômitos e fotofobia (sensibilidade à luz). Já a cefaleia tensional é uma “dor em aperto”, nos dois lados da cabeça, e que não vem acompanhada de outros sintomas.

“No entanto, mesmo esse tipo de cefaleia pode evoluir com piora caso não seja identificada e tratada adequadamente”, ressalta Lopes.

·        Quando a dor de cabeça se torna preocupante?

A dor de cabeça pode ser um sintoma grave e que merece atenção quando apresenta alguns sinais específicos, como a mudança de padrão. “É importante que indivíduos que sofrem com cefaleias primárias conheçam o padrão e frequência habitual de suas dores. Mudanças nesse padrão devem motivar investigação”, orienta Lopes.

A piora progressiva do sintoma também é um sinal de alarme, principalmente quando a dor não é aliviada com o uso de medicamentos. Dores com início por posturas específicas, como ficar muito tempo em pé ou após ficar deitado também devem ser investigadas.

Além disso, sintomas que ocorrem junto com a dor de cabeça também são alterações que indicam que a cefaleia pode estar relacionada a uma condição mais grave de saúde. É o caso de:

  • Febre;
  • Sonolência;
  • Diminuição da força ou sensibilidade da perna ou do braço;
  • Crise convulsiva.

“Todas as dores de cabeça com sinais de alarme devem ser investigadas com exames de imagem ou, a depender do quadro do paciente, outros exames complementares”, orienta Costa.

“Existem diversas condições médicas potencialmente graves que cursam com cefaleia persistente, como distúrbios da pressão intracraniana, tumores cerebrais, problemas na vasculatura cerebral, infecções e quadros inflamatórios cerebrais”, completa Lopes.

·        Dor de cabeça de início súbito também é sinal de alarme

A dor de cabeça intensa e de início súbito, ou seja, que começou de forma repentina, sem nenhuma causa aparente, é um sinal de alarme para uma condição grave de saúde.

“Esses quadros levantam suspeita para possibilidade de problemas na vasculatura cerebral, como rompimento de aneurismas cerebrais ou constrição de artérias intracraniana”, afirma Lopes.

·        Dor de cabeça pode ser sinal de AVC?

Não necessariamente. De acordo com a neurologista do Hospital Alemão Oswaldo Cruz, na maioria das vezes, a dor de cabeça não é um sinal de AVC. Porém, em alguns casos específicos, a causa do acidente vascular cerebral pode levar à dor de cabeça. “Por exemplo, existem alguns AVCs que são causados por espasmos nos vasos e isso também causa dor. Mas não é comum”, explica Costa.

“A dor de cabeça pode acontecer no AVC do tipo hemorrágico, que são causados por rompimento de artérias ou aneurismas intracranianos. Essas condições devem ser suspeitadas em casos de dor de cabeça de início súbito e de forte intensidade e quando vêm associadas a sintomas neurológicos, como fraqueza muscular, perda de sensibilidade, dificuldade de visão e para falar, confusão mental, incapacidade de deambular ou perda de coordenação”, completa Lopes.

·        Como tratar a dor de cabeça corretamente?

Ao notar qualquer sinal de alarme suspeito na dor de cabeça, é fundamental procurar um neurologista para investigar a causa. Além disso, o especialista também deve ser consultado quando a cefaleia passa a afetar a qualidade de vida e a rotina.

O tratamento pode variar de acordo com a causa, principalmente na dor de cabeça secundária. Em situações de cefaleia primária, medidas de autocuidado e medicamentos analgésicos podem ajudar, como é o caso do paracetamol, ibuprofeno ou aspirina. (Lembre-se: estes dois últimos medicamentos não são recomendados em caso de suspeita de dengue).

 

Fonte: CNN Brasil

 

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