Denise Assis: Formação de lideranças da
Marinha se faz em templos evangélicos
Francisco Marques
Lisboa, nascido em 1807, foi segundo-tenente honorário, ex-patrão-mor do porto
do Rio Grande do Sul, chegou ao posto de almirante. O Almirante Tamandaré,
patrono da Marinha do Brasil, herói da guerra do Paraguai, tendo liderado a
batalha do Riachuelo, era Comendador da Ordem de Cristo. Um católico, portanto.
O emblema da ordem, a
Cruz da Ordem de Cristo, criada pelo infante D. Henrique, adornava as velas das
Caravelas e Naus que exploravam os mares desconhecidos, como uma espécie de
proteção dos que ali se aventuravam.
O que diria o patrono
da Marinha do Brasil, o Almirante Tamandaré, se lhe fosse dado assistir a um
vídeo, postado em 31 de maio último? Nele, um oficial fardado se apresenta como
“Luiz Fiorani (o áudio não é bom. O sobrenome pode não ser exatamente esse),
sou comandante do Corpo de Alunos da Escola de Aprendiz de Marinha de Santa
Catarina. Eu, juntamente com o capitão-tenente e capelão naval João Roberto,
trouxemos 70 alunos aprendizes de marinheiro, aqui de Florianópolis, para uma
palestra sobre liderança, como pastor Alfredo, onde ele pôde, nesta tarde do
dia 20 (supõem-se 20 de maio), proferir algumas palavras para os nossos jovens
aprendizes, sobre a importância da liderança, tanto na carreira militar quanto
na vida social”.
Nesse momento entra no
vídeo a fala do capelão naval João Roberto, exaltando a “missão”, tendo ao
fundo um templo evangélico, encimado pelo lema “Jesus Cristo é o Senhor”:
“Então, foi uma bênção
colocar uma semente de esperança nos nossos alunos, uma palavra de liderança,
para que eles sejam bons militares, não só nos quartéis, mas também em suas
famílias e na sociedade”, diz ele, empertigado.
Ambos envergam o
garboso uniforme da Marinha, arrematado com vistosos quepes brancos e com
desinibição e orgulho professam fé. Qual a religião de cada um dos 70
aprendizes? Parece não ter sido esse um ponto a ser levado em conta. Tampouco o
Regulamento Disciplinar da Marinha (DECRETO No 88.545, DE 26 DE JULHO DE 1983.
Alterações: Decreto no 93.665, de 9 de dezembro de 1986; Decreto no 94.387, de
29 de maio de 1987; Decreto no 1.011, de 22 de dezembro de 1993).
Pelo regulamento, no
artigo 79 do capítulo 1, que trata de “propósitos” é proibido “provocar ou
tomar parte em Organização Militar em discussão a respeito de política ou
religião”.
Já no capítulo II,
intitulado: “DAS CONTRAVENÇÕES DISCIPLINARES CAPÍTULO I - Definição e
Especificação Art. 6o –, diz que:
“Contravenção
Disciplinar é toda ação ou omissão contrária às obrigações ou aos deveres
militares estatuídos nas leis, nos regulamentos, nas normas e nas disposições
em vigor que fundamentam a Organização Militar, desde que não incidindo no que
é capitulado pelo Código Penal Militar como crime”, que parece ter sido o caso
em que se enquadra essa situação.
No Art. 7º, está
descrito que: “São contravenções disciplinares:
1. dirigir-se ou
referir-se a superior de modo desrespeitoso;
2. censurar atos de
superior;
3. responder de
maneira desatenciosa ao superior;
4. dirigir-se ao
superior para tratar de assuntos de serviço ou de caráter particular em
inobservância à via hierárquica”.
A atitude do
comandante dos aprendizes de Santa Catarina parece se encaixar no último item
das contravenções disciplinares, pois embora ele se dirija ao superior de forma
respeitosa, o assunto tratado em sua presença é de caráter particular,
levando-se em conta que ele professa sua crença religiosa ao superior (que
concorda com a exposição do comandante), mas é tema alheio ao meio militar e
não diz respeito à formação dos 70 aprendizes.
Resta ao almirante
Marcos Sampaio Olsen, tão cioso da disciplina da Marinha do Brasil, a ponto de
não reconhecer no livro dos heróis o marinheiro João Cândido, um notório
defensor dos direitos de seus companheiros de arma, se posicionar sobre a
inusitada “aula de liderança”. E, principalmente, sobre a “unidade” civil – um
templo -, em que ela foi ministrada.
Talvez tenha faltado
ao capelão naval, João Roberto, orientações sobre que tipo de liderança a
Marinha espera dos seus marinheiros e oficiais, num Estado laico.
A continuar desta
forma, a “evangelização” irá penetrar pelas frestas das nossas instituições,
como um gás que se espalha lentamente, entorpecendo o cenário político – como
já o fez; o STF, onde ainda são minoria – e os vários graus da escala de
comando do país, transformando o Brasil em uma “terra de Jesus”, como quer a
madame que professou esse desejo na Av. Paulista.
Certamente se lhe
fosse dado ver o vídeo o Almirante Tamandaré diria que foi mais fácil vencer a
batalha do Riachuelo, do que expulsar essa ameaça explosiva que mistura
política+religião.
¨ Uma doença política transmitida pelos adversários contagia a
periferia da esquerda lulista. Por Mario Vitor Santos
Nesta fase do mandato
de Lula, muitos de seus apoiadores parecem tomados por uma espécie de síndrome
de alarma, tristeza e cansaço.
Irritados com o que
enxergam como insuficiências do governo Lula, parecem contaminados com o
discurso de seus adversários nas redes sociais e na mídia corporativa (Globo,
Globo news, Folha, Estadão etc). É incrível como parcela importante se mostra
caudataria desse discurso catastrofista, desse marketing da eterna crise
abismal de um governo com emprego beirando recorde histórico, inflação em queda
e salários em recuperação.
Por que há tantos
lamentos ecoando a ladainha da mídia adversária?
Gente simpática a Lula
reclama das flutuações baixistas nas pesquisas de aprovação de Lula. Dedicam-se
a reclamar da falta de mobilização atribuindo ao governo um problema delas
próprias. O inferno está nos outros. As queixas mais parecem ocultar ou desviar
a própria passividade dos apoiadores do governo.
Para esse entorno dos
simpatizantes da esquerda qualquer espirro dos bolsonaristas é enorme e
apavorante, demandando resposta imediata. Já as tentativas ou vitórias do
governo são nulas ou insuficientes.
A reação à sindrome é
desorientada e irracional. Como quase tudo está errado para eles, surgem
alternativas que na verdade, com alguma busca atenciosa, foram sopradas sem
sutileza pelos "analistas" da mídia oposicionista.
O governo perdeu uma
votação óbvia? Os sábios ansiosos dizem que é preciso trocar a articulação
política. Ou pior: dizem que está na hora de nada menos que uma ampla reforma
ministerial. As pesquisas apontam uma queda relativa na aprovação (esperada
nessa altura do mandato)? Os espertos já têm a solução: demandam a demissão do
ministro da Secretaria de Comunicação, Paulo Pimenta, como se o tema fosse
resolvido por mera troca de nomes.
Há até quem veja
poderes milagrosos num pronunciamento presidencial em rede nacional de rádio e
TV.
A menção a Pimenta
tampouco é em sua origem imparcial ou inocente. Ele está entre os mais
combativos auxiliares do presidente, impermeável às pressões da mídia
hegemônica.
Foi o polemista
estadunidense H.L.Mencken o autor da conhecida definição para esta síndrome:
"Para todo problema complexo existe sempre uma solução simples, elegante e
completamente errada".
As formas de fazer
política e de o público se relacionar com ela seguem sofrendo profundas
mudanças. A digitalização de todas as esferas da vida implica uma mutação
nesse terreno.
A informalidade e o
trabalho remoto agregam complexidade. A fragilização das entidades sindicais
afeta o engajamento dos trabalhadores.
Há dificuldades de
construir uma comunicação politicamente eficiente a partir do governo, sendo
mais fácil fazê-lo da oposição.
O enraizamento da
direita nesse mundo digital não é fenômeno exclusivamente brasileiro, ao
contrário, sendo dominado pela extrema-direita em todo o planeta.
Quanto à reforma
ministerial, nada poderia agradar mais aos adversários do que esse carimbo
oficial de uma grave crise.
Nessa disputa, como
quase sempre, não há que negar as dificuldades. Uma dose de serenidade e estudo
faria bem neste momento. As ações de governo se desenvolvem em inúmeras
frentes, os resultados já aparecem e vão se mostrar com ainda mais clareza
na sequência do trabalho.
Vale anotar que a
extrema-direita bolsonarista mergulha numa crise desde o trauma da derrota em
2022, sempre subestimada pela periferia do lulismo. Essa crise é agravada pela
obrigação de fazer política, fazer alianças e concessões, o que é a própria negação
da identidade fascista de existir impondo desânimo e divisões em seu campo.
Fonte: Brasil 247
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