sábado, 29 de junho de 2024

Debate Trump x Biden: o que é fato ou falso nas declarações dos dois

Donald Trump e Joe Biden responderam a perguntas sobre uma ampla variedade de questões eleitorais durante o debate presidencial organizado pela rede americana CNN na noite de quinta-feira (27/7) nos Estados Unidos.

Os dois candidatos trocaram acusações sobre temas como economiaaborto e imigração.

No fim, o debate foi considerado preocupante pelos democratas diante do desempenho de Biden e disparou o alarme dentro do partido.

BBC Verify, equipe de checagem de fatos da BBC, analisou algumas das declarações feitas durante o debate.

·        Biden planeja quadruplicar impostos?

O QUE FOI DITO: 

- Trump disse que Biden "quer aumentar impostos em quatro vezes... Ele quer que os cortes de impostos de Trump expirem".

OS FATOS: 

- O orçamento mais recente dos Estados Unidos do governo Biden não faz referência a quadruplicar os impostos para as famílias comuns.

Na verdade, propõe reduções de impostos para famílias que ganham menos de US$ 400 mil (R$ 2,2 milhões) por ano, em paralelo a aumentos para pessoas com rendimentos mais elevados.

Trump introduziu amplos cortes de impostos em 2017, e muitos devem expirar em 2025.

Mesmo que não sejam prorrogados, isso não equivaleria a um aumento de quatro vezes na tributação das famílias.

Uma análise realizada pelo centro de estudos de tributação Tax Policy Center, com base no orçamento de 2024, concluiu que o 1% dos assalariados mais bem remunerados teria um aumento de 9,7% na tributação.

·        Há 40% menos travessias ilegais de fronteira?

O QUE FOI DITO: 

- Joe Biden disse: "Mudei isso de uma maneira que agora estamos em uma situação em que há 40% menos pessoas cruzando a fronteira ilegalmente, está melhor do que quando ele [Trump] deixou o cargo".

OS FATOS: 

- Desde que Biden introduziu regulamentos no início de junho restringindo o direito daqueles que cruzam a fronteira de pedir asilo, as travessias ilegais da fronteira estão, em média, a cerca de 2 mil casos por dia, de acordo com dados do Departamento de Segurança Nacional obtidos pela rede CBS News, parceira de notícias da BBC.

Isso representa uma queda de 47% em relação à média diária de 3,8 mil em maio.

Em 2019, durante o governo Trump, as travessias ilegais atingiram um pico de 4,3 mil. Mas houve meses durante a pandemia de covid-19 em que a média de travessias ilegais foi inferior a 2 mil.

Desde fevereiro de 2021, afirma o Serviço de Alfândega e Proteção de Fronteiras dos Estados Unidos, foram registrados 9,6 milhões "flagrantes" de pessoas cruzando a fronteira sul, por parte de agentes de segurança.

Isso não significa que esse número de pessoas entrou nos Estados Unidos, uma vez alguns dos flagrantes podem ter sido da mesma pessoa várias vezes. Outras pessoas podem ter sido rejeitadas ou deportadas.

·        Qual é a posição de Biden sobre abortos tardios?

Em relação ao aborto, Biden disse que, se for eleito para um novo mandato, restabeleceria a decisão sobre o caso Roe x Wade, uma decisão histórica da Suprema Corte que garantia o direito ao aborto em todo o país até que o feto se tornasse capaz de sobreviver fora do útero (após cerca de 24 semanas) e que teve seus efeitos revertidos pela Suprema Corte em 2022.

Quando questionado se apoia limites legais sobre até quando uma mulher deve ser capaz de interromper uma gestação, o presidente indicou seu apoio ao arcabouço legal da decisão Roe x Wade.

O QUE FOI DITO: 

- Trump respondeu: "Então isso significa que ele pode tirar a vida do bebê no nono mês e até mesmo após o nascimento. Ele está disposto a, como dizemos, arrancar o bebê do útero no nono mês e matar o bebê".

OS FATOS: 

- O arcabouço legal de Roe x Wade afirma que, durante o segundo trimestre, um Estado americano pode permitir o aborto apenas para proteger a saúde da mulher. Durante o terceiro trimestre, pode permitir ou proibir o aborto em prol do interesse do feto, exceto quando for necessário para preservar a vida ou a saúde da mulher.

Durante a campanha de 2016, Trump prometeu anular a decisão do caso Roe x Wade, que foi revogada em 2022 pela Suprema Corte, que incluía três juízes nomeados por Trump.

Matar um recém-nascido é ilegal em todos os Estados dos Estados Unidos, e nenhum Estado está tentando aprovar uma lei que mudaria isso.

Menos de 1% dos abortos no país acontecem a partir de 21 semanas de gestação, segundo dados dos Centros de Controle e Prevenção de Doenças (CDC, na sigla em inglês).

E 93,5% dos abortos acontecem no primeiro trimestre, ou seja, antes das 13 semanas.

·        Soldados dos EUA morreram durante o governo Biden?

O QUE FOI DITO: 

- Biden disse que é o único presidente na última década que não teve durante seu governo "nenhum soldado morrendo em nenhum lugar do mundo, como aconteceu com ele [Trump]".

OS FATOS: 

- Três militares americanos foram mortos em um ataque na Jordânia em janeiro deste ano.

Durante a retirada dos Estados Unidos do Afeganistão em agosto de 2021, no primeiro ano de Biden na Casa Branca, 13 militares americanos foram mortos em um ataque no aeroporto de Cabul pelo IS-K, o braço afegão do Estado Islâmico.

De acordo com dados do Sistema de Análise de Baixas de Defesa, 65 militares dos Estados Unidos foram mortos em combate durante o governo Trump, de 2017 a 2020.

·        O desemprego entre negros está em seu nível mais baixo?

O QUE FOI DITO: 

- Em determinado momento do debate, Biden afirmou que o desemprego entre os negros "é o mais baixo desde há muito, muito tempo".

OS FATOS: 

- Embora seja verdade que a taxa de desemprego entre negros atingiu uma baixa recorde durante um dos meses do governo Biden, a afirmação carece de contexto.

De acordo com o Departamento de Estatísticas do Trabalho dos Estados Unidos, a taxa de desemprego entre negros chegou a 4,8% em abril de 2023 sob a gestão de Biden, uma mínima histórica na época.

Desde então, voltou a subir, e se encontrava em 6,1% em maio.

No entanto, a taxa de desemprego entre negros durante o governo Trump caiu para 5,3% em agosto e setembro de 2019, também recorde na época.

·        Biden teve 'o maior déficit da história'?

O QUE FOI DITO: 

- "Ele [Biden] tem o maior déficit da história do nosso país", disse Trump.

OS FATOS: 

- De acordo com dados do Tesouro americano, o déficit atingiu um pico de US$ 3,13 trilhões (R$ 17,4 trilhões) enquanto Trump estava na Casa Branca.

Em 2023, com Biden no cargo, caiu para US$ 1,7 trilhão (R$ 9,4 trilhões).

·        Biden herdou 'quase nenhuma inflação'?

O QUE FOI DITO: 

- Trump disse no debate que Biden herdou "quase nenhuma inflação" quando assumiu o cargo e que, agora, "a inflação está nos matando".

OS FATOS: 

- Quando Biden assumiu o cargo em janeiro de 2021, a inflação era de 1,4% pela medida de inflação mais utilizada, o Índice de Preços ao Consumidor, com base no gasto médio nas áreas urbanas.

O índice aumentou significativamente durante os primeiros dois anos do seu governo, atingindo um pico de 9,1% no ano em junho de 2022.

Este cenário era comparável ao de muitos outros países ocidentais, que registraram taxas de inflação elevadas em 2021 e 2022, em decorrência sobretudo dos problemas da cadeia de abastecimento global em consequência da pandemia de covid-19 e da guerra na Ucrânia.

Desde então, a inflação nos Estados Unidos tem caído de forma constante, ficando em 3,3% no mês maio, segundo os dados mais recentes.

Desde que Biden assumiu o cargo em janeiro de 2021, os preços subiram cerca de 20% no total.

¨      Trump despeja mentiras, e Biden não consegue mostrar vigor

 O ex-presidente Donald Trump saiu vencedor no primeiro debate presidencial de 2024 e o desempenho do presidente Joe Biden preocupa os democratas, analisam comentaristas da GloboNews.

Trump e Biden fizeram o primeiro debate das eleições de 2024 em Atlanta nesta quinta-feira (27) -- a disputa foi marcada por um tom agressivo e troca de ofensas. A performance de Biden na disputa foi "catastrófica", enquanto Trump foi o "Trump de sempre, falando uma série de inverdades, mas demonstrando muita energia", analisou o comentarista Guga Chacra.

"Desesperador. O Biden não conseguia concluir uma linha de raciocínio. Ele teve muita dificuldade de se expressar e de projetar a voz, gaguejou muito. Hoje não era um problema apenas de articulação, era um problema de linha de raciocínio. Quem assistiu ao debate para entender as políticas de cada um dos candidatos não conseguiu entender o que o presidente Biden falou hoje à noite", disse Sandra Coutinho.

A avaliação dos comentaristas foi corroborada pela imprensa americana e por uma pesquisa de opinião feita pela rede norte-americana canal "CNN", que realizou o debate. Segundo a pesquisa, 67% dos espectadores acreditam que Trump venceu o debate, enquanto 33% acharam que Biden foi melhor. A consulta tem margem de erro de 5,5 pontos percentuais para mais ou para menos.

Sandra afirmou ainda que Trump foi bem nas perguntas delicadas, como sobre a invasão ao Capitólio, em 6 de janeiro de 2021, e se iria respeitar o resultado das eleições de novembro. Esquivou-se delas, e quando pressionado deu respostas que não o comprometeram perante o eleitor.

Segundo Marcelo Lins, talvez seja hora dos democratas pensarem em um substituto para concorrer no lugar do presidente, que não conseguiu rebater as mentiras de Trump, fazendo com que resultado fosse claro: vitória do ex-presidente e derrota de Biden. "Eu não vejo como o Biden pode se recuperar", disse Jorge Pontual.

Para Daniel Sousa, Trump apostou no mesmo formato já utilizado por ele em outras eleições, provocando medo na população. Por outro lado, analisa o comentarista, o desempenho de Biden provocou vergonha alheia em quem assistiu.

Sandra Coutinho acredita que a performance de Biden no debate deve aprofundar o racha nos democratas. "Apresentar aos EUA outro candidato agora significa também dizer que o partido falhou, errou em não detectar esse problema mais cedo", disse Sandra.

"Biden se autodestruiu diante do público americano e do mundo. (...) Biden debateu desesperadoramente mal", afirmou Demétrio Magnoli. Magnoli disse ainda que o debate confirmou 100% o temor dos eleitores, de que ele perdeu a aptidão para exercer a presidência dos EUA. No caso de Trump, que tem apenas três anos a menos, ele ainda tem vivacidade e demonstra rapidez de raciocínio necessários.

·        Primeiro debate presidencial

O presidente dos EUA, Joe Biden, e o ex-presidente Donald Trump fizeram nesta quinta-feira (27) o primeiro debate presidencial das eleições no país, que acontecem em novembro deste ano.

Em um cara a cara com uma série de ineditismos (o cara a cara, que durou uma hora e meia, tem também uma série de ineditismos: esta é a primeira vez que um presidente e um ex-presidente ficam cara a cara em um debate eleitoral nos EUA. Trump passou também a ser o único candidato a chegar a um enfrentamento desse tipo com uma condenação nas costas, além de outros três processos que ele ainda responde como réu.

As eleições para presidente nos Estados Unidos acontecem em 5 de novembro. Joe Biden tenta a reeleição, enquanto Donald Trump quer voltar à Casa Branca -- ele presidiu os EUA de 2017 a 2021 e perdeu as últimas eleições para Biden.

As pesquisas de opinião mais recentes mostram uma ligeira vantagem para Trump.

O debate começou com um tema sensível para Biden: a inflação. Um dos moderadores questionou o presidente sobre o que ele tem a dizer a eleitores que sentem que a economia piorou na comparação com a gestão de Trump.

O presidente respondeu com o argumento de que o mundo pós-pandemia prejudicou a economia em diversos países e atacou seu adversário, a quem acusou de causar uma situação de "caos" na economia.

Trump rebateu e acusou Biden de apenas favorecer imigrantes ilegais. "Os únicos empregos que ele criou foram para imigrantes ilegais", disse o ex-presidente, que repetiu também o discurso de que imigrantes que entram nos EUA de forma ilegal são "terroristas que estão vivendo em hotéis de luxo de Nova York" e acusou Biden de "simplesmente deixá-los entrar".

Biden, no debate, voltou a prometer reeditar a lei que garantia o direito nacional ao aborto nos EUA, a chamada Roe contra Wade, derrubada em 2022 pela Suprema Corte do país.

·        'Otário e perdedor'

Biden, que começou o debate em temperatura morna, subiu o tom ao chamar Trump de "otário" e "perdedor".

O presidente acusou o adversário de já ter chamado veteranos de guerra de "otários e perdedores" e, ao falar de seu filho Beau Biden, que lutou no Iraque e morreu de câncer no cérebro em 2015, disse a Trump:

"Meu filho não é otário. Você é um otário e um perdedor".

Trump exigiu um pedido de desculpas.

·        Ataques pessoais

Os dois candidatos também investiram em uma série de ataques pessoais ao longo do debate -- o que não costumava ser a estratégia de Biden em debates nas últimas eleições.

Joe Biden chamou Donald Trump de criminoso condenado e o acusou de fazer sexo com a ex-atriz pornô Stormy Daniels -- pivô do processo em que Trump foi condenado em maio -- enquanto sua então esposa estava grávida. O adversário negou.

Trump, como esperado, citou falhas de memória de Joe Biden e falou de seu filho, Hunter Biden -- condenado em junho por mentir sobre uso de crack em um formulário ao comprar armas.

·        Resultado das eleições

Questionado sobre se aceitará resultado das eleições, Trump -- que é julgado por tentar reverter o resultado do pleito de 2020 -- tentou desviar da questão. Pressionado pela apresentadora do debate, respondeu então que, "sem dúvida, vou aceitar o resultado das eleições se o resultado for justo e legal".

Biden, ao receber o direito de fala, disse duvidar de que Trump aceitaria esse resultado, "porque você um reclamão".

'Um palestino ruim'

Ao debater a guerra em Israel, Trump acusou Biden de não ter pulso firme na guerra entre Israel e Hamas e chamou o presidente de um "palestino ruim".

Trump disse ainda que vai terminar a guerra na Ucrânia antes mesmo de tomar posse, caso eleito.

·        Estratégias

Como previsto, Trump investiu em ataques nos pontos fracos do atual governo de Biden, como o recorde de entrada de imigrantes nos EUA, os períodos de inflação alta e o prolongamento das guerras na Ucrânia e em Israel.

No embate desta noite, Trump deve investir nos pontos fracos do atual governo de Biden, como o recorde de entrada de imigrantes nos EUA, os períodos de inflação alta e o prolongamento das guerras na Ucrânia e em Israel, que o presidente vem apoiando com investimentos bilionários.

A questão da idade do presidente, de 81 anos, também deve ser explorada pela campanha de Trump, que vem investindo no argumento de que Biden sofre de lapsos de memória, o que ele nega. Biden e Trump, de 78 anos, são também os dois candidatos à presidência dos EUA mais velhos da história do país.

Já Biden deve tocar em pontos sensíveis para Trump, como sua condenação, em maio -- a primeira de um ex-presidente na história dos Estados Unidos -- e explorar o adversário como uma ameaça à democracia.

O democrata também deve mirar no envolvimento do republicano no ataque ao Capitólio, o prédio do Legislativo norte-americano, em 6 de janeiro de 2021, e falas polêmicas do ex-presidente, como as que ele chamou imigrantes de terroristas e a de que não será um ditador "exceto no primeiro dia de governo.

Antes do debate, a campanha de Biden divulgou um vídeo com ex-assessores de Trump dizendo que desta vez não o apoiariam. “Acredite nas pessoas que melhor conhecem Donald Trump – ele não está apto para ser presidente”, disse Biden em suas redes sociais.

·        Reedição de 2020

O debate também reeditou os históricos enfrentamentos travados por Biden e Trump em 2020, quando os dois também concorreram à presidência. Em debates daquele ano, os dois adversários protagonizaram longos bate-bocas. O ex-presidente republicano interrompeu diversas vezes o democrata, que chegou a mandar o adversário "calar a boca".

Biden, que venceu o pleito na ocasião, seguiu a estratégia de tentar descredibilizar o adversário e suas falas, ignorando Trump e falando diretamente para as câmeras.

Regras

Neste ano, a organização do debate estabeleceu uma série de regras para tentar evitar interrupções e que os candidatos falem fora de hora, além da interferência de terceiros. Entre elas, estão:

  • Microfones desligados -- pela 1ª vez, o debate entre candidatos dos EUA terá microfones silenciados enquanto o adversário tiver a palavra;
  • Sem acessórios -- os candidatos não poderão levar papéis, pastas ou qualquer outro acessório para auxiliá-los no debate;
  • Também não haverá público nem jornalistas. Apenas os dois moderadores estarão no auditório;
  • Haverá dois intervalos comerciais, e, nesses momentos, os candidatos não poderão ter nenhum contato com assessores.

 

Fonte: BBC News Brasil/g1

 

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