sexta-feira, 28 de junho de 2024

Calor extremo é perigo mortal para turistas na Grécia

Os restos mortais de um turista alemão de 67 anos foram encontrados nesta segunda-feira (24/06), num barranco numa área inacessível, próxima à praia de Sentoni, na região de Chania, no oeste da ilha de Creta, a maior da Grécia.

Ele passava em férias com sua esposa quando decidiu fazer uma caminhada do altiplano de Omalos até a aldeia de pescadores de Sougia, ao sul. A trilha tem 24,5 quilômetros de extensão e leva normalmente oito horas para ser completada. Não é um caminho particularmente difícil se o excursionista está bem preparado e as condições meteorológicas são favoráveis – o que, ao que tudo indica, não era o caso.

A hipótese é que o alemão teria perdido a orientação devido ao calor e tomado o caminho errado para o desfiladeiro de Tripiti, de difícil acesso. Ele chegou a telefonar para a esposa, dizendo que não se sentia bem. Sem mais notícias dele, ela comunicou o desaparecimento junto às autoridades, que logo deram início a uma operação de busca.

As equipes de emergência e os bombeiros da ilha no Mar Mediterrâneo o procuraram por várias horas até localizarem seu corpo, através do rastreamento de seu telefone celular.

O turista alemão é o sexto excursionista encontrado morto na Grécia, apenas em junho. Pelo menos outros três ainda estão desaparecidos: um policial americano aposentado de 59 anos, na ilha de Amorgos, e duas francesas de 64 e 73 anos, na ilha de Sikinos.

<><> Temperaturas recorde

Os termômetros na Grécia registram marcas sem precedentes. Normalmente junho é o mês mais ameno da temporada de verão no arquipélago, portanto muitos turistas mais idosos preferem viajar nessa época para as ilhas.

Em 2024, porém, este deverá ser o junho mais quente já registrado na Grécia. O distrito de Chania, onde o turista alemão foi encontrado morto, as temperaturas chegaram a 44,5ºC. Em Samos, onde outro andarilho morreu, fazia mais de 40ºC.

Christos Giannaros, coordenador do projeto de pesquisa Heat-Alarm, explica que as vítimas provavelmente teriam sofrido estresse de calor, devido às temperaturas incomumente altas e ao esforço físico das caminhadas.

A idade também é um fator que contribui para a vulnerabilidade ao calor extremo. "Os mais idosos armazenam mais facilmente o calor em seus corpos e têm mais dificuldade em expeli-lo. Por isso estão mais suscetíveis aos sintomas da insolação", explica Giannaros. Essa condição provoca perda da noção de tempo e de direção, colocando-se em situações de risco maior. 

A maioria das vítimas vem de países mais frios direto para o clima do Mediterrâneo sem passar por um período de aclimatização. Os médicos advertem que até os habitantes locais precisam de tempo para se adaptar às altas temperaturas.

Normalmente, entre a primavera e o verão, o corpo humano tem tempo para se acostumar gradativamente aos dias e noites mais quentes. Mas ondas de calor que chegam de maneira extremamente repentina e forte podem se tornar uma questão de saúde pública.

<><> Perigos da falta de precauções

Apesar dos riscos, mais turistas do que se imagine deixam de tomar as devidas precauções, ignorando os alertas das autoridades e se aventurando no calor escaldante. Quando as autoridades de Atenas decidiram fechar a Acrópole para visitação durante os horários mais quentes do dia no intuito de proteger os turistas, muitos ficaram indignados.

São numerosos os turistas que também partem para caminhadas sem estar devidamente preparados. A imprensa grega relatou que muitos sequer sabiam a extensão ou o grau de inclinação das trilhas que escolheram, enquanto outros decidiram iniciar os trajetos logo após o almoço, de barriga cheia e com álcool no organismo, sob o sol do meio-dia.

Há quem parta sozinho, sem levar consigo o celular. Outros se surpreendem ao deparar com áreas onde não há sinal e se perdem, sem os aplicativos de navegação de seus aparelhos.

A morte do apresentador da emissora britânica BBC Michael Mosley, em 9 de junho, aos 67 anos, gerou forte comoção publica. Em férias na ilha grega de Symi, ele  partiu sozinho para uma caminhada entre a praia Agios Nikolaos e o vilarejo de Pedi, sem telefone e levando consigo apenas uma garrafinha d'água.

As autoridades concluíram que o também médico fez uma curva errada e acabou sucumbindo ao calor numa área de difícil acesso. Equipes da polícia, bombeiros e voluntários participaram de uma grande operação de busca, com a ajuda de cães farejadores, drones e helicópteros. O corpo de Mosley foi encontrado próximo a uma praia bastante frequentada, escondido por um muro alto.

Dois excursionistas israelenses que se perderam na cadeia de montanhas de Mainalo, na região central do Peloponeso, tiveram melhor sorte: graças a uma operação de busca e resgate, eles foram encontrados bem longe do destino final planejado, mas ainda em boas condições de saúde.

 

¨      Fogo consome região ártica e faz disparar emissões de CO2

Incêndios florestais de proporções monumentais na região ártica levaram as emissões de gases do efeito estufa ao seu terceiro maior nível das últimas duas décadas para o mês de junho, alertou nesta quinta-feira (27/06) o Copernicus, serviço de monitoramento climático da União Europeia.

Até então, as emissões no círculo ártico só haviam sido maiores em 2019 e 2020, com 16,3 megatoneladas e 13,8 megatoneladas, respectivamente. Em junho deste ano, as emissões foram até agora de 6,8 megatoneladas.

À medida em que as temperaturas sobem no Ártico, incêndios florestais passam a castigar também áreas de alta latitude, consumindo florestas boreais e tundras, e liberando vastas quantidades de gases causadores do efeito estufa que até então estavam confinados no solo.

A maior parte do fogo se concentra no nordeste da Rússia, em Iacútia, na região da Sibéria, onde grandes porções de floresta e estepe já foram destruídas no verão de 2021.

Dados das autoridades russas indicam que há 176 focos de incêndio, afetando uma área de 619 mil hectares – o equivalente a dois terços da área da cidade de São Paulo.

Mas o quadro pode piorar, já que o pico dos incêndios florestais no Hemisfério Norte do planeta só tende a ser atingido em julho e agosto.

<><> Mudanças climáticas estão turbinando incêndios, alertam cientistas

Segundo o Copernicus, temperaturas muito acima do normal – até 7ºC acima da média registrada entre 1991 e 2020 – e chuvas escassas afetaram a região, favorecendo os incêndios. Esses eventos climáticos incomuns são exacerbados pela ação humana sobre o clima, alertou o órgão.

"Os incêndios crescentes na Sibéria são um sinal claro de alerta de que esse sistema essencial [o Ártico] está se aproximando de pontos críticos perigosos para o clima", disse Gail Whiteman, professor da britânica Universidade de Exeter. "O que acontece no Ártico não fica ali. A mudança no Ártico amplifica o risco globalmente para todos nós."

"O Ártico tem aquecido em um ritmo muito acima do ritmo do planeta como um todo. O resultado é que as condições em altas latitudes ao norte estão se tornando mais propícias aos incêndios florestais", afirma Mark Parrington, do Copernicus.

A neve piora a qualidade do ar. Quando ela se deposita sobre a neve o gelo, também faz com que eles derretam mais rapidamente, liberando grandes quantidades de dióxido de carbono na atmosfera.

<><> Estudo: incêndios no Canadá poluíram mais que a queima de combustíveis fósseis na Índia

Também nesta quinta, um estudo da Universidade de Maryland mostrou que os incêndios florestais em 2023 no Canadá liberaram mais dióxido de carbono no ar do que a queima de combustíveis fósseis pela Índia, país mais populoso do mundo. Também foram quase quatro vezes mais poluentes do que todo o tráfego aéreo do planeta em um ano inteiro – sendo que a aviação, responsável por 2,5% das emissões de carbono, é um dos maiores vilões do clima.

Segundo o James MacCarthy, um dos principais autores do estudo, as florestas removem muito carbono da atmosfera. "E isso fica armazenado nos galhos, troncos, folhas e meio que no solo também. Então, quando elas queimam, todo o carbono que estava nelas é liberado de volta na atmosfera."

Isso, segundo MacCarthy, "definitivamente tem um impacto de escala global em termos de quantidade de emissões produzidas em 2023".

Em 2023, os incêndios florestais no Canadá provocaram a perda de 27% de toda a cobertura florestal ao redor do planeta.

"Mesmo que a floresta eventualmente cresça de volta e retenha carbono, esse é um processo que vai levar no mínimo décadas. Então, há uma tremenda diferença entre o aumento de carbono na atmosfera por causa de um incêndio florestal e a eventual remoção de pelo menos parte disso pela floresta que volta a crescer. Ao longo dessas décadas, o impacto do fogo contribui para o aquecimento global", afirmou à agência de notícias AP Jacob Bendix, da Universidade Syracuse.

 

Fonte: Deutsche Welle

 

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