sexta-feira, 31 de maio de 2024

Presença de árvores reduz casos de câncer de pulmão em idosos

Pesquisas feitas no exterior já têm mostrado como as árvores urbanas afetam a qualidade do ar. Um estudo da Universidade de Birmingham, no Reino Unido, por exemplo, concluiu que prédios cobertos por plantas poderiam diminuir em até 30% a poluição de uma cidade.

Agora a bióloga Bruna Lara de Arantes mostra, em seu mestrado, defendido na Escola Superior de Agricultura Luiz de Queiroz (Esalq) da USP, a relação entre arborização, material particulado e casos de câncer de pulmão em idosos na cidade de São Paulo.

O estudo aponta que a presença de árvores diminui a quantidade de material particulado no ar. Em consequência disso, foi observada também uma redução nos casos de doenças respiratórias.

Para chegar a esse resultado, a pesquisadora cruzou dados da Companhia Ambiental do Estado de São Paulo (Cetesb) e da Faculdade de Medicina da USP (FMUSP), através de um convênio firmado com a professora Thaís Mauad e a médica Tiana Lopes.

“Basicamente nós escolhemos as estações de monitoramento do ar da Cetesb que estavam medindo material particulado em 2010”, explica Bruna. “O material particulado é um dos poluentes que mais afetam a respiração humana e também um dos mais absorvidos pelas plantas. Isso acontece porque ele tem um tamanho microscópico, de 10 microgramas por centímetro cúbico (µg/cm³), o que permite que ele passe pela nossa respiração sem ser filtrado.”

Além dos dados coletados pela Cetesb, Bruna passou a analisar como o entorno das estações de monitoramento é ocupado. Verificou se havia mais asfalto, construções, árvores ou gramado, identificando as espécies de plantas que habitam um raio de 100 metros da estação.

Em seguida, Bruna usou programas estatísticos para observar como as mortes por câncer de pulmão em idosos estavam distribuídas pela cidade e se tinham alguma relação com os dados atmosféricos encontrados pela Cetesb.

·        Mortes pela poluição

“Os dados apontam que a forma como você ocupa o solo na cidade influencia em 17% os casos de morte por câncer de pulmão em idosos”, afirma Bruna. Outros fatores de risco que devem ser considerados são a genética e o estilo de vida dos idosos.

O estudo também encontrou uma relação entre a ocupação da cidade por relvado ou asfalto e a região no município. Regiões mais centrais são mais ocupadas por construções, enquanto que regiões mais afastadas têm mais árvores. “Esse padrão já era observado na literatura da área, mas não havia dados quantitativos como os desta pesquisa”, ressalta.

O material particulado é um dos poluentes que mais afetam a respiração humana e também um dos mais absorvidos pelas plantas – Foto: Marcos Santos/USP Imagens

Com os dados, foi possível concluir também que quanto mais afastado do centro da cidade e quanto maior for a quantidade de plantas no local, menos casos de câncer de pulmão são encontrados. “A saúde dessa população é favorecida”, pontua Bruna.

Ainda sim, a pesquisadora lembra que, pelo caráter exploratório da pesquisa, são necessários novos estudos sobre o assunto para afirmações mais concretas.

Segundo uma pesquisa publicada pela revista The Lancet, a poluição do ar foi responsável por mais de 70 mil mortes no Brasil.

·        Soluções

Além da importância acadêmica, o estudo também é de interesse da gestão pública. “Esses dados nos trazem evidências que, ao aumentar as áreas urbanas de gramados e árvores, há uma diminuição significativa da poluição do ar por material particulado”, defende a pesquisadora.

Segundo o estudo, o aumento de 1% de gramado na cidade é capaz de diminuir 0.45 μg/cm³ de material particulado. Já o aumento de um metro quadrado de copa de árvore reduz 0.29 μg/cm³.

“A ação dos gramados está relacionada à possibilidade de maior circulação do ar, levando em conta que essas partículas são muito leves e facilmente dispersas”, explica. “Já as árvores agem como filtros de captação e absorção.”

A bióloga ainda destaca que regiões com muitas construções verticais ou bosques fechados podem ter pouca ventilação. Nesse caso, é interessante a substituição de prédios inutilizados pela construção de áreas de gramado, como parques, jardins e canteiros.

¨      Biomarcador se mostra capaz de agir contra câncer pulmonar agressivo

Um biomarcador chamado mesotelina ajuda a prever a mortalidade entre pacientes com câncer agressivo pulmonar, e os pesquisadores da Faculdade de Medicina da USP (FMUSP) analisaram o potencial terapêutico da molécula contra tumores do tipo mesotelioma pleural maligno. Uma das autoras do artigo, a professora Vera Luiza Capelozzi, do Departamento de Patologia na FMUSP, detalha a pesquisa realizada e analisa a importância do marcador.

Conforme a professora, a pleura é uma membrana que reveste os pulmões e contribui para que a expansibilidade e elasticidade dos pulmões se mantenham durante os movimentos respiratórios. Ela conta que, quando os trabalhadores são expostos a materiais como o amianto, que contém fibras de asbesto, podem surgir reações inflamatórias e, após cerca de 20 anos, pode ser desenvolvido o mesotelioma maligno. 

Segundo Vera, esse mesotelioma é um tumor altamente agressivo, razão pela qual a sobrevida dos pacientes atingidos por ele gira em torno de seis a 13 meses e sua evolução afeta todas as estruturas do tórax, como os pulmões e o coração. Ela conta que ainda não existe um tratamento efetivo direcionado, mas, em geral, os pacientes recebem o diagnóstico de necessidade de acompanhamento médico com quimioterapia. “Em geral a resposta à quimioterapia e radioterapia funciona por algum tempo, mas a resposta acaba não ultrapassando os 18 meses. Além disso, o tumor pode acabar comprometendo outras regiões do tórax”, conta. 

·        Proteína

Segundo a docente, existe um gene codificado pela célula mesotelial chamado mesotelina, o qual codifica uma proteína com o mesmo nome, que tem atividade monogênica, ou seja, consegue atrair para perto do tumor células linfoides T e linfócitos, as quais são muito desejáveis para o combate aos cânceres. Ela conta que essa proteína era majoritariamente estudada em animais, mas pouco analisada em pacientes humanos, e essa foi a motivação dos pesquisadores.  

“Nós tivemos como objetivo analisar o efeito dessa proteína no paciente humano e avaliar a reformatação do chamado microambiente em que a célula tumoral cresce e progride. Isso levou ao estudo de 82 casos coletados de paciente com antecedentes de exposição ao asbesto e essa proteína acaba emergindo como uma promissora prática terapêutica, que pode coibir o crescimento e invasão dos tecidos no caso do mesmo tumor maligno”, explica. 

·        Marcador

De acordo com a professora, a mesotelina esteve presente em mais de 70% dos pacientes estudados e o uso do medicamento combinado gera um anticorpo que se agrega a ela e induz uma resposta imunológica ideal para a destruição do tumor. Essa resposta, segundo ela, é basicamente formada pelos linfócitos CD8.

“Os próximos passos são os ensaios clínicos e eles já vêm sendo realizados, mas o problema é que os pacientes morrem muito rápido, então dificilmente conseguimos realizar o acompanhamento até o estágio 3, eles não ultrapassam o estágio 1 e 2. Portanto, precisa-se de um pouco mais de tempo para recrutamento e agregação de mais pacientes para que consigamos de fato comparar esse tratamento com outros e mostrar sua eficácia”, finaliza.

 

Fonte: Jornal da USP

 

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