terça-feira, 30 de abril de 2024

Família associada ao PCC usa prefeitura para lavar dinheiro do tráfico

O patriarca da família Jácome investia sua energia no contrabando de “muambas” antes da chegada do Primeiro Comando da Capital (PCC) no Rio Grande do Norte, no inicio da década passada, segundo investigação do Ministério Público potiguar (MPRN).

Para negociar mercadoria, Laete Jácome de Oliveira (foto em destaque), hoje com 67 anos, deslocava-se até São Paulo, onde ele e seus quatro filhos homens acabaram ampliando as conexões no submundo, estabelecendo contatos com integrantes da facção criminosa paulista.

Os irmãos Deusamor e Leidjan Jácome foram além das muambas e passaram a vender drogas em território potiguar, enquanto o patriarca e envolveu com a política local em João Dias, cidade com aproximadamente 4 mil habitantes que fica a cerca de 360 quilômetros da capital Natal.

Laete conseguiu se eleger vereador de João Dias, em 2020, enquanto a filha, Damária Jácome, foi eleita vice-prefeita. Segundo o MPRN, em pouco tempo, ela assumiu a prefeitura da pequena cidade potiguar, por meio de ameaças ao prefeito — a Justiça local acabou afastando ela do cargo posteriormente.

De acordo com o MPRN, a família alcançou o poder local se associando ao PCC e usava a prefeitura de João Dias para lavar dinheiro do tráfico. Os dois filhos envolvidos com tráfico foram mortos na Bahia, em outubro de 2021, em um suposto tiroteio com a Polícia Civil.

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Dinheiro na prefeitura

Damária e o pai Laete foram denunciados pelo MPRN por extorsão do atual prefeito de João Dias, Francisco Damião (PP), em dezembro de 2022. Ele havia renunciado ao cargo em 27 de julho do ano anterior, após ser ameaçado de morte pelos irmãos de Damária.

Documentos da Justiça potiguar, obtidos pelo Metrópoles, mostram que Francisco afirmou ao seu chefe de gabinete que “quem dava a última palavra”, nas decisões da prefeitura, eram Deusamor e Leidijan, até eles serem mortos na Bahia, onde estavam foragidos.

Eles financiaram a campanha da irmã e, segundo o promotor potiguar Augusto Lima, “usaram a prefeitura para realizar transações criminosas, sem chamar a atenção”.

Após constatar o envolvimento de Damária com o crime, o MPRN deflagrou uma operação, fazendo com que ela e o pai fossem processados e perdessem os direitos políticos. Com a ação, Francisco retornou à prefeitura. Atualmente, Laete e Damária cumprem pena em regime aberto, por extorsão — ambos negam as acusações.

•        Omertà

O crime de extorsão foi investigado por meio da Operação Omertà, na qual o MPRN também conseguiu desvendar o esquema de lavagem de dinheiro do tráfico de drogas, por meio de movimentações de empresas de fachada, ligadas à família Jácome.

Em uma concessionária que contava com somente um carro, a Promotoria identificou que circularam cerca de R$ 6 milhões, no intervalo de dois anos. Para não chamar a atenção, eram feitos depósitos, de forma fracionada, de R$ 2 mil e de R$ 5 mil.

O enriquecimento da família resultou, segundo o promotor, por causa do envolvimento dos irmãos com o tráfico de drogas. A associação deles ao PCC foi possibilitada graças ao interesse da facção pela BR-116, via estratégica para a maior organização criminosa do Brasil escoar cocaína, por meio do Porto do Ceará, para a Europa e África.

Com 4.610 quilômetros de extensão, a rodovia federal corta praticamente todo o país, ligando os estados do Rio Grande do Sul e Ceará, no qual fica o Porto do Mucuripe, em Fortaleza.

·        Líder do PCC na região

Na mesma região de João Dias fica a cidade de Jardim de Piranhas, terra natal de Valdeci Alves dos Santos, o Colorido, ex número 2 do PCC nas ruas e que, atualmente, está preso no sistema penitenciário federal, no qual foi jurado de morte por Marco Willians Herbas Camacho, o Marcola, em meio ao racha histórico na cúpula do PCC.

O território também é ocupado por igrejas de Geraldo dos Santos Filho, o pastor Júnior, irmão de Colorido. Como mostrado pelo Metrópoles, ele ergueu um patrimônio avaliado em pelo menos R$ 6 milhões operando um esquema de lavagem dinheiro para o PCC, usando, entre outros meios, a compra de templos religiosos.

 

•        Pastor do PCC ergueu patrimônio de R$ 6 mi lavando dinheiro com igreja

 

Encontrado em um condomínio de luxo em Sorocaba, no interior paulista, há pouco mais de um ano, Geraldo dos Santos Filho, de 48 anos, o pastor Júnior, ergueu um patrimônio avaliado em pelo menos R$ 6 milhões operando um esquema de lavagem dinheiro para o Primeiro Comando da Capital (PCC) por meio de igrejas evangélicas, segundo denúncia do Ministério Público do Rio Grande do Norte (MPRN).

Geraldo , que está preso desde então, é irmão de Valdeci Alves dos Santos, o Colorido, considerado um importante líder da facção criminosa nas ruas até ser detido em uma blitz da Polícia Rodoviária Federal (PRF), no sertão pernambucano, em abril de 2022. Como mostrou o Metrópoles, Valdeci foi jurado de morte por Marco Willians Herbas Camacho, o Marcola, em meio ao racha histórico na cúpula do PCC. Ambos seguem encarcerados no sistema penitenciário federal.

Naturais da pequena cidade potiguar de Jardim de Piranhas, Geraldo e Valdeci migraram para São Paulo no início da vida adulta, onde foram batizados na maior facção criminosa do país e enriqueceram ilegalmente. Os dois, porém, seguiram rumos diferentes no mundo do crime, segundo afirma o promotor Augusto Lima, do MPRN.

“O Valdeci [Colorido] ascendeu na hierarquia da facção e o Geraldo [pastor] acabou enveredando para o ramo das igrejas evangélicas, sem ocupar nenhum posto de liderança na organização criminosa.”

Geraldo adquiriu, segundo levantamento do MPRN, cinco igrejas no Rio Grande do Norte e duas em São Paulo, por meio das quais lavou dinheiro do PCC oriundo do tráfico de drogas.

·        Prisão, fuga e fé

Geraldo foi preso pela primeira vez em fevereiro de 2002, quando foi flagrado com 12 quilos de cocaína dentro do carro que dirigia na Rodovia Castelo Branco, na região de Barueri, na Grande São Paulo.

Registros do Tribunal de Justiça de São Paulo (TJSP) mostram que ele foi condenado a sete anos e seis meses de prisão em regime fechado, por tráfico de drogas. Cerca de um ano depois, quando a sentença foi publicada, em abril de 2003, ele fugiu. Em 2005, ainda foragido, sua pena foi aumentada para 11 anos e oito meses.

Até fevereiro de 2019, quando foi capturado pela segunda vez, Geraldo construiu um patrimônio milionário, usando “laranjas”, e lavando o dinheiro oriundo do tráfico de drogas adquirindo as igrejas evangélicas. A Promotoria estima, de forma conservadora, que o pastor tenha acumulado ao menos R$ 6,1 milhões no período.

Durante os quase 16 anos que ficou foragido, ele usou documentos falsos para fundar a Assembleia de Deus Para as Nações, onde era conhecido como pastor Júnior. Segundo o MPRN, ele dividia o altar da igreja com sua companheira e cúmplice, Thaís Cristina de Araújo Soares, a pastora Thaís.

Quando foram presos, no ano passado, ambos estavam em uma casa de alto padrão, em Sorocaba, onde há uma das filiadas da congregação religiosa. Geraldo segue preso e sua companheira, segundo o MPRN, aguarda julgamento em liberdade condicional. As defesas de ambos não foram localizadas pelo Metrópoles. O espaço segue aberto para manifestações.

•        Prisão e “liberdade”

Cerca de nove meses após começar a cumprir sua pena de 11 anos no Centro de Progressão Penitenciária de Campinas, interior paulista, em fevereiro de 2019, Geraldo migrou para o regime semiaberto e, em abril de 2021, conseguiu o benefício da prisão domiciliar.

Em dezembro daquele ano, o juiz Emerson Tadeu Pires de Camargo, de Sorocaba, autorizou que Geraldo, mesmo cumprindo pena por tráfico de drogas, viajasse para Balneário Camboriú (SC), em janeiro de 2022.

Seis meses depois, a defesa dele solicitou à Justiça paulista que ele pudesse viajar por todo o Brasil, alegando que seu cliente estava deixando de fechar negócios e tendo “prejuízo financeiro” em uma empresa do ramo da construção civil, a GJS Construções Ltda.

Na ocasião, o Ministério Público de São Paulo (MPSP) não se opôs ao pedido, alegando que as viagens não iriam prejudicar o andamento das “demais condições do benefício” e que Geraldo já havia conseguido uma autorização anterior para viajar até Santa Catarina, “sem qualquer intercorrência”.

“Ele estava foragido, voltou a cumprir pena e um juiz de São Paulo autoriza ele a viajar, durante a execução penal. Não é comum sequer deixar sair da cidade onde mora, quanto mais atravessar o país. Não é comum isso acontecer”, avaliou o promotor potiguar.

•        Movimentação milionária

Segundo o MPRN, o uso do CPF de Geraldo em transações só foi identificado em 2021, pouco mais de um mês após ele começar a cumprir prisão domiciliar. Com o documento, ele abriu uma conta corrente para GJS, cujo CNPJ também estava em nome do pastor. Em cinco meses, o criminoso movimentou em suas contas, como pessoa física e jurídica, pouco mais de R$ 2,2 milhões.

Como apontado na denúncia da Promotoria do Rio Grande do Norte, somente na conta de um laranja do esquema, foi identificada a movimentação de R$ 23 milhões em um período de nove anos. Segundo o MPRN, Geraldo era “o principal intermediário de comunicação entre Valdeci e os demais acusados, no que diz respeito à movimentação dos montantes ilegais”.

Geraldo, a esposa dele, Valdeci e outros dois irmãos deles foram denunciados por associação criminosa, associação ao tráfico de drogas e lavagem de dinheiro, entre 2008 e 2023, com atuação no Rio Grande do Norte, Ceará, São Paulo e no Distrito Federal.

A Operação Plata, na qual constatou-se a compra de igrejas evangélicas para a lavagem de dinheiro, foi deflagrada no âmbito da Operação Sharks, do MPSP, em que Colorido e outros chefões do PCC são alvo de investigação por enriquecimento ilícito e tráfico internacional de drogas.

 

•        Plástica no rosto e dono de 7 igrejas: quem é Colorido, ex-nº 2 do PCC

 

Valdeci Alves dos Santos, de 52 anos, o Colorido, foi um importante líder do Primeiro Comando da Capital (PCC) nas ruas, antes de ser preso durante uma blitz da Polícia Rodoviária Federal (PRF), no sertão pernambucano. Era 16 de abril de 2022.

Na ocasião, ele apresentou um documento falso e, por isso, foi levado para uma delegacia da cidade de Salgueiro — cidade que compõe o chamado Polígono da Maconha —, onde confirmaram sua verdadeira identidade.

O criminoso estava com as maçãs do rosto mais salientes e tinha menos rugas por causa de cirurgias plásticas faciais, feitas para dificultar sua identificação.

Colorido estava foragido havia pouco mais de sete anos, após ter sido beneficiado com uma “saidinha” temporária de Dia dos Pais e não ter mais voltado para o Centro de Progressão Penitenciária (CCP) de Valparaíso, interior de São Paulo. Lá, ele cumpria pena no regime semiaberto por tráfico e homicídio.

Como revelado pelo Metrópoles, o chefão do PCC foi jurado de morte por Marco Willians Herbas Camacho, o Marcola, em mais um desdobramento do racha histórico da maior facção criminosa do Brasil.

•        Compra de igrejas evangélicas

Durante o período em que ficou nas ruas, foragido da Justiça, Colorido ascendeu na hierarquia do PCC, chegando ao posto de número 2 fora do sistema carcerário — posição que ocupou até ser “decretado” por Marcola.

Para lavar os milhões que passou a acumular, por causa do tráfico internacional de drogas, ele investiu na compra de sete igrejas evangélicas — em São Paulo e Rio Grande do Norte, seu estado de origem —, além de fazendas e cabeças de gado.

Natural de Jardim das Piranhas, pequena cidade potiguar com 13,7 mil habitantes, Colorido também foi denunciado pelo Ministério Público do Rio Grande do Norte pela aquisição das igrejas, com o dinheiro do crime.

Ele movimentou ao menos R$ 23 milhões, com a ajuda de familiares, também investigados pelo suposto envolvimento no esquema.

•        Vida em fuga

Até ser preso, Colorido viveu na Bolívia, principal fornecedor da cocaína traficada pelo PCC para a Europa, e Paraguai, cuja fronteira é usada para introduzir drogas em território brasileiro.

De acordo com investigações do Ministério Público de São Paulo, ele também era responsável por viabilizar o despacho das drogas para a Europa, por meio do Porto de Santos. Somente entre 2018 e 2019, segundo a Promotoria paulista, ele ajudou a movimentar cerca de R$ 1 bilhão da facção.

•        Decretado por Marcola

Segundo o promotor Lincoln Gakiya, do Ministério Público de São Paulo (MPSP), Colorido foi “decretado” por Marcola em decorrência de um suposto desvio de recursos da facção.

“Ele é mais um membro importante que o Marcola decreta [a morte]”, afirma Gakiya, membro do Grupo de Atuação Especial de Combate ao Crime Organizado (Gaeco) que investiga o PCC há duas décadas e já foi alvo de um plano de sequestro e assassinato da facção, descoberto pela Polícia Federal (PF) no ano passado.

Por causa do risco de ser assassinado, acrescenta o promotor, Colorido já teria conseguido, a pedido, sua transferiência para o “seguro” – ala reservada para detentos ameaços de morte – da Penitenciária Federal de Brasília, unidade onde os principais líderes do PCC estão presos.

Para Gakiya, Colorido vai acabar se juntando ao grupo de outras lideranças dissidentes que romperam com Marcola recentemente, provocando uma guerra interna no PCC. São eles: Roberto Soriano, o Tiriça, Abel Pacheco de Andrade, o Abel Vida Loka – ambos faziam parte da alta cúpula desde 2002 –, e Wanderson Nilton de Paula Lima, o Andinho.

•        Razões para o racha

O principal motivo do racha na cúpula do PCC seria um diálogo gravado entre Marcola e agentes da Penitenciária Federal de Porto Velho (RO) no qual ele afirma que Tiriça seria um “psicopata”.

A declaração foi usada por promotores no julgamento de Tiriça, que foi condenado a 31 anos de prisão, em 2023, como mandante do assassinato de uma psicóloga.

A fala de Marcola teria sido interpretada pelos antigos aliados como uma espécie de delação. Tiriça estava para sair da cadeia caso não fosse condenado, conforme explica o promotor do Gaeco.

“Esses caras [Tiriça, Abel Vida Loka e Andinho] ajudaram a fazer o PCC crescer, com todos eles na liderança. É gente do topo da pirâmide, parceiros muito próximos que, agora, são inimigos”, completa Gakiya.

•        “Salves” do PCC

O promotor conta que os dois lados da guerra na cúpula da facção transmitiram seus respectivos “salves”, como são chamados os comunicados internos do PCC, para decretar a expulsão dos rivais.

A diferença é que o grupo de Tiriça, considerado o 02 da facção até o racha, enviou a ordem apenas a outros membros importantes da organização que estão presos na Penitenciária Federal de Brasília. Marcola, por sua vez, mandou um salve para fora do sistema prisional, a fim de tentar garantir a fidelidade das lideranças do PCC que estão nas ruas, os chamados Sintonias da Rua.

Além de rebater as acusações dos outros chefões sobre ter “delatado” Tiriça, Marcola comunicou no salve a expulsão dos três ex-aliados da cúpula e os “decretou” à morte.

O promotor do Gaeco acredita que, em um primeiro momento, Tiriça, Abel e Andinho estão se movimentando nos bastidores para tentar reverter a expulsão decretada por Marcola e brigar pelo poder na facção.

Caso sejam bem-sucedidos, esse pode ser o fim da era de Marco Willians Herbas Camacho como líder máximo da facção, após mais de 20 anos. Para Gakiya, mesmo que Marcola consiga se manter no poder, ele sairá da disputa enfraquecido.

O setor de Inteligência da Polícia Civil, contudo, detectou que os dissidentes do PCC estariam articulando a formação de um grupo rival, que seria chamado de Primeiro Comando Puro (PCP).

 

•        PCC explora BR-116 para garantir “plano B” de envio de droga à Europa

 

Desde que ingressou no tráfico internacional e começou a negociar cargas bilionárias de cocaína, remetidas para Europa e África, o Primeiro Comando da Capital (PCC) precisou expandir os locais usados para o despacho da droga, além de optar por abrir mão do domínio de determinados territórios.

Com tentáculos estabelecidos por todo o país, a maior facção criminosa do Brasil deixou grupos rivais paulatinamente dominarem o tráfico de drogas local, pelo qual perdeu interesse, mas manteve territórios estratégicos, como no Rio Grande do Norte, por causa da BR-116.

Essa rodovia federal detém 4.610 quilômetros de extensão e corta praticamente todo o país, ligando os estados do Rio Grande do Sul e Ceará, onde fica o Porto do Mucuripe, em Fortaleza. O local é utilizado como uma rota alternativa, um plano B, para o PCC despachar droga ao exterior quando encontra dificuldades em operar o tráfico internacional pelo Porto de Santos, no litoral de São Paulo, onde concentra sua atuação.

Devido ao grande volume de entorpecente demandado pelos “clientes” do outro lado do Atlântico, negociado em toneladas, a facção paulista passou a despachar as cargas majoritariamente por via marítima, escondidas em contêineres ou submersas nos cascos de navios.

Cerca de 60% de toda a cocaína enviada por via marítima sai do país pelo Porto de Santos, segundo estimativas do Grupo de Atuação Especial de Combate ao Crime Organizado (Gaeco), do Ministério Público de São Paulo. Porém, para ludibriar o trabalho da polícia, do MPSP e da Receita Federal, o PCC também passou a operar sua exportação pelos portos do Rio de Janeiro — território de seu maior inimigo, o Comando Vermelho (CV) — e de Fortaleza.

·        Ligação entre Sul e Nordeste

O promotor Augusto Lima, do Ministério Público do Rio Grande do Norte (MPRN), explica ao Metrópoles que a região oeste do estado é dominada pela facção paulista por causa da rota alternativa pela BR-116. Estima-se que o PCC começou a atuar no estado em 2011 e criou conexões internacionais pelo estado nordestino por volta de 2016.

“A região oeste do estado é um ponto estratégico, por onde passa um corredor rodoviário que liga o Porto do Ceará com as regiões Sudeste e Sul do Brasil. Essa rota é muito importante e usada pela facção para escoar a droga [por via marítima]”, afirma.

Embora “tolere” a presença de grupos concorrentes no RN, como o Sindicato do Crime, principal organização criminosa potiguar, o PCC mantém seu território de interesse, por meio de seus associados. “O PCC não se importa mais em estar na ponta [dos negócios], mas ele franqueia, domina o mercado dessa forma [com associados]”, acrescenta o promotor.

•        Rota do pó

Investigações do MPRN mostram que criminosos associados ao PCC, mas não batizados pela facção, também ajudam a garantir o trânsito das cargas em terreno potiguar. As remessas passam pela fronteira, por meio da BR-116, e são transportadas por Santa Catarina, Paraná, São Paulo, Minas Gerais, Bahia e Pernambuco, até chegarem ao Porto de Fortaleza (CE).

Alguns criminosos associados ao PCC foram enviados para Paraguai e Bolívia, onde há laboratórios nos quais a cocaína da facção paulista é produzida e despachada, para acompanharem e entenderem a logística de transporte das cargas.

Como mostrado pelo Metrópoles, o tráfico de cocaína para a Europa rende um faturamento anual superior a R$ 10 bilhões ao PCC apenas no Porto de Santos, segundo estimativa do MPSP.

À frente de investigações sobre o PCC há quase 20 anos, o promotor Lincoln Gakiya, do Gaeco paulista, afirmou que as seis toneladas de cocaína que a Polícia Federal (PF) apreendeu no Porto de Santos, em 2023, representam 10% do que os criminosos conseguem despachar anualmente em navios para o continente europeu — ou seja, 60 toneladas.

Considerando os cálculos da Promotoria, o Porto do Ceará e o do Rio de Janeiro renderiam à facção ao menos R$ 4 bilhões por ano.

·        Reduto de líder

Nessa estratégica região potiguar, fica a cidade de Jardim de Piranhas, terra natal de Valdeci Alves dos Santos, o Colorido, que já foi o número 2 do PCC nas ruas e, atualmente, está preso no sistema penitenciário federal. Recentemente, ele foi jurado de morte por Marco Willians Herbas Camacho, o Marcola, em meio ao racha histórico na cúpula do PCC.

Na mesma localidade, também ficam as igrejas de Geraldo dos Santos Filho, o pastor Júnior, irmão de Colorido. Como mostrado pelo Metrópoles, ele ergueu um patrimônio avaliado em pelo menos R$ 6 milhões, mediante um esquema de lavagem dinheiro para o PCC, que usa, entre outros meios, a compra de templos religiosos.

 

Fonte: Metrópoles

 

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