Fentanil e fakes: o plano sinistro do
'nerd' que assassinou casal de vizinhos
O britânico Luke D'Wit
foi voluntário em um restaurante popular na cidade inglesa de West Mersea,
trabalhou no carnaval local e parecia sempre disposto a ajudar quem precisasse.
Mas, na realidade, o homem graduado em Ciência da Computação era um assassino
frio e calculista, descrito por um policial experiente como "um dos homens
mais perigosos" com quem já havia lidado.
Como ele foi pego?
Luke D'Wit não mediu
esforços para ganhar a confiança do casal Stephen e Carol Baxter.
Ele usou
personalidades falsas para induzi-los a tomar medicamentos.
Ele visitava a casa do
casal com muita frequência. A filha de Stephen e Carol dizia que ele era um
"nerd estranho".
Mas tudo fazia parte
de seu plano para envenenar o casal com fentanil, antes de reescrever seus
testamentos para se tornar beneficiário.
Era pouco antes das
20h de 7 de abril de 2023, quando D'Wit trancou duas vezes a porta da frente da
casa do casal Baxter em West Mersea e começou a curta caminhada para casa.
O jovem de 34 anos
planejava passar a noite assistindo à série policial britânica Beyond Paradise
na casa que dividia com sua mãe.
O que a mãe dele não
sabia era que na noite anterior o filho dela havia envenenado o casal Baxter ao
administrar doses letais de fentanil na medicação deles.
O senhor de 61 anos e
a senhora de 64 morriam lentamente nas suas poltronas. No dia seguinte, eles
seriam encontrados mortos pela filha, Ellie.
Ao mesmo tempo, no dia
seguinte à administração das doses fatais, D'Wit calmamente levou a mãe para
tomar café da manhã e tomar um sorvete.
D'Wit foi condenado
pelo assassinato do casal e aguarda sentença.
• 'Ele sempre esteve lá'
D'Wit era considerado
um homem simpático, que dedicava seu tempo para ajudar os outros.
Designer freelance de
sites, ele se aproximou dos Baxters depois de criar um site para a loja de
tapetes de banho, Cazsplash.
Heidi Cornish, que
conheceu D'Wit em uma reunião da associação carnavalesca de Mersea, disse no
julgamento do assassinato que ele "adora se envolver onde as pessoas
precisam de ajuda".
"Ele tem um bom
senso do que é certo e errado", acrescentou ela.
Para todos, foi
natural que D'Wit, que fazia companhia para Carol Baxter nas caminhadas e a
ajudava a tomar os remédios, corresse para a casa da família quando eles foram
encontrados mortos.
"Preciso ver como
eles estão", disse ele a um policial no local. "Eu sempre visito
eles."
Kate Dawson, uma amiga
próxima dos Baxter, diz que a presença dele — mesmo depois da morte deles — não
era incomum.
"Ele nunca foi
mal-educado, apenas muito estranho — uma pessoa esquisita. Ele não falava
muito, mas estava sempre lá, sempre", diz ela.
"Ele ficava
sentado tomando uma xícara de chá com eles, e estava sempre lá."
No julgamento, em
Chelmsford Crown Court, foi revelado que as visitas frequentes de D'Wit ao
longo dos anos estavam longe de ser amigáveis. Ele tinha intenções maldosas e
uma trama de manipulação calculada estava em curso.
Depois que os corpos
foram descobertos, ele partiu para a próxima etapa – plantar na casa dos
Baxters um testamento falso que ele havia criado, dando-lhe o controle dos
negócios dos casal.
"Olhando agora,
há muitas coisas estranhas", diz Dawson. "Mas na época eu nem tinha
percebido."
• Drogas e veneno
Durante o julgamento,
o tribunal ouviu que D'Wit conheceu os Baxters por volta de 2012 ou 2013 e se
envolveu mais em suas vidas ao longo dos anos.
Carol Baxter sofria de
tireoidite de Hashimoto (doença autoimune na qual o sistema imunológico ataca
as células da tireoide) e seu estado mental estava piorando.
Segundo a filha Ellie,
a doença estava fazendo com que sua mãe "fizesse coisas bobas".
Assim, quando um
médico dos Estados Unidos lhe ofereceu serviços e acesso a uma ampla rede de
colegas com a doença, pareceu ser o conforto que Carol Baxter precisava.
O único problema era
que nem a Dra. Andrea Bowden nem os outros pacientes eram reais. Eles foram
criados por D'Wit para manipular Carol e induzi-la a se distanciar de sua
família.
Segundo o julgamento,
D'Wit ajudaria Carol Baxter fazendo sucos de frutas que ele afirmava serem
ricos em benefícios à saúde.
Mas aqueles sucos
eram, na verdade, coquetéis de drogas e venenos que a deixavam muito mais
doente do que já estava.
Durante um exame
hospitalar devido a uma dor de estômago, foi encontrada uma tachinha de metal
dentro de uma cápsula de remédio. Esses mesmo objetos seriam encontrados mais
tarde na casa de D'Wit.
Na noite de 7 de
abril, D'Wit administrou doses fatais de fentanil aos Baxter no que eles
pensaram ser seu medicamento.
• 'Nosso querido amigo Luke'
Um dia após os Baxters
terem sido encontrados mortos, um novo testamento foi redigido no nome deles.
Ele detalhava como seu "querido amigo Luke D'Wit" se tornaria diretor
e pessoa com controle significativo da empresa Cazsplash caso morressem.
Seria uma prova
fundamental para desmascará-lo.
Quando a polícia
visitou a casa de D'Wit em julho de 2023, encontrou 80 dispositivos
eletrônicos. Muitos foram usados para se comunicar com os Baxters enquanto se
passava por personalidades falsas.
Um deles tinha até
imagens do casal morto em suas poltronas, tiradas por uma câmera escondida pela
qual ele os viu morrer.
E uma sacola
encontrada em seu quarto continha fentanil, cápsulas de medicamentos e tachas
de metal.
Mas por que um
assassino manteria suas armas expostas? O detetive Rob Kirby, chefe do
departamento de crimes graves da Polícia de Essex, acredita que ele estava
planejando atacar novamente.
"Ele é, sem
dúvida, um dos homens mais perigosos que já conheci na minha carreira
policial", diz. "Ele enganou a todos. Ele fez amizade com as pessoas,
parecia uma pessoa muito receptiva e prestativa, mas no fundo ele era um
assassino frio e calculista que passou anos planejando a morte de Carol e
Stephen Baxter.
"Não tenho dúvida
alguma de que, se ele não tivesse sido capturado, teria cometido mais
assassinatos."
D'Wit foi preso em um
escritório que alugava no campus da Universidade de Essex, na Inglaterra.
Durante o julgamento,
ele prestou depoimento em uma cadeira de rodas, o que a promotora Tracy Ayling
KC disse ser desnecessário e simplesmente uma tentativa de atrair a simpatia do
júri.
"O que permitiu
D'Wit ser desmascarado foi a arrogância que existia dentro dele",
acrescenta Kirby. "Ele não encobriu seus rastros adequadamente e se iludiu
ao pensar que poderia usar fentanil para matar duas pessoas, e isso não seria
considerado suspeito. Infelizmente para D'Wit, o rastro de fentanil levou
direto até ele."
Fonte: BBC News Mundo
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